A Primeira aos Coríntios 4:1-21
Notas de estudo
assistentes do: Ou: “subordinados ao”. A palavra grega traduzida aqui como “assistentes” é hyperétes. Transmite a ideia de alguém que serve como “ajudante”. (At 13:5) Os “assistentes do Cristo” obedecem às ordens dele de boa vontade.
administradores: A palavra grega para “administrador”, oikonómos, também poderia ser traduzida como “administrador da casa; mordomo”. Refere-se a um servo que tinha autoridade sobre a “casa” do seu senhor, o que incluía os negócios, as propriedades e os outros servos dele. A função de administrador era um cargo de confiança e, por isso, esperava-se que os administradores fossem fiéis. (1Co 4:2) Paulo reconhecia que o seu serviço como administrador envolvia cuidar bem dos “segredos sagrados de Deus” e que, para ser considerado fiel, ele precisava de declarar esses segredos a outros, conforme o seu Senhor, Jesus Cristo, tinha ordenado. — 1Co 9:16; veja a nota de estudo em Lu 12:42.
um tribunal humano: Lit.: “um dia humano”. A palavra grega para “dia” foi usada neste versículo com o sentido de “dia escolhido para um determinado objetivo”. Neste caso, refere-se especificamente ao dia escolhido por um juiz humano para realizar um julgamento ou para emitir uma sentença. O contexto mostra o que Paulo queria dizer. Em vez de se preocupar com julgamentos feitos por humanos (pelos coríntios ou por um tribunal humano), Paulo preocupava-se principalmente com o futuro dia de julgamento de Deus, em que Jesus agirá como Juiz designado por Deus. — 1Co 4:4, 5.
quem me examina é Jeová: Paulo não estava preocupado com o julgamento que outros faziam dele. Ele também não confiava na opinião que tinha de si próprio. (1Co 4:1-3) Na verdade, o que realmente importava para Paulo era o que Jeová achava dele. Com base nas Escrituras Hebraicas, Paulo sabia que é Jeová quem examina os seus servos. — Sal 26:2; Pr 21:2; Je 20:12; para uma explicação sobre os motivos de o nome de Deus ter sido usado aqui, veja o Apêndice C3 (introdução e 1Co 4:4).
Não vão além das coisas que estão escritas: Esta frase não é uma citação das Escrituras Hebraicas, mas, pelos vistos, era uma frase bem conhecida ou um ditado. A regra citada aqui por Paulo indica que os servos de Deus não devem ensinar nem fazer nada que ultrapasse os limites fixados pelas leis e princípios registados na Palavra inspirada de Deus. Por exemplo, as Escrituras ajudam os cristãos a terem um ponto de vista correto sobre si mesmos e sobre os outros. Seria errado ir além do que está escrito, desconsiderando essas orientações. Os coríntios tinham caído nesse erro e orgulhavam-se da ligação que tinham com certos homens, talvez Apolo ou até mesmo Paulo. Eles davam mais importância a uma pessoa do que a outra, causando desunião. Talvez com a intenção de dar aos coríntios um exemplo prático sobre não ir além das coisas escritas, Paulo citou as Escrituras Hebraicas várias vezes para apoiar os seus argumentos nos capítulos anteriores desta carta. Ao fazer isso, ele usou a expressão “está escrito”. — 1Co 1:19, 31; 2:9; 3:19; veja também 1Co 9:9; 10:7; 14:21; 15:45.
um espetáculo teatral: Lit.: “um teatro”. A palavra grega théatron podia referir-se tanto ao local onde o espetáculo era realizado (At 19:29, 31) como ao próprio espetáculo, como é o caso neste versículo. Paulo talvez se estivesse a referir ao evento que costumava encerrar as competições de gladiadores nas arenas dos anfiteatros romanos. Alguns gladiadores eram levados para a arena nus e desarmados, e depois eram mortos de maneira brutal. A noroeste da praça principal de Corinto, existia um teatro com capacidade para umas 15 000 pessoas. Além disso, também havia um anfiteatro no canto nordeste da cidade, que provavelmente estava a funcionar nos dias de Paulo. Por isso, os coríntios devem ter entendido muito bem o que Paulo quis dizer quando escreveu que os apóstolos eram “um espetáculo teatral para o mundo”.
para o mundo, para anjos e para homens: Aqui, a palavra grega traduzida como “mundo” (kósmos) refere-se a todos os humanos. A continuação da frase, “para anjos e para homens”, não é uma explicação da palavra “mundo”, como se incluísse tanto criaturas espirituais invisíveis como seres humanos. Paulo estava apenas a explicar que, além dos humanos, os anjos também estavam a assistir a esse espetáculo. O facto de Paulo usar a palavra kósmos para se referir a todos os humanos em 1Co 1:20, 21, 27, 28; 2:12 e 3:19, 22 apoia o entendimento de que neste versículo essa palavra tem o mesmo significado.
não temos roupa suficiente: O verbo grego que aparece aqui significa literalmente “estar nu”, mas neste contexto refere-se a não ter roupa suficiente. (Veja a nota de estudo em Mt 25:36.) Pelos vistos, aqui Paulo está a contrastar a vida de sacrifícios que ele levava com a vida relativamente fácil de alguns cristãos em Corinto que se consideravam espiritualmente superiores aos outros. — 1Co 4:8-10; compare com 2Co 11:5.
lixo: Ou: “refugo”. As palavras gregas traduzidas neste versículo como “lixo” (perikátharma) e escória (perípsema) são fortes e têm um significado parecido. Esta é a única vez que essas palavras aparecem nas Escrituras Gregas Cristãs. As duas passam a ideia de algo que é descartado – algo que é mandado fora depois de uma limpeza ou que é removido ou lavado de uma superfície. Pelos vistos, era assim que algumas pessoas que criticavam Paulo o viam e também ao seu trabalho missionário.
tutores: Ou: “guardiões”. Nos tempos bíblicos, muitas famílias gregas e romanas que eram ricas contavam com o trabalho de um tutor, ou guardião. O tutor podia ser um escravo de confiança ou alguém contratado. Tinha a responsabilidade de acompanhar uma criança no caminho de ida e volta da escola e de a proteger de perigos físicos e de más influências. Em alguns casos, o tutor também ensinava à criança o que é certo e errado e até a disciplinava. (Gál 3:24, 25) Aqui, Paulo usa esta palavra em sentido figurado para se referir aos homens que tinham recebido a responsabilidade de cuidar em sentido espiritual dos cristãos em Corinto. — 1Co 3:6, 10.
me tornei vosso pai: Aqui, Paulo fala de si próprio como um pai porque alguns dos cristãos em Corinto eram seus filhos em sentido espiritual. Ele tinha passado um ano e meio naquela cidade e, durante esse tempo, tinha ensinado pessoalmente as boas novas a muitos ali. (At 18:7-11) Além de dar início à congregação em Corinto, Paulo teve um papel importante em ajudar os cristãos daquela congregação a crescer em sentido espiritual. (1Co 3:5, 6, 10; compare com 3Jo 4.) Mas Paulo não estava a sugerir que lhe chamassem “pai”, como um título religioso, porque isso iria contra o que Jesus Cristo tinha dito. — Mt 23:8, 9; veja a nota de estudo em Mt 23:9.
dos meus métodos: Lit.: “dos meus caminhos”. Algumas Bíblias usam aqui expressões como “meus princípios de vida; minha maneira de viver”. Mas o contexto mostra que Paulo não estava a falar apenas da sua conduta cristã. A seguir, Paulo diz “assim como estou a ensinar em toda a parte, em todas as congregações”. Isso indica que ele estava a referir-se à sua forma de ensinar e aos princípios que ele seguia ao realizar o seu ministério cristão.
se Jeová quiser: Esta expressão mostra que é necessário levar em conta a vontade de Deus ao planear ou fazer qualquer coisa. O apóstolo Paulo tinha sempre em mente esse princípio. (At 18:21; 1Co 16:7; He 6:3) O discípulo Tiago também incentivou os seus leitores a dizer: “Se Jeová quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.” (Tg 4:15) Tiago não estava a dizer que os cristãos precisam de estar sempre a dizer estas palavras em voz alta. Também não seria correto dizer esta expressão da boca para fora ou por superstição. Em vez disso, os cristãos devem tentar saber qual é a vontade de Deus e agir de acordo com ela.
Multimédia
A palavra grega paidagogós, que aparece em 1Co 4:15 e Gál 3:24, 25, pode ser traduzida como “tutor” ou “guardião”. Esta palavra passava uma ideia bem específica. No mundo greco-romano, as famílias que tinham condições financeiras deixavam os seus filhos rapazes ao cuidado de tutores. Normalmente, o tutor era um escravo, mas também podia ser alguém contratado. Algumas famílias pagavam valores altos para comprar ou contratar um tutor. O tutor cuidava da criança desde os seis ou sete anos até ela se tornar adulta. Ele acompanhava-a sempre que ela saía de casa, para protegê-la dos perigos. Além disso, ele também prestava atenção à forma como a criança se comportava, ensinando-lhe o que era certo e errado, corrigindo-a e disciplinando-a sempre que necessário.