Nasci em San Juan Chancalaíto, uma pequena cidade no estado de Chiapas, no México. A minha família pertence ao povo chol, um grupo étnico descendente dos maias. Os meus pais tiveram 12 filhos, dos quais eu sou o quinto. Quando era criança, eu e os meus irmãos estudámos a Bíblia com as Testemunhas de Jeová. Infelizmente, não segui os conselhos da Bíblia quando era jovem.

 Aos 13 anos, eu já consumia drogas e roubava. Nessa altura, saí de casa e andei sem rumo de um lugar para o outro. Aos 16 anos, comecei a trabalhar numa plantação de canábis. Já lá trabalhava há cerca de um ano quando, numa noite, enquanto transportávamos um grande carregamento de droga por barco, fomos atacados por homens fortemente armados que pertenciam a um cartel rival. Escapei do tiroteio por mergulhar no rio e só voltei à superfície bem longe do local. Depois disso, fugi para os Estados Unidos.

 Nos Estados Unidos, continuei a traficar drogas e meti-me em mais problemas. Com 19 anos, fui preso e sentenciado por roubo e tentativa de homicídio. Na prisão, juntei-me a um gangue e cometi mais atos de violência. Por causa disso, fui transferido para uma prisão de alta segurança em Lewisburg, na Pensilvânia.

 Na prisão de Lewisburg, a minha conduta só piorou. Visto que eu já tinha tatuagens do gangue ao qual pertencia, rapidamente me juntei a membros desse grupo na prisão. Tornei-me ainda mais violento e estava constantemente a entrar em brigas. Numa ocasião envolvi-me numa luta de gangues no pátio da prisão. Lutámos com violência, usando tacos de basebol e pesos para fazer musculação. Para acabar com a luta, os guardas da prisão usaram gás lacrimogéneo. Depois disso, as autoridades prisionais colocaram-me numa unidade especial para presos perigosos. Eu tinha um temperamento explosivo e dizia muitos palavrões. Para mim, era muito fácil espancar uma pessoa. Na realidade, eu até gostava de o fazer. Não sentia nenhum remorso pelo meu comportamento.

 Nessa unidade especial, eu estava confinado à minha cela a maior parte do dia, por isso, comecei a ler a Bíblia para passar o tempo. Mais tarde, uma guarda deu-me um exemplar do livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra. a À medida que lia o livro, lembrava-me de muitas coisas que tinha aprendido quando era criança e estudava com as Testemunhas de Jeová. Depois disso, refleti em como tinha batido no fundo do poço por causa da minha personalidade violenta. Também pensei na minha família. Visto que duas das minhas irmãs se tinham tornado Testemunhas de Jeová, pensei: “Elas vão viver para sempre.” Depois, perguntei-me: “Porque é que eu não posso viver para sempre?” Foi nesse momento que tomei a firme decisão de mudar.

 No entanto, eu sabia que ia precisar de ajuda para mudar. Por isso, primeiro, orei a Jeová Deus e supliquei-lhe que me ajudasse. Depois, escrevi para a sede das Testemunhas de Jeová nos Estados Unidos e pedi um estudo bíblico. Foram feitos arranjos para eu ser contactado por uma congregação local. Nessa altura, não me era permitido receber visitas que não fossem familiares, por esse motivo um irmão da congregação começou a enviar-me cartas encorajadoras e publicações bíblicas, o que aumentou a minha vontade de mudar.

 Dei um grande passo quando decidi abandonar o gangue a que pertenci durante muitos anos. O líder do gangue também estava naquela unidade especial, por isso, aproximei-me dele num dos nossos períodos de recriação e contei-lhe que me queria tornar Testemunha de Jeová. Para minha surpresa, ele disse-me: “Se estás a falar a sério, força. Não posso ir contra a vontade de Deus. Mas se só queres sair do gangue, já sabes o que vai acontecer.”

 Durante os dois anos seguintes, os funcionários da prisão repararam nas mudanças na minha personalidade. Como resultado, passaram a tratar-me melhor. Por exemplo, deixaram de me algemar quando me escoltavam da cela para tomar banho. Um dos guardas até veio falar comigo para me encorajar a continuar a fazer mudanças. Na realidade, no meu último ano de pena, as autoridades prisionais transferiram-me para um complexo de baixa segurança, perto da prisão principal. Em 2004, depois de dez anos de prisão, fui libertado e deportado para o México num autocarro prisional.

 Pouco depois de chegar ao México, procurei um Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. Assisti à minha primeira reunião com o meu uniforme prisional, que era a única roupa decente que tinha. Apesar da minha aparência, as Testemunhas de Jeová receberam-me muito bem. Quando vi a sua bondade, senti que estava entre os verdadeiros cristãos. (João 13:35) Nessa reunião, os anciãos providenciaram-me um estudo bíblico. Batizei-me como Testemunha de Jeová um ano depois, no dia 3 de setembro de 2005.

 Em janeiro de 2007, comecei a servir como ministro de tempo integral, gastando 70 horas por mês para ensinar a Bíblia a outros. Em 2011, fiz a Escola Bíblica Para Irmãos Solteiros (agora chamada Escola Para Evangelizadores do Reino). Esta escola ajudou-me muito a desempenhar bem as minhas responsabilidades na congregação.

 Em 2013, casei-me com a minha querida esposa, Pilar. Ela diz, com algum humor, que não consegue acreditar nas coisas que lhe conto sobre o meu passado. Nunca voltei aos meus antigos hábitos. Eu e a minha esposa acreditamos que eu sou uma prova viva de que a Bíblia tem o poder de transformar as pessoas. — Romanos 12:2.

 Sinto que as palavras de Jesus em Lucas 19:10 se aplicam a mim. Ele diz: “[Vim] procurar e salvar o que estava perdido.” Já não me sinto perdido. Nem ando a agredir as pessoas. Graças à Bíblia, tenho o mais nobre dos objetivos na vida, vivo em paz com as pessoas e, acima de tudo, sou amigo do meu Criador, Jeová.