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Alemanha (Parte Dois)

Alemanha (Parte Dois)

Alemanha (Parte Dois)

COMEÇA A RECONSTRUÇÃO

Imediatamente depois da guerra, os irmãos no Betel suíço foram os únicos que tiveram contato com os irmãos alemães. Eles, tendo ouvido falar de certas tendências indesejáveis que existiam em muitas congregações, mesmo depois da libertação dos irmãos dos campos, enviaram a seguinte circular às congregações:

“A todos nossos amados conservos na Alemanha

Queridos Irmãos em Cristo,

“Finalmente ficaram livres do jugo nazista! — Alguns dos irmãos sofreram por muitos anos, quer na prisão, quer nos campos de concentração, quer outros tipos de perseguição. . . .

“Ninguém, contudo, que foi considerado digno de sofrimento especial pelo nome do Senhor deve tornar-se orgulhoso por causa disso e usar um halo de mártir ou exaltar-se acima dos demais que não estiveram presas, nem nos campos de concentração. Ninguém deve jactar-se de seus sofrimentos perante suas concriaturas humanas. Não se esqueçam de que muitos irmãos que permaneceram em suas casas também tiveram muitos problemas e estiveram sob graves pressões. O cristão não pode escolher seus sofrimentos. O Senhor os determina ou, melhor, permite-os.

“Por esta razão, queridos irmãos, não sejamos injustos nem tomemos lados, nem condenemos a ninguém que, segundo nosso modo de pensar, tenha transigido ou que estivesse disposto a fazer isso. O Senhor julga nossos corações. Diante dele somos como um livro aberto. . . .

“O irmão Erich Frost, de Leipzig, está autorizado a assumir a direção dos assuntos em seu território. Este arranjo, contudo, é de natureza temporária, segundo as instruções do presidente. O irmão Frost, na medida do possível, relatará regularmente ao presidente sobre o progresso da obra de impressão.

“A obra de pregação, sob a direção do novo presidente da Sociedade, Nathan Homer Knorr, tem sido organizada mais cabalmente do que nunca e está fazendo grande progresso! . . .

“Família da Casa da Bíblia em Berna

assinado Fr. Zürcher”

Os irmãos Frost, Schwafert, Wauer, Seliger, Heinicke e outros, logo depois de sua soltura, começaram a tentar obter de novo a posse da propriedade da Sociedade, visando que a obra fosse de novo dirigida dali. Isto mais tarde resultou impossível, devido à atitude hostil das autoridades russas.

O irmão Frost, que no ínterim fora designado superintendente da filial, pediu a Willi Macco, de Saarbrücken, Hermann Schlömer e Albert Wandres, de Wiesbaden, e ao irmão Franke, de Mainz, que organizassem e cuidassem das congregações naquelas partes da Alemanha Ocidental em que já eram diretores regionais de serviço durante a proscrição.

Nesse mesmo tempo, o irmão Franke se empenhava, na vizinhança de Stuttgart, em comprar papel que pudesse ser usado para se imprimir pequenas edições de A Sentinela. Foram também feitos arranjos para serem proferidos discursos pelo rádio em Stuttgart Francforte e Saarbrücken, destarte trazendo à atenção do público a mensagem do Reino. Por fim, o irmão Franke alugou duas salas de escritório em Wiesbaden, e, uma semana mais tarde, um pequeno quarto na mesma casa, para alojamento.

No fim de 1945, o irmão Frost foi de Magdeburgo a Stuttgart e considerou questões de organização com irmãos fiéis que estavam dispostos a assumir o serviço de tempo integral como servos viajantes ou a trabalhar em Betel. Visto que a Sociedade estava registrada em Magdeburgo, na Alemanha Oriental, parecia necessário abrir um escritório sucursal em Stuttgart, na Alemanha Ocidental.

Logo depois o irmão Frost se dirigiu para os Países-Baixos, para encontrar o irmão Knorr e falar pessoalmente com ele pela primeira vez. Parou em Wiesbaden, no caminho e, depois de o irmão Franke lhe mostrar as duas salas de escritório alugadas, decidiu imediatamente cancelar os planos para Stuttgart e abrir o escritório em Wiesbaden. Isso significava que as duas salas de escritório e o pequeno alojamento do irmão Franke se tornariam o lar de Betel, onde dentro em breve vinte irmãos e irmãs trabalhavam e comiam.

Aproximadamente um ano depois, a cidade de Wiesbaden ofereceu ao irmão Franke, devido a ter sido internado sob a proscrição, um apartamento de dois cômodos na Rua Wilhelminen, 42; de modo que não só o irmão Franke, mas o Betel também mudou. O maior desses dois cômodos era o lar de Betel. Pela bondade imerecida de Jeová, foi possível alugar um outro quarto no mesmo prédio, de propriedade de uma irmã, e este servia qual escritório. Foi aqui que o irmão Knorr fez sua primeira visita aos irmãos na Alemanha.

Os irmãos visitaram repetidas vezes o prefeito, e, embora ele tivesse prometido alguns cômodos, sim, até mesmo toda uma casa, ainda assim nada resultara disso. Então aproveitaram a visita do presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados dos EUA, anunciando-a com ênfase a todas as devidas autoridades, em especial, porém, ao prefeito, perguntando-lhe o que achava que deveriam dizer ao presidente da Sociedade, que era estadunidense, quando este lhes indagasse que espaço para escritório lhes fora oferecido para cumprirem suas responsabilidades. Aproveitaram-se da proscrição de Hitler e de seus longos anos de prisão, apontando as autoridades a responsabilidade que elas assumiram voluntariamente de fazer reparações das injustiças cometidas contra as Testemunhas. Quão surpresos ficaram os irmãos quando o prefeito disse: “Então por que não ficam com a ala ocidental do prédio em Kohlheck?” Fora construído para ser usado como alojamento da força aérea, mas não fora terminado nem usado antes do fim da guerra. Esse era justamente o prédio que contemplavam e tentaram várias vezes obter, mas sem êxito.

Felizes com estas informações, aguardaram com excitamento a visita do irmão Knorr, durante a qual seria redigido e assinado legalmente o contrato por ele, como presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, dos EUA.

CONGRESSO EM NUREMBERGUE

Enquanto os irmãos se ocupavam em reorganizar as congregações e em suprir-lhes o alimento espiritual, apesar da escassez de papel, crescia seu desejo de ter uma grande assembléia. Mas, organizar tal assembléia naquele tempo envolvia a solução de muitos problemas, não só relacionados à escassez de alimentos e à falta de acomodações, mas também os relacionados a estar a Alemanha dividida em quatro setores militares, e ser extremamente difícil viajar de um setor para outro. Apesar disto, o irmão Frost pediu ao irmão Franke que fizesse arranjos para pelo menos uma assembléia de distrito em cada setor de ocupação e, se possível para se realizar uma delas em Nurembergue, no setor estadunidense.

Depois de terem falhado as primeiras tentativas, um irmão dirigiu-se pessoalmente às autoridades em Nurembergue e determinou que havia possibilidade de se realizar ali uma assembléia, afinal das contas. Foram feitos arranjos para os dias 28 e 29 de setembro. Tornou-se ainda maior a expectativa entre os irmãos quando se anunciou que o governo militar finalmente nos oferecera o Zeppelinwiese em Nurembergue.

Nessa época, corria em Nurembergue o julgamento dos chamados “criminosos de guerra”, e deveriam ser sentenciados em 23 de setembro. Esta data fora fixada com semanas de antecedência, e o mundo já tinha sido avisado.

Depois que se tornou possível realizar uma assembléia em Nurembergue, os irmãos decidiram, no último minuto, estendê-la por um dia, de modo que concluísse na segunda-feira, 30 de setembro. Depois de se reorganizarem os trens especiais e de se fazerem todos os arranjos para este terceiro dia de assembléia, as rádios e os jornais subitamente anunciaram ao mundo que as sentenças no julgamento pelos crimes de guerra, em Nurembergue, não se tornariam públicas antes de 30 de setembro. Isto criava problemas, visto que o governo militar estadunidense receava que houvesse demonstrações em Nurembergue, e, portanto, ordenara um toque de recolher. Significava que ninguém da cidade poderia comparecer ao discurso público na segunda-feira. Assim, foi programado de novo para a noitinha de domingo, às 19,30, o irmão Frost discursando sobre o assunto “Os Cristãos no Crisol”. Indescritível era a alegria dos 6.000 irmãos presentes quando ouviram dizer que 3.000 pessoas adicionais de Nurembergue estavam presentes para ouvir este discurso.

Embora as autoridades do governo militar estadunidense de início tentassem cancelar o terceiro dia de nossa assembléia devido às sentenças que seriam dadas no mesmo dia aos criminosos de guerra, os irmãos ganharam. Depois de prolongadas negociações, as autoridades militares retiraram sua solicitação. Como poderiam proibir às testemunhas de Jeová, que por tantos anos haviam resistido àqueles que agora estavam sendo julgados, de concluir em paz e sem perturbações a sua assembléia?

Assim, na manhã de segunda-feira, os irmãos na assembléia, que tinha por lema “De Coração Forte Para a Era do Após-Guerra”, usufruíram outro destaque quando foi proferido o discurso “Destemidos Contra a Conspiração Mundial”.

Quem pode descrever como os 6.000 irmãos reunidos se sentiram quando compreenderam como Jeová manobrara os assuntos? Pense só, depois do colapso do regime nazista, as testemunhas de Jeová, que têm verdadeira mensagem de paz para a humanidade, foram os primeiros a quem se permitiu reunirem-se neste campo que certa vez tinha sido o local das paradas de Hitler. E podemos imaginar suas reações quando pensavam em que, neste seu terceiro dia de assembléia estavam sendo proferidas sentenças de morte para aqueles que representaram aquele sistema assassino que tentou eliminar as testemunhas de Jeová? Disse o presidente na assembléia: “Apenas poder presenciar neste dia, que é apenas um antegosto do triunfo do povo de Deus sobre seus inimigos na batalha do Armagedom, valeu os nove anos de campo de concentração.” Sua declaração foi captada pela imprensa e transmitida a todo o mundo.

MEDIDAS DE SOCORRO DO EXTERIOR

Em 1947, os irmãos Knorr, Henschel e Covington puderam visitar os irmãos na Alemanha. Durante suas visitas, foram feitos arranjos para se realizar uma assembléia em Stuttgart, no sábado e domingo, 31 de maio e 1.º de junho. Visto não haver salões disponíveis na cidade, sendo que tudo tinha sido arrasado pelos bombardeios, arranjou-se um local de assembléia num subúrbio adjacente. Havia aproximadamente 7.000 pessoas presentes.

Durante esta visita do irmão Knorr, tornou-se evidente a ele que as remessas de socorro, de alimentos e roupas, feitas pela Sociedade, teriam de continuar. Os irmãos na Suíça haviam contribuído com muitas dádivas em forma de gêneros alimentícios e roupas a fim de socorrer os irmãos alemães em premente necessidade, mostrando assim seu amor fraternal. Mas, o irmão Knorr sentiu tanta pena deles que decidiu contar aos irmãos que se reuniriam em congresso em Los Angeles, algumas semanas depois, sobre a luta deles e os encorajaria a contribuir alimentos e roupas. Os irmãos alemães, contudo, não estavam especialmente cônscios de sua luta, tão felizes e apreciativos se sentiam de que Jeová preparara esta festa espiritual para eles, tendo por clímax o privilégio de ter o irmão Knorr no meio deles.

Quando ele falou aos irmãos dos Estados Unidos sobre suas observações na Alemanha e os incentivou a contribuir gêneros alimentícios, os irmãos espontaneamente responderam com US$ 140.000,00, soma usada para comprar 22.000 grandes pacotes de alimentos da organização CARE, para serem enviados à Alemanha. Adicionalmente, contribuíram com 200 toneladas de roupas — ternos, vestidos, roupas de baixo e sapatos, para homens, mulheres e crianças.

Logo que se fez o anúncio de que a remessa estava a caminho, fizeram-se preparativos em Betel para uma distribuição rápida e suave. Num subúrbio de Wiesbaden, alugaram um quarto numa Gasthaus (taberna) onde selecionaram e distribuíram as roupas. Todo publicador que estivera ativo no ministério de campo por seis meses — em outras palavras, que não relatara apenas para obter um pacote de CARE — foi registrado, pois havia um pacote grande e valioso de alimentos à espera de cada um deles.

A distribuição mal tinha começado quando montanhas de cartas chegaram à filial, em que os irmãos expressavam seu apreço. Era emocionante ver o apreço com que os irmãos aceitavam tais dádivas e como se sentiam movidos a agradecer tanto a Jeová como aos contribuintes, seus irmãos nos Estados Unidos. Com muita freqüência, alguém tinha de parar de trabalhar para enxugar as lágrimas que tais cartas faziam correr em seus olhos. Como exemplo, certo pai, depois de abrir o pacote e ver seu conteúdo, ajoelhou-se junto com seu filho de 12 anos e agradeceu a Jeová, em oração, este amoroso presente de seus irmãos.

O irmão Knorr também fez arranjos para que quase um milhão e meio de exemplares dos livros “Seja Deus Verdadeiro”, O Novo Mundo e “A Verdade Vos Tornará Livres” fossem enviados à Alemanha como presente. Com o dinheiro ajuntado pela distribuição destes livros, lançar-se-ia uma base, a partir da qual a filial poderia operar. Assim, Jeová cuidava de tudo o que era necessário para que a obra prosseguisse de novo na Alemanha.

AVANTE, APESAR DAS DIFICULDADES DO APÓS-GUERRA

O ano de 1948 começou com uma série de greves na Alemanha meridional e no território do Ruhr, em protesto contra a péssima situação alimentar. As rações de carne e de gordura tinham sido reduzidas ainda mais. Ao passo que a ONU declarara ser necessária uma ração de 2.620 calorias diárias, o que se conseguia obter estava muito aquém disto em alguns lugares — apenas 1.000 ou, talvez, apenas 700 calorias. Quase todos estavam famintos, e a situação se agravava, resultando numa sensação geral de amargura.

Todavia, o povo de Jeová começou o novo ano cheio de zelo e entusiasmo. Uma reunião especial em cada congregação foi realizada em 1° de janeiro, com um total de 38.682 pessoas na assistência, e, durante este mesmo mês, 27.056 publicadores, 2.183 mais que no mês anterior, relataram serviço de campo. Era tempo para iniciar-se a campanha anual de A Sentinela, mas, o que nós aqui, na Alemanha, realmente precisávamos eram de exemplares pessoais de A Sentinela para nós mesmos. Era um problema, especialmente em vista das condições angustiantes trazidas pela escassez de papel, além de todas as demais dificuldades. O irmão Knorr fez arranjos pelos quais uma quantidade suficientemente grande de Sentinelas foram impressas na Suíça e enviadas à Alemanha, de modo que, durante janeiro, não só cada publicador tinha sua própria Sentinela, mas toda congregação foi suprida de algumas além dessa quantidade, permitindo que muitos que compareciam regularmente ao estudo da Sentinela obtivessem seu próprio exemplar pessoal. Assim, o alimento espiritual nos estava sendo provido.

Nesta época, a maioria das cidades alemãs não eram nada mais do que montões de destroços. Este era o caso de Cassel; fora quase que inteiramente destruída e as primeiras estimativas feitas pela comissão de planejamento, que iria cuidar da obra de desobstrução, eram de que levariam 23 anos apenas para livrar-se dos destroços da cidade. Foi aqui que planejamos realizar uma assembléia. A cidade não podia fornecer-nos nada exceto o amplo Karlswiese, um campo com mais de 50 grandes crateras de bombas. Mas, os irmãos, com sua experiência do campo de concentração, empenharam-se felizes nesse trabalho, apesar dos comentários céticos amiúde repetidos das autoridades. Usando métodos primitivos, levaram em carroças cerca de 10.000 metros cúbicos de pedras e destroços das casas destruídas na vizinhança e encheram as crateras. Isto levou cerca de quatro semanas.

Estas semanas resultaram ser um teste, pois os irmãos mal começaram a trabalhar quando começou a chover, e não parou mais até começar a assembléia. Embora ensopados, não permitiram nem que o trabalho árduo nem que a chuva arrefecesse seu espírito. Quando as pessoas lhes diziam que seria impossível realizar tal assembléia no Karlswiese neste tipo de tempo, otimistamente respondiam que, uma vez a assembléia começasse, teriam ótimo tempo.

Bem no meio da obra preparatória, que progredia rapidamente, foi anunciada uma reforma monetária. Era de se esperar inconveniências mui desagradáveis. Em 21 de junho a nova moeda entrou em circulação, cada cidadão dos três setores ocidentais recebendo, na nova moeda, 40 marcos para cada 60 antigos marcos do Reich. Um mês mais tarde receberam outros 20 marcos alemães. As contas bancárias foram reduzidas a um décimo da antiga quantia e foram congeladas momentaneamente.

O valor da nova moeda logo se tornou evidente. Itens açambarcados subitamente se tornaram disponíveis para a venda, e muitas das coisas necessárias que faltavam durante anos agora podiam ser compradas nas lojas. Mas, nossos irmãos estavam cônscios de suas necessidades espirituais e estavam dispostos a investir seus marcos alemães a fim de comparecer à assembléia. Muitos venderam itens valiosos, como câmaras fotográficas, e assim por diante, para cobrir suas despesas. A mão de Jeová não era curta demais em ajudar aqueles que colocavam em primeiro lugar os interesses do Reino. Como exemplo, a irmã Neupert, de Munique, relata: “Minha colônia de abelhas estava em perigo, visto que eu não tinha açúcar e não tinha meios de comprá-lo mas, para mim, Cassel era mais importante. E não fiquei desapontada. Ao voltar, descobri que minhas abelhas tinham trabalhado com tanto zelo que consegui colher cerca de 990 quilos de mel naquele ano.”

Quando os irmãos responsáveis da filial chegaram em Cassel, foram saudados com as palavras de Isaías 12:3: “Com exultação haveis de tirar água.” Os irmãos tinham escrito estas palavras numa faixa e a penduraram na entrada do campo. Outros, ainda ocupados em tirar a água das remanescentes crateras de bombas, de modo que o solo se secasse mais rápido, saudaram-nos com sua versão do texto: ‘Com tinas haveis de tirar água.’

Dezessete trens especiais convergiram para Cassel e, na manhã de sexta-feira, depois de semanas de chuva torrencial, o sol reluzia num céu claro sobre os mais de 15.000 assistentes. A assistência alcançou 17.000 pessoas no segundo dia e atingiu o clímax no discurso público, quando os indicadores contaram 23.150 pessoas, não se incluindo os bandos de cidadãos de Cassel que ficaram em pé nas ruas ao redor do local da assembléia. Os jornais de Cassel mencionaram “25.000 a 30.000 pessoas no Campo de Karl”.

Até mesmo o prefeito estava presente e proferiu breve discurso aos irmãos, cuja obra lhe impressionara grandemente. O tempo bom predominou e o chefe de polícia católica disse aos irmãos, durante uma visita ao local de assembléia, no segundo dia: “Parecem ter muito cartaz com o homem lá de cima!” Daí, depois de uma pausa, adicionou: “Têm mais cartaz do que nós.”

Um dos muitos destaques desta assembléia foi quando cada um dos assistentes recebeu um exemplar grátis do livro “A Verdade Vos Tornará Livres” e dois exemplares do folheto O Gozo de Todo o Povo. Outro destaque foi o serviço de campo. Os irmãos foram levados em trens especiais para trabalhar em todas as cidades da vizinhança, até mesmo em Paderborn, de modo que esta cidade do bispo foi completamente trabalhada em um só dia. Nesta assembléia, 1.200 novos irmãos e irmãs foram batizados.

O resultado da disposição do povo de Jeová de colocar em primeiro lugar os interesses espirituais foi a paz, a união e o aumento. Durante o mês do congresso, julho, 33.741 publicadores relataram serviço de campo, e isto aumentou em agosto para 36.526. O ano de serviço terminou com 83 por cento de aumento. O número de congregações cresceu, e, em 15 de outubro, foi feita nova divisão de circuitos, havendo então setenta.

Foi também em 1948 que as primeiras prensas planas foram montadas no Betel de Wiesbaden. Visto que grande suprimento de papel chegou ao mesmo tempo como dádiva de Brooklyn, foi possível começarmos a imprimir em grande escala. Duas máquinas imprimiam dia e noite, por longo tempo. Mas, muitas pessoas de fora estavam curiosas de saber como fora possível conseguirmos estas duas máquinas, visto que nenhuma firma podia produzi-las naquele tempo. Eram prensas que pertenciam a um anterior milionário e que haviam sido seriamente danificadas num reide aéreo sobre Darmstadt. Depois de 1945, as partes de ferro foram retiradas dos escombros por este senhor e seu diretor do escritório, e levadas para a fábrica Johannisberg, no Reno, onde haviam sido originalmente feitas. Felizes de ter algo para seus operarias fazerem, restauraram por completo tais prensas. No ínterim, a secretária deste dono de gráfica certa vez rico, que logo se tornou esposa dele, aprendeu a verdade, e usou sua influência de modo que este ser vendeu as prensas à Sociedade por um preço incrivelmente baixo.

Mesmo antes disso, os irmãos conseguiam produzir cerca de quatro a seis mil revistas por mês, por quase um ano e meio, numa pequena gráfica em Karlsruhe. Tinha sido uma gráfica nacional-socialista e fora tomada pelas forças de ocupação estadunidenses para ser colocada à disposição de pessoas perseguidas pelo regime nazista. Visto que os membros de Betel pertenciam a este grupo, esta pequena gráfica foi entregue para seu uso, sob a condição de que eles mesmos a administrassem. Erwin Schwafert recebeu a responsabilidade de dirigi-la e certificasse de que fossem impressas ali as Sentinelas até que pudéssemos continuar esse trabalho em nossa própria gráfica.

Um problema especial era a distribuição. Embora o número de publicadores crescesse a cada mês, o governo militar não podia suprir-nos mais papel. Assim, tínhamos de fazer um novo plano de distribuição a cada mês, por meio do qual uma Sentinela ficava disponível a cada seis ou sete publicadores. Essa era uma das razões pelas quais o irmão Knorr fez todo esforço de conseguir estabelecer legalmente a Sociedade em Wiesbaden como uma organização filial da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pênsilvânia, EUA. Assim seria possível suprir rapidamente o papel, vindo de fora da Alemanha, a fim de satisfazer a crescente demanda que os irmãos tinham de material para estudo. Mas, também careciam de material para trabalhar de casa em casa. Tinha havido poucas publicações disponíveis aos irmãos até 1948, principalmente folhetos, e estes estavam sendo emprestados por uma ou duas semanas.

Em 1949, crescentes quantidades de papel tornaram possível acelerar a impressão de forma considerável. Foram impressos 40.000 exemplares da Sentinela de 1.º de janeiro de 1949, e este número cresceu, alcançando 80.000 exemplares para o número de 15 de abril, 100.000 para o número de 1.º de maio, e 150.000 para o número de 15 de maio.

Ao passo que havia 35.840 pessoas presentes na Comemoração da morte de Cristo em 1947 em todos os quatro setores da Alemanha, um ano depois havia 48.120, e, em 1949, o número dos presentes à Comemoração subira para 64.537 pessoas. Aqui, também, havia alguns problemas a serem resolvidos. Por exemplo, em Holzheim, perto de Gôppingen, a Comemoração em 1948 foi realizada sob “proteção” policial. Como aconteceu isto? O irmão Eugen Mühleis explica: “O ministro tinha sido proibido de celebrar a refeição noturna na Igreja Evangélica por causa de uma epidemia de tifo na comunidade. O diretor da escola onde planejávamos realizar nossa Comemoração tentou então impedir-nos de utilizá-la. O departamento de saúde pública nos dera permissão, mas baixara várias regras a serem cumpridas a fim de impedir a disseminação da doença contagiosa. Um policial foi enviado para comparecer a nossa Comemoração, a fim de assegurar-se de que tais restrições fossem observadas.”

No início de 1949, a gráfica de Wiesbaden foi ampliada; oito prensas estavam operando, duas delas rodando dia e noite. No decorrer do ano, cerca de um milhão e meio de livros encadernados foram enviados de Brooklyn, a sua distribuição criando uma base mais ampla para novas revisitas e estudos bíblicos. As fileiras dos publicadores cresciam mês após mês, 43.820 relatando em agosto de 1949. Um aumento de 33 por cento em publicadores foi alcançado para o ano de serviço.

OPOSIÇÃO NA ALEMANHA ORIENTAL COMUNISTA

Bem diferente foi o desenvolvimento da obra na Alemanha Oriental e no setor oriental da cidade de Berlim, que, no fim da Segunda Guerra Mundial, foram ocupados pela Rússia soviética e governados pela administração militar soviética. Muitos de seus oficiais não conheciam muito sobre as testemunhas de Jeová, exceto que haviam suportado a brutal perseguição dos nazistas. Houve, comparativamente, pouca interferência no início, mas, à medida que as congregações começaram a prosperar e muitas pessoas começaram a mostrar interesse na mensagem do Reino, a administração militar soviética ficou desconfiada de nossa obra, visto parecer estar além de seu controle. Amiúde havia multidões maiores em nossas reuniões públicas do que as assistências nas reuniões políticas do partido comunista, que eram promovidas pelo governo militar.

Os oficiais soviéticos locais começaram abertamente a cercear as atividades das congregações e dos publicadores. Alguns dos clérigos da cristandade viram ali sua oportunidade de mostrar-se bons amigos dos comunistas. Caluniaram os irmãos como se opondo às autoridades e influenciando as pessoas a mostrar uma espécie de resistência passiva ao esforço de reconstrução do governo militar da economia desolada da Alemanha Oriental, por pregarem o reino de Deus como sendo a única esperança da humanidade.

Tais interferências moveram os irmãos que trabalhavam no escritório da Sociedade em Magdeburgo a se dirigir à sede da administração militar soviética situada em Berlim Oriental. De início, seus esforços foram considerados de acordo com o princípio geralmente praticado de “nada é proibido, nada é permitido”. Mas, os irmãos por fim tiveram êxito em obter uma certidão da sede, confirmando que as testemunhas de Jeová operavam legalmente. A apresentação deste documento em lugares em que ocorriam interferências foi de ajuda em alguns casos, mas outros oficiais pareciam achar que a sede estava muito longe e que eram os seus próprios senhores.

Depois da guerra, Berlim, a prévia capital do Reich alemão foi dividida pelos quatro aliados vitoriosos em quatro setores dotados de administração parcialmente independente e parcialmente mútua. A dissensão se tornou veemente quando os russos fizeram um bloqueio sobre os setores ocidentais de Berlim, depois da reforma econômica iniciada em 1948. Os aliados ocidentais romperam o bloqueio por usarem seu direito aos corredores aéreos que não estavam sujeitos a controle, assim suprindo a população dos três setores com as necessidades da vida por meio duma “ponte aérea”. Quando se chegou a um acordo, e os russos levantaram o bloqueio, Berlim já era definitivamente uma cidade dividida, a Berlim Oriental, sob regência comunista, e a Berlim Ocidental, com certos vínculos com a República Federal da Alemanha.

Uma assembléia de distrito foi programada para Leipzig, em 1948, mas os oficiais militares russos recusaram-se a conceder permissão. Planos foram então feitos para se usar o lindamente situado Waldbühne (Palco da Floresta), situado no setor inglês de Berlim. Não houve fim das dificuldades envolvidas. A questão mais importante não era apenas a reforma monetária nem o tempo ruim, e sim: Como os milhares de pessoas da Alemanha Oriental chegarão à cidade bloqueada de Berlim? Por fim, obtivemos permissão de fretar trens especiais para a cidade, assim, apesar da crítica situação política, quase 14.000 pessoas estavam reunidas no primeiro dia. No terceiro dia, mais de 16.000 estavam presentes, e ao discurso público na tarde de domingo compareceram mais de 25.000 pessoas. Novos publicadores, que simbolizaram sua dedicação pelo batismo, totalizavam 1.069. Jeová provou ser gracioso hospedeiro, que preparou uma mesa de coisas gordurosas para Seu povo, no próprio ponto focal da luta entre os dois blocos de nações.

Como ia a propriedade da Sociedade em Magdeburgo, na Alemanha Oriental comunista? Os prédios em Wachtturmstrasse 17-19 foram devolvidos em 1945, logo depois do fim da guerra, e já se achavam 95% restaurados, ao passo que cerca de 90% do localizado na Rua de Leipzig, 16, fora consertado. Nossos irmãos reconstruíram a propriedade destruída, oferecendo seus serviços gratuitamente. Por decisão do governo do Estado da Saxônia, em 24 de junho de 1949, o restante da propriedade foi devolvido à Sociedade, situando-se em Fuchsberg, 5-7, e Wachtturmstrasse, 1-3. Nesse mês, o número total de publicadores na Alemanha Oriental, sob cuidados da filial em Magdeburgo, alcançou 16.960.

Havia grande demanda da verdade bíblica. Os superintendentes viajantes relatavam que, com freqüência, de 100 a 150 pessoas estavam presentes nas reuniões públicas nas congregações, que só tinham de 30 a 40 publicadores. Nas grandes cidades, a assistência nos discursos amiúde alcançava mais de mil pessoas. Muitos estudos bíblicos eram iniciados, em uma congregação, os publicadores tinham a média de 3,8. Os superintendentes viajantes nem sempre passavam momentos fáceis. Alguns deles viajavam em velhas bicicletas emprestadas, algumas das quais não tinham pneus de borracha, mas apenas os aros de metal. Tinham de percorrer longas distâncias. Daí, também, havia o problema dos cartões de racionamento. Um superintendente de circuito relata que a certidão passada pelo escritório de trabalho, que o classificava como “pregador”, não foi prolongada, o que significava que ele ficou sem cartão de racionamento.

Outro superintendente de circuito relata: “Havia vários espiões presentes em cada discurso. Certa vez os irmãos não estavam muito certos sobre um senhor que apareceu em trajes civis. Antes de começar o discurso, aproximei-me dele e lhe perguntei: ‘Por favor, Sr. oficial, poderia me dizer a hora certa?’ Ele o fez, e, por não ficar surpreso ao ser chamado de oficial, sabíamos que era um policial em trajes civis.”

A inimizade entre os oficiais russos e alemães comunistas continuava a aumentar. Uma assembléia de distrito para os irmãos que moravam na Alemanha Oriental foi mais uma vez planejada para Berlim, no Waldbühne, de 29 a 31 de junho de 1949. Este congresso foi realizado sob a sombra de nuvens de perseguição que se formavam, mas mostrava a determinação de nossos irmãos de continuar servindo a Jeová com coração pleno. Foram feitos preparativos tão quietos e com tão pouco movimento quanto possível. Já tinha havido certo número de ataques comunistas contra a liberdade religiosa na Alemanha Oriental. Por exemplo, uma assembléia de circuito na Saxônia foi cancelada no último minuto, e a violência deixou feridas algumas Testemunhas.

Conseguimos fretar oito trens especiais. Cerca de 8.000 pessoas já haviam pago mais de 100.000 marcos alemães pelas passagens quando, apenas algumas horas antes da partida, os trens foram cancelados. A ferrovia recusou-se a restituir o dinheiro das passagens antes de se passarem duas semanas. Milhares de Testemunhas aguardavam os trens especiais nas estações, apenas para ouvir a notícia de que haviam sido cancelados. A polícia bloqueou todas as estradas que davam para Berlim, e deu busca em todos os carros, ônibus e caminhões, atrás de pessoas que fossem para o congresso. Mas, na noite do primeiro dia da assembléia havia pelo menos 16.000 pessoas presentes. O discurso público no domingo foi assistido por mais de 33.000 pessoas. Os ataques e os esforços iníquos do inimigo tinham resultado apenas em ser gigantesco testemunho contra eles mesmos.

As medidas ditatoriais dirigidas contra nas logo se tornaram conhecidas e, embora não se tivessem enviado convites para a imprensa, numerosos repórteres compareceram para escrever histórias sensacionais sobre as tentativas dos comunistas de impedir que as Testemunhas chegassem a Berlim. Na noite de sábado, o superintendente da filial, Erich Frost, leu uma resolução aos milhares reunidos, e foi noticiada nessa mesma noitinha, pela vias, estação de rádio estadunidense em Berlim. O irmão Frost delineou sua corajosa posição com as seguintes palavras: “É o bolchevismo melhor do que os outros sistemas? Crêem os comunistas que precisam acabar o que Hitler iniciou? Não temos medo algum dos comunistas, assim como não tivemos dos nazistas!”

A resolução adotada na assembléia de distrito de Berlim incluía forte protesto contra as proscrições antidemocráticas e inconstitucionais dos serviços religiosos na Saxônia, e o confisco de salas usadas para isso. Tal resolução foi enviada junto com uma carta acompanhante, datada de 3 de agosto, à alta administração militar soviética da Alemanha em Berlim. Cópias foram também enviadas a 4.176 autoridades públicas de destaque, ou aos que tinham que ver com os jornais, estações de rádio, agências de notícias, e assim por diante, tanto em Berlim como na Alemanha Ocidental e Oriental. Assim, a atenção de todos se voltava para a campanha comunista e a firmeza dos cristãos verdadeiros. Em agosto, um mês depois do congresso, as testemunhas de Jeová na Alemanha Oriental atingiram novo auge de publicadores, 568 mais do que já haviam relatado antes!

O excitamento duma campanha contra as testemunhas de Jeová continuou a assumir cada vez maior âmbito. A liberdade de religião ficava cada vez mais restrita. Foram anunciadas proscrições contra o dirigir-se estudos bíblicos, os políciais interrompiam serviços religiosos, os irmãos eram despedidos do serviço público ou de empregos municipais por causa de sua religião. Uma petição, solicitando uma garantia de verdadeira liberdade religiosa, foi apresentada ao governo da República Democrática Alemã em 18 de fevereiro de 1950. O resultado foram mais casos de interrupção inconstitucional dos serviços religiosos, o confisco de publicações e a prisão de vários ministros destacados. Em 27 de junho de 1950, outra petição das testemunhas de Jeová na Alemanha Oriental foi enviada ao governo, sendo dirigida ao Ministro-Presidente Otto Grotewohl. Daí, a mão cruel do comunismo lançou duro ataque.

Bem cedo na manhã de 30 de agosto de 1950, as forças políciais comunistas sob o comando de dois oficiais russos tomaram de assalto nosso Betel de Magdeburgo. Prenderam todos os irmãos, exceto um, a quem mantiveram ali como “zelador”. A carta do Ministério do Interior, avisando a Sociedade Torre de Vigia de Magdeburgo sobre a proscrição, estava datada de 31 de agosto. Mas, não foi senão em 3 de setembro que a polícia apresentou a carta ao único irmão que fora deixado ali, o “zelador”.

Relatórios de testemunhas oculares, feitos por irmãs em Betel, descrevem o que aconteceu naquela manhã de 30 de agosto: “Por volta das 5 da manhã, tocou o sinal de alarme. Vesti-me rapidamente. . . . Ao abrir a porta para correr escada abaixo, vi-me confrontada por dois policiais que me mandaram permanecer no meu quarto. Daí, um dos oficiais entrou e me mandou abrir o guarda roupa. Recusei fazer isso antes de ele me mostrar sua identificação. Eles fizeram tudo em pedaços. . . .” Como é que a polícia conseguira entrar no lar de Betel? Outra irmã nos conta: “Eu olhei pela janela, no quarto 23, e notei um policial pulando o portão. Outros já estavam lá dentro. O vigia noturno se recusara a abrir o portão para eles. Calculo que havia pelo menos de 25 a 30 policiais no grupo, e nenhum deles trajava farda.”

A irmã Bender, que servia no Betel de Magdeburgo naquele tempo e que ainda serve fielmente no Betel de Wiesbaden, relata sua experiência: “Em 30 de agosto de 1950, entre as 4 e 5 da manhã, a polícia alemã-oriental veio ao lar de Betel. Todos tiveram de permanecer em seus quartos, mas, perto das 10 horas, consegui escapar de Betel, sem ser notada pela polícia, por descer pela escada de incêndio da varanda do primeiro pavimento, e pular a cerca entre nossa propriedade e a do vizinho. Embora visse policiais na rua, saí da casa do vizinho como se nada estivesse acontecendo e fui para a casa dum irmão, onde alguns dos documentos da Sociedade eram guardados. Apanhei-os e um irmão me levou de carro até Berlim.” Desta forma foi possível salvar alguns dos registros.

Todas as publicações foram confiscadas e levadas embora junto com o caminhão da Sociedade. A mesma coisa se deu com os comestíveis estacados na cozinha. Apenas as irmãs tiveram permissão de ficar com seus cartões de racionamento. Relata uma testemunha ocular: “No ínterim eles já haviam — enquanto observávamos — levado quietamente os irmãos, de dois em dois. . . .”

Uma onda de perseguição se iniciou. Ao vir prender certo irmão, ele saudou a polícia vestido em suas “roupas listradas”, que fora obrigado a usar num campo de concentração nazista! Julgamentos fictícios foram realizados, e mais uma vez a obra das testemunhas de Jeová voltou a ser feita as ocultas.

Lothar Wagner foi um dos irmãos sentenciados a longo termo de prisão em 1950. Descreve vividamente como conseguiu manter sua integridade durante sete anos na solitária:

“Em 30 de agosto de 1950, fui preso em Plau, Mecklenburgo, e, em 4 de outubro de 1950, fui sentenciado a passar quinze anos numa penitenciária pelo alto tribunal da RDA em Berlim. Devido à inquietação na Hungria, em 1956, a sentença foi reduzida para dez anos.

“Estes dez anos (e seis semanas de detenção, aguardando uma investigação, que não foram deduzidas da sentença), passei na penitenciária em Brandenburgo-Görden. Dali fui liberto em 3 de outubro de 1960.

“Durante esse tempo, passei sete anos na solitária. Nos primeiros três anos, o único contato que tinha com o mundo exterior era uma carta, do tamanho de meia folha de papel para datilografia, consistindo em quinze linhas, que me permitiam escrever e receber cada mês — dependendo de se o conteúdo dela era ou não aprovado pela polícia. Até 1958, o trabalho era considerado um privilégio — portanto, não me deixavam trabalhar. De 1958 em diante era considerado um castigo — então eu tinha de trabalhar.

“Quando a pessoa está na solitária por tantos anos, há um inimigo principal, dentre os muitos outros vexames, contra o qual é preciso lutar — o tempo. É preciso vencer o tempo.

“Resolvi este problema do tempo da seguinte maneira: A união faz a força, isto sendo verdade quanto ao tempo também. Se o período inteiro de prisão, somando quinze anos for considerado como uma só unidade, a pessoa quase que se sente arrasada por este volume de tempo, porque simplesmente está além de nossa imaginação, e este imenso período de tempo confronta a pessoa como se fosse um monstro. A pessoa tem de tentar obter controle e tornar submisso o tempo. Quando os regentes deste mundo tentam reger grande número de pessoas a quem não conseguem dominar, amiúde seguem o princípio: divide e impera!

“No tocante ao tempo, apliquei este princípio, dividi o tempo. Levei em conta não anos e meses, sim, nem mesmo semanas ou dias, mas, antes, no máximo, horas. De manhã digamos, às 7 horas, eu não me perguntava: O que farei hoje?, mas, O que farei até às 9 horas?

“Subitamente, tudo parecia diferente. Uma ou duas horas não inspiravam temor, podia controlar bem esse tempo. Mas, havia ainda outro problema Com que encher o tempo? Não se podiam obter papel e lápis. A única ocupação real era manter limpa a cela e comer. Mesmo se a pessoa fizesse cabalmente ambas essas coisas, e tão lentamente quanto possível, ainda assim não poderia encher o dia inteiro com elas. Naturalmente, eu participava em pensamentos, na medida do possível, em todas as fases do serviço teocrático, desde o estudo pessoal até aos congressos internacionais, do serviço de casa em casa aos discursos públicos. Mas, apesar de tudo, havia uma ou duas horas no dia em que não havia nada para fazer, e estas eram as mais perigosas porque, devido ao descuido, ao desânimo ou ao abatimento poder-se-ia destruir facilmente tudo que se havia laboriosamente construído o dia inteiro.

“Certo dia inventei um ‘relógio’, que me ajudava por muitos anos a aplicar este tempo perigoso, improdutivo, de forma útil. Descobri que ainda havia duas horas até a hora do jantar. Andei de um lado para o outro em minha cela, cinco passos à frente e cinco passos para trás e, ao fazer isso, entoei cânticos do Reino. Quando terminei o 30.º cântico, a porta se abriu e o jantar foi servido. Eu me concentrara na letra dos cânticos e nem sequer notara que o tempo correra. Essa foi uma descoberta que me poupou da monotonia e do desânimo por muitos anos. Por várias semanas, concentrei-me em terminar meu depósito de cânticos do Reino. Quando eu não conhecia exatamente a letra, simplesmente compunha uma ou duas estrofes. Usava melodias de músicas mundanas que eu apreciava para fazer cânticos do Reino, por pensar numa letra teocrática. Assim, por fim possuía 100 cânticos do Reino na minha coleção, todos numerados, que eu sabia cantar. Um cântico durava exatamente quatro minutos, assim eu podia calcular exatamente quantos cânticos tinha de cantar para passar certa quantidade de tempo. Através dos anos, cantava pelo menos duas horas por dia, o que seriam uns trinta cânticos do Reino. Assim, certa vez tive a possibilidade de cantar o dia inteiro, de manhã até a noite, quando não senti desejo de fazer nenhuma outra coisa. Que abundância de idéias encorajadoras e edificantes contêm nossos cânticos do Reino! Quando se usa a letra de cada cântico como esboço, pode-se facilmente fazer um discurso à base de cada cântico — outra possibilidade para encher o tempo sem sofrer espiritualmente. Pudesse deveras afirmar que nossos cânticos do Reino são alimento no tempo apropriado.

“Sou grato a Jeová de que, com a ajuda de seu espírito, consegui permanecer espiritualmente forte estes dez anos, quando estive longe de sua organização. Gostaria de incentivar a todos a mostrar apreço correto por todo o alimento espiritual que nos é fornecido, visto não sabermos como será de valor para nós em algum tempo futuro. Se regularmente consumirmos o alimento espiritual no tempo apropriado, ele nos será de ajuda nos tempos de dificuldades especiais, em que estivermos a sós, a fim de colocarmos nossa confiança em Jeová e permanecermos firmes ao seu lado.”

De 1.º de setembro de 1955 a 31 de agosto de 1961, a Sociedade mantinha linda filial em Berlim Ocidental, o que tornava possível fornecer melhor atenção às circunstâncias especiais desta cidade dividida. Também se provou bom arranjo para estabelecer vínculos de organização entre Berlim Ocidental e a Alemanha Oriental.

Tais vínculos entre as testemunhas de Jeová que moravam na Alemanha Oriental e em Berlim Oriental e o Ocidente sofreram efeitos adversos pela mudança dos acontecimentos em 1961, acontecimentos sobre os quais as Testemunhas não tinham nenhum controle. Pouco depois da guerra a corrente sempre crescente de refugiados deixava a Alemanha Oriental e se dirigia para Berlim Ocidental, e para a Alemanha Ocidental, em geral devido à sua dessatisfação com as diretrizes do regime. Visto que as autoridades da Alemanha Oriental não permitiam que seus cidadãos viajassem para fora do país, eles cruzavam secretamente, como refugiados, a “fronteira verde”. As autoridades tentaram deter este fluxo de refugiados por aumentar os controles das fronteiras, revistar pessoas nos trens e nas ruas, bem como através de leis mais estritas contra o “fugir da república”. Um meio comparativamente conveniente de atravessar para o Ocidente era pelo setor oriental de Berlim. Na primeira metade de 1961, a onda de refugiados aumentara para 20.000 pessoas por mês, em julho já ultrapassava de 30.000. Um total de mais de três milhões de residentes, um sexto da população total, deixara suas propriedades e bens na Alemanha Oriental e fugira como refugiados para Berlim Ocidental e a Alemanha Ocidental.

Para impedir maior abandono de seu território, as autoridades comunistas tomaram medidas rígidas. Bem cedo na manhã de 31 de agosto de 1961, começaram a construir um muro de cimento e de arame farpado, com uma aplanada “faixa de morte” e sistemas de alarme automáticos e guardas, prontos para matar, ao longo da fronteira de 50 quilômetros entre os setores oriental e ocidental da cidade, bem como ao longo da fronteira de 120 quilômetros entre os três setores ocidentais e a Alemanha Oriental. Isto apertou o laço em torno de Berlim Ocidental e, subitamente, fez cessar o tráfego pesado que, apesar dos controles, ainda se movimentava entre as duas partes da cidade. As testemunhas de Jeová que viviam na Alemanha Oriental não podiam mais obter publicações por viajarem para Berlim Ocidental nem se comunicarem com a filial ali, nem podiam comparecer a assembléias realizadas na Alemanha Ocidental.

Naturalmente, obter publicações não fora nada fácil, nem mesmo antes. As autoridades comunistas proibiram que se levassem publicações para a Alemanha Oriental, e isso, portanto, era passível de punição. Quando as publicações bíblicas da Sociedade eram encontradas com os Irmãos, durante revistas feitas na fronteira, eles tinham que enfrentar longos termos de prisão. Tais viagens, portanto, exigiam forte fé e completa confiança em Jeová.

Desde o início da perseguição, em 1950, até à construção do “Muro de Berlim”, em 1961, as autoridades alemães orientais prenderam 2.897 testemunhas de Jeová; 2.202 delas, inclusive 674 irmãs, foram levadas às barras dos tribunais e sentenciadas a um total de 12.013 anos de prisão, ou à media de cinco anos e meio por pessoa. Durante sua prisão, 37 irmãos e 13 irmãs morreram devido a maus tratos, doença, subnutrição, e velhice. Doze irmãos foram originalmente condenados à prisão perpétua, mas esta foi mais tarde reduzida a 15 anos.

Os irmãos alemães-orientais rapidamente se ajustaram à nova situação trazida pelo “Muro de Berlim”. Empregaram-se outros meios para lhes suprir o necessário alimento espiritual, e continuaram seu ministério cristão com grande zelo. Obviamente, as autoridades comunistas não esperavam isto. Tentaram infiltrar espiões na organização, os quais visitavam as pessoas conhecidas como testemunhas de Jeová e afirmavam serem irmãos enviados pela Sociedade para ajudá-los a ajustar a obra às circunstâncias mudadas. Mas, os irmãos estavam bem treinados; imediatamente reconheciam tais pessoas como espiões.

No decorrer dos anos, o número de irmãos presos e sentenciados caiu muito. Apenas quinze novas prisões de testemunhas de Jeová ocorreram em 1963, e nove em 1964, ao passo que, durante esses mesmos dois anos, 96 e 48 irmãos foram soltos depois de longas sentenças. No verão de 1964, quatro irmãos que estavam preses por muitos anos tiveram inesperada surpresa. Sentenciados originalmente à prisão perpétua, foram subitamente soltos e mandados para a Alemanha Ocidental. Chegaram bem em tempo para uma assembléia. Pensavam estar sonhando. Poucos dias antes estavam nas desoladas penitenciárias da Alemanha Oriental, onde só se podia sonhar em poder reunir-se em liberdade com os irmãos. E, agora, sentiam o súbito cumprimento deste desejo oculto de seus corações. Dois dos irmãos, Friedrich Adler e Wilhelm Engel, eram membros da família de Betel em Magdeburgo. Friedrich Adler foi preso e encarcerado em 1950, dois meses antes de a obra ser proscrita, ao passo que Wilhelm Engel foi um dos presos quando o Betel foi tomado, em 30 de agosto de 1950. O irmão Engel foi entregue à Cruz Vermelha na fronteira do setor ocidental de Berlim devido à sua saúde péssima. Foi de imediato levado para um hospital, onde morreu algumas semanas depois. Estes irmãos já haviam estado presas até nove anos sob o regime de Hitler, e tinham assim suportado ao todo 23 anos de prisão por causa de sua fé. Friedrich Adler reiniciou seu serviço de Betel, esta vez em Wiesbaden. Ele conseguia rememorar longa e movimentada vida no serviço de tempo integral, tendo servido lá na década de 1920 como peregrino. Enfraquecido por seu longo encarceramento, terminou sua carreira terrestre em dezembro de 1970.

Em novembro de 1964, as autoridades comunistas deram novo golpe nos irmãos da Alemanha Oriental. Algum tempo antes disso se introduzira o alistamento militar para todos os cidadãos. Os irmãos jovens recusavam o serviço militar mas em geral eram tratados com consideração, e sua atitude era respeitada. Mas, agora, subitamente, sob o manto da escuridão das primeiras horas da manhã, 142 irmãos foram presas. Esta mudança inesperada no tratamento de seus casos constituir uma prova de fé para estes irmãos jovens. Foram postos num campo de trabalhos forçados. Primeiro fez-se a tentativa de fazê-los trabalhar como “soldados de construção”, tipo de substitutivo do serviço militar, mas eles rejeitaram unicamente isto. Apesar do castigo, permaneceram firmes, e tais tentativas de coerção foram abandonadas. Tiveram de realizar árduo trabalho na construção de ferrovias, trabalhando das quatro da manhã até às nove da noite. Quando não trabalhavam, recebiam instruções que visavam convencê-los de que os homens responsáveis entre as testemunhas de Jeová eram agentes ocidentais. A maioria dos irmãos jovens haviam conhecido a verdade depois de a obra já ter sido proscrita, e as autoridades ficavam surpresas de encontrarem jovens que permaneciam destemidamente a favor do cristianismo verdadeiro, apesar de maciça doutrinação de jovens com idéias comunistas e ateístas.

Durante 1965, a espionagem e o fustigamento contra nossos irmãos por parte de espiões e agentes secretos do Ministério de Segurança do Estado aumentou tremendamente. Muitas casas sofreram buscas, os irmãos sendo parados nas ruas e interrogados. Sistemas de microfones secretos foram instalados em carros e em casas, sim, até mesmo nos quartos de dormir dos irmãos. As autoridades se empenhavam em dar aos irmãos a impressão de que todo movimento seu era conhecido das autoridades.

Naturalmente, as autoridades tiveram êxito em captar muitos pormenores por “ouvir” as conversas inocentes dos irmãos. Quando foram feitas audiências, a polícia secreta tentou fazer parecer que as informações colhidas sobre a obra tinham sido recebidas do “mundo capitalista”, assim dando a entender certo descuido entre os irmãos ali. Desfase, tentavam semear sementes de devida e desconfiança quando ao Corpo Governante e os irmãos nos escritórios da Sociedade. Mas, os irmãos não se deixaram perturbar com isto e, no decorrer do tempo, começaram a compreender cada vez melhor quão apertada era a rede de espionagem que fora estendida em volta deles.

Isto se tornou evidente, em especial, quando, em certo dia de novembro de 1965, bem cedo de manhã, as casas dos irmãos por todo o país foram ocupadas por grupos de oito oficiais, e foram revistadas por várias horas. Quinze irmãos considerados “cabeças” foram presas e mantidos na cadeia de nove a treze meses, até serem acusados formalmente e julgados. Em 1966, receberam sentenças de até doze anos, a média sendo de mais de sete anos.

Ao passo que estes irmãos estavam sendo tratados como criminosos furiosos, a polícia secreta caçava outros que estavam pregando as boas novas e se reunindo para adorar a Jeová em pequenos grupos, como faziam os irmãos sentenciados. Ofereciam-lhes que, se preenchessem um relatório sobre sua atividade e dessem os nomes dos que participavam no ministério — isto a bem da segurança do estado — poderiam continuar a reunir-se em pequenos grupos, a ter suas publicações bíblicas e manter se em contato com seus irmãos em outros países. Mas, os irmãos rejeitaram a oferta insincera das autoridades. Um dos oficiais murmurou: “Pensávamos que havíamos removido seus líderes, mas agora só tivemos êxito em perder de vista seu trabalho.”

No decurso de 1969, depois de aproximadamente quatro anos de prisão, 14 dos 15 irmãos presas na campanha de 1965 foram subitamente libertos. A maioria foi enviada para a Alemanha Ocidental. O último desse grupo foi arbitrariamente mantido na prisão por outro ano, até setembro de 1970.

Desde então, a polícia secreta mudou de tática, e, atualmente, faz uso das forças regulares da polícia e de outras agências estatais para criar dificuldades para os irmãos. Em algumas áreas, a polícia sentenciou os irmãos a pagar elevadas multas por supostamente perturbarem a paz, quando pregam ou se reúnem. Vários irmãos tiveram êxito em pedir a suspensão de tais multas por apelarem para a garantia constitucional de liberdade religiosa e por exigirem ver-se face à face com as testemunhas cuja paz tinha sido perturbada. Tais testemunhas, por certo, não existiam.

Em outras localidades, as autoridades tentam exercer pressão sobre os irmãos por expulse-os de suas casas e colocá-los em casas de baixo padrão, por dar-lhes empregos seculares de baixos salários e por negarem aos irmãos mais jovens o treinamento especializado para vários empregos.

Desde que a obra na Alemanha Oriental foi cortada do mundo exterior, ao se construir o “Muro de Berlim”, em 1961, muitos milhares de pessoas ouviram as boas novas, aprenderam a verdade, dedicaram-se e foram batizadas. constituem prova viva de que não se pode restringir o espírito de Jeová, nem mesmo por meio de muros e fortalezas feitos pelos homens. Assim, as testemunhas de Jeová na Alemanha Oriental, que têm trabalhado e vivido sob proscrição e grande dificuldade por mais de 23 anos agora, podem dizer, junto com o Rei Davi: “E por meu Deus posso escalar um muro.” — Sal. 18:29.

CAMPANHAS BEM SUCEDIDAS DE PREGAÇÃO

Na Alemanha Ocidental, durante este tempo, a mensagem do Reino estava sendo levada de forma proeminente à atenção do público, vez após vez. A campanha de A Sentinela em 1949 lançou um alicerce para se introduzir o alimento espiritual nos lares de dezenas de milhares de pessoas em base regular. A todos que compareciam ao estudo da Sentinela e a todas as pessoas interessadas se devia oferecer uma assinatura de A Sentinela. Alcançamos nosso alvo? No ano de serviço de 1949, foram obtidas 59.475, total que jamais atingimos desde então!

O serviço de rua com as revistas foi outro meio pelo qual a mensagem vital do reino de Deus foi mantida perante os olhos do público. Esta atividade era também um espinho nos olhos do clero. Na Baviera católica, fizeram-se tentativas de impedir a obra de rua com as revistas por promulgar leis e regulamentos de trânsito. Afirmava se que certos grupos religiosos se sentiam incomodados. Mas, foram silenciados quando os estados da Baviera e de Hessen enviaram uma declaração a todos os oficiais de polícia, em 1954, de que o ministério, conforme executado pelas testemunhas de Jeová, não está sujeito às restrições legais.

Uma campanha especial de levar a mensagem do Reino a todo o território não-designados foi planejada para os meses de verão de julho e agosto de 1956. Os irmãos trabalharam com entusiasmo sem precedentes, cobrindo pelo menos 80% de todo o território não-designado. Houve pouquíssimas pessoas na Alemanha Ocidental, naquele ano, que não foram visitadas por um ministro das boas novas. Contudo, amiúde havia oposição, em especial nas zonas rurais, como se pode ver pelo seguinte relatório: “O inteiro povoado ficou em tumulto. Os jovens nos seguiam de casa em casa, e nos apresentavam visando fazer com que as pessoas nos mandassem logo embora. Era impossível colocar até mesmo um único livro em todo o povoado.”

Uma semana mais tarde, a mesma congregação trabalhou em outro povoado no mesmo território. Os publicadores se reuniram na estação ferroviária, consideraram juntos o texto diário e então palestraram sobre introduções a serem usadas em seu testemunho. Um senhor juntou se aos publicadores e começou a ouvir. Recebeu testemunho de uma das testemunhas de Jeová, como ela o faria à porta. Quando o irmão terminou, o estranho puxou a carteira e disse: “Eu gostaria de adquirir esses livros.” Aconteceu que este senhor morava no povoado em que, na semana anterior, não se colocara nenhum livro. Apesar da oposição nas zonas rurais, em que o clero ainda exercia certa influência sobre os aldeões, 166 por cento mais livros e 60 por cento mais revistas foram colocadas nestes dois meses do que nos mesmos meses do ano anterior.

Além de tais campanhas, houve outras que apresentavam tratados e folhetos. No congresso internacional “Vontade Divina” de 1958, em Nova Iorque, impressionante resolução foi adotada. Foram feitos planos para distribuí-la em todo o mundo em dezembro, e setenta milhões de exemplares foram impressos em cinqüenta idiomas; sete milhões foram impressos em alemão. Tais tratados foram dados pessoalmente ao morador, com apenas breves palavras introdutórias. Quando os sacerdotes nas áreas católicas compreendiam o que estava sendo distribuído, avisavam aos aldeões. Mas, depois de quatro semanas de zelosa atividade, havia motivos de ficarmos alegres e nos regozijarmos, porque, visto que esta era uma boa oportunidade de iniciar novatos no ministério de campo, a maioria das congregações conseguiram relatar um aumento em publicadores de 10 a 50 por cento, e um aumento de 11,6 por cento foi alcançado através do país todo.

OBTENDO “A LÍNGUA DOS INSTRUÍDOS”

À medida que o número de trabalhadores voluntários continuava a chegar à organização de Jeová, ele fez provisões, por meio da classe do ‘escravo fiel’ para dar a todos, jovens e idosos, o treinamento necessário. O resultado tem sido que seus servos vieram a ter “a língua dos instrutor”. (Isa. 50:4) Isto tem contribuído para o aumento. O mundo também tem observado o efeito que este treinamento tem tido sobre as Testemunhas. Certo jornal noticiou, por exemplo, que Ingo Rücker, de onze anos, vencera um concurso de leitura em Recklinghausen. “Somente os estranhos ficariam surpresos pois, basicamente, não havia meios de impedir sua vitória. Ingo Rücker, de 11 anos, tem começado a fazer pontos em seu favor para a prova durante três anos: Na escola do ministério das testemunhas de Jeová . . . Era o melhor leitor na Escola Josef, embora a prova fosse muito disputada até o fim entre ele e uma jovem que também freqüenta a escola do ministério.” Um superintendente de circuito escreveu depois de visitar a congregação de Lörrach: “Algo especial aconteceu na terça-feira de noite. Ao serem feitas as apresentações das irmãs, uma irmã idosa subitamente foi ao palco. Ela não só manteve uma palestra fluente, sem nenhuma anotação, mas apenas com sua Bíblia na mão; ela também observou todas as regras da oratória. Quando perguntamos à irmã a sua idade, ela nos disse que acabara de completar noventa anos há algumas semanas atrás.”

Como importante provisão neste treinamento progressivo a primeira turma da Escola do Ministério do Reino iniciou-se em 13 de novembro de 1960, a fim de fornecer treinamento avançado para os superintendentes das congregações. Esta já foi estendida a três escolas, em Wiesbaden, Hamburgo e Munique.

1948 — E VINTE ANOS DEPOIS DISSO

Houve anos de considerável aumento no número de proclamadores das boas novas, mas também alguns anos sem nenhum aumento. O ano de serviço de 1948 terminou com um aumento de 83 por cento. A média mensal de horas era de dezesseis por publicador. O aumento continuou nos anos seguintes: em 1949 houve um aumento de 33 por cento; em 1950, um aumento de 23 por cento, e, em 1951, um aumento de 26 por cento.

No ínterim, a tensão e as dificuldades econômicas continuaram e o número de desempregados ascendeu a mais de dois milhões em meados de fevereiro de 1950. No fim de setembro de 1952, o número de desempregados era ainda de 1.249.000. Dali em diante, o desemprego começou a diminuir, lentamente, de início, daí, com maior rapidez.

Outra mudança também se tornou evidente. O número dos publicadores de congregação ativos continuou a crescer de ano em ano, mas o número de pregadores de tempo integral das boas novas não manteve esse passo. Pelo contrário, em 1955 havia 200 pioneiros a menos do que em 1950, ao passo que havia 21.641 mais publicadores, quase o dobro do que havia em 1950. O ponto mais baixo desta tendência foi alcançado em 1956; ao passo que, em 1950, 4,4 por cento de todos os publicadores se achavam no serviço de tempo integral, agora havia baixado para 1,6 por cento.

Com o tempo, a Alemanha se tornou uma nação de abundância. Havia pleno emprego e o amplamente proclamado “milagre econômico”. Isto influiu sobre o modo de pensar de alguns associados com as testemunhas de Jeová. De abril a julho de 1963, houve um decréscimo no número de publicadores e nas horas gastas no ministério de campo. Em julho, havia 6.000 publicadores a menos, ativos, e mais de 40.000 horas a menos foram gastas na obra do que em abril.

A maioria dos irmãos, naturalmente, perseveraram no ministério e usufruíram a bênção de seu trabalho. De 1965 a 1967, havia 9.325 pessoas batizadas, mas ainda assim o número médio de publicadores em 1967 era de apenas 400 mais do que em 1965, ao passo que o auge de Duplicadores era de 437 menos! Era evidente que alguns publicadores afrouxaram as mãos no desejo de coisas materiais e tinham diminuído de zelo, tendo dado lugar ao desejo de ter o que o mundo lhes podia oferecer. Outros até mesmo se tornaram inativos. Daí, então, no ano de serviço de 1964, por exemplo, 569 pessoas foram desassociadas, a maioria por imoralidade. Apenas 95 pessoas pediram para ser readmitidas.

O ano de serviço de 1968 começou a ver uma mudança. A luta árdua travada contra o materialismo estava impedindo que as perdas fossem tão grandes quanto antes. Em todas as frentes se conseguia bom aumento. Tínhamos agora 466 pioneiros especiais, o número de pioneiros regulares tinha subido para 2.651 e alcançamos um auge de 7.163 que serviam na obra de pregação de tempo integral, durante o ano. O ano de serviço terminou com um aumento de 3 por cento, depois de três anos de serviço sem nenhum aumento. As coisas mais uma vez começavam a ir avante!

De 4 de julho a 11 de agosto de 1968, tivemos onze assembléias de distribuo. O livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna foi lançado. Graças à ajuda do escritório de Brooklyn, conseguimos apresentar a cada publicados um exemplar pessoal, além de cinco exemplares adicionais para distribuição. Numa campanha de agosto, 139.471 livros foram colocados, novo auge. A demanda era grande. Até o fim de março de 1973, em nossa gráfica em Wiesbaden, havíamos impresso 2.900.115 exemplares em alemão, e 1.715.338 em quatro outras línguas. Por causa de seu efeito e de sua cor azul, o livro foi logo apelidado de “a bomba azul” por muitos.

Experiências interessantes em relação com a efetividade deste livro podiam então já ser ouvidas nas seguintes assembléias de circuito. Uma irmã relatou: “Quando recebemos nossos livros Verdade, eu pouco imaginava quão poderoso compêndio bíblico estava sendo colocado em nossas mãos. Comecei de imediato a perguntar às pessoas em minha cidade natal, durante meu serviço de casa em casa, se estariam interessadas em aprender dentro de pouco tempo, os princípios da Bíblia, com a ajuda deste livro. Quão surpresa fiquei quando uma senhora muito religiosa, que eu sabia que ela e sua irmã lideravam o coro da igreja, disse: ‘Sempre desejei conhecer a Bíblia. Nunca tive oportunidade de fazer isso, e sinto-me feliz de que a senhora está disposta a ajudar-me.’ Eu mal podia crer no que ouvia. Agora ela tem estudado regularmente já por dois meses e faz maravilhoso progresso. . . . Uma senhora bem destacada e rica estava igualmente disposta a estudar comigo a Bíblia. Na semana passada, ela me disse: ‘Este livro realmente fala por si. Jamais li um livro tão compreensível.’ Então se havia iniciado uma reação em cadeia. Cheia de zelo, dirigi-me a minha vizinha para oferecer a ela um estudo também. Uma senhora começou a estudar este mês, e nada menos de quatro pessoas estão esperando até a chegada de nova remessa para podermos fazer arranjos de uma hora conveniente . . . Posso dizer-lhes, em nossa cidade, comenta-se de boca em boca que a coisa na moda agora é estudar a Bíblia com as testemunhas de Jeová.”

Tornou-se mais fácil iniciar estudos bíblicos com este novo livro, conforme visto pelo fato de querem 1969, o número de estudos bíblicos aumentou para 47.691. Durante esse ano, 6.678 pessoas foram batizadas, o melhor total desde 1955. Em maio de 1970, alcançamos 86.222 publicadores, que não só era o quinto auge de publicadores em seqüência, mas também a primeira vez que tivemos mais publicadores em maio do que no mês precedente de abril. Em outubro daquele ano alcançamos outro auge, desta vez 86.489 publicadores. Isto significava um aumento de 7.718 publicadores, em comparação com o total de publicadores para 1968. Este aumento rápido refletia a bênção de Jeová sobre seus servos terrestres. Por certo, o livro Verdade desempenhou uma parte bem grande em produzir tal aumento.

CONGRESSOS PARTICIPAM COM DESTAQUE NO TESTEMUNHO

Os congressos desempenham importante parte em tornar conhecido o nome de Jeová e em aumentar o número de publicadores do Reino na Alemanha. Desde o primeiro congresso do após-guerra, realizado em Nurembergue, com 9.000 presentes, e da assembléia de Cassel, em 1948, até os congressos dos dias recentes, com mais de 100.000 pessoas presentes, muitas mudanças de organização foram feitas, muitos problemas foram solucionados, e desenvolvidas novas idéias.

Em Francforte sobre o Meno, de 24 a 26 de agosto de 1951, os delegados de 24 nações se reuniram para a assembléia “Adoração Limpa”. Mas, antes de os 34.542 delegados poderem reunir-se na manhã de sexta-feira, muitas horas agitadas foram gastas na solução de problemas. De que natureza? Um estabelecimento da cidade prometera preparar nossas refeições em sua cozinha, mas, ao se aproximar cada vez mais a época da assembléia, tornou-se cada vez menos disposto a fazê-lo. O que se poderia fazer? A Sociedade comprou 51 grandes panelas de gás, carvão e vapor, cada uma cabendo 300 litros, e construiu sua própria cozinha. Visto que o material necessário não se achava disponível para se converter todos os caldeirões para o gás, contudo, tiveram todas de ser transformadas para vapor. Foram necessários dias de soldas para conectar os canos, que foram comprados no ferro velho com a maior das dificuldades. Algumas das paredes dos caldeirões eram finas como papel e tiveram de ser reforçadas. A seguinte grande pergunta era onde conseguir o vapor necessário. Negociamos com a ferrovia em Francforte, e conseguimos usar uma locomotiva estacionada num desvio não usado. Esta locomotiva não podia produzir o vapor de baixa pressão, contudo, e, assim, tivemos de descobrir um meio de reduzir a pressão do vapor à vigésima quarta parte do que era. O problema foi por fim resolvido, o vapor foi ligado e, em questão de quinze minutos, os caldeirões de vapor estavam prontos para ser usados. A imprensa ficou surpresa com o que havíamos feito. Suas notícias, além da zelosa atividade de pregação de nossos irmãos, contribuíram para se ter 47.432 pessoas presentes para ouvir o discurso público do irmão Knorr: “Enfrentará a Religião a Crise Mundial?”

O grande evento de 1953 foi, sem dúvida, a assembléia “Sociedade do Novo Mundo” em Nova Iorque. Quão entusiásticos estavam os 284 irmãos que conseguiram comparecer da Alemanha! O congresso de Nova Iorque encontrou seu correspondente na Alemanha nas duas assembléias realizadas em Nurembergue, para a Alemanha Ocidental, e uma semana depois, em Berlim, para os irmãos dali e os da Alemanha Oriental. Em Nurembergue, proveram-se 38 tendas para acomodações em massa, e mais de mil tendas particulares. Fizeram-se também tentativas para se obterem quartos particulares, o que gerou problemas para os clérigos da cidade. O Nürnberger Evangelischen Glemeindeblatt publicou um artigo intitulado “Cuidado com o Congresso das Testemunhas de Jeová”. Rezava, em parte: “Surgiu um problema especial devido a que alguns membros da Igreja Evangélica em boa fé, forneceram hospedagem gratuita para as testemunhas de Jeová visitantes. As autoridades eclesiásticas, na maioria dos casos, pediram àqueles que fizeram isso que cancelassem seus convites.” Mas, isto resultou ser um bumerángue, por causa disto, muitas pessoas ficaram ainda mais dispostas a oferecer-nos hospedagem. O clero deveras enfrentava um problema!

Dois anos depois, o grande congresso internacional “Reino Triunfante” foi realizado na mesma cidade, no mesmo local do Campo de Zeppelin. Foi um congresso muito impressionante, 62 nações estavam representadas. Extraordinário palco dominava o tremendo Campo de Zeppelin. A tribuna de pedra de 300 metros de comprimento, e uma escada de 75 degraus de um lado ao outro desta comprida tribuna levavam a um salão de 144 colunas que corriam por toda a extensão dos 300 metros.

Além da hospedagem obtida em hotéis e em casas havia gigantesca cidade de tendas que fornecia acomodações em massa para 37.000 pessoas. Grandes tendas, em cada uma podendo dormir 600 pessoas, foram montadas. Sacos cheios de palha serviam de colchões.

Na manhã de sexta-feira, realizou-se grande batismo, 4.333 pessoas simbolizando sua dedicação pela imersão em água. Entre estes novos irmãos havia alguns da Alemanha Oriental, pois mais de 4.000 vieram de lá. Na sexta-feira à noite os presentes ouviram um programa de rádio controlado pelos comunistas ameaçar todas as testemunhas de Jeová do leste, que compareceram às assembléias de Nurembergue ou de Berlim, de serem presas ao voltar. Mas, milhares se recusaram a deixar-se intimidar.

Quantos compareceram ao discurso amplamente anunciado do irmão Knorr? A revista Neve Illustrierte, datada de 20 de agosto, publicou: “O ‘Campo de Zeppelin’, em que Hitler certa vez declarou que exterminaria as ‘testemunhas de Jeová’, estava superlotado.” E estava mesmo, pois 107.423 pessoas ouviram atentamente o assunto “Em Breve a Conquista do Mundo — Pelo Reino de Deus”. Mais de 20.000 habitantes de Nurembergue vieram. Logo que o presidente começou seus comentários finais, começou a chover — a chover torrencialmente — mas a assistência permaneceu em seus lugares, e, quando o irmão Knorr terminou, já parara de chover. Daí, algo aconteceu que os presentes jamais esquecerão. Tremendo arco-íris surgiu nos céus! Que vista estimulante! Como adeus, o irmão Knorr acenou com seu lenço, e, em resposta, o campo inteiro se transformou no que parecia um campo de flores brancas ondulantes. Muitos ficaram com lágrimas nos olhos. Fortalecidos na fé e melhor equipados para mais serviço, os milhares de assistentes começaram sua viagem de volta.

A próxima grande assembléia internacional foi realizada em 1961, em Hamburgo, o maior porto da Alemanha. Não foram poucas as dores de cabeça envolvidas. O principal problema era o local do congresso, que não era nada mais do que um grande gramado (80.000 metros quadrados) situado no maior parque da cidade de Hamburgo. O congresso começou com o acompanhamento da chuva que caía, e o gramado logo se transformou em campos de lama. E continuou a chover, desde o primeiro até o último dia! Era inspirador ver dezenas de milhares de pessoas afluírem ao local do congresso cada dia, e ouvir o programa sob um dossel de guarda-chuvas. Deveras, para surpresa dos repórteres e fotógrafos de jornais presentes, o congresso não foi seriamente atingido pela chuva e lama. Escreveu o jornal Hamburger Morgenpost: “Quase todos eles pareciam felizes, mesmo na lama e na chuva, é preciso reconhecer. Acham-se vestidos de aparência vistosa. Há um número surpreendentemente grande de jovens entre eles. . . .” Um oficial de polícia disse a um representante do escritório do congresso: “Muito embora seja o maior congresso já realizado em Hamburgo, não estamos nem um pouco preocupados se tudo vai correr suavemente. Sabemos que poderiam muito bem passar sem nós, mas pensamos que é um bom treinamento para nossos oficiais e esperamos que não tenham nenhuma objeção à nossa presença entre vocês.”

Esta foi a última oportunidade para que nossos irmãos alemães-orientais assistissem a um congresso, vários milhares deles comparecendo. Alguns dias depois, foi construído o “Muro de Berlim” e a Cortina de Ferro desceu ainda mais compactamente.

As chuvas causaram estragos nos gramados do parque mas, depois do congresso, os irmãos cobriram toda a área com nova camada de terra e replantaram o gramado. Então o parque se tornou ainda mais lindo do que antes, e isto para o benefício das autoridades e do povo de Hamburgo. A maneira em que sua campina do parque foi replantada e a maneira em que nossos irmãos perseveraram debaixo da chuva causou profunda impressão nos habitantes de Hamburgo.

Em 1963, o congresso “Boas Novas Eternas” correu o mundo, e na Alemanha se deu em Munique, capital da Baviera. O Campo Theresian serviu como nosso “Salão do Reino”

O trabalho preparatório, bem como o próprio congresso, causaram profunda impressão em Munique, inclusive a seus comerciantes e a suas autoridades. Um policial designado a trabalhar no local do congresso disse a um irmão: “Sabe eu gosto de estar aqui. Sinto-me à vontade. Aprecio a sinceridade de sua gente e sua franqueza. É justamente o contrário do congresso Eucarístico realizado aqui há dois anos atrás.” Comparações desta natureza eram amiúde feitas por observadores honestos que eram francos em suas observações. Tais impressões duram. Três anos depois, um comerciante de Munique disse a um irmão que seus companheiros de trabalho numa grande loja de departamentos de Munique notaram que, quando se realizavam grandes congressos em Munique havia sempre um aumento dos roubos praticados nas lojas. Durante nosso congresso, estavam preparados para tal aumento, e ficaram surpresos quando o congresso não exerceu efeito algum sobre isso. Ficaram realmente atônitos. Assim aconteceu que este congresso “Boas Novas Eternas”, como todos os congressos anteriores, ajudou a tornar conhecido o nome de Jeová, seu propósito e seu povo.

AS BOAS NOVAS TÊM DE SER PREGADAS ÀS PESSOAS DE TODAS AS NAÇÕES

A Alemanha é somente uma parte do campo mundial em que as boas novas têm de ser pregadas. (Mar. 13:10) A Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia tem tido muito êxito em treinar missionários e enviá-los a várias partes deste campo mundial. O primeiro graduado de Gileade enviado à Alemanha, Filip Hoffman, chegou em 1949.

Quatro mais se seguiram em 1951. Ao rememorar as coisas agora, amiúde se divertem em pensar em como o irmão Frost se deve ter sentido quando apareceram em Betel. Ele pedira ao irmão Knorr que enviasse alguns dos graduados para a Alemanha, a fim de ajudarem na obra. Mas, ao ver esses quatro, devem ter-lhe parecido muito jovens, todos eles só tendo seus vinte e poucos anos. Nos anos que se seguiram um total de treze missionários estrangeiros por fim receberam designações para a Alemanha. Onze destes ainda se acham no ministério de tempo integral em vários países (uma delas morreu em sua designação, em 1972, depois de vinte anos de serviço fiel) e nove destes onze ainda estão ativos na obra na Alemanha, quer em Betel quer no ministério que envolve viagens. Três deles vieram da Suíça, em 1956, quando o departamento de tradução foi transferido de Berna para Wiesbaden, e ainda servem nesta posição.

Alice Berner pertence a este grupo de servos bem antigos. Ouçamos brevemente quão interessante tem sido sua carreira: “Iniciei meu serviço de tempo integral na Suíça, em janeiro de 1924, como pioneira. Mas, depois de cerca de seis meses, fui chamada para Betel em Zurique. Logo fomos transferidas para o novo lar de Betel em Berna. Ali, no decorrer dos anos, mantive-me ocupada em muitos departamentos diferentes. Em 1932, nova designação me levou a Paris, onde fiz um serviço interrompido, visto que, às vezes tinha de sair do país e fazer o serviço de pioneiro por algum tempo na Bélgica, porque as autoridades em França não queriam dar-me um visto permanente. Desta forma, permaneci cerca de três anos em Paris. Em 1935, a Sociedade tomou parte na Exposição Internacional de Bruxelas, onde tive o privilégio de servir, no balcão de publicações. Dali fui chamada de volta a Berna, onde de novo trabalhei por dez anos, até que recebi a grande chamada, em 1946, de cursar a 8.ª turma de Gileade. Depois disso, voltei de novo à Suíça para outros dez anos de serviço alegre, no que três de nós recebemos nova designação na Alemanha. Desejo agradecer a Jeová toda a sua bondade para comigo, permitindo que tivesse uma vida feliz e rica, cheia de maravilhosas oportunidades em seu serviço.” A irmã Berner ainda é um encorajamento para os membros da família de Betel, ao cumprir diariamente seu trabalho de tradução.

Os missionários enviados à Alemanha provaram ser um incentivo para que muitos irmãos alemães desejassem cursar a Escola de Gileade e entrar no serviço missionário. Até agora, 183 graduados de Gileade foram fornecidos pela Alemanha. Destes, 29 retornaram a seu país natal como pioneiros especiais, ministros viajantes ou membros da família de Betel, ao passo que outros foram enviados a novos lares espalhados por toda a terra.

Para os interessados em cursar a Escola de Gileade, foi feito um arranjo especial a fim de ajudá-los a melhorar seu conhecimento do inglês. Na primavera setentrional de 1973, havia 16 congregações de língua inglesa na Alemanha, totalizando 450 publicadores e 130 servos de tempo integral. Os que se preparam para Gileade são designados a tais congregações, onde podem participar nas reuniões e sair no ministério de campo em território de língua inglesa. Desde a formação da primeira congregação de língua inglesa em Wiesbaden, em 1967, cerca de 250 pessoas já foram batizadas.

Durante os últimos anos, cerca de 95 pioneiros especiais da Alemanha foram enviados a países europeus ou africanos a fim de continuarem seu serviço de pioneiros especiais ali. Alguns se dispuseram a servir em campos estrangeiros, embora não tivessem conhecimento algum da língua estrangeira que precisariam usar. Estavam dispostos, contudo, a fazer esforços especiais a fim de aprender um novo idioma para poderem servir em países onde sua ajuda se fazia necessária. Quatro pioneiros especiais, por exemplo, fizeram um curso-relâmpago de uma semana de francês no Betel de Wiesbaden, antes de serem enviados para o Chade, África. Naturalmente tiveram de continuar estudando o idioma ali, mas logo conseguiram fazer-se entender e puderam continuar seu ministério sob o escaldante sol africano.

Nos anos recentes, houve também grande número de pessoas de outras terras que se mudaram para a Alemanha. Devido à próspera economia, o governo decidiu trazer trabalhadores estrangeiros, e os bons salários oferecidos engodaram muitos “trabalhadores hóspedes”. Em 1962, já havia 700.000 pessoas da Itália, Iugoslávia, Grécia, Turquia, Espanha e Portugal empregadas aqui, sendo que na maioria desses países a obra de pregação era feita sob a maior das dificuldades. Este era um campo novo de atividade para nós e continuou a expandir-se. As estatísticas para setembro de 1972 mostravam 2.352.392 estrangeiros empregados na Alemanha. Destes, por exemplo, 474.934 são da Iugoslávia, e 511.104 da Turquia.

Muitos irmãos estavam dispostos a aprender línguas estrangeiras a fim de poderem ajudar estas pessoas a ouvir e compreender a mensagem do Reino. A fome da verdade era deveras grande entre esses trabalhadores hóspedes e muitas experiências interessantes foram obtidas. Um superintendente de circuito relatou ter obtido algumas publicações em espanhol, e ter colocado mais de cem folhetos e seis livros em comparativamente pouco tempo. Disse ele: “A maioria dos espanhóis a quem ofereci os folhetos ficaram com todos os quinze diferentes que eu tinha disponíveis.”

Congregações de língua estrangeira foram logo formadas, a primeira sendo uma congregação grega em Munique, em 1.º de maio de 1962. Em maio de 1973, havia 1.560 publicadores de língua grega, divididos em dois circuitos. A primeira congregação de língua espanhola foi formada em Francforte, em 1964, e a primeira congregação italiana em Colônia. No verão setentrional de 1973, o circuito espanhol possuía 660 publicadores, e o circuito italiano relatava 1.000 publicadores, além de 45 servos de tempo integral. Temos também grupos turcos e iugoslavos. Para muitos, o “paraíso econômico” que procuravam na Alemanha resultou ser um muito mais valioso “paraíso espiritual”.

Depois de aprenderem a verdade, muitos de nossos novos irmãos voltaram a suas terras natais cheios do desejo de levar a verdade a seus parentes e vizinhos. Por exemplo, um irmão da Sicília foi batizado em Colônia em outubro de 1965. Em dezembro, foi visitar sua família e naturalmente conversou com eles e com todos os seus parentes e conhecidos sobre a verdade. No fim de abril de 1966, voltou à Alemanha para revalidar seu passaporte. Mas, relatou que encontrara quatro pessoas tão profundamente interessadas na verdade que tinha de voltar imediatamente para sua terra a fim de continuar a estudar com elas. Seu alvo era iniciar um estudo de livro de congregação ali. Não se havia feito nenhuma pregação naquele povoado. A testemunha de Jeová que morava mais perto vivia a uns cem quilômetros de distância.

A EXPANSÃO — SEGUNDO OBSERVADA PELA FAMÍLIA DE BETEL

A filial da Sociedade Torre de Vigia em Wiesbaden se mantém atarefada, em resultado do trabalho feito pelas testemunhas de Jeová em toda a Alemanha. Visto que é daqui que procede seu suprimento de publicações, os irmãos estão vividamente interessados nela, e grandes números vêm visitar o lar de Betel, e a gráfica. O irmão que trabalha na mesa de recepção pode contar-lhes como, especialmente nos feriados, milhares de visitantes são conduzidos em visita ao lar de Betel e à gráfica. Certa vez, 4.000 vieram. Havia 51 ônibus parados ali em frente! Irmãos de países estrangeiros também apreciam visitar-nos. Há alguns anos atrás, um cavalheiro fez uma visita a Betel, e, depois dela, foi incentivado a começar a estudar a Bíblia. Um irmão de Betel manteve correspondência com este cavalheiro, que mais tarde aceitou a verdade, foi batizado, entrou no serviço de tempo integral e, atualmente serve como superintendente de circuito.

Aqueles que realmente moram e trabalham em Betel têm usufruído muitas bênçãos no decorrer dos anos. Viram as instalações da Sociedade serem ampliadas, empreender-se novo trabalho, atividades especiais serem preparadas — e tem sido seu privilégio estar no centro de toda essa atividade. Às vezes, outros também foram convidados a ajudar um pouco.

No inverno setentrional de 1951/52, por exemplo, iniciou-se a construção de novo anexo para ampliar as instalações da filial. Isto manteve os irmãos ocupados o dia inteiro e, às vezes, noite adentro, na neve, na chuva e no vento. Cerca de vinte irmãos foram chamados para Betel, a fim de ajudar. Às noitinhas, depois de suas horas regulares de trabalho, muitos membros da família de Betel também participavam na construção.

Houve verdadeiro regozijo quando uma rotativa chegou da filial da Suíça, em Berna. Mas, não se tratava de uma rotativa qualquer! Era a primeira prensa usada para se imprimirem livros lá na filial de Magdeburgo em 1928. Depois da proscrição nazista, foi levada para Praga, Tchecoslováquia, de onde foi levada, alguns anos depois, para Berna, de modo a não cair nas mãos dos nazistas. Agora retornava mais uma vez a uma filial alemã e, hoje, apesar de ser antiga, ainda funciona, imprimindo livros ou mais de 7.000 revistas por hora.

Outro motivo de alegria foi o aparecimento da revista Despertai! em alemão, em sua edição de 32 páginas em 8 de janeiro de 1953. A partir deste número, a distribuição desta revista teve início na Alemanha. Muito contribuiu para aumentar o zelo dos irmãos pela obra de revistas.

O lar de Betel em Wiesbaden continuou expandindo-se. Em 1956, houve um auge de 50.530 publicadores e distribuíram cerca de 1.300.000 publicações. No ano de serviço seguinte, o auge foi de 56.883 publicadores. O irmão Knorr chegou em Wiesbaden no fim de novembro de 1956, numa visita rápida de menos de 24 horas. Qual a sua razão? Ele mesmo explica isso em seu relatório publicado na Sentinela, em inglês, de 1.º de maio de 1957. “Nesse caso, também, o propósito de minha visita era cuidar do problema da expansão. Nosso lar de Betel e a gráfica atuais são pequenos demais e chamamos um arquiteto, um irmão. Trabalhamos junto com ele o dia inteiro em traçar as plantas de uma gráfica e lar de Betel maiores. A Sociedade conseguiu comprar alguns terrenos da cidade de Wiesbaden, e, depois de considerável palestra, as autoridades municipais consentiram em mudarmos a localização duma rua, assim tornando possível levantarmos a nova estrutura encostada à atual, colocando a rua em novo local, além do nosso novo prédio. . . . O prédio será suficientemente grande para receber algumas prensas novas, que agora são construídas, seu teto alto nos deixando bastante altura livre.”

Ao invés de realizarmos a tradicional “Richtfest”, com sua bebericagem (realizada depois de se completar a cumeeira), preparou-se uma saborosa refeição para os operários e as autoridades ligadas à construção, e foi servida no refeitório do lar do Betel. Nossos irmãos os serviram, e eles se sentaram a mesas cobertas com toalhas brancas. Ouviram um discurso explicando o propósito do prédio, a atividade das testemunhas de Jeová em geral, e como se cuidou da questão financeira do prédio. Membros da família de Betel apresentaram um programa musical. A maioria dos convivas ficaram com uma impressão totalmente diferente das testemunhas de Jeová e de sua atividade. A deliciosa comida servida e a forma com que todos foram tratados como iguais foi um tópico de palestra entre os operários da construção em Wiesbaden por anos depois. Na conclusão, cada um deles recebeu o presente de um livro e um folheto. Alguns dos operários, que, devido a preconceito, não compareceram ao jantar vieram no dia seguinte e pediram se poderiam pelo menos receber o presente do livro. Perderam a refeição por sua própria culpa; agora, cabia-lhes assimilar o alimento espiritual, com a ajuda da publicação de presente.

Em janeiro de 1959, os vários departamentos começaram a mudar-se para o novo prédio.

No ínterim, conforme relata Günter Künz, o superintendente da gráfica, “continuamos a receber melhor equipamento para a produção de livros, revistas e outra matéria impressa. Em 1958, recebemos as máquinas de encadernar que tinham sido antes usadas em Berna, Suíça. Foi possível encadernar até 5.000 livros por dia. No decorrer dos anos, o irmão Knorr deu permissão para se substituir a maioria dessas máquinas, que já estavam em uso por cerca de quarenta anos.” Desse modo, em 1973, foi possível aumentar grandemente a produção de livros.

Os irmãos no escritório de produção certa vez calcularam que nos últimos meses de 1966, quando foram impressos 61.622 exemplares do livro Babilônia, 500.796 exemplares de ‘Coisas em Que É Impossível Que Deus Minta’ e 98.885 Anuários, se estes fossem empilhados um em cima do outro teriam formado uma torre que atingia quinze quilômetros céu adentro. Essa foi uma consecução emocionante. A produção amiúde prosseguia em velocidade máxima a fim de fornecermos às congregações as publicações necessárias. Na primavera setentrional de 1968, vinte e dois trabalhadores adicionais foram chamados temporariamente para Betel, a fim de ajudarem a terminar o livro Veio o Homem a Existir por Evolução ou por Criação? A oficina de encadernação trabalhava em dois turnos e 10.000 livros eram produzidos diariamente. Eram imediatamente enviados às congregações, de modo que este novo livro pudesse ser usado durante a campanha de maio. O trabalho árduo valeu a pena, pois colocamos 136.525 livros, o total mais alto desde 1963.

Em 1968, o irmão Knorr visitou duas vezes Wiesbaden. Sua primeira visita se deu em junho, e, para alegria da família, anunciou que estavam sendo compradas para nossa gráfica uma nova rotativa e três novas máquinas para a oficina de encadernação. Pouco depois, foram instaladas e postas em operação duas destas máquinas. Durante a visita de novembro do irmão Knorr, ele fez arranjos extensivos para aumentar o trabalho que se estava fazendo na gráfica. Os irmãos começaram a trabalhar em dois turnos, cerca de quinze a vinte trabalhando à noite. O irmão Knorr trouxera à nossa atenção a importância de se manter boa espiritualidade, de modo que foi formada uma congregação especial para o benefício dos irmãos da turma da noite, que, de outra forma, não poderiam assistir às reuniões. Suas reuniões eram realizadas durante o dia. A produção de livros foi crescendo e conseguimos assumir a produção de livros para os irmãos holandeses, dinamarqueses, noruegueses e suecos. Com novas máquinas adicionais, cerca de 20.000 livros podiam ser produzidos, diariamente em dois turnos. O ano de 1969 iria ser outro ano ocupado e produtivo, a produção sendo feita em velocidade máxima e alcançando auges nunca dantes atingidos.

“Já É Mais Tarde do que Imagina?” foi o título da Despertai! especial em alemão, datada de 8 de abril de 1969. Pedidos chegavam constantemente das congregações, e cada vez mais revistas tinham de ser impressas. Com efeito, nossa gráfica imprimiu 10.241.250 exemplares. Os irmãos em ambos os turnos estavam dispostos a trabalhar horas extras, pois além das revistas, grande número de livros tinham de ser produzidos (no fim do ano de serviço de 1969, 3.343.304 livros, seis vezes mais do que em 1966). Nossas máquinas rodavam praticamente sem parar. Por vários meses, trabalhamos em dois turnos, comemos em dois turnos e dormimos em dois turnos. Foi uma época ocupada, mas também muito satisfatória e feliz.

O irmão da mesa de pioneiros ficou muito feliz ao verificar que 11.454 pioneiros temporários tinham sido ativos em abril, além dos 1.959 pioneiros regulares.

Durante o ano de serviço de 1969, cerca de quarenta milhões de publicações — revistas, livros e folhetos — foram produzidas. Despachar cerca de 2.000 toneladas de revistas e livros, além de outras publicações, naturalmente, custava caro. Para reduzir tais despesas, começamos a entregar nossas publicações com nossos próprios caminhões, em 3 de dezembro de 1959. Albert Kamm, que tem estado neste departamento desde o próprio início, relata: “As pessoas em toda a parte se interessam em saber o que temos em nossos caminhões: A polícia, os frentistas dos postos de gasolina, os fiscais da alfândega, até mesmo pessoas a quem paramos para pedir orientação quanto ao caminho a seguir. Ficam sempre surpresas quando lhes dizemos que o caminhão está cheio de revistas A Sentinela e Despertai! Quando, no decorrer da conversa, lhes dizemos que temos cinco destes grandes caminhões e dois um pouco menores, e que eles também ficam todos cheios de revistas, então pode-se notar o espanto em seus rostos. Em geral se pode dar bom testemunho. Quando voltamos, duas semanas depois, muitos ainda não conseguem dar-se completamente conta de que A Sentinela está de volta novamente.”

Wiesbaden está localizada em ponto central, e, assim nossos caminhões dispõem de onze rotas na Alemanha. As longas viagens cobrem cerca de 1.200 a 1.500 quilômetros. Cada caminhão viaja cerca de 70.000 a 80.000 quilômetros por ano. Os livros impressos em Wiesbaden são também entregues em Luxemburgo, nos Países-Baixos, na Bélgica, na Suíça e na Áustria.

Enquanto a gráfica trabalhava em velocidade máxima realizaram-se, em 1969, outras obras de construção. O sótão da parte mais antiga do prédio foi convertido em treze novos quartos. O trabalho foi feito por irmãos felizes em gastar seu tempo, sua energia e suas habilidades em Betel em base temporária. A mobília para os quartos, tais como camas, armários, e assim por diante, foi construída em nossa marcenaria.

Apesar desta construção, o lar de Betel ainda era muito pequeno. Em maio de 1970, o irmão Knorr e o irmão Larson o superintendente da gráfica de Brooklyn, nos visitaram por cerca de uma semana. Ao examinar o lar e a gráfica, o irmão Knorr decidiu que seria nos melhores interesses da obra ampliá-los. Isto significava muito trabalho para Richard Kelsey, que começara a servir como o novo superintendente da filial no outono setentrional de 1969. Foi feito um contrato com uma firma para ela fazer a parte principal da construção, ao passo que o trabalho de acabamento interno seria feito pelos irmãos. Na carpintaria, Ferdinand Reiter aprontava tudo para se fazer a mobília para os novos quartos. Isto não era nada novo para ele, pois, lá em 1947, ele já ajudara em fornecer janelas e portas ao esqueleto nu do atual prédio antigo. No ínterim, ele ficou um tanto mais velho, mas, apesar de seus oitenta anos (o segundo membro mais velho da família), ainda é bem robusto e trabalha cada dia, dando bom exemplo. Os irmãos jovens chegam a dizer: “É difícil acompanhar o passo de Ferdinand.”

A expansão era realmente necessária. Em abril de 1971, novo auge de 89.706 publicadores foi alcançado, com 145.419 presentes à Comemoração. Em junho, tivemos as melhores médias de horas desde 1954. Até o fim do ano de serviço de 1971, havíamos colocado dezenove milhões de Bíblias, livros, folhetos e revistas. Isso significava, em média, um compêndio bíblico para cada família na Alemanha Ocidental e em Berlim Ocidental.

O dia 11 de fevereiro de 1972 foi um dia memorável. Por quê? Às 10 da manhã chegaram de Brooklyn os primeiros exemplares da edição em alemão da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Quão grande foi a nossa alegria! Foram feitos arranjos imediatos para termos uma campanha de Bíblias durante maio e junho. Textos foram entregues pelas congregações aos jornais de seus territórios. Tais artigos ajudaram a trazer a Tradução do Novo Mundo à atenção de todos. Algumas manchetes rezavam “Corrida Para Se Obter Nova Tradução da Bíblia”, “96.000 Ministros Fazem ‘Campanha da Bíblia’”, “Testemunhas de Jeová Levam Uma Bíblia a Cada Família”. Até mesmo jornais e revistas religiosos reagiram e ajudaram, de seu próprio modo, a trazer esta Bíblia à atenção dos membros de suas igrejas. O Evangelische Gemeindeblatt, de Württemberg, por exemplo, escreveu: “A primeira edição da tradução alemã foi impressa na quantidade incomum de 1 milhão de exemplares. A demanda de Bíblias de Lutero aqui na Alemanha atinge cerca de 500.000 exemplares por ano. As testemunhas de Jeová certamente não planejaram satisfazer suas necessidades de Bíblias por muitos anos no futuro. Com sua laboriosidade comum, é de esperar-se que usem esta nova publicação numa campanha extensiva. . . . Em adição à Bíblia, que custa apenas 5 marcos alemães, . . . incentiva-se os compradores a aceitar um estudo bíblico e os vendedores se oferecem a dirigir tal estudo na casa do comprador.” O Katholische Sonntagsblatt publicou o mesmo artigo. O lançamento da Tradução do Novo Mundo e sua distribuição foi deveras um ponto destacado do ano de serviço de 1972.

No início do ano de serviço de 1973, havia 95.975 proclamadores das boas novas na Alemanha Ocidental e em Berlim Ocidental, e a produção de publicações para suprir suas necessidades atingiu novos auges. Durante o ano de serviço foram impressos e encadernados dezessete novos livros, na gráfica de Wiesbaden; alguns deles foram para a Alemanha e outros foram para os países escandinavos e os Países-Baixos. Pode-se imaginar a emoção que a família de Betel sentiu quando se totalizou a produção — mais de 3.500.000 livros em apenas um ano!

E bons resultados têm sido observados nas vidas daqueles que recebem estas publicações. Um garoto de doze anos, por exemplo, ficou tão comovido com o que aprendeu que pediu à Testemunha que estudava com a mãe dele e com ele que o levasse no ministério de campo. A Testemunha explicou naturalmente que primeiro teria de sair de Babilônia, a Grande, mandando remover seu nome da lista de membros da igreja. No próprio dia seguinte, durante o intervalo escolar, o garoto, sentindo a urgência do assunto, dirigiu-se à prefeitura para preencher o formulário exigido. O oficial disse que o garoto tinha de voltar outra hora, visto que não podia cuidar desse assunto nessa ocasião. Essa tarde, quando terminaram as aulas, ele retornou ao escritório. De novo, o oficial tentou livrar-se dele, dizendo que a mãe dele tinha de assinar o formulário, de modo que ele teria de voltar outra hora. O garoto solicitou urgentemente ao oficial que telefonasse para sua mãe e lhe pedisse que viesse até ali agora mesmo. O oficial telefonou, mas simplesmente sugeriu que ela viesse com o garoto numa hora conveniente para cuidar do assunto. Nisso o garoto protestou em alta voz ao telefone: “Não, mamãe, venha imediatamente!” Ela veio, trazendo o filho caçula. Os formulários foram preenchidos e assinados. Daí, ela disse: “Bem, já que estamos aqui, é melhor que nós também saiamos.”

No escritório da Sociedade, os irmãos observavam com vívido interesse os relatórios que chegavam durante o ano. Houve 150.313 pessoas presentes na Comemoração da morte de Cristo na Alemanha Ocidental e 7.911 em Berlim Ocidental. Mês após mês, houve marcante aumento no número de pessoas batizadas. Em julho, havia 5.209, em comparação com 3.812 no mesmo período do ano anterior. No fim do ano de serviço de 1973, já se alcançara o total geral de 6.472 pessoas a mais que tomaram sua posição do lado de Jeová. Por volta desse tempo, 98.551 pessoas na Alemanha Ocidental e em Berlim Ocidental participavam na proclamação pública do reino de Deus como a esperança da humanidade.

PAZ NA TERRA — MAS SOMENTE PELO REINO DE DEUS

Lá em 1939, Adolf Hitler escolheu a “Paz” como lema do dia anual do partido do Reich. Medalhas e selos especiais comemorativos foram lançados para este “Dia da Paz do Partido do Reich”. Mas, a celebração foi cancelada devido ao irrompimento da guerra. Trinta anos mais tarde, em agosto de 1969, no Campo de Zeppelin, em Nurembergue, quer dizer, no mesmo logradouro em que o “Dia da Paz do Partido do Reich” deveria ter sido celebrado, trinta anos antes, foi realizada a Assembléia Internacional “Paz na Terra” das Testemunhas de Jeová.

Proveu-se alguma forma de hospedagem para um total geral de 130.000 delegados a esta assembléia. Para tornar isto possível, um ano antes as Testemunhas alugaram mais de 60.000 metros quadrados de tendas, de modo que pudessem erigir 48 grandes tendas. Cerca de um ano e meio antes do tempo, também solicitaram à cidade de Nurembergue que alugasse a elas todas as escolas e ginásios de atletismo da cidade, para serem usados como dormitórios. No início do outono setentrional do ano anterior também se iniciou o trabalho preparatório para o restaurante.

Quando a assembléia começou, havia delegados presentes de 78 diferentes países. O próprio programa do congresso foi apresentado, não só em alemão, mas também em grego, croata, holandês, esloveno e turco. Aqui as pessoas se congregaram de todas as partes do globo e moravam juntas em paz, usufruindo os calorosos vínculos da fraternidade cristã.

Da gigantesca tribuna de pedra, onde os líderes do Partido Nazista certa vez sonharam com um “reinado de mil anos”, o irmão Knorr proferiu a 150.645 ouvintes o discurso público “A Paz de Mil Anos Que se Avizinha”. Mas, não encorajava a assistência a sonhar com o que os homens possam afirmar ter capacidade de fazer. Apontava para o único meio pelo qual a paz duradoura virá para a humanidade, a saber, o reino de Deus, às mãos do seu Filho, Jesus Cristo. E mostrou pelas Escrituras, que a vinda de tal era de paz está bem às portas!

PREPARAÇÃO PARA A VITÓRIA DIVINA

Com a firme convicção de que está logo adiante de nós o tempo em que Deus será vitorioso sobre todos os seus inimigos, as testemunhas de Jeová planejaram uma série de assembléias internacionais para 1973 destacando o tema “Vitória Divina”. Duas destas assembléias foram realizadas na Alemanha, havendo delegados presentes de pelo menos 75 países. No último dia, quando foi proferido o discurso “Vitória Divina — Seu Significado Para a Humanidade Aflita” no Estádio do Reno em Düsseldorf, havia 67.950 pessoas na assistência. Para o mesmo discurso na assembléia de cinco dias no Parque Olímpia em Munique, havia 78.792 presentes. Uma assistência total de 146.742!

Foi em Munique, cinqüenta anos antes, que Hitler tentara alcançar o poder por meio de seu “levante da cervejaria”. Agora, ele e seu regime nazista haviam desaparecido, mas as testemunhas de Jeová, em números cada vez mais crescentes, continuam a apontar com confiança para o triunfo do reino de Deus.

Foi também em Munique que os atletas de muitos países competiram nos Jogos Olímpicos em 1972. O evento foi chamado de “Festival de Paz”, mas, como o mundo pode recordar, o que muitos se lembram mais vividamente é a matança que ocorreu, refletindo a contenda nacionalista do mundo. Relembrando isto, um repórter escreveu em Münchner Anzeiger: “Ao ficar em pé na fileira vazia do estádio um dia antes do início da assembléia ‘Vitória Divina’, e ficar impressionado pela disposição dos voluntários que trabalham aqui (ao todo havia 7.000), automaticamente tive de pensar em 5 de setembro de 1972. Naquele tempo, a violência e o assassinato penetraram furtivamente no local. Nestes dias são os fiéis que, segundo sua convicção, tentam suscitar o que é bom e nobre em seu próximo.” As testemunhas de Jeová não estavam aqui no Parque Olímpia para competir, cada um tentando provar que ele ou que sua nação era melhor que as outras. Antes, andam no nome de Jeová, o “Deus que dá paz”. O amor a Ele é o que os trouxe de muitas nações a esta assembléia, e é o mesmo amor que as move unidamente a magnificar o nome de Deus e aguardar o dia em que será vindicado de todo vitupério. — Miq. 4:5; Rom. 15:33.

Nestas assembléias se enfatizou que é vital que cada um tenha bem em mente a presença do dia de Jeová’, o “dia, em que Deus executará o juízo sobre os iníquos e recompensará seus servos, o “dia” da vitória divina. (2 Ped. 3:11, 12) Lembrou-se-lhes de que, em imitação de Jesus Cristo tinham de individualmente provar-se vitoriosos sobre o mundo, se hão de usufruir o favor divino quando chegar esse “dia de Jeová”. (João 16:33) Não podem deixar ser moldados por este mundo, fazendo as coisas do modo dele, nem podem permitir que a indiferença pessoal ou o temor da reação do mundo faça com que se detenham de fazer a vontade de Deus.

As testemunhas de Jeová não deixaram a assembléia achando ser este o tempo de diminuir de passo em sua pregação, visto que a Vitória Divina está agora tão próxima. Pelo contrário, foram encorajadas a fazer pleno uso do tempo restante, e receberam o equipamento com que trabalhar. Esboçou-se um programa para a intensiva distribuição internacional dum tratado que teria o título “Esgota-se o Tempo Para a Humanidade?” Foi-lhes provido um livro novo, trazendo o estimulante título Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos. Também receberam o livro Verdadeira Paz e Segurança — De Que Fonte?, que focaliza a atenção na grande questão da soberania universal, questão que confronta toda criatura inteligente. Já estão partilhando estas informações com outras pessoas. Sem considerar que condições se possam desenvolver neste mundo atribulado, antes de vir o fim, as testemunhas de Jeová têm resolvido acelerar sua obra dada por Deus, pregando as boas novas do Seu reino.

Com o passar dos anos, as testemunhas de Jeová na Alemanha, como em toda outra parte, foram postas à prova. Não foi nenhuma surpresa para elas. Sabem que seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo, sofreu perseguição às mãos de homens iníquos, e esperam a mesma coisa. (João 15:20) As testemunhas de Jeová entendem claramente a questão. Sabem que Satanás, o Diabo, desafiou a correção da soberania de Jeová. Fez a acusação aberta de que aqueles que servem a Jeová o fazem, não por qualquer amor a Deus, mas egoistamente, visando lucro pessoal. Satanás deu a entender que quando submetido à pressão, ninguém se provará apoiador leal da soberania de Jeová, e esse adversário de Deus e do homem usa humanos que se entregam a ele para tentar provar seu lado da questão. — Luc. 22:31.

Em contraste, as testemunhas de Jeová apreciam que tudo que têm e todas as suas esperanças para o futuro são devido à bondade imerecida de Jeová. Movidas pelo genuíno amor pelo seu Criador, consideram-no um privilégio provar sua integridade a Ele, sem considerar o custo pessoal. Por se recusarem a transigir com o mundo ímpio, muitos experimentaram a perda de empregos e de suas casas. Alguns suportaram a perda de seus filhos e de seus cônjuges. Outros foram espancados até perderem os sentidos, com chicotes de aço, tiveram de morrer de fome ou foram executados por pelotões de fuzilamento.

Mas, em tudo isso, quem saiu vitorioso? Não foi o Diabo. Nem o mundo que jaz em seu poder. Ao invés, são as testemunhas cristãs de Jeová, que puseram sua fé no único Deus verdadeiro e em seu Filho. Como escreveu o apóstolo João: “Todo filho de Deus é vitorioso sobre o mundo ímpio. A vitória que derrota o mundo é nossa fé, pois quem é vitorioso sobre o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1 João 5:4, 5, Nova Bíblia Inglesa) Na verdade, alguns deles morreram às mãos dos inimigos de Deus, mas, tendo a esperança de ser co-herdeiros de Cristo no seu reino celeste e vivendo durante o tempo de sua presença, foram, “num momento, num piscar de olhos”, ressuscitados para a imortal vida celeste — vitoriosos sobre o mundo. (1 Cor. 15:51, 52) Outros, tendo a esperança da vida terrestre na nova ordem de Deus, ficaram temporariamente em descanso, convictos de que Deus, que não pode mentir, os restaurará à vida sob a regência justa do seu reino. Milhares de outros, com a ajuda de Deus, sobreviveram às matanças cruéis de Satanás e seus agentes visíveis. Muitos destes ainda estão vivos, ainda pregam as boas novas, ainda provam sua lealdade a Jeová. E é sua determinação continuar nesse proceder fiel, não importa que provas tenham de confrontar nos dias à frente.

Que todos os que lerem este relato fiquem encorajados por ele a perseverarem fielmente. Tenha presente as seguintes palavras inspiradas do apóstolo Paulo: “Exultemos enquanto em tribulações, visto que sabemos que tribulação produz perseverança; perseverança, por sua vez, uma condição aprovada; a condição aprovada, por sua vez, esperança, e a esperança não conduz a desapontamento; porque o amor de Deus tem sido derramado em nossos corações por intermédio do espírito santo, que nos foi dado.” (Rom. 5:3-5) Que sua correspondência ao amor de Deus o mova a tornar o fazer a vontade de Deus a coisa mais importante em sua vida, tendo plena confiança na Vitória Divina agora tão próxima!

[Foto na página 216]

Prédio obtido pela Sociedade Torre de Vigia em Wiesbaden.

[Foto na página 246]

Lar de Betel e gráfica da Sociedade Torre de Vigia em Wiesbaden, em 1973.

[Fotos nas páginas 254, 255]

Assembléia “Vitória Divina” em Düsseldorf (acima) teve uma assistência de 67.950; a de Munique (embaixo), de 78.792.