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África do Sul

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IMAGINE-SE andando pelas ruas duma grande cidade da África do Sul. É possível observar pessoas de todas as cores, dos negros mais escuros aos brancos mais claros. Em meio ao barulho do trânsito, podem-se ouvir conversas em muitas línguas. Altos prédios de escritório protegem-no do sol forte enquanto você passa por vendedores de frutas, de artesanato e de roupas. Se quiser, pode até dar uma paradinha e cortar o cabelo ali mesmo, na calçada.

Com tanta variedade, nessa população de mais de 44 milhões de pessoas, é difícil identificar um típico sul-africano. Os negros nativos, cerca de 75% da população, são compostos de zulus, xosas, sotos, pedis e tsuanas, além de vários outros grupos étnicos menores. A população de brancos é composta principalmente das comunidades de língua africâner e inglesa. Essas incluem os descendentes dos colonizadores holandeses de meados do século 17 e dos franceses huguenotes. Os colonizadores ingleses chegaram no início do século 19.

Há também uma grande comunidade de indianos, descendentes de trabalhadores das plantações de cana-de-açúcar em Natal (atualmente KwaZulu-Natal). Por causa dessa mistura de raças e culturas, a África do Sul faz jus ao título Nação Arco-Íris.

No passado, o relacionamento entre pessoas de raças diferentes era muito difícil. O mundo condenou a política do apartheid (segregação racial). Em anos recentes, fez-se muita publicidade a favor do fim do apartheid e da implantação de um governo eleito democraticamente.

Agora, pessoas de todas as raças podem misturar-se livremente — freqüentar qualquer lugar público, como um cinema ou um restaurante — e morar onde quiserem, desde que tenham condições financeiras para isso.

No entanto, depois que o entusiasmo inicial do fim do apartheid diminuiu, surgiram questões inevitáveis. Até que ponto o novo governo compensaria as injustiças do apartheid? Quanto tempo isso levaria? Passados mais de dez anos, problemas sérios ainda persistem. Entre os grandes problemas enfrentados pelo governo estão o aumento dos crimes, uma taxa de desemprego de mais de 41% e um total estimado em 5 milhões de pessoas portadoras do vírus HIV. Muitos perceberam que nenhum governo humano é capaz de acabar com esses problemas e começaram a procurar soluções em outros lugares.

LINDAS PAISAGENS

Apesar dos problemas, a beleza natural do país ainda atrai muitos turistas. Entre as numerosas atrações turísticas estão belas praias ensolaradas, imponentes cordilheiras e muitos tipos de trilhas para caminhadas. Nas cidades, é possível encontrar lojas e restaurantes que estão entre os melhores do mundo. O clima temperado é mais um atrativo da África do Sul.

Uma das principais atrações é a variedade de vida selvagem. Existem no país umas 200 espécies de mamíferos, 800 de pássaros e 20 mil tipos de flores. Muitas pessoas vêm para visitar reservas de caça, como o famoso Parque Nacional Kruger. Ali, podem-se ver os chamados “cinco grandes” da África vivendo livremente: elefantes, rinocerontes, leões, leopardos e búfalos.

Visitar uma das várias florestas nativas da África do Sul também é uma experiência inesquecível. É possível admirar espécies raras de samambaias, liquens e flores, além de aves e insetos exóticos. Quando observamos o enorme pinheiro do gênero Podocarpus, é impressionante pensar que esse gigante se origina de uma minúscula semente. Algumas dessas árvores podem atingir 50 metros e viver até mil anos.

Mas outro tipo de semente está sendo plantada e cultivada nesse país já por um século. É a semente das boas novas do Reino de Deus, que vem sendo semeada no coração das pessoas. O salmista comparou os que aceitam essas boas novas a grandes árvores quando escreveu: “O próprio justo brotará como a palmeira; como o cedro do Líbano, assim crescerá ele.” (Sal. 92:12) Esses justos viverão mais do que até mesmo os pinheiros mais antigos, pois Jeová lhes prometeu a vida eterna. — João 3:16.

DESENVOLVIMENTO A PARTIR DE ALGUMAS SEMENTES

Durante o século 19, havia instabilidade no país por causa de guerras e conflitos políticos. A descoberta de diamantes e ouro no fim daquele século também teve profundos efeitos. Allister Sparks explica no livro The Mind of South Africa (A Mente da África do Sul): “Da noite para o dia, o país pastoril transformou-se num país industrial, trazendo os camponeses para a cidade e mudando suas vidas.”

Em 1902, as primeiras sementes da verdade bíblica chegaram à África do Sul na bagagem de um clérigo da Holanda. Uma de suas caixas continha publicações dos Estudantes da Bíblia, como as Testemunhas de Jeová eram então chamadas. Essas publicações chegaram às mãos de Frans Ebersohn e Stoffel Fourie, em Klerksdorp. Eles logo viram que aquilo era a verdade e começaram a dar testemunho a outros. Mais de 80 pessoas da família Fourie, abrangendo cinco gerações, e vários descendentes da família Ebersohn tornaram-se servos dedicados de Jeová. Um dos descendentes de Fourie serve atualmente no Betel da África do Sul.

Em 1910, William W. Johnston veio de Glasgow, Escócia, para a África do Sul a fim de abrir um escritório administrativo dos Estudantes da Bíblia. Com cerca de 30 anos na época, o irmão Johnston era equilibrado e confiável. O escritório não passava de um cômodo pequeno num prédio em Durban, mas cuidava de um enorme território: praticamente todo o sul da África, da linha do equador para baixo.

Durante aqueles primeiros anos, as boas novas criaram raízes principalmente nas comunidades brancas. Na época, as publicações dos Estudantes da Bíblia estavam disponíveis apenas em holandês e inglês; só anos mais tarde é que algumas delas foram traduzidas para os idiomas locais. Com o tempo, a obra progrediu nos quatro grupos principais: brancos, negros, mestiços e indianos.

Relatórios indicam que houve progresso entre as comunidades negras do país a partir de 1911. Johannes Tshange mudou-se para sua cidade natal, Ndwedwe, próxima a Durban. Ele conhecia a verdade bíblica e a transmitiu a outros ali. Tshange dirigia estudos bíblicos regulares para um grupo pequeno usando os Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras) em inglês. Tudo indica que esse grupo se tornou a primeira congregação de negros na África do Sul.

O grupo atraiu a atenção dos clérigos locais. Membros da Igreja Metodista Wesleyana foram até eles para confirmar se aderiam aos ensinamentos da igreja. O grupo disse que ensinava o que estava na Bíblia. Após várias conversas, os membros do grupo foram excomungados da igreja. O irmão Johnston entrou em contato com eles e passou a visitá-los com regularidade para realizar reuniões e ajudá-los. Apesar de os Estudantes da Bíblia serem poucos, a obra de pregação era amplamente realizada. Um relatório em 1912 mostrou que 61.808 tratados tinham sido distribuídos. Além disso, no fim de 1913, 11 jornais sul-africanos publicavam em quatro idiomas os sermões de C. T. Russell, um destacado Estudante da Bíblia.

PROGRESSO TEOCRÁTICO DURANTE OS ANOS DE GUERRA

O ano de 1914 foi marcante para o pequeno grupo de servos de Jeová na África do Sul e para o povo de Deus no mundo inteiro. Muitos esperavam receber sua recompensa celestial naquele ano. O irmão Johnston escreveu no relatório anual enviado à sede mundial em Brooklyn, Nova York: “No relatório anual do ano passado, mencionei minha esperança de, neste ano, fazer um relatório à sede além do véu [no céu]. Essa esperança não se realizou.” Mas ele acrescentou: “O ano que passou foi o de maior atividade na história da obra da colheita na África.” A maioria dos servos de Jeová entendeu que havia mais trabalho a ser feito e alegrou-se em poder participar dele. Esse ímpeto se refletiu no relatório de 1915, que mostrou que 3.141 exemplares de Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras) tinham sido distribuídos, cerca do dobro da quantidade do ano anterior.

Japie Theron, um bom advogado, aprendeu a verdade naquela época. Ele leu um artigo num jornal de Durban falando sobre a literatura dos Estudantes da Bíblia publicada décadas antes. O artigo dizia que os eventos que começaram em 1914 tinham sido preditos na série de livros Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras), que explicavam profecias bíblicas. Japie escreveu: “Eu tinha de conseguir esses livros. Depois de os procurar em todas as livrarias em vão, finalmente os obtive após escrever para o escritório administrativo em Durban. Como eles foram reveladores! Foi maravilhoso entender as ‘coisas escondidas’ registradas na Bíblia.” Com o tempo, Japie foi batizado e pregou com zelo a verdade bíblica até sua morte prematura por causa de uma doença em 1921.

O primeiro congresso dos Estudantes Internacionais da Bíblia na África do Sul foi realizado em abril de 1914, em Johanesburgo. Dos 34 presentes, 16 foram batizados.

Em 1916, o “Fotodrama da Criação” chegou ao país e foi bem recebido em todos os lugares. O jornal Cape Argus noticiou: “O sucesso na produção dessa maravilhosa série de filmes bíblicos justifica plenamente todo o trabalho e planejamento da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia em trazê-lo para este país.” Embora o impacto do Fotodrama não tenha sido percebido de modo imediato, sua apresentação atraiu muitas pessoas e deu bom testemunho numa área bem ampla em pouco tempo. O irmão Johnston viajou uns 8 mil quilômetros pelo país para apresentá-lo.

Assim como ocorreu em outros lugares, a morte do irmão Russell naquele ano causou um retrocesso temporário na obra de pregação na África do Sul. Alguns não gostaram das mudanças que tiveram de ser feitas e provocaram divisões nas congregações a que pertenciam. Em Durban, por exemplo, os que freqüentavam as reuniões, na sua maioria, deixaram a congregação e passaram a realizar reuniões separadas. Os dissidentes se autodenominaram “Estudantes Associados da Bíblia”. Da congregação original, sobraram apenas 12, na maior parte irmãs. Isso colocou Henry Myrdal, um adolescente recém-batizado, numa situação difícil. Seu pai ficou com os dissidentes ao passo que sua mãe continuou com a pequena congregação. Após pensar cuidadosamente com oração, Henry decidiu ficar com a congregação. Como em geral ocorre, o grupo de dissidentes não durou muito.

Em 1917, o escritório administrativo foi transferido de Durban para a Cidade do Cabo. O aumento no número de publicadores era constante. Naquela época, estimava-se haver entre 200 e 300 Estudantes da Bíblia descendentes de europeus e muitas congregações ativas entre a população negra.

Em 1917, o escritório relatou: “Apesar de não dispormos de publicações nas línguas nativas, o entendimento que os irmãos nativos têm da verdade é fenomenal. Podemos apenas dizer: ‘É a obra do Senhor, e isso é maravilhoso aos nossos olhos.’” Irmãos da Niassalândia (hoje Malaui) vieram à África do Sul e ajudaram muitos a se tornarem discípulos no campo da população negra. Entre os primeiros que vieram ajudar estavam James Napier e McCoffie Nguluh.

CORAJOSOS DEFENSORES DA VERDADE

Naqueles anos iniciais, o pequeno grupo de evangelizadores defendia corajosamente a verdade. Em Nylstroom, no norte de Transvaal (atual província de Limpopo), dois garotos leram o folheto Que Dizem as Escrituras sobre o Inferno?. Ficaram maravilhados em aprender a verdade sobre os mortos. Um deles, Paul Smit, * disse: “Nylstroom entrou em comoção, como se tivesse sido atingida por um ciclone, quando eu e outro garoto passamos a divulgar de modo bem claro que as doutrinas da igreja eram falsas. Em pouco tempo, todos estavam falando nessa nova religião. É claro que os clérigos desempenharam seu típico papel de difamar e perseguir o povo de Deus. Por meses, até mesmo anos, seus sermões semanais concentravam-se nessa ‘religião falsa’.” Apesar disso, em 1924 havia um pequeno grupo de 13 publicadores ativos em Nylstroom.

Em 1917, Piet de Jager estudava teologia na universidade em Stellenbosch. Um colega de escola costumava ler e falar sobre as publicações dos Estudantes da Bíblia. Isso preocupou as autoridades da igreja, que pediram que Piet conversasse com o aluno e o convidasse para os estudos semanais da Bíblia organizados pela Associação dos Estudantes Cristãos. O resultado não foi bem o que aquelas autoridades esperavam. O próprio Piet aceitou a verdade. Depois de debater muito com seus professores sobre alma, inferno e outros assuntos, e não obter nenhum resultado, ele deixou a universidade.

Mais tarde, foi marcado um debate entre Piet e um teólogo da Igreja Reformada Holandesa, Dwight Snyman; 1.500 alunos compareceram. O irmão Attie Smit descreveu o que aconteceu: “Piet deixou o teólogo sem respostas em todos os assuntos e provou com as Escrituras que a igreja tinha doutrinas antibíblicas. Um dos alunos presentes resumiu sua própria opinião dizendo: ‘Se eu não acreditasse que Piet estava errado, poderia jurar que ele tinha razão, pois provou tudo com textos bíblicos!’”

SEMEADURA EM OUTRAS COMUNIDADES

Em visita à pequena cidade de Franschhoek, perto de Stellenbosch, o irmão Johnston entrou em contato com alguns membros da população mestiça que moravam ali. Anos antes, um professor local, Adam van Diemen, tinha abandonado a Igreja Reformada Holandesa e formado um pequeno grupo religioso. O irmão Johnston o visitou, e Van Diemen ficou com algumas publicações para si e para seus amigos.

Van Diemen e alguns amigos aceitaram a verdade e transmitiram zelosamente seu conhecimento a outros. Isso lançou a base para a divulgação das boas novas no campo mestiço. G. A. Daniels aprendeu a verdade naquela época. Ele tinha 17 anos e dedicou toda a vida ao serviço de Jeová.

Anos mais tarde, David Taylor, um irmão mestiço, também teve participação zelosa em transmitir a verdade bíblica nesse campo. Ele começou a estudar as Escrituras com os Estudantes da Bíblia aos 17 anos. Em 1950, ele foi designado superintendente de circuito e enviado a visitar todas as congregações e grupos isolados dos mestiços, que já totalizavam 24 no país inteiro. Isso exigia muitas viagens de trem e de ônibus.

PROGRESSO TEOCRÁTICO EM TEMPOS DIFÍCEIS

Em 1918, o irmão Johnston foi designado para supervisionar a obra de pregação na Austrália, e Henry Ancketill passou a servir como supervisor da sede na África do Sul. Ele tinha sido membro da assembléia legislativa em Natal. Agora já estava aposentado e, embora não fosse jovem, cumpriu bem sua designação durante seis anos.

Apesar dos anos turbulentos da guerra e dos ajustes organizacionais, o crescimento continuou ao passo que muitos reagiam com entusiasmo à verdade bíblica. Em 1921, Christiaan Venter, chefe duma equipe de manutenção de ferrovias, achou um papel preso debaixo dum trilho. Era um tratado publicado pelos Estudantes da Bíblia. Ele o leu, correu até seu genro, Abraham Celliers e disse: “Abraham, encontrei a verdade!” Os dois obtiveram mais publicações bíblicas e as estudaram diligentemente. Ambos se tornaram servos de Jeová dedicados e ajudaram muitos a aprender a verdade. Mais de cem de seus descendentes são Testemunhas de Jeová.

MAIS EXPANSÃO

Em 1924, uma impressora foi enviada à Cidade do Cabo. Dois irmãos também vieram da Grã-Bretanha para ajudar — Thomas Walder, que se tornou o supervisor da sede, e George Phillips, * que o sucedeu como supervisor da sede alguns anos depois. O irmão Phillips serviu nessa função durante quase 40 anos e teve uma importante participação no progresso e no estabelecimento da obra do Reino na África do Sul.

A obra de evangelização ganhou mais ímpeto em 1931 com a resolução de adotar o nome Testemunhas de Jeová. O folheto O Reino de Deus É a Felicidade do Povo foi lançado naquela ocasião contendo o texto completo dessa resolução. Esse folheto foi distribuído em todo o país e um esforço especial foi feito para deixar um exemplar com cada clérigo, político e executivo importante no território.

NOVA SEDE

Em 1933, foram alugados prédios maiores na Cidade do Cabo. A sede mudou-se para lá, onde permaneceu até 1952. Naquela época, a família de Betel já tinha 21 membros. Aqueles primeiros betelitas moravam na casa de irmãos e iam todo dia para o escritório e a gráfica. Toda manhã, antes do serviço, eles se reuniam no vestiário da gráfica para comentar o texto diário. Depois, faziam juntos a oração do Pai-Nosso.

Alguns moravam muito longe para ir almoçar em casa, por isso, recebiam algumas moedas para tomar uma refeição. Com elas, dava para comprar um prato de purê de batatas e uma lingüiça pequena na lanchonete da estação de trem ou comprar um pão e alguma fruta.

Em 1935, Andrew Jack, um impressor habilitado, foi enviado para ajudar no serviço de impressão na sede na Cidade do Cabo. Ele era escocês, magro e sempre sorridente. Anteriormente já tinha servido por tempo integral nos Estados Bálticos da Lituânia, Letônia e Estônia. Quando chegou à África do Sul, Andrew adquiriu mais equipamentos de impressão e não demorou muito para a gráfica de um homem só estar funcionando a todo vapor. A primeira impressora automática, uma Frontex, foi instalada em 1937. Por mais de 40 anos, ela imprimiu milhões de folhetos e formulários, além de revistas em africâner.

Andrew serviu no Betel da África do Sul pelo resto de sua vida. Mesmo quando já estava bem idoso, ele dava um exemplo excelente para a família de Betel, participando regularmente no serviço de campo. Cristão ungido fiel, Andrew terminou sua carreira terrestre em 1984 aos 89 anos, após 58 anos de serviço dedicado.

MUITO CRESCIMENTO DURANTE OS ANOS DE GUERRA

Embora a Segunda Guerra Mundial não tenha tido tanto impacto sobre a África do Sul quanto sobre a Europa, muitos sul-africanos lutaram na África e na Itália. Deu-se muita publicidade à guerra para aumentar o apoio popular e atrair recrutas. Apesar do forte espírito patriótico que havia entre as pessoas daquela época, houve um auge de 881 publicadores no fim do ano de serviço de 1940 — um aumento de 58,7% sobre o auge do ano anterior de 555!

Em janeiro de 1939, a revista Consolação (agora Despertai!) foi publicada em africâner pela primeira vez. Ela também foi a primeira revista a ser impressa pelas Testemunhas de Jeová na África do Sul. Os tipos para essa revista eram montados à mão, um processo muito demorado. Logo se decidiu publicar A Sentinela em africâner. Mal sabiam os irmãos como aquela decisão seria acertada, em vista dos futuros acontecimentos na Europa. Instalou-se uma linotipo e uma dobradeira. O primeiro número de A Sentinela em africâner foi o de 1.º de junho de 1940.

Até aquela época, os que liam africâner recebiam a revista A Sentinela em holandês, que era impressa na Holanda, visto que os dois idiomas são parecidos. Em maio de 1940, porém, por causa da invasão de Hitler na Holanda, a sede foi fechada de repente. Mas a impressão de A Sentinela em africâner já tinha começado na África do Sul, e os irmãos não perderam nenhum número das revistas. A distribuição mensal delas subiu para 17 mil.

PROGRESSO APESAR DA CENSURA

Devido à pressão de líderes religiosos da cristandade e ao temor do governo por causa de nossa neutralidade, as autoridades de censura confiscaram os exemplares dos assinantes de A Sentinela e Consolação em 1940. Deu-se um anúncio oficial proscrevendo as publicações. Carregamentos de revistas e publicações de outros países eram apreendidos assim que chegavam.

Apesar disso, os irmãos continuavam recebendo o alimento espiritual a tempo. Um exemplar de A Sentinela em inglês sempre acabava chegando à sede, onde o texto era composto e impresso. George Phillips escreveu: “Durante a proscrição, vimos . . . a maior prova do cuidado amoroso e da proteção de Jeová a seu povo. Nunca nos faltou um único número de A Sentinela. Muitas vezes, apenas um exemplar de determinado número chegava até nós. Às vezes, quem nos trazia o que precisávamos era um assinante de uma das Rodésias [hoje Zâmbia e Zimbábue] ou da África Oriental Portuguesa [hoje Moçambique] ou de uma fazenda isolada da África do Sul ou mesmo um turista num navio que fizesse escala na Cidade do Cabo.”

Em agosto de 1941, toda a correspondência que estava para ser enviada da sede foi confiscada pelas autoridades de censura sem qualquer explicação. Mais tarde naquele ano, o Ministro do Interior emitiu um mandado para apreender todas as publicações da organização no país. Certa manhã, o Departamento de Investigação Criminal (DIC) chegou à sede às 10 horas com caminhões para levar embora toda a literatura. O irmão Phillips conferiu o mandado e viu que não estava estritamente de acordo com a lei. Os livros não estavam alistados por nome, o que era uma exigência segundo o Government Gazette, diário oficial do país.

O irmão Phillips pediu que os oficiais do DIC esperassem enquanto ele contatava um advogado e entrava com um pedido urgente na Suprema Corte para impedir o Ministro do Interior de confiscar as publicações. O pedido foi aceito ao meio-dia e a polícia foi embora de mãos vazias. Cinco dias depois, o ministro retirou o mandado e pagou indenizações à sociedade.

A batalha jurídica relacionada à proscrição de nossas publicações durou alguns anos. Os irmãos as escondiam em casa. Visto que tinham menos publicações para o campo, os irmãos as usavam com prudência. Eles emprestavam livros para os que queriam estudar a Bíblia. Muitos aceitaram a verdade nessa época.

No fim de 1943, um novo Ministro do Interior assumiu o posto. Enviou-se um pedido para cancelar a proscrição e ele foi aceito. No início de 1944, a proscrição foi cancelada e o grande estoque de publicações que tinha sido confiscado foi devolvido à sede.

Será que os opositores da adoração verdadeira foram bem-sucedidos em parar a obra de pregação do Reino? Os números do ano de serviço de 1945 indicam que Jeová abençoou o serviço dedicado de seu povo fiel e a obra deslanchou como nunca antes. Uma média de 2.991 publicadores colocou 370.264 publicações e dirigiu 4.777 estudos bíblicos. Uma diferença e tanto do auge de 881 publicadores em 1940.

BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO TEOCRÁTICO

A introdução do Curso do Ministério Teocrático (atualmente Escola do Ministério Teocrático) em 1943 forneceu treinamento que habilitou muitos irmãos como oradores públicos. Também ajudou mais publicadores a se tornarem eficientes no ministério de campo. Em 1945, havia um bom número de oradores treinados e iniciou-se uma campanha de Reuniões Públicas. Os irmãos anunciavam os discursos com convites e cartazes.

Piet Wentzel * era um jovem pioneiro na época. Lembrando-se daqueles anos, ele conta: “Eu e meu companheiro no serviço de pioneiro, Frans Muller, fomos transferidos para Vereeniging. Antes de iniciarmos a campanha de Reuniões Públicas, em julho de 1945, preparei dois dos quatro discursos que seriam feitos. Todo dia, na hora do almoço, eu ia até um rio e treinava os discursos durante uma hora, falando para o rio e para as árvores. Demorou um mês até sentir-me confiante para encarar uma assistência.” Trinta e sete pessoas interessadas estiveram presentes ao primeiro discurso feito em Vereeniging. Elas foram a base de uma congregação que foi formada mais tarde.

Após muitos anos servindo como superintendente viajante, Piet e sua esposa, Lina, foram convidados para servir em Betel. Hoje membro da Comissão de Filial, ele mantém seu zelo pelo ministério e continua sendo um aplicado estudante da Bíblia. Lina morreu em 12 de fevereiro de 2004 após 59 anos no serviço de tempo integral.

AJUDA AMOROSA PARA OS IRMÃOS

A designação dos chamados servos aos irmãos de acordo com a orientação da sede mundial em Brooklyn foi mais um progresso. Esses irmãos foram os precursores dos atuais superintendentes de circuito. Eram designados irmãos solteiros, com boa saúde e bastante vigor para dar conta da rotina apertada.

No início, a visita às congregações maiores durava dois ou três dias; nas congregações menores, um dia. Assim, esses irmãos viajavam muito, principalmente usando transportes públicos, muitas vezes tomando ônibus e trens em horários incomuns. Durante a visita, eles verificavam com cuidado os registros da congregação. Mas o principal objetivo deles era passar tempo no serviço de campo com os irmãos e treiná-los no ministério.

Um servo aos irmãos designado em 1943 foi Gert Nel, que tinha aprendido a verdade em 1934 quando era professor em Transvaal do Norte. Ele ajudou um grande número de publicadores e muitos ainda se lembram de seu serviço fiel. Alto, magro e sério, ele era um defensor zeloso da verdade. Era bem conhecido por sua notável memória, mas também amava muito as pessoas. O irmão Nel trabalhava no campo das sete da manhã até às sete ou oito da noite sem parar para descansar. Quando viajava como superintendente de circuito, ele tomava trens a qualquer hora do dia ou da noite, ficava alguns dias com uma congregação, dependendo do tamanho, e partia para a próxima. Fazia isso semana após semana. Ele foi chamado para servir em Betel como tradutor para o africâner em 1946 e continuou a servir fielmente ali até sua morte em 1991. Ele foi o último irmão ungido a servir no Betel da África do Sul. Entre 1982 e 1985, outros fiéis irmãos ungidos terminaram sua carreira terrestre: George Phillips, Andrew Jack e Gerald Garrard.

DAVAM GENEROSAMENTE DE SI

Os servos de Jeová apreciam o serviço dos superintendentes viajantes e suas esposas, que dão de si de modo generoso ao fortalecer em sentido espiritual as congregações. Luke Dladla, por exemplo, foi designado superintendente de circuito em 1965 e atualmente é pioneiro regular. Ele disse: “Hoje, em 2006, estou com 81 anos e minha esposa com 68, mas ainda subimos e descemos morros e atravessamos rios para divulgar as boas novas no nosso território. Já passamos mais de 50 anos no serviço de campo.”

Andrew Masondo foi designado superintendente de circuito em 1954. Ele disse: “Fui designado para Botsuana em 1965. Era como uma designação missionária. A fome assolava o país, pois já fazia três anos que não chovia. Eu e minha esposa, Georgina, sentimos na pele o que é ir para cama sem jantar e ir ao campo sem café da manhã. Geralmente tomávamos apenas uma refeição ao meio-dia.

“Quando voltei para a África do Sul, fui designado superintendente de distrito e treinado por Ernest Pandachuk. Suas últimas palavras para mim foram: ‘Nunca eleve sua cabeça acima dos irmãos. Seja como o trigo, que se curva quando está maduro, mostrando que está cheio de bons frutos.’”

PRIMEIRA ASSEMBLÉIA DE CIRCUITO

A primeira assembléia de circuito da África do Sul foi realizada em Durban em abril de 1947. Milton Bartlett, formado na quinta turma de Gileade e o primeiro missionário a ser enviado à África do Sul, descreveu suas impressões sobre os irmãos que assistiram àquela assembléia: “Foi emocionante ver a atitude dos irmãos negros. Eles estavam bem-arrumados, limpos e quietos. Eram muito sinceros e estavam desejosos de aprender mais sobre a verdade, além de serem muito zelosos no serviço de campo.”

Ao passo que o interesse entre a população negra continuava a aumentar, providenciou-se mais ajuda. O primeiro número de A Sentinela em zulu foi o de 1.º de janeiro de 1949. Foi impresso numa pequena máquina manual de duplicação na sede na Cidade do Cabo. A revista não era tão colorida e chamativa como é hoje, mas fornecia alimento espiritual valioso. Em 1950, foram iniciadas aulas de alfabetização em seis idiomas. Essas aulas habilitaram centenas de irmãs e irmãos zelosos a ler a Palavra de Deus.

Ao passo que a obra de evangelização progredia, surgiu a necessidade de locais apropriados para as reuniões. Em 1948, um pioneiro foi designado para a cidade de Strand, perto da Cidade do Cabo, onde teve o privilégio de organizar a construção do primeiro Salão do Reino na África do Sul. Uma irmã local financiou a construção. George Phillips disse: “Eu queria colocar rodas no novo salão para poder levá-lo por todo o país e incentivar os irmãos a construir mais Salões do Reino.” Mas ainda levaria alguns anos até que a construção de Salões do Reino organizada fosse estabelecida em todo o país.

REAÇÃO ANIMADORA NAS COMUNIDADES INDIANAS

Entre 1860 e 1911, pessoas contratadas vieram da Índia para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar em Natal. Muitos continuaram no país mesmo depois de cumprirem o contrato de trabalho e uma numerosa população de indianos — hoje com mais de 1 milhão de pessoas — estabeleceu-se no país. O interesse pela verdade bíblica começou a surgir nas comunidades indianas no início da década de 50.

Velloo Naicker nasceu em 1915 e era o quarto filho numa família de nove crianças. Seus pais trabalhavam numa plantação de cana-de-açúcar e eram hindus devotos. As aulas sobre a Bíblia na escola estimularam o interesse de Velloo. Ele ganhou uma Bíblia quando era jovem e a lia todos os dias, terminando a leitura em quatro anos. Ele escreveu: “Gostei de Mateus 5:6. Quando li esse texto, percebi que Deus se agrada da pessoa que está faminta da verdade e do que é certo.”

Finalmente, uma Testemunha de Jeová encontrou Velloo e começou a estudar a Bíblia com ele. Ele foi batizado em 1954, um dos primeiros indianos na África do Sul a fazer isso. A comunidade hindu onde ele morava em Actonville, na província de Gauteng, fazia muita oposição às Testemunhas de Jeová. Uma pessoa importante até ameaçou matar Velloo. Por causa de sua posição firme pela verdade bíblica, ele perdeu o emprego de gerente em uma lavanderia a seco. Apesar disso, ele continuou a servir fielmente a Jeová até sua morte em 1981. Seu excelente exemplo deu frutos; hoje, mais de 190 familiares em quatro gerações (incluindo parentes por afinidade) servem a Jeová.

Gopal Coopsammy tinha 14 anos quando ouviu falar da verdade pela primeira vez por meio de seu tio, Velloo. “Ele conversava sobre a Bíblia com alguns de nós jovens, mas eu não tinha estudo bíblico”, lembra-se Gopal. “A Bíblia era um livro estranho para mim que era hindu. Mas algumas coisas que eu lia faziam sentido. Certo dia, vi meu tio saindo para o Estudo de Livro de Congregação. Perguntei se eu podia ir junto. Ele concordou, e eu nunca mais deixei de assistir às reuniões. Como eu queria aumentar meu conhecimento bíblico, fui à biblioteca e encontrei algumas publicações das Testemunhas de Jeová. Minha família fazia muita oposição, mas eu sempre me lembrava das palavras do Salmo 27:10: ‘Caso meu próprio pai e minha própria mãe me abandonassem, o próprio Jeová me acolheria.’ Fui batizado em 1955, aos 15 anos de idade.”

Gopal é o superintendente presidente da congregação onde serve com sua esposa, Susila. Eles já ajudaram cerca de 150 pessoas a dedicarem a vida a Jeová. Ele explica como eles conseguiram isso: “Dei testemunho a muitos familiares que moram aqui perto e alguns foram receptivos. Eu também tinha meu próprio negócio, o que me dava tempo para o ministério. Servi como pioneiro por quatro anos. Eu trabalhava arduamente no ministério e era diligente em revisitar os que mostravam interesse.”

AMOR E PACIÊNCIA DÃO FRUTOS

Doreen Kilgour e Isabella Elleray formaram-se em Gileade em 1956 e 1957 respectivamente. Elas serviram por 24 anos na comunidade indiana em Chatsworth, um subúrbio de Durban.

Doreen descreveu como era trabalhar no território: “Tínhamos de ter paciência. Alguns nunca tinham ouvido falar de Adão e Eva. Mas as pessoas eram hospitaleiras. Os hindus acham que apenas recebê-lo na porta é errado. Eles costumavam dizer: ‘Tome um chá e pode ir.’ Ou seja, tínhamos de tomar um chá antes de ir para a próxima casa. Depois de um tempo, parecia que nos estávamos afogando em chá. Para nós, era um milagre toda vez que um indiano abandonava suas crenças religiosas tão arraigadas e se tornava adorador de Jeová.”

Isabella relatou o seguinte: “No serviço de campo, falei com um homem que aceitou as revistas. Sua esposa, Darishnie, tinha acabado de chegar da igreja e participou da conversa. Ela estava segurando seu bebê. A palestra foi ótima e marquei uma revisita. Mas eu nunca encontrava Darishnie em casa. Mais tarde, ela me contou que o pastor a tinha orientado a sair de casa quando eu fosse visitá-la. Ele explicou que isso me faria pensar que ela não estava interessada. Fui à Inglaterra para visitar minha família, mas continuei pensando em Darishnie enquanto estava lá. Quando voltei para a África do Sul, fui visitá-la de novo. Ela quis saber por onde eu tinha andado e disse: ‘Eu tinha certeza de que você achava que eu não estava interessada. Mas que bom vê-la novamente!’ Começamos a estudar a Bíblia, embora o marido não participasse. Ela era uma ótima estudante e, com o tempo, foi batizada.

“A religião dela ensinava que a mulher casada devia usar no pescoço o tali, um pingente de ouro preso num barbante amarelo. Ela só podia tirá-lo se o marido morresse. Quando Darishnie quis começar a pregar, entendeu que tinha de tirar o tali. Ela perguntou-me o que fazer. Eu disse que perguntasse primeiro ao marido e observasse sua reação. Ela perguntou, mas ele não gostou da idéia. Sugeri que ela fosse paciente, esperasse um pouco e, quando ele estivesse de bom humor, pedisse mais uma vez. Ele acabou concordando em deixá-la tirar o tali. Incentivávamos nossos estudantes a ter tato e a respeitar os ensinos hindus ao passo que também defendiam a verdade bíblica. Assim, eles evitavam ferir desnecessariamente os sentimentos de amigos e parentes, que por sua vez achavam mais fácil aceitar sua mudança de religião.”

Quando indagadas sobre o que as ajudou a perseverar tantos anos como missionárias, Doreen disse: “Passamos a amar as pessoas. Nós nos concentrávamos na designação e a amávamos.” Isabella acrescentou: “Fizemos muitos amigos. Foi uma pena deixar nossa designação, mas não temos mais boa saúde. Ficamos gratas em aceitar o bondoso convite de servir em Betel.” Isabella morreu em 22 de dezembro de 2003.

Outros missionários que serviam em Chatsworth também chegaram à conclusão de que, devido à idade, não podiam mais continuar na designação e cuidar do lar missionário. Eles também foram designados para Betel. Eram eles: Eric e Myrtle Cooke, Maureen Steynberg e Ron Stephens, que já morreu.

UM PROJETO MAIOR

Quando Nathan Knorr e Milton Henschel, que serviam na sede mundial em Brooklyn, visitaram a África do Sul em 1948, decidiu-se comprar uma propriedade em Elandsfontein, perto de Johanesburgo, para construir o lar de Betel e a gráfica. A construção terminou em 1952. Pela primeira vez, os membros da família de Betel podiam morar juntos. Muitos outros equipamentos de impressão foram instalados, incluindo uma impressora plana. A revista A Sentinela era publicada em oito idiomas, e a Despertai!, em três.

Em 1959, a gráfica e o lar de Betel foram ampliados. O anexo era maior do que o prédio original. Uma nova impressora Timson foi instalada, a primeira rotativa da sede.

A fim de ajudar no serviço de impressão, o irmão Knorr convidou quatro jovens a se mudarem do Canadá para a África do Sul: Bill McLellan, Dennis Leech, Ken Nordin e John Kikot. Eles chegaram em novembro de 1959. Bill McLellan e sua esposa, Marilyn, servem até hoje no Betel da África do Sul. John Kikot e a esposa, Laura, estão atualmente no Betel de Brooklyn, Nova York. Ken Nordin e Dennis Leech ficaram na África do Sul, casaram-se e criaram filhos. Eles continuam a promover os interesses do Reino de modo excelente. Os dois filhos de Ken servem no Betel da África do Sul.

O Betel ampliado e os novos equipamentos foram usados ao máximo para dar conta do crescente interesse no país. Em 1952, o número de publicadores na África do Sul ultrapassava os 10 mil. Em 1959, o número já tinha chegado a 16.776.

UNIDADE CRISTÃ SOB O APARTHEID

Para entender as dificuldades que os irmãos enfrentavam sob o regime do apartheid, é bom saber como se faziam cumprir essas leis. A lei permitia que negros, brancos (de ascendência européia), mestiços e indianos trabalhassem na cidade nos mesmos prédios tais como fábricas, escritórios e restaurantes. Mas à noite, cada grupo racial tinha de retornar ao seu próprio bairro. Desse modo, as raças ficavam separadas no que se referia às habitações. Todos os prédios tinham de ter refeitórios e sanitários separados para os brancos e para os de outras raças.

Quando a primeira sede foi construída em Elandsfontein, as autoridades não permitiram que os irmãos negros, mestiços e indianos morassem nos mesmos prédios que os irmãos brancos. Na época, a maioria dos betelitas eram brancos por causa da dificuldade em obter autorização para irmãos de outras raças trabalharem na cidade. Mas havia 12 irmãs e irmãos negros e mestiços que trabalhavam em Betel, principalmente como tradutores para os idiomas locais. O governo autorizou construir para esses irmãos cinco apartamentos nos fundos e separados do prédio residencial. A autorização foi mais tarde cancelada quando as leis do apartheid passaram a ser aplicadas de modo mais rigoroso. Os irmãos tinham de viajar para a cidade de população negra mais próxima, a uns 20 quilômetros de distância, e ficar em hospedarias para homens. As duas irmãs negras ficavam em casas particulares de irmãos naquela mesma cidade.

A lei nem mesmo permitia que esses betelitas tomassem refeições no refeitório principal com os irmãos brancos. Inspetores do município estavam sempre atentos a quaisquer violações da lei. Mas os irmãos brancos não gostavam nem da idéia de tomar as refeições separados dos outros. Por isso, trocaram os vidros das janelas do refeitório por vidraças foscas; assim, toda a família podia estar junta nas refeições, sem perturbação.

Em 1966, George Phillips achou necessário sair de Betel, pois sua esposa, Stella, não estava bem de saúde. Harry Arnott, um irmão capacitado, foi designado como supervisor da sede e serviu nessa função por dois anos. A partir de 1968, Frans Muller * passou a servir como supervisor da sede e, posteriormente, como coordenador da Comissão de Filial.

A BOMBA AZUL TRAZ MAIS CRESCIMENTO

O livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna foi lançado no congresso de distrito de 1968. Carinhosamente conhecido como bomba azul, ele causou grande impacto no território. O Departamento de Expedição, que costumava despachar cerca de 90 mil livros por ano, enviou 447 mil livros durante o ano de serviço de 1970.

O irmão Knorr fez mais uma visita à África do Sul em 1971. Nessa época, Betel já estava muito pequeno de novo. Havia 68 membros na família. Planejou-se uma ampliação e os irmãos ofereceram-se voluntariamente para trabalhar ou doar fundos à construção, que terminou em 30 de janeiro de 1972. Outra ampliação foi completada em 1978. Toda aquela expansão era uma garantia encorajadora do apoio de Jeová, pois o povo de Deus enfrentava cada vez mais pressão das autoridades governamentais naquele tempo.

PROVA DE NEUTRALIDADE

A África do Sul deixou a Comunidade Britânica em maio de 1961 e tornou-se república. Aquela foi uma época de muita violência e agitação política. Numa tentativa de controlar a situação, o governo fomentou o espírito nacionalista. Isso causou dificuldades para os irmãos nos anos que se seguiram.

Durante muitos anos, não se exigia que as Testemunhas de Jeová prestassem serviço militar. Isso mudou no fim da década de 60, quando o país se envolveu cada vez mais em operações militares na Namíbia e em Angola. A nova legislação exigia que todos os jovens brancos e saudáveis prestassem serviço militar. Os irmãos que se recusavam eram sentenciados a 90 dias de prisão em quartéis de detenção militares.

Mandou-se a Mike Marx e a um grupo de irmãos que colocassem capacetes e fardas do exército. Ele relembra: “Visto que não queríamos ser identificados como parte do exército, recusamo-nos a fazer isso. O oficial em comando, um capitão, ordenou que nos fossem tirados alguns privilégios, que nos colocassem na solitária e que recebêssemos uma alimentação minguada.” Os irmãos não podiam escrever ou receber cartas, receber visitas nem ler livros a não ser a Bíblia. A alimentação minguada — supostamente para os prisioneiros incorrigíveis — consistia em água e metade de um pão por dia durante dois dias, depois, alimentação normal do exército durante sete dias, seguidos por mais dois dias de pão e água. Mas mesmo a chamada alimentação normal geralmente deixava muito a desejar em termos de qualidade e quantidade.

Fez-se todo esforço para quebrantar a integridade dos irmãos. Cada um ficava trancado numa cela pequena. Durante um tempo, eles não podiam tomar banho. Recebiam apenas um balde para as necessidades fisiológicas e outro para se lavarem. Com o tempo, os banhos foram permitidos novamente.

“Certo dia de inverno”, lembra-se Keith Wiggill, “os guardas tiraram nossos colchões e cobertores depois de tomarmos um banho gelado. Eles também não nos deixaram vestir nossas roupas civis; ficamos apenas com um short e uma camiseta. Dormimos em cima da toalha molhada sobre o congelante chão de concreto. Na manhã seguinte, o sargento-ajudante ficou surpreso de ver como estávamos bem e felizes. Ele reconheceu que nosso Deus tinha cuidado de nós durante aquela gélida noite de inverno”.

Pouco antes de completarem a sentença de 90 dias, os irmãos eram levados novamente a julgamento por não terem vestido o uniforme nem terem participado do treinamento com os outros prisioneiros. Daí, voltavam para a prisão. As autoridades deixaram claro que pretendiam sentenciá-los vez após vez até chegarem aos 65 anos de idade, quando não estariam mais aptos para o serviço militar.

Mas a lei foi mudada em 1972 após muita pressão política e popular. Os irmãos recebiam apenas uma sentença de prisão equivalente à duração do período de treinamento militar. A sentença inicialmente era de 12 a 18 meses. Mais tarde, foi aumentada para três anos e, por fim, para seis anos. Com o tempo, as autoridades fizeram algumas concessões e os irmãos podiam realizar uma reunião semanal.

Na prisão, os irmãos não se esqueceram do mandamento de Cristo de fazer discípulos. (Mat. 28:19, 20) Falavam com prisioneiros, autoridades e outros com quem tinham contato. Durante um tempo, foi-lhes permitido usar as tardes de sábado para transmitir as boas novas por meio de cartas.

Certa ocasião, os militares ordenaram que as 350 Testemunhas de Jeová tomassem a refeição com os 170 prisioneiros militares. A prisão do quartel tornou-se o único território do país com a proporção de duas Testemunhas de Jeová para cada habitante. As autoridades logo decidiram que era melhor os irmãos tomarem suas refeições separados dos outros prisioneiros.

A CRISTANDADE E A NEUTRALIDADE

Como as igrejas da cristandade reagiram à questão do serviço militar obrigatório? O Conselho Sul-Africano de Igrejas (SACC, sigla em inglês) aprovou uma resolução sobre objeção de consciência em julho de 1974. Mas em vez de ater-se à questão religiosa, o documento tinha óbvias conotações políticas. A razão apresentada no documento para apoiar a objeção de consciência era que o exército estava defendendo uma “sociedade injusta e discriminatória” e, portanto, a guerra era injusta. As igrejas africânderes, e outros grupos religiosos, não apoiaram a resolução da SACC.

A Igreja Reformada Holandesa apoiou o governo nos assuntos militares e rejeitou a resolução da SACC, alegando que ela violava Romanos capítulo 13. Os capelães que serviam nas Forças de Defesa da África do Sul, incluindo clérigos de igrejas que faziam parte da SACC, também se opuseram à decisão da SACC. Numa declaração conjunta, os capelães das igrejas de língua inglesa condenaram a resolução e disseram: “Incentivamos todos os membros de nossas igrejas, principalmente os jovens, a fazer a sua parte em defesa do país.”

Além disso, as igrejas individuais que faziam parte da SACC não tomaram uma posição clara no assunto da neutralidade. O livro War and Conscience in South Africa (Guerra e Consciência na África do Sul) admite: “A maioria [das igrejas]  . . . não esclareceu aos membros qual era a sua posição, muito menos os incentivou a serem objetores de consciência.” O livro mostra que a forte reação do governo à resolução da SACC bem como a legislação rigorosa fizeram as igrejas hesitar em deixar claro a sua convicção: “As tentativas de fazer a igreja ter um bom programa de ação fracassaram.”

Em contraste com isso, o livro reconhece: “Os objetores de consciência que foram presos, na sua maioria, eram Testemunhas de Jeová.” E acrescenta: “Elas concentravam-se no direito de a pessoa opor-se a todas as guerras por motivo de consciência.”

A posição das Testemunhas de Jeová era absolutamente religiosa. Embora reconheçam que “as autoridades existentes acham-se colocadas por Deus nas suas posições relativas”, elas são neutras em relação à política. (Rom. 13:1) Acima de qualquer coisa, são leais a Jeová, que revela em sua Palavra, a Bíblia, que seus adoradores verdadeiros não participariam de nenhuma guerra física. — Isa. 2:2-4; Atos 5:29.

O sistema de prisão existiu durante muitos anos, mas ficou claro que as Testemunhas de Jeová não mudariam sua posição para evitar maus-tratos. Além disso, as prisões nos quartéis estavam superlotadas e atraíam publicidade negativa. Algumas autoridades queriam enviar os irmãos para prisões civis.

Outras autoridades militares não gostavam dessa idéia. Elas respeitavam os jovens irmãos por causa de seus elevados padrões de moral. Se os irmãos fossem enviados para prisões civis, ganhariam antecedentes criminais. Também ficariam expostos aos piores criminosos da sociedade e à ameaça de estupro. Assim, providenciou-se que eles prestassem serviços comunitários em departamentos do governo que não tinham ligação com o exército. Quando a situação política mudou na década de 90, o serviço militar obrigatório foi abolido.

Como os irmãos jovens foram afetados por terem ficado um bom tempo presos numa fase tão importante de suas vidas? Muitos fizeram um excelente histórico de serviço leal a Jeová e usaram bem aquela oportunidade para estudar a Palavra de Deus e crescer em sentido espiritual. “O tempo que fiquei na prisão foi decisivo na minha vida”, diz Cliff Williams. “A clara evidência da proteção e da bênção de Jeová durante o tempo em que fiquei preso me motivou a fazer mais pelo Reino. Logo depois da minha libertação, em 1973, iniciei o serviço de pioneiro regular e, no ano seguinte, fui para Betel, onde sirvo até hoje.”

Stephen Venter, que tinha 17 anos quando foi preso, disse: “Eu era publicador não-batizado e não tinha muito conhecimento da verdade. O apoio espiritual que recebi na consideração do texto diário — feita enquanto lustrávamos o chão —, nas reuniões regulares e no estudo bíblico que um irmão mais experiente dirigiu para mim ajudou-me a suportar as provas. Embora houvesse fases difíceis, é incrível perceber que quase não me lembro delas. Na verdade, os três anos que passei na prisão talvez tenham sido os melhores da minha vida. Foram de ajuda na transição da adolescência para a idade adulta. Passei a conhecer a Jeová, e isso me motivou a entrar no serviço de tempo integral.”

A prisão injusta de nossos irmãos teve seu lado bom. Gideon Benade, que visitou os irmãos nas prisões do quartel, escreveu: “Olhando para trás, reconhecemos que foi dado um enorme testemunho.” A perseverança dos nossos irmãos e as inúmeras notícias sobre seus julgamentos e sentenças deixaram um histórico indelével da posição neutra das Testemunhas de Jeová. Isso impressionou não só os militares, mas o país como um todo.

A INTEGRIDADE DOS IRMÃOS NEGROS

Nos primeiros anos do governo apartheid, os irmãos negros não sofreram os mesmos testes de neutralidade que os irmãos brancos. Por exemplo, os negros não eram convocados para o serviço militar. Mas quando os grupos políticos negros começaram a combater a política do apartheid, os irmãos negros sofreram muitas provas. Alguns foram mortos, outros espancados ou tiveram de fugir enquanto suas casas e pertences eram incendiados — tudo por se recusarem a violar sua neutralidade. Eles estavam decididos a obedecer à ordem de Jesus de ‘não fazer parte do mundo’. — João 15:19.

Alguns grupos políticos exigiam que todos na localidade comprassem um cartão de afiliação ao partido político. Membros desses grupos iam às casas das pessoas exigindo dinheiro para comprar armas ou para as despesas fúnebres de seus colegas que tinham morrido nas lutas contra as forças de segurança brancas. Visto que os irmãos se recusavam respeitosamente a dar o dinheiro, eram acusados de ser espiões do governo que promovia o apartheid. Enquanto estavam no serviço de campo, alguns eram atacados e acusados de espalhar propaganda africânder.

Veja, por exemplo, o que aconteceu a Elijah Dlodlo, que abriu mão de uma promissora carreira nos esportes e se tornou servo dedicado de Jeová. Duas semanas antes da primeira eleição democrática da África do Sul, havia muita tensão entre as comunidades negras rivais. A congregação de Elijah programou cobrir um território pouco trabalhado a alguns quilômetros de distância. Elijah, que na época tinha apenas dois meses de batismo, foi designado para trabalhar com dois meninos que eram publicadores não-batizados. Enquanto conversavam com uma senhora, eles foram abordados por um grupo de jovens membros de um movimento político. O líder tinha na mão um sjambok, um chicote grosso de couro. “O que está acontecendo aqui?”, ele perguntou.

“Estamos conversando sobre a Bíblia”, respondeu a moradora.

Ignorando-a, o homem, furioso, disse a Elijah e a seus dois companheiros: “Vocês três, juntem-se a nós. Agora não é hora de falar da Bíblia; agora é hora de lutar pelos nossos direitos.”

Elijah respondeu corajosamente: “Não podemos fazer isso porque estamos trabalhando para Jeová.”

O homem empurrou Elijah e começou a espancá-lo com o sjambok. A cada chicotada, o homem gritava: “Junte-se a nós!” Depois do primeiro golpe, Elijah não sentiu mais dor. Ele foi fortalecido por lembrar-se das palavras do apóstolo Paulo, que disse que todos os cristãos verdadeiros ‘seriam perseguidos’. — 2 Tim. 3:12.

O homem, por fim, ficou cansado e parou. Então um dos membros da turba começou a criticar o homem que tinha o chicote, dizendo que Elijah não era da comunidade deles. O grupo ficou dividido e começou a brigar entre si. O líder até levou uma forte surra com o seu próprio sjambok. Enquanto isso, Elijah e os dois publicadores aproveitaram para escapar. Essa prova fortaleceu a fé de Elijah, que continuou a progredir como corajoso pregador das boas novas. Atualmente, ele é casado, tem filhos e serve como ancião.

As irmãs negras também tiveram muita coragem ao enfrentar pressões para deixarem de pregar. Veja o exemplo de Florah Malinda. Sua filha batizada, Maki, foi queimada viva por uma turba de jovens ao tentar defender seu irmão mais velho, que se tinha recusado a se juntar ao movimento político deles. Apesar dessa trágica perda, Florah não ficou amargurada, mas continuou a transmitir a Palavra de Deus na comunidade. Certo dia, membros do mesmo movimento político que tinha assassinado sua filha exigiram que ela se juntasse a eles, caso contrário, sofreria as conseqüências. Os vizinhos vieram em seu auxílio, explicando que ela não tomava partido na política, mas que estava sempre ocupada ajudando as pessoas a estudar a Bíblia. Isso resultou numa discussão entre os ativistas, e eles acabaram deixando Florah ir embora. Desde aquele tempo difícil, Florah tem continuado a servir fielmente como pioneira regular.

Um irmão pioneiro regular descreve o que aconteceu quando ia de ônibus para o território. Um jovem ativista político o empurrou e perguntou por que ele estava levando publicações produzidas pelos africânderes e vendendo-as aos negros. O irmão conta: “O rapaz mandou-me jogar as publicações pela janela do ônibus. Visto que me recusei a fazer isso, ele me deu um tapa e colocou a ponta do cigarro no meu rosto. Não reagi. Daí, ele agarrou a minha pasta e jogou-a pela janela. Também arrancou a minha gravata, dizendo que aquele era o modo de o homem branco se vestir. Ele continuou a insultar-me e a zombar de mim, falando que pessoas como eu deviam ser queimadas vivas. Jeová me salvou, pois consegui sair do ônibus sem mais nenhum ferimento. Aquilo não me impediu de continuar a pregar.”

A sede na África do Sul recebeu muitas cartas de irmãos e de congregações a respeito da integridade dos nossos irmãos negros. Uma delas veio de um ancião em uma congregação em KwaZulu-Natal. A carta dizia: “Escrevemos-lhes para que saibam da perda do nosso amado irmão Moses Nyamussua. Seu trabalho era soldar e consertar carros. Certa vez um grupo político pediu-lhe que soldasse suas armas de fabricação caseira, o que ele se recusou a fazer. Daí, em 16 de fevereiro de 1992, eles realizaram seu comício político, onde houve uma luta contra o grupo de oposição. À noite, no mesmo dia, ao retornarem da batalha, encontraram o irmão indo fazer compras. Eles o mataram ali com suas lanças. Por quê? ‘Você se recusou a soldar nossas armas, e agora nossos companheiros morreram na luta.’ Isso foi um choque muito grande para os irmãos, mas ainda levaremos avante o nosso ministério.”

OPOSIÇÃO NAS ESCOLAS

Surgiram problemas nas escolas que ficavam nas cidades de comunidades negras. Jovens Testemunhas de Jeová não participavam nas orações, nem cantavam os hinos religiosos quando todos os alunos se reuniam de manhã. Isso não era problema nas escolas para alunos brancos. Nesse caso, os pais tinham apenas de escrever uma carta explicando sua posição e as crianças eram dispensadas de tais atividades. Mas nas escolas para negros, a recusa em participar nas cerimônias religiosas era encarada como um desafio às autoridades escolares. Os professores não estavam acostumados a essa resistência. Quando os pais tentavam explicar a posição das Testemunhas de Jeová, os professores diziam que não poderia haver nenhuma exceção.

As autoridades escolares insistiam que os jovens Testemunhas de Jeová estivessem presentes nessas reuniões porque eram feitos anúncios importantes sobre assuntos escolares. Eles compareciam, mas não participavam nos hinos e nas orações. Alguns professores chegavam a ponto de andar entre as fileiras para ver se os alunos estavam fechando os olhos durante as orações e se estavam cantando os hinos religiosos. Foi animador saber que esses jovens, alguns bem novos, mantiveram corajosamente sua integridade.

Depois de um bom número de jovens ter sido expulso das escolas, os irmãos decidiram levar o assunto aos tribunais. Em 10 de agosto de 1976, a Suprema Corte de Johanesburgo emitiu uma decisão importante num caso envolvendo 15 alunos de uma escola. A decisão dizia: “Os réus . . . tiveram de reconhecer o direito dos jovens requerentes de não participar em orações e em cantar hinos, e . . . também tiveram de reconhecer que as suspensões e expulsões . . . não foram lícitas.” Essa vitória jurídica foi importante. O assunto foi por fim resolvido em todas as escolas.

OUTRAS DIFICULDADES NAS ESCOLAS

Muitos jovens que freqüentavam escolas para brancos tiveram de enfrentar outro tipo de prova que também resultou em serem expulsos. O governo do apartheid queria mobilizar os jovens brancos para que apoiassem sua ideologia. Em 1973, o governo iniciou um programa chamado Preparação de Jovens. O programa incluía marchas, autodefesa e outras atividades patrióticas.

Alguns irmãos consultaram advogados e o assunto foi levado ao Ministro da Educação, mas sem resultados. O ministro argumentava que o programa Preparação de Jovens era de natureza estritamente educacional. O governo fez muita publicidade negativa contra as Testemunhas de Jeová por causa do assunto. Em algumas escolas, os diretores eram tolerantes e dispensavam os jovens das atividades antibíblicas do programa. Mas em outras, os jovens eram expulsos.

Poucos pais tinham condições de colocar os filhos em escolas particulares. Alguns providenciaram que seus filhos fizessem cursos por correspondência. Testemunhas de Jeová que eram professores ajudavam dando aulas em casa. Apesar disso, muitos jovens que foram expulsos não terminaram o ensino médio. Mas tiraram muito proveito do treinamento bíblico em casa e nas congregações. (Isa. 54:13) Vários deles ingressaram no serviço de tempo integral. Esses jovens corajosos se alegraram de perseverar diante de provações, colocando toda sua confiança em Jeová. (2 Ped. 2:9) Com o tempo, a situação política mudou e nossos jovens não foram mais expulsos por se recusarem a participar em atividades patrióticas.

CONGRESSOS DURANTE O APARTHEID

Por causa das leis na África do Sul, os irmãos tiveram de realizar os congressos separadamente para cada grupo racial. A primeira vez que todas as raças se reuniram num único local foi no congresso nacional de 1952, realizado no estádio Wembley, em Johanesburgo. Os irmãos Knorr e Henschel visitaram a África do Sul naquela ocasião e fizeram discursos no congresso. Devido às leis do apartheid, os grupos raciais tinham de sentar-se separados. Brancos ocuparam o setor oeste das arquibancadas, negros, o setor leste, e mestiços e indianos, o setor norte. Os departamentos de alimentação também tinham de ser separados. Apesar dessas restrições, o irmão Knorr escreveu a respeito daquele congresso: “A parte alegre é que todos estávamos juntos no mesmo estádio adorando a Jeová em santo adorno.”

Em janeiro de 1974, houve três congressos na região de Johanesburgo, um para os negros, um para os mestiços e indianos e outro para os brancos. Mas algo especial foi preparado para o último dia do congresso: todas as raças estariam juntas no estádio Rand para a última sessão do programa. Um total de 33.408 irmãos lotou o estádio. Que ocasião alegre! Dessa vez, todas as raças podiam misturar-se e sentar-se juntas livremente. Muitos irmãos também tinham vindo da Europa, o que tornou a ocasião ainda mais memorável. Mas como isso foi possível? Sem saber, os organizadores do congresso tinham reservado um estádio destinado a eventos internacionais e inter-raciais, e não era necessário obter autorização para realizar aquela sessão com todas as raças juntas.

REÚNEM-SE APESAR DO PRECONCEITO

Alguns anos antes, programou-se um congresso nacional em Johanesburgo. Mas um representante do governo visitou as repartições que lidavam com assuntos relativos aos bantos (povo negro) em Johanesburgo e reparou na ata de reuniões que as Testemunhas de Jeová tinham reservado o parque Mofolo para um congresso de irmãos negros.

O representante do governo relatou isso à sede do governo em Pretória, e o Departamento de Assuntos dos Bantos prontamente cancelou a reserva, alegando que as Testemunhas de Jeová não eram uma “religião reconhecida”. Os irmãos brancos tinham reservado o Centro de Exposições do parque Milner, no centro de Johanesburgo, para realizar seu congresso na mesma data, e os irmãos mestiços se reuniriam no estádio Union, na zona oeste da cidade.

Dois irmãos de Betel foram conversar com aquele representante do governo e acabaram descobrindo que ele era um ex-clérigo da Igreja Reformada Holandesa. Os irmãos disseram que as Testemunhas de Jeová já realizavam congressos no parque Mofolo havia muitos anos e que os irmãos brancos e mestiços também assistiriam ao seu próprio congresso, então, por que negar aos irmãos negros o direito de se reunirem? Mas a conversa não deu resultados.

Visto que o parque Mofolo ficava na zona oeste de Johanesburgo, os dois irmãos decidiram tentar realizar o congresso na zona leste, onde também havia grandes bairros de negros. Foram conversar com o diretor responsável, mas não disseram nada sobre terem falado com o representante do governo em Pretória. O diretor foi muito atencioso quando eles solicitaram um local para realizar o congresso e reservou para eles o estádio Wattville. Esse estádio tinha arquibancadas, ao passo que o parque Mofolo não.

Rapidamente, todos os irmãos foram informados sobre a mudança do local. O congresso foi um sucesso e cerca de 15 mil pessoas compareceram; não houve nenhuma interferência do governo de Pretória. Durante alguns anos, os irmãos continuaram a realizar congressos no estádio Wattville sem nenhum problema.

ABRE-SE UMA ASSOCIAÇÃO JURÍDICA

Sob a orientação do Corpo Governante, uma associação jurídica, composta de 50 membros, foi aberta em 24 de janeiro de 1981 com o nome Testemunhas de Jeová da África do Sul. Essa entidade legal ajudou a promover os interesses do Reino de vários modos.

Já por muitos anos os irmãos na sede tentavam, sem resultados, obter autorização para que alguns irmãos pudessem atuar como juízes de paz. Frans Muller relembra: “As autoridades sempre recusavam nosso pedido, alegando que a nossa religião não tinha legitimidade nem estabilidade para ter juízes de paz.”

Além disso, sem uma associação jurídica era impossível obter autorizações para construir Salões do Reino nos bairros negros. Os pedidos sempre eram negados, pois as autoridades diziam: “Vocês não são uma religião reconhecida.”

Mas pouco depois de a associação jurídica ter sido formada, irmãos foram autorizados a atuar como juízes de paz. Também receberam permissão para construir Salões do Reino nos bairros negros. Hoje, há mais de cem anciãos que atuam como juízes de paz na África do Sul. Eles podem realizar o casamento civil no Salão do Reino, de modo que os casais não precisam ir antes ao cartório para fazer isso.

REVOLUÇÃO NOS MÉTODOS DE IMPRESSÃO

Os métodos de impressão estavam mudando rapidamente, e os equipamentos de impressão tipográfica, ficando ultrapassados. As peças eram caras e difíceis de encontrar. Por isso, foi decidido que era hora de mudar o sistema de impressão para a fotocomposição computadorizada e a impressão offset. Compraram-se computadores para armazenamento de dados e para fotocomposição e, em 1979, uma rotativa offset TKS foi instalada. Essa máquina foi um generoso presente da sede no Japão.

Visto que as Testemunhas de Jeová produzem publicações em tantos idiomas, acharam útil desenvolver seu próprio sistema de fotocomposição. Em 1979, os irmãos em Brooklyn, Nova York, começaram a trabalhar no que veio a ser conhecido como MEPS (sigla em inglês para Sistema Eletrônico de Fotocomposição Multilíngüe). O MEPS foi instalado na África do Sul em 1984. O uso de computadores na tradução e na fotocomposição possibilitou imprimir, simultaneamente, publicações em muitos idiomas.

PREPARATIVOS PARA O CRESCIMENTO FUTURO

No início da década de 80, o Betel em Elandsfontein ficou pequeno demais para as necessidades cada vez maiores do campo. Por isso, compraram-se terras em Krugersdorp, a cerca de meia hora de Johanesburgo. A propriedade de 87 hectares fica numa linda área montanhosa e faz fronteira com um riacho. Muitos irmãos abriram mão de seu serviço secular para trabalhar na construção, outros tiraram férias para ajudar. Alguns voluntários vieram de países como a Nova Zelândia e os Estados Unidos. A construção levou seis anos.

Ainda era difícil conseguir autorização para os irmãos negros, na maioria tradutores, morarem no local. Obteve-se autorização para 20 pessoas apenas, e foi necessário construir apartamentos separados para eles. Mas, com o tempo, o governo amenizou as leis do apartheid, e irmãos de todas as raças podiam morar em qualquer apartamento em Betel.

A família ficou muito contente com os prédios bem construídos e os apartamentos espaçosos e bem planejados. Lindos jardins cercam os prédios, que têm três andares e são revestidos de tijolos. Quando a construção começou em Krugersdorp, havia 28 mil Testemunhas de Jeová ativas na África do Sul. Na época da dedicação, em 21 de março de 1987, o número tinha aumentado para 40 mil. Mas alguns ainda assim se perguntavam se era mesmo necessário construir um prédio tão grande. Um andar inteiro no bloco de escritórios estava vazio, e uma ala dos blocos residenciais estava desocupada. Os irmãos haviam procurado prever o progresso e estavam certos de que tinham feito provisões para o crescimento futuro.

ATENDE-SE A UMA GRANDE NECESSIDADE

Havia necessidade urgente de mais Salões do Reino para o número cada vez maior de congregações. Os irmãos nas áreas predominantemente negras realizavam reuniões em situações precárias. Usavam garagens, anexos de casas e salas de aula, onde tinham de sentar-se em pequenas carteiras feitas para crianças. Também tinham de lidar com outros grupos religiosos que usavam salas de aula na mesma escola. Esses grupos cantavam alto e tocavam tambores num volume ensurdecedor.

No fim da década de 80, as Comissões Regionais de Construção começaram a testar novos métodos para acelerar a construção de Salões do Reino. Em 1992, 11 irmãos canadenses que tinham experiência em construções rápidas se ofereceram para ajudar na construção de um Salão do Reino duplo com dois andares em Hillbrow, um bairro de Johanesburgo. Esses irmãos transmitiram seus conhecimentos aos irmãos locais e os ajudaram a aprimorar os métodos de construção.

Em 1992, foi feito o primeiro Salão do Reino de construção rápida em Diepkloof, Soweto. Desde 1962 os irmãos tentavam obter um terreno para um salão naquele local. Zechariah Sedibe, um dos envolvidos em tentar obter o terreno, estava na dedicação do Salão do Reino em 11 de julho de 1992. Ele disse com um largo sorriso: “Quando éramos jovens, achávamos que nunca teríamos um Salão do Reino. Agora já estou aposentado, mas temos um salão, o primeiro em Soweto a ser construído em apenas alguns dias.”

Atualmente, há 600 Salões do Reino nos países sob a supervisão da sede na África do Sul. Esses salões são o centro da adoração pura de Jeová na região. Mas cerca de 300 congregações, com pelo menos 30 publicadores cada, ainda precisam de Salão do Reino próprio.

Sob a orientação da sede, 25 Comissões Regionais de Construção dão ajuda prática às congregações que querem construir um salão. As congregações podem solicitar um empréstimo sem juros para a construção. Peter Butt, que ajuda na construção de Salões do Reino há mais de 18 anos, é o presidente da Comissão Regional de Construção de Gauteng. Ele destacou que os irmãos dessas comissões em geral são chefes de família, têm seu emprego, mas, mesmo assim, sacrificam voluntariamente muito de seu tempo em favor de seus irmãos.

Outro membro de uma comissão regional, chamado Jakob Rautenbach, explicou que os membros das comissões geralmente trabalham na obra do começo ao fim. Além disso, participam no planejamento da construção antes de ela começar. Ele foi entusiástico ao falar sobre o espírito alegre e cooperador que existe entre os trabalhadores voluntários. Eles vão ao canteiro de obras, que às vezes fica longe, cobrindo seus próprios custos.

Jakob disse que muitos irmãos dão alegremente de seu tempo e recursos para a construção de Salões do Reino. Ele citou um exemplo: “Duas irmãs carnais, que têm uma empresa de transporte, providenciam que nosso contêiner de 13 metros contendo equipamentos seja transportado por todo o país e até para os países vizinhos. Elas fazem isso desde 1993, o que representa uma enorme contribuição. Muitas empresas com as quais temos contato se sentem motivadas a fazer donativos ou a dar descontos quando vêem o que estamos fazendo.”

Depois de se fazer um cuidadoso planejamento e de se organizar as equipes, os irmãos em geral constroem um salão em três dias. Isso tem granjeado o respeito de muitos observadores. Após o primeiro dia de uma construção, dois homens, que tinham bebido muito num bar próximo, foram falar com os irmãos. Os homens explicaram que, ao voltar para casa, geralmente atravessavam um terreno vazio, mas que agora havia um salão no local. Eles pediram orientação sobre como retornar para casa, pois tinham certeza de que estavam perdidos.

ESPÍRITO ABNEGADO

As mudanças políticas no início da década de 90 não trouxeram paz e estabilidade. Ao contrário, a violência aumentou como nunca antes. A situação era complicada e as pessoas arrumavam muitas desculpas para a violência, a maioria delas relacionadas à rivalidade política e à insatisfação com a economia.

Apesar disso, a construção de salões continuou. Voluntários de várias raças entravam nos bairros negros acompanhados pelos irmãos locais. Alguns voluntários foram atacados por turbas. Em 1993, uma turba em Soweto atirou pedras em três irmãos brancos quando transportavam de carro materiais para a construção de um salão. Todos os vidros foram quebrados e os irmãos ficaram machucados, mas conseguiram chegar ao canteiro de obras. Os irmãos locais os levaram às pressas ao hospital por um caminho mais seguro.

A obra não atrasou. Medidas de precaução foram tomadas e centenas de irmãos de todas as raças trabalharam na construção no fim de semana seguinte. Pioneiros locais davam testemunho nas ruas ao redor do canteiro de obras. Caso notassem algum problema, avisavam os irmãos. Alguns dias depois, os irmãos machucados já estavam de volta para trabalhar na construção do salão.

As congregações apreciam a dedicação mostrada e os sacrifícios feitos pelos irmãos que se oferecem voluntariamente para a construção de Salões do Reino. Num período de 15 anos, Fanie e Elaine Smit ajudaram 46 congregações a construir seu próprio Salão do Reino. Isso muitas vezes envolvia cobrirem suas próprias despesas ao viajar longas distâncias para a construção.

Uma congregação em KwaZulu-Natal escreveu à Comissão Regional de Construção: “Vocês perderam noites de sono, a alegria de estar com a família, momentos de recreação — e muito mais — para estar aqui e construir um salão para nós. Além disso, sabemos que também gastaram bastante do seu dinheiro para o êxito dessa construção. Que Jeová se lembre de vocês ‘para o bem’. — Neemias 13:31.”

Quando a congregação tem um Salão do Reino próprio, o resultado na vizinhança é muito bom. O seguinte comentário de uma congregação é comum: “A assistência aumentou tanto após a construção do salão que precisamos dividir os irmãos em dois grupos para o discurso público e o Estudo de A Sentinela. Logo teremos de formar outra congregação.”

Congregações pequenas nas zonas rurais às vezes têm dificuldades para financiar um salão, mas muitas encontram maneiras de levantar fundos. Os irmãos de certa congregação venderam porcos. Quando precisaram de mais dinheiro, venderam um boi e um cavalo. Depois, venderam 15 ovelhas, outro boi e mais um cavalo. Uma irmã ofereceu-se para pagar a tinta, outra comprou o carpete e outra deu dinheiro para as cortinas. Por fim, cinco ovelhas e mais um boi foram vendidos para pagar as cadeiras.

Após o término da construção do Salão do Reino de uma congregação em Gauteng, os irmãos escreveram: “Durante pelo menos duas semanas após a construção, íamos ao salão depois do serviço de campo só para apreciá-lo. Não voltávamos para casa depois do serviço de campo sem antes ir ver o nosso Salão do Reino.”

OUTRAS PESSOAS TAMBÉM NOTAM

A comunidade em geral percebe os esforços das Testemunhas de Jeová para ter lugares de adoração apropriados. A congregação em Umlazi, KwaZulu-Natal, recebeu uma carta que dizia em parte: “A Associação Preserve Durban Bonita agradece seus esforços em manter a localidade limpa e os incentiva a continuar assim. Sua diligência tem contribuído para a boa aparência da localidade. Nossa associação se dedica a lutar contra o lixo e a manter o ambiente limpo. Acreditamos que um lugar sem sujeira contribui para a boa saúde. É por isso que elogiamos os cidadãos por manterem a localidade asseada. Obrigado pelo seu ótimo exemplo. Incentivamos vocês, não importa o que fizerem, a manter limpa a região de Umlazi.”

Certa congregação escreveu: “Quando um assaltante conhecido arrombou nosso salão recém-construído, as pessoas que moravam ali perto o atacaram. Disseram que ele estava vandalizando ‘a igreja delas’, visto que o Salão do Reino é o único prédio religioso na localidade. Elas deram-lhe uma surra e depois o entregaram à polícia.”

ATENÇÃO À NECESSIDADE DE SALÕES DO REINO NA ÁFRICA

Em 1999, a organização de Jeová criou um sistema para a construção de Salões do Reino em países com menos recursos. Um Escritório Regional de Salões do Reino foi estabelecido na sede da África do Sul para organizar essa obra em vários países da África. Um representante do departamento foi enviado para o escritório administrativo de cada país a fim de ajudar os irmãos a formar o Departamento de Construção de Salões do Reino. Esse departamento é responsável pela compra de terrenos e pela organização dos Grupos de Construção de Salões do Reino. Servos internacionais também foram enviados para ajudar e treinar os irmãos locais.

O Escritório Regional da África do Sul formou 25 Departamentos de Construção de Salões do Reino na África. Estes cuidam da construção de Salões do Reino em 37 países. Desde novembro de 1999, foram construídos 7.207 Salões do Reino nos países auxiliados por esses departamentos. Em meados de 2006, constatou-se que ainda são necessários 3.305 Salões do Reino nesses países.

RESULTADOS DA MUDANÇA POLÍTICA

O crescente descontentamento com as leis raciais do governo gerou agitação e violência, e alguns irmãos foram afetados de modo direto. Conflitos sangrentos ocorreram nas cidades de negros e muitas pessoas morreram. Mas os irmãos, na sua maioria, foram cautelosos e continuaram a servir fielmente a Jeová durante esse tempo difícil. Certa noite, um coquetel molotov foi lançado na casa de um irmão enquanto ele e a família estavam dormindo. Eles conseguiram escapar e o irmão escreveu mais tarde para a sede: “Eu e minha família temos ainda mais fé agora. Perdemos todos os bens materiais, mas nos achegamos mais a Jeová e ao seu povo. Os irmãos nos ajudaram em sentido material. Aguardamos com expectativa o fim deste sistema e agradecemos a Jeová pelo paraíso espiritual.”

Em 10 de maio de 1994, o primeiro presidente negro, Nelson Mandela, tomou posse do governo. Ele também foi o primeiro presidente eleito democraticamente, e foi a primeira vez que os negros tiveram a oportunidade de votar. Um espírito de nacionalismo e euforia tomou conta do país. Isso trouxe novos desafios para alguns irmãos.

Infelizmente, alguns do povo de Jeová violaram a neutralidade cristã, mas a maioria não. Muitos dos que transigiram caíram em si, demonstraram arrependimento sincero e reagiram bem aos conselhos bíblicos.

DESENVOLVIMENTO NOS CORAÇÕES

A construção de mais Salões do Reino é uma evidência das bênçãos de Jeová, mas o desenvolvimento realmente milagroso é o que ocorre no coração das pessoas. (2 Cor. 3:3) Homens e mulheres de várias formações são atraídos à verdade. Veja alguns exemplos.

Ralson Mulaudzi foi preso em 1986 e sentenciado à morte por assassinato. Ele encontrou o endereço da sede numa brochura e escreveu pedindo ajuda para aprender sobre a Bíblia. Permitiu-se que um pioneiro especial chamado Les Lee o visitasse e foi iniciado um estudo bíblico. Ralson logo começou a falar com outros detentos e com os carcereiros sobre o que estava aprendendo. Ele foi batizado na prisão em abril de 1990. Os membros da congregação local sempre visitam Ralson e ele pode sair de sua cela uma hora por dia. Ele usa esse tempo para pregar a outros presos. Ralson já ajudou três pessoas a serem batizadas e atualmente dirige dois estudos bíblicos. Sua pena de morte foi reduzida para prisão perpétua com a possibilidade de liberdade condicional.

Outros com uma formação bem diferente também são atraídos a Jeová. Queenie Rossouw, uma senhora interessada, assistiu ao Estudo de Livro de Congregação e pediu ao superintendente de estudo de livro que visitasse seu filho de 18 anos, que estudava catecismo. O irmão teve uma boa conversa com o jovem, que começou a assistir às reuniões junto com a mãe. Ela pediu então que o irmão visitasse seu marido, Jannie. Ele era ministro religioso da Igreja Reformada Holandesa e presidente do conselho da igreja e queria fazer algumas perguntas. O irmão conversou com o marido, e ele aceitou um estudo bíblico.

Aquela era a semana do congresso de distrito e o irmão convidou Queenie para assistir a ele. Para a surpresa do irmão, Jannie também foi e esteve presente nos quatro dias do congresso. O programa do congresso e o amor entre os irmãos o deixaram muito impressionado. O filho mais velho deles, um diácono da igreja, e o filho de 18 anos passaram a acompanhar o estudo bíblico.

Todos eles deixaram a igreja e começaram imediatamente a assistir às reuniões. Eles também foram a uma reunião para o serviço de campo. O irmão explicou a Jannie que ele não podia ir ao serviço de campo porque ainda não estava qualificado como publicador não-batizado. Com lágrimas nos olhos ele disse que tinha procurado a verdade a vida inteira e que não conseguia mais ficar calado.

Os Rossouws tinham um outro filho, de 22 anos, que estava cursando o terceiro ano de teologia. Jannie escreveu a esse filho dizendo que voltasse para casa, pois não pagaria mais os estudos dele. Três dias após esse filho voltar para casa, Jannie e três de seus filhos trabalharam com a congregação durante um dia no Betel de Krugersdorp. O estudante de teologia ficou impressionado com o que viu em Betel, de modo que aceitou participar no estudo da Bíblia com seus irmãos. Depois de um tempo, ele disse que tinha aprendido mais sobre a Bíblia em um mês de estudo do que em dois anos e meio na universidade.

A família inteira por fim foi batizada. O pai agora é ancião e alguns de seus filhos são anciãos ou servos ministeriais. Uma das filhas é pioneira regular.

“FAZE MAIS ESPAÇOSO O LUGAR DA TUA TENDA”

Apesar dos anteriores esforços em fazer provisões para um futuro aumento em Betel, foi necessário realizar grandes ampliações apenas 12 anos após a dedicação do complexo em Krugersdorp. (Isa. 54:2) Durante aquele tempo, houve um aumento de 62% no número de publicadores na África do Sul e nos países sob a supervisão daquela sede. Um depósito e três novos prédios residenciais foram construídos. A lavanderia e o bloco de escritórios também foram ampliados, e construiu-se mais um refeitório. Todas essas ampliações foram dedicadas a Jeová em 23 de outubro de 1999. Daniel Sydlik, membro do Corpo Governante, fez o discurso de dedicação.

Mais recentemente, a gráfica foi ampliada em 8 mil metros quadrados. Nela está a nova rotativa MAN Roland Lithoman. A sede também recebeu equipamentos para cortar, contar e empilhar as revistas de modo automático. A filial da Alemanha doou uma linha de encadernação à África do Sul, possibilitando a produção de livros e Bíblias de capa flexível para toda a África subsaariana.

LOCAIS APROPRIADOS PARA ASSEMBLÉIAS

Muitas construções têm sido planejadas para atender à necessidade de Salões de Assembléias. O primeiro foi construído em Eikenhof, ao sul de Johanesburgo, e foi dedicado em 1982. Outro Salão de Assembléias foi construído em Bellville, na Cidade do Cabo, e Milton Henschel fez o discurso de dedicação em 1996. Em 2001, ainda outro salão foi terminado em Midrand, entre Pretória e Johanesburgo.

Vizinhos que de início se opuseram à construção em Midrand mudaram de idéia quando conheceram os irmãos e viram o que estavam fazendo. Durante mais de um ano, um vizinho doava caixas de frutas e verduras a cada duas semanas. Algumas empresas quiseram fazer donativos. Uma delas deu adubo para os jardins. Outra presenteou os irmãos com um cheque de 10 mil rand (cerca de 1.575 dólares) para a construção. É claro que os irmãos também fizeram generosos donativos para a construção do Salão de Assembléias.

O salão é bonito e bem projetado. Guy Pierce, membro do Corpo Governante, fez o discurso de dedicação. Ele destacou a verdadeira beleza do salão: ser usado para honrar o Grande Deus, Jeová. — 1 Reis 8:27.

LEIS HUMANAS NÃO SEPARAM OS IRMÃOS

Durante muitos anos foi difícil obter locais apropriados para assembléias nas áreas habitadas pelos negros. Na província de Limpopo, os irmãos moravam no que era conhecido como reserva, uma área proibida para os brancos na época. O superintendente de distrito, Corrie Seegers, não conseguiu nem autorização para entrar na área, nem alugar um local para a assembléia.

Ele foi falar com um homem cuja fazenda ficava ao lado da reserva, mas o homem não permitiu que a assembléia fosse realizada em sua propriedade. Ele permitiu, porém, que o irmão Seegers estacionasse seu trailer ali. Os irmãos acabaram realizando a assembléia numa clareira que fazia fronteira com a fazenda, ambas separadas apenas por uma cerca de arame farpado. O irmão Seegers estacionou seu trailer dentro da fazenda perto da clareira e fez os discursos dali. Os irmãos ficaram separados do “palco” pela cerca, mas assistiram à assembléia, e o irmão Seegers pôde falar aos irmãos sem violar a lei.

UMA MUDANÇA TRAZ BENEFÍCIOS

A partir do ano 2000, o Corpo Governante orientou todas as congregações da África do Sul a não cobrar pelas publicações distribuídas aos genuinamente interessados. Os publicadores passariam a dar às pessoas a oportunidade de fazer pequenos donativos para a obra mundial de evangelização.

Esse sistema de donativos voluntários beneficiou não apenas as pessoas no campo, mas também os irmãos. Antes, muitos não tinham condições de pagar pelas publicações usadas no Estudo de A Sentinela e no Estudo de Livro de Congregação. Em algumas congregações de cem publicadores, apenas uns dez tinham seu próprio exemplar de A Sentinela. Agora, todos podem ter sua própria revista.

O trabalho do Departamento de Exportação aumentou muito nos anos recentes. Em maio de 2002, a maior parte das 432 toneladas de materiais enviados a outros países da África eram publicações bíblicas.

A sede na África do Sul agora estoca publicações para as congêneres de Malaui, Moçambique, Zâmbia e Zimbábue. Isso inclui todas as publicações nos vários idiomas falados nesses países. Os pedidos de cada congregação são colocados nos caminhões de modo que, quando chegam às sedes, podem ser transferidos diretamente para os veículos da congênere do país a fim de serem entregues nos depósitos.

Desde a implementação do sistema de donativos, a demanda por publicações cresceu muito. O número de revistas impressas na África do Sul aumentou de 1 milhão para 4,4 milhões por mês. Os pedidos de publicações subiram para 3.800 toneladas por ano, em comparação com as 200 toneladas em 1999.

São enviados também materiais de construção a outros países africanos. Além disso, a África do Sul organiza a distribuição de suprimentos para os irmãos em necessidade. Muitas vezes foi dada ajuda aos irmãos de Malaui que tiveram de fugir para campos de refugiados por causa de severa perseguição. Mandou-se ajuda humanitária a Angola, que foi assolada por uma terrível seca em 1990. A guerra civil em Angola também deixou muitos irmãos pobres, e caminhões de roupas e alimento foram enviados a eles. Em 2000, deu-se ajuda aos irmãos em Moçambique por causa de uma grande enchente. Mais de 800 toneladas de milho foram enviadas aos irmãos no Zimbábue, que foram afetados por uma severa seca em 2002 e início de 2003.

PROGRESSO NA TRADUÇÃO

A sede na África do Sul tem um grande Departamento de Tradução. Alguns anos atrás, ele foi ampliado para dar conta da grande necessidade de traduzir a Bíblia. Atualmente, há 102 tradutores trabalhando para a produção de publicações em 13 idiomas.

A Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas já está disponível em sete línguas locais. Em relação à Bíblia em tsuana, um irmão disse: “É mais compreensível e agradável aos olhos e aos ouvidos. Agradeço a Jeová e à sua organização orientada pelo espírito por nos alimentar tão bem em sentido espiritual.”

A tecnologia moderna tem sido bem usada para ajudar os tradutores. Enquanto os irmãos na África do Sul projetavam um software para ajudar os tradutores, Brooklyn criou um departamento com o mesmo objetivo. Os programas por fim foram concluídos e ficaram conhecidos como Watchtower Translation System (Sistema de Tradução da Torre de Vigia). Os programadores da África do Sul contribuíram bastante para o software usado nesse sistema.

Os irmãos não tentaram criar um programa que traduzisse automaticamente, como algumas empresas já haviam tentado fazer com pouco êxito. Eles se concentraram em fornecer ferramentas para os tradutores. Por exemplo, Bíblias em formato eletrônico foram providenciadas. Os tradutores também podem criar seus próprios dicionários eletrônicos. Isso é muito útil, porque alguns idiomas locais não possuem dicionários adequados.

PREGAÇÃO PARA OS SURDOS

Os publicadores da mensagem do Reino tentam alcançar todas as pessoas. Comunicar-se com os surdos é um desafio, mas os resultados são gratificantes. Na década de 60, June Carikas começou a estudar a Bíblia com uma senhora surda. Ela e o marido, também surdo, progrediram e foram batizados.

Desde então, um número cada vez maior de surdos tem aceitado a verdade, e formaram-se grupos em cidades espalhadas pelo país. Os irmãos já se acostumaram a ver nos congressos uma seção reservada para os surdos assistirem ao programa em língua de sinais. É emocionante ver os irmãos cantar em língua de sinais e “aplaudir” movimentando as mãos no ar.

O primeiro grupo para surdos foi iniciado na congregação Brixton, em Johanesburgo, sob a supervisão de George, marido da irmã June, que é ancião. Irmãos dispostos naquela congregação, incluindo alguns betelitas, receberam treinamento em língua de sinais. Atualmente, há no território uma congregação em língua de sinais e cinco grupos sob a supervisão da sede na África do Sul.

FRUTOS DO REINO EM OUTROS PAÍSES

A sede na África do Sul supervisiona a obra em outros cinco países. Damos a seguir uma visão geral do progresso da obra do Reino nesses lugares.

Namíbia

Esse país fica entre o oceano Atlântico e Botsuana. Depois da Primeira Guerra Mundial, um mandato da Liga das Nações concedeu a administração do território da Namíbia à África do Sul. Finalmente, após muita agitação e derramamento de sangue, a Namíbia conseguiu independência em 1990. Embora uma grande área do país seja árida e pouco povoada, também há lugares de extrema beleza com abundante vida selvagem e plantas raras. O deserto da Namíbia atrai muitos visitantes, que às vezes ficam surpresos com a notável variedade de vida selvagem que consegue sobreviver em condições tão difíceis. Além das paisagens espetaculares, há na Namíbia muitos povos diferentes, que falam nove idiomas nacionais.

As primeiras tentativas de divulgar a mensagem do Reino na Namíbia foram feitas em 1928. Naquele ano, a sede na África do Sul enviou por correio uma grande quantidade de literatura bíblica às pessoas que não podiam ser contatadas pessoalmente. Por volta dessa época, o primeiro homem a se tornar cristão dedicado na Namíbia aprendeu a verdade de uma maneira incomum. Bernhard Baade comprou ovos que vieram embrulhados em folhas arrancadas de uma de nossas publicações. Ele leu as páginas com muito interesse, sem saber sua origem. Por fim, um dos ovos estava embrulhado na última página da publicação, que continha o endereço da sede na Alemanha. Ele escreveu pedindo mais publicações. Um superintendente de circuito que mais tarde visitou a congregação do irmão Bernhard notou que ele, até morrer, não ficou nem um mês sem participar no ministério.

Em 1929, Lenie Theron foi enviada a Windhoek, capital da Namíbia. Essa pioneira deu testemunho em todas as principais cidades daquele país, viajando em trens e em carros que transportavam correspondência. Em quatro meses, ela distribuiu 6.388 livros e folhetos em africâner, alemão e inglês. Embora pioneiros pregassem vez por outra na Namíbia, ninguém permanecia lá para cultivar o interesse. Isso mudou em 1950 quando alguns missionários chegaram ao país. Entre eles estavam Gus Eriksson, Fred Hayhurst e George Koett. Todos eles deixaram um excelente histórico de serviço fiel até morrerem.

Em 1953, havia oito missionários no país, incluindo Dick Waldron e sua esposa, Coralie. * Eles enfrentaram muita oposição dos clérigos da cristandade e das autoridades locais. Embora os Waldrons quisessem transmitir a mensagem bíblica à população nativa, eles dependiam de uma autorização do governo para entrar nas áreas de negros. Dick tentou obter a autorização, mas não conseguiu.

Após o nascimento de sua filha em 1955, os Waldrons tiveram de deixar o serviço missionário, mas Dick continuou a servir como pioneiro por algum tempo. Em 1960, ele finalmente obteve autorização para entrar num dos bairros negros, o de Katutura. Dick recorda: “Eles demonstraram um interesse extraordinário.” Em pouco tempo, muitos desse bairro estavam assistindo às reuniões. Hoje, mais de 50 anos depois, Dick e Coralie ainda servem fielmente na Namíbia. Eles deram uma valiosa contribuição para o progresso da obra do Reino nesse campo.

Levar as verdades da Bíblia aos diversos grupos étnicos na Namíbia foi um desafio. Não havia publicações bíblicas disponíveis em idiomas locais como hereró, kwangali e ndongo. No início, pessoas instruídas que estavam estudando a Bíblia traduziam alguns tratados e brochuras sob a supervisão de Testemunhas de Jeová locais. Esther Bornman, que na época era pioneira especial, estudou cuanhama. Com o tempo, ela aprendeu a falar essa língua, além de outro idioma local. Ela e Aina Nekwaya, uma irmã que falava ndongo, traduziam A Sentinela, publicada parte em cuanhama e parte em ndongo. Essas duas línguas são usadas pelas pessoas da região de Ovamboland.

Em 1990, um escritório bem equipado de tradução foi aberto em Windhoek. Mais tradutores foram chamados e agora, além dos idiomas já mencionados, as publicações são traduzidas para hereró, kwangali, khoekhoegowab e mbukushu. André Bornman e Stephen Jansen supervisionam esse escritório.

A Namíbia é um dos países que mais produzem diamantes. A revista A Sentinela de 15 de julho de 1999 referiu-se a isso no artigo “Há gemas vivas na Namíbia!”. O artigo comparou as pessoas sinceras a “pedras preciosas vivas” e disse que, embora muita pregação já tivesse sido realizada no país, algumas áreas estavam praticamente virgens. O artigo fez o seguinte convite: “Você tem condições de servir onde há grande necessidade de zelosos proclamadores do Reino? Então, por favor, venha à Namíbia e ajude-nos a encontrar e a polir mais pedras preciosas espirituais.”

A resposta foi animadora. Houve 130 cartas de irmãos de vários países, incluindo da Austrália, da Alemanha, do Japão e de alguns países da América do Sul. Em resultado disso, 83 irmãos visitaram a Namíbia e, desses, 18 decidiram ficar. Dezesseis deles eram pioneiros regulares quando chegaram e, com o tempo, alguns foram designados pioneiros especiais. O espírito demonstrado por esses voluntários foi contagiante. Até hoje a sede recebe cartas perguntando sobre o convite feito naquela revista A Sentinela. William e Ellen Heindel servem como missionários no norte da Namíbia desde 1989. Eles tiveram de aprender o idioma ndongo, falado pelos ovampos, que moram naquela região. Sua perseverança e seu trabalho árduo naquele território incomum lhes têm dado ricas bênçãos. William conta: “Vimos garotos, incluindo alguns que haviam sido nossos estudantes, tornarem-se homens espirituais. Alguns deles servem como anciãos ou servos ministeriais na congregação. Ficamos orgulhosos ao vê-los fazer discursos em assembléias e congressos.”

Em anos recentes, vários formados da Escola de Treinamento Ministerial foram enviados à Namíbia e têm feito um bom trabalho em cultivar o interesse das pessoas e em servir nas congregações. Em 2006, havia 1.264 publicadores na Namíbia, um aumento de 3% em relação ao ano anterior.

Lesoto

Esse pequeno país de 2,4 milhões de habitantes é cercado pela África do Sul. Fica nas montanhas Drakensberg, de onde os alpinistas mais aptos têm uma vista maravilhosa.

Apesar de sua tranqüilidade, o país já teve problemas políticos. Em 1998, discussões sobre uma eleição levaram a um choque entre o exército e a polícia na capital, Maseru. Veijo Kuismin e sua esposa, Sirpa, serviam na época como missionários ali. Ele se lembra: “Felizmente, poucos irmãos foram feridos na ocasião. Organizamos ajuda humanitária para os que não tinham alimentação básica e suprimento de combustível. Isso fortaleceu a união na congregação e a assistência às reuniões aumentou em todo o país.”

Em sentido econômico, o Lesoto depende principalmente da agricultura. Devido aos problemas econômicos, muitos homens vão trabalhar nas minas da África do Sul. Apesar de ser pobre, há valiosas riquezas espirituais a serem encontradas nesse país montanhoso. Muitas pessoas têm reagido bem à verdade bíblica. Em 2006, havia 3.101 proclamadores do Reino, um aumento de 2% em relação ao ano anterior. Os casais Hüttinger, Nygren e Paris servem atualmente como missionários em Maseru.

Abel Modiba serviu como superintendente de circuito no Lesoto entre 1974 e 1978. Atualmente, ele serve no Betel da África do Sul com sua esposa, Rebecca. Ele, com seu jeito calmo e sem pressa, conta um pouco sobre o Lesoto: “Não havia estradas na maior parte da zona rural. Às vezes eu caminhava sete horas para chegar a um grupo isolado de publicadores. Os irmãos em geral traziam um cavalo para eu montar e outro para levar a bagagem. Ocasionalmente, levávamos até um projetor de slides e uma bateria de 12 volts. Quando um rio estava muito cheio, esperávamos alguns dias até que as águas abaixassem. Em algumas aldeias, o chefe convidava todos os aldeãos para comparecer ao discurso público.

“Alguns irmãos tinham de andar muitas horas para ir às reuniões. Por isso, era comum os que vinham de longe se hospedarem na casa dos irmãos que moravam perto do Salão do Reino durante a semana da visita do superintendente de circuito. Isso tornava a visita uma ocasião especial. À noite, eles se reuniam para contar experiências e cantar cânticos. No dia seguinte, iam ao ministério de campo.”

Per-Ola e Birgitta Nygren servem como missionários em Maseru desde 1993. Birgitta conta a seguinte história que mostra como as revistas podem ajudar as pessoas: “Em 1997, iniciei um estudo com uma mulher chamada Mapalesa, que começou a freqüentar as reuniões. Mas ela nem sempre estava em casa para os estudos e muitas vezes se escondia de nós. Parei de estudar com ela, mas a mantive em meu itinerário de revistas. Anos depois, Mapalesa apareceu numa das reuniões. Ela disse que tinha lido em A Sentinela um artigo sobre controlar a ira e encarou aquilo como resposta de Jeová para seus problemas, visto que sempre brigava com os familiares. O estudo foi reiniciado e, desde então, ela não perdeu mais as reuniões e começou a participar regularmente no ministério de campo.”

Durante muitos anos, os irmãos usaram locais improvisados como Salões do Reino. Em anos recentes, porém, a sede na África do Sul ajudou financeiramente as congregações no Lesoto a construir Salões do Reino.

O Salão do Reino na cidade de Mokhotlong é o mais elevado da África. Ele fica numa altitude de aproximadamente 3 mil metros. Voluntários vieram de lugares tão distantes como a Austrália e a Califórnia, nos EUA, para construir esse salão. Irmãos da província de KwaZulu-Natal, na África do Sul, também deram apoio financeiro e forneceram veículos para transportar equipamentos e materiais até o local de construção. As acomodações para os voluntários eram precárias. Eles tiveram de providenciar sua própria roupa de cama e seu próprio equipamento para cozinhar. A construção terminou em dez dias. Um irmão local idoso, nascido em 1910, ia ao canteiro de obra todos os dias para observar a construção. Ele aguardava a construção de um Salão do Reino desde quando havia se tornado servo de Jeová, na década de 20, e estava maravilhado com a construção do “seu” Salão do Reino.

Em 2002, uma fome assolou o Lesoto. Farinha de milho e outros itens básicos foram distribuídos aos irmãos nas regiões afetadas. Uma carta de agradecimento dizia: “Quando os irmãos chegaram à minha casa para entregar a farinha de milho, fiquei maravilhado. Como eles sabiam do que eu precisava? Agradeci a Jeová pela ajuda que eu nem tinha sonhado em receber. Isso fortaleceu a minha fé em Jeová Deus e na sua organização. Estou decidido a servir a ele de toda a alma.”

Botsuana

Esse país abrange grande parte do deserto de Kalahari e tem uma população de mais de 1,7 milhão de pessoas. O clima em geral é quente e seco. Muitos parques e reservas naturais atraem os turistas. O belo delta do Okavango é conhecido por sua tranqüilidade, conservação e abundante vida selvagem. O meio de transporte tradicional nos canais do delta é o mokoro, uma canoa escavada num tronco de árvore. A economia de Botsuana é sólida, principalmente por causa da mineração de diamantes. Desde a descoberta de diamantes no deserto de Kalahari em 1967, Botsuana tornou-se um dos principais exportadores de diamantes do mundo.

Tudo indica que o primeiro contato que Botsuana teve com a mensagem do Reino de Deus foi em 1929, quando um irmão pregou no país durante alguns meses. Joshua Thongoana foi designado superintendente de circuito em Botsuana em 1956. * Ele se lembra que na época as publicações das Testemunhas de Jeová estavam proscritas no país.

Missionários animados têm obtido bons resultados nesse território produtivo. Blake e Gwen Frisbee junto com Tim e Virginia Crouch têm se empenhado bastante para aprender a língua tsuana. No norte, Veijo e Sirpa Kuismin dão ajuda espiritual às pessoas de forma entusiástica.

No sul do país, Hugh e Carol Cormican demonstram um zeloso espírito missionário. Hugh conta: “Há um menino de 12 anos na nossa congregação chamado Eddie. Desde bem pequeno, ele queria aprender a ler para se matricular na Escola do Ministério Teocrático e participar no serviço de campo. Assim que se qualificou como publicador não-batizado, ele teve uma ótima participação no campo e iniciou um estudo bíblico com um de seus colegas de classe. Desde seu batismo, Eddie tem servido muitas vezes como pioneiro auxiliar.”

Muitas das congregações em Botsuana estão próximas da capital, Gaborone, que fica no sudeste do país. Essa região é muito populosa. A outra parte da população vive no oeste e no deserto de Kalahari, onde algumas famílias do povo san ainda vagueiam pela região, procurando comida e caçando com arco e flecha. Os publicadores fazem muito empenho em campanhas especiais de pregação em territórios isolados, viajando milhares de quilômetros para levar a verdade bíblica a criadores de gado nômades nas zonas rurais. Essas pessoas sempre estão ocupadas na plantação, na construção de abrigos com os materiais locais e na procura de lenha. Eles têm pouco tempo para outras atividades. Mas quando um forasteiro chega com a mensagem animadora da Bíblia, eles prontamente aceitam fazer uma reunião ao ar livre na areia macia do deserto.

Stephen Robbins, um dos seis pioneiros especiais temporários, diz: “As pessoas aqui nunca param num lugar. Elas atravessam as fronteiras dos países como nós atravessamos as ruas. Encontramos um de nossos estudantes, chamado Marks, num barco que atravessava o rio Okavango. Ficamos contentes de saber que ele tinha tirado férias para viajar e compartilhar as verdades bíblicas com seus amigos e parentes. Ele usa todo o seu tempo livre na obra de evangelização.”

A reação às boas novas em Botsuana é muito animadora. Em 2006, 1.497 pessoas participaram na obra de pregação, um aumento de 6% em relação ao ano anterior.

Suazilândia

Essa pequena monarquia tem uma população de cerca de um milhão de pessoas. O país é principalmente agrícola, embora grande parte dos homens vá para a África do Sul em busca de emprego. A Suazilândia é um país bonito com várias reservas de caça. O povo suazi é amigável e apegado a muitas tradições.

O rei anterior, Sobhuza II, gostava das Testemunhas de Jeová e tinha muitas publicações. Todo ano, ele convidava os clérigos e um irmão ao palácio real para conversar sobre a Bíblia. Em 1956, o irmão convidado falou sobre a doutrina da imortalidade da alma e o uso de títulos entre os líderes religiosos. Depois, o rei perguntou aos clérigos se o que o irmão tinha falado era verdade. Eles não conseguiram contestar o que o irmão havia dito.

Nossos irmãos tiveram de tomar uma posição firme contra costumes relacionados ao luto, baseados no culto aos antepassados. Em partes da Suazilândia, chefes tribais expulsaram as Testemunhas de Jeová de suas casas por recusarem-se a seguir os tradicionais costumes relacionados ao luto. Os irmãos de outras regiões sempre cuidaram bem dos que eram expulsos de seus lares. A Suprema Corte da Suazilândia decidiu a favor das Testemunhas de Jeová nesse assunto e declarou que se devia permitir que elas voltassem para suas casas e terras.

James e Dawne Hockett são missionários na capital da Suazilândia, Mbabane. Eles se formaram em Gileade em 1971 e 1970 respectivamente. James usou o seguinte exemplo para mostrar como os missionários têm de se adaptar a costumes diferentes: “Estávamos trabalhando num território não designado e um chefe queria que eu fizesse um discurso público. Ele reuniu as pessoas num local que estava em construção. O chão estava molhado e, visto que havia vários blocos de cimento, sentei-me num deles e Dawne sentou-se ao meu lado. Uma das irmãs suazi aproximou-se de Dawne e a chamou para sentar-se com ela. Dawne disse que estava bem ali, mas a irmã insistiu. Mais tarde, ficamos sabendo que, visto que alguns homens estavam sentados no chão, as mulheres não podiam sentar-se num lugar mais alto que eles. Esse era o costume na zona rural.”

James e Dawne foram a uma escola para falar com uma professora que tinha mostrado interesse na mensagem. A professora mandou um menino dizer que não podia conversar naquele momento. Os irmãos resolveram falar com o menino, que se chamava Patrick, e perguntaram-lhe se sabia por que eles estavam ali. Depois de uma conversa, eles lhe deram o livro Os Jovens Perguntam — Respostas Práticas e iniciaram um estudo bíblico com ele. Patrick era órfão e morava num quarto ao lado da casa de seu tio. Ele tinha de cuidar de si mesmo, fazer sua comida e trabalhar meio período para pagar a mensalidade da escola. Patrick progrediu, batizou-se e hoje serve como ancião.

Desde o início da obra de evangelização na década de 30, a reação das pessoas na Suazilândia tem sido animadora. Em 2006, havia 2.292 publicadores ativos no país e foram dirigidos 2.911 estudos bíblicos.

Santa Helena

Essa pequena ilha de 17 quilômetros de comprimento e 10 quilômetros de largura fica ao oeste da costa sudoeste da África. O clima geralmente é ameno e agradável. A população, de cerca de 4 mil pessoas, é de origem européia, asiática e africana. O idioma usado é o inglês, com um sotaque bem característico. Não há aeroporto em Santa Helena; uma companhia de navegação tem uma rota que sai da África do Sul e da Inglaterra em direção à ilha. Foi apenas em meados da década de 90 que a ilha passou a ter sinal de televisão, transmitido via satélite.

As boas novas do Reino de Deus chegaram em Santa Helena no início da década de 30 quando dois pioneiros fizeram uma visita rápida. Tom Scipio, um policial e diácono da Igreja Batista, obteve algumas publicações com os pioneiros. Ele começou a conversar com outros sobre o que estava aprendendo e, do púlpito da igreja, deixou bem claro que a Trindade, o inferno de fogo e a alma imortal não existiam. Ele e outros que defenderam a verdade bíblica foram convidados a deixar a igreja. Tom e um pequeno grupo passaram a realizar o serviço de campo com três fonógrafos. Eles cobriram o território da ilha a pé e com jumentos. Tom também deu uma boa formação espiritual à sua grande família de seis filhos.

Em 1951, Jacobus van Staden foi enviado da África do Sul a Santa Helena para encorajar e ajudar o grupo leal de Testemunhas de Jeová ali. Ele as ajudou a ser mais eficientes no ministério e a organizar reuniões congregacionais regulares. George Scipio, * um dos filhos de Tom, lembra-se das dificuldades que enfrentavam para que todos fossem às reuniões: “Só havia dois carros entre todos os interessados. O terreno é acidentado e montanhoso e havia poucas estradas boas naquela época . . . . Alguns começavam a caminhar bem cedo. Eu levava três em meu pequeno carro até um ponto da estrada. Eles desciam e continuavam caminhando. Eu voltava e levava mais três até certa distância e voltava novamente. Por fim, todos chegavam à reunião dessa maneira.” Mais tarde, embora George fosse casado e tivesse quatro filhos, ele pôde servir como pioneiro por 14 anos. Três de seus filhos são anciãos.

Jannie Muller visitou a ilha de Santa Helena algumas vezes na década de 90 como superintendente de circuito junto com sua esposa, Anelise. Ele conta: “Quando se trabalha com um publicador no serviço de campo, ele geralmente diz quem mora na próxima casa e qual será a reação da pessoa. Na ocasião em que visitamos a ilha e distribuímos o tratado Notícias do Reino intitulado ‘Haverá algum dia amor entre todas as pessoas?’, todo o território foi coberto em um dia, entre 8h30 e 15 horas.”

Jannie se lembra em especial das vezes em que chegava e partia da ilha: “Quando o barco chegava, a maioria dos irmãos estava no cais para nos receber. Eles costumavam dizer que o dia que íamos embora era muito triste. E era mesmo, principalmente quando víamos todos eles no cais nos dando adeus.”

Em 2006, 125 publicadores divulgavam a verdade bíblica na ilha. A assistência à Comemoração foi de 239 pessoas. A proporção de 1 publicador para cada 30 habitantes é a melhor do mundo.

PERSPECTIVAS FUTURAS

No ambiente de conflitos raciais da África do Sul, Testemunhas de Jeová de todas as raças têm um “vínculo de união” que não existe em outro lugar. (Col. 3:14) Outras pessoas já comentaram sobre isso. Em 1993, muitos visitantes vieram de outros países para congressos internacionais. Umas 2 mil Testemunhas de Jeová foram ao aeroporto em Durban para dar boas-vindas aos congressistas que vieram dos Estados Unidos e do Japão. Elas cantaram cânticos quando os irmãos chegaram. Os irmãos cumprimentavam-se cordialmente e se abraçavam. Um destacado líder político os observava. Conversando com alguns dos irmãos, ele disse: “Se nós tivéssemos o mesmo espírito de união que vocês já teríamos resolvido os nossos problemas há muito tempo.”

Os congressos internacionais de 2003, com o tema “Glorifique a Deus”, animaram espiritualmente todos os presentes. A África do Sul realizou congressos internacionais nas principais cidades e muitos congressos de distrito menores. Dois membros do Corpo Governante estiveram presentes nos congressos internacionais: Samuel Herd e David Splane. Congressistas de 18 países estavam presentes. Alguns usaram roupas típicas do seu país, o que deu um toque ainda mais internacional aos congressos. A assistência a todos os congressos foi de 166.873 e 2.472 foram batizados.

Janine, que assistiu ao congresso internacional na Cidade do Cabo, expressou gratidão pelo lançamento do livro Aprenda do Grande Instrutor da seguinte maneira: “Não tenho palavras para dizer o quanto gostei desse presente. Esse livro foi feito para tocar o coração de nossos filhos. Jeová sabe do que precisamos, e Jesus, o Cabeça da congregação, vê a nossa luta nesse mundo ímpio. Agradeço de todo o coração a Jeová e aos seus servos aqui na Terra.”

Quando relembramos a história das Testemunhas de Jeová na África do Sul no último século, nos alegramos muito com o registro de perseverança e lealdade que os irmãos fiéis deixaram. Em 2006, havia 78.877 publicadores dirigindo 84.903 estudos bíblicos. A assistência à Comemoração em 2006 foi de 189.108. Isso indica que as seguintes palavras de Jesus ainda se aplicam a essa parte do campo mundial: “Eis que vos digo: Erguei os vossos olhos e observai os campos, que estão brancos para a colheita.” (João 4:35) Ainda há muito trabalho a fazer. A enorme evidência da orientação de Jeová nos motiva a exclamar, junto com os nossos irmãos em todos os cantos da Terra: “Bradai em triunfo a Jeová, todos vós da terra. Servi a Jeová com alegria”! — Sal. 100:1, 2.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 29 A biografia de Paul Smit foi publicada em A Sentinela de 1.º de novembro de 1985, páginas 10-13.

^ parágrafo 40 A biografia de George Phillips foi publicada em A Sentinela de 1.º de dezembro de 1956, páginas 712-16, em inglês.

^ parágrafo 61 A biografia de Piet Wentzel foi publicada em A Sentinela de 1.º de julho de 1986, páginas 9-13.

^ parágrafo 97 A biografia de Frans Muller foi publicada em A Sentinela de 1.º de abril de 1993, páginas 19-23.

^ parágrafo 231 A história da família Waldron foi publicada em A Sentinela de 1.º de dezembro de 2002, páginas 24-8.

^ parágrafo 250 A biografia de Joshua Thongoana foi publicada em A Sentinela de 1.º de fevereiro de 1993, páginas 25-9.

^ parágrafo 266 A biografia de George Scipio foi publicada em A Sentinela de 1.º de fevereiro de 1999, páginas 25-9.

[Destaque na página 174]

Santa Helena tem 1 publicador para cada 30 habitantes, a melhor proporção do mundo

[Quadro nas páginas 68, 69]

O que era o apartheid?

A palavra “apartheid” significa literalmente “separação”, e foi usada pela primeira vez pelo Partido Nacional nas eleições de 1948. Esse partido venceu as eleições daquele ano, e a rigorosa separação entre os vários grupos étnicos da África do Sul tornou-se política oficial do governo, com o firme apoio da Igreja Reformada Holandesa. Essa política, com o objetivo de garantir a supremacia branca, resultou em leis que controlavam as principais áreas da vida: moradia, emprego, educação, serviços públicos e política.

Os principais grupos étnicos foram classificados em brancos, bantos (africanos negros), mestiços (de ascendência mista) e asiáticos (indianos). Os defensores do apartheid diziam que as raças deviam ter suas próprias áreas para morar, chamadas bantustões, onde poderiam viver e se desenvolver de acordo com sua cultura e seus costumes. Mas o que, para alguns, parecia bom na teoria não funcionou na prática. Intimidados com armas, gás lacrimogêneo e cães ferozes, muitos negros, com os poucos bens que tinham, foram tirados à força de suas casas e transferidos para outras áreas. A maioria dos prédios públicos, como bancos e correios, tinham seções separadas para brancos e não-brancos. Restaurantes e cinemas eram de uso exclusivo dos brancos.

Os brancos ainda dependiam da mão-de-obra barata dos negros no comércio e em casa. Isso resultou na separação de famílias. Por exemplo, os homens negros podiam entrar nas cidades para trabalhar em minas ou fábricas e moravam em hospedarias masculinas, enquanto suas esposas tinham de ficar nos bantustões. Isso rompia a união familiar e resultava em muita imoralidade. Os negros que trabalhavam na casa de brancos geralmente moravam num quarto separado na propriedade do empregador. Suas famílias não podiam morar nos bairros de brancos e, por isso, os pais ficavam muito tempo sem ver a família. Os negros tinham de andar com um documento parecido a um passaporte todo o tempo.

O apartheid teve efeitos negativos em muitas áreas da vida, tais como educação, casamento, emprego e posse de propriedades. Embora as Testemunhas de Jeová sejam bem conhecidas pela harmonia entre seus membros de várias raças, obedeciam às leis desde que essas não as impedissem de prestar serviço sagrado a Deus. (Rom. 13:1, 2) Quando podiam, procuravam oportunidades de se associar com seus irmãos de vários grupos étnicos.

A partir de meados dos anos 70, o governo fez várias reformas, tornando suas leis raciais menos restritivas. No dia 2 de fevereiro de 1990, o então presidente F. W. de Klerk anunciou medidas para acabar com o apartheid, tais como o reconhecimento oficial de organizações políticas negras e a libertação de Nelson Mandela da prisão. Com a eleição democrática de um governo de maioria negra em 1994, o apartheid oficialmente chegou ao fim.

[Quadro/Mapas nas páginas 72, 73]

Dados gerais sobre a África do Sul

País

A faixa costeira da África do Sul é estreita e cercada pelas escarpas de um grande planalto, que cobre a maior parte do território do país. O planalto é mais elevado no leste, no lado do oceano Índico, onde as montanhas Drakensberg chegam a mais de 3.400 metros. A área da África do Sul é cerca de quatro vezes maior do que a das ilhas Britânicas.

Povo

Os 44 milhões de habitantes deste país têm várias origens. Em 2003, o governo publicou o resultado de um censo no qual os cidadãos foram divididos nos seguintes grupos: africanos negros, 79%; brancos, 9,6%; mestiços, 8,9% e indianos ou asiáticos, 2,5%.

Idioma

Existem 11 idiomas oficiais, embora muitos falem inglês. Esses idiomas, pela ordem dos mais falados, são: zulu, xosa, africâner, sepedi, inglês, tsuana, sesoto, tsonga, suazi, venda e ndebele.

Economia

O país é rico em recursos naturais e é o maior produtor de ouro e platina do mundo. Milhões de sul-africanos trabalham em minas, plantações ou fábricas de alimentos, carros, máquinas, fibras têxteis e outros produtos.

Clima

O extremo sul do país, incluindo a Cidade do Cabo, tem um clima parecido ao mediterrânico, com invernos úmidos e verões secos. O planalto central tem um clima diferente; temporais refrescam o verão ao passo que os dias de inverno são relativamente quentes e os céus, límpidos.

[Mapas]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

NAMÍBIA

DESERTO DA NAMÍBIA

Katutura

WINDHOEK

BOTSUANA

DESERTO DE KALAHARI

GABORONE

SUAZILÂNDIA

MBABANE

LESOTO

MASERU

Teyateyaneng

ÁFRICA DO SUL

Parque Nacional Kruger

Nylstroom

Bushbuckridge

PRETÓRIA

Johanesburgo

Klerksdorp

Dundee

Ndwedwe

Pietermaritzburg

Durban

MTS.DRAKENSBERG

Strand

Cidade do Cabo

PRETÓRIA

Midrand

Krugersdorp

Kagiso

Johanesburgo

Elandsfontein

Soweto

Eikenhof

Heidelberg

[Fotos]

Cidade do Cabo

Cabo da Boa Esperança

[Quadro/Fotos nas páginas 80, 81]

A primeira vez que tentei dar testemunho sobre Jeová

ABEDNEGO RADEBE

ANO DE NASCIMENTO 1911

ANO DE BATISMO 1939

RESUMO BIOGRÁFICO Serviu na primeira congregação de negros em Pietermaritzburg, KwaZulu-Natal, e morreu fiel em 1995.

NASCI e fui criado perto de Pietermaritzburg. Meu pai era pregador metodista. Obtive algumas publicações das Testemunhas de Jeová em meados dos anos 30. Embora eu concordasse com o que havia lido, não tinha oportunidade de me reunir com as Testemunhas de Jeová.

Uma pessoa da hospedaria onde eu morava me deu o folheto Heaven and Purgatory (O Céu e o Purgatório). Eu nunca tinha lido nada igual. O folheto ajudou-me a entender o que a Bíblia diz sobre a ressurreição e a esperança de vida na Terra. Escrevi para o escritório administrativo das Testemunhas de Jeová na Cidade do Cabo pedindo alguns livros.

Eu hesitava em falar com as Testemunhas de Jeová que encontrava na cidade. Entre o meu povo, os zulus, a regra era: “Não tome a iniciativa de se dirigir a um homem branco, espere que ele se dirija a você.”

Voltando do trabalho certa tarde, notei o carro de som das Testemunhas de Jeová estacionado em frente à hospedaria onde eu morava. Quando cheguei ao portão, um homem forte, de terno, e mais velho do que eu se dirigiu a mim e se apresentou como Daniel Jansen. Percebi que aquela era a hora de conhecer melhor as Testemunhas de Jeová e pedi para ouvir um discurso do irmão Rutherford. Muita gente se reuniu para ouvir. Quando o discurso acabou, o irmão Jansen pôs um microfone na minha mão e disse: “Fale a essas pessoas em zulu o que a gravação dizia para que elas também tirem proveito.”

Respondi: “Mas não me lembro de tudo o que o orador disse.”

O irmão respondeu: “Diga apenas o que se lembra.”

Tremendo, balbuciei algumas palavras no microfone. Aquela foi a primeira vez que tentei dar testemunho sobre Jeová. Depois, Jansen me convidou para acompanhá-lo na obra de pregação. Primeiro, verificou se o meu entendimento das crenças fundamentais estava em plena harmonia com a Bíblia. Ele ficou satisfeito. Freqüentei uma companhia, ou congregação, de brancos durante quatro anos; eu era o único negro ali. O grupo era pequeno e reunia-se na casa de um irmão.

Naquela época, cada publicador recebia um cartão de testemunho para apresentar a mensagem bíblica ao morador. Levávamos também um fonógrafo, algumas gravações de discursos de quatro minutos e uma pasta com publicações.

Para não perder tempo, o publicador dava corda no fonógrafo e colocava uma agulha nova antes de contatar o morador. Quando o morador abria a porta, o publicador o cumprimentava e oferecia o cartão de testemunho, que introduzia o discurso gravado. Por volta da metade do discurso, o publicador abria a pasta para no fim da gravação oferecer ao morador o livro mencionado no discurso.

[Quadro/Fotos nas páginas 88, 89]

Exemplo de fidelidade

GEORGE PHILLIPS

ANO DE NASCIMENTO 1898

ANO DE BATISMO 1912

RESUMO BIOGRÁFICO Tornou-se pioneiro regular em 1914. Serviu como supervisor da sede na África do Sul por quase 40 anos e morreu fiel em 1982.

GEORGE PHILLIPS nasceu e foi criado em Glasgow, Escócia. Iniciou o serviço de pioneiro em 1914, aos 16 anos de idade. Foi preso em 1917 por manter a neutralidade cristã. Em 1924, o irmão Rutherford convidou-o pessoalmente para servir na África do Sul, dizendo: “George, você talvez fique lá por um ano, talvez um pouco mais.”

George descreveu suas primeiras impressões ao chegar à África do Sul: “Em comparação com a Grã-Bretanha, as condições eram totalmente diferentes, e tudo relacionado com a obra era muito menor. Na época, havia apenas seis pessoas no serviço de tempo integral e não mais do que umas 40 participando na obra de pregação. Nosso território abrangia tudo que estava entre o extremo sul da África e o Quênia. Como toda essa área receberia bom testemunho em um ano? Não precisávamos nos preocupar com isso. O melhor a fazer era prosseguir, usar o que tínhamos à mão e deixar os resultados com Jeová.

“A África do Sul é um país de aspectos variados, com muitas raças e idiomas. Foi muito bom conhecer tantos povos diferentes. Organizar a obra num campo tão extenso e lançar sua base não foi fácil.

“Ao longo dos anos, as provisões amorosas de Jeová para satisfazer todas as minhas necessidades, além de sua proteção, orientação e bênção sempre se manifestaram abundantemente. Aprendi que a ‘devoção piedosa é meio de grande ganho’ e que se alguém quiser permanecer ‘no lugar secreto do Altíssimo’, precisa apegar-se à sua organização e trabalhar arduamente, realizando sua obra do modo como Ele deseja.” — 1 Tim. 6:6; Sal. 91:1.

[Quadro/Foto nas páginas 92-94]

Ajuda espiritual à minha família

JOSEPHAT BUSANE

ANO DE NASCIMENTO 1908

ANO DE BATISMO 1942

RESUMO BIOGRÁFICO Chefe de família que aprendeu a verdade quando trabalhava em Johanesburgo, longe de sua casa em Zululândia, KwaZulu-Natal.

NASCI em 1908 em Zululândia, África do Sul. Embora minha família estivesse satisfeita com a vida simples na fazenda, comecei a trabalhar numa loja em Dundee aos 19 anos. Com o tempo fiquei sabendo que muitos jovens estavam ganhando um bom dinheiro em Johanesburgo, o centro da indústria de mineração de ouro na África do Sul. Assim, mudei-me para lá e trabalhei muitos anos fixando cartazes de propaganda. Fiquei fascinado com as diversões e oportunidades que havia ali, mas logo percebi que a vida na cidade aos poucos enfraquecia os tradicionais valores de moral do meu povo. Muitos jovens se esqueciam de seus familiares que moravam nas zonas rurais, mas eu nunca me esqueci da minha família e enviava dinheiro regularmente para eles. Casei-me em 1939 com uma moça de Zululândia chamada Claudina. Mesmo depois de casado, continuei trabalhando em Johanesburgo, a 400 quilômetros de distância. Muitos de meus colegas estavam na mesma situação. Embora achasse difícil ficar longe da família por muito tempo, eu sentia obrigação de ajudá-la a ter um padrão de vida melhor.

Em Johanesburgo, eu e um amigo chamado Elias resolvemos procurar a religião verdadeira. Fomos a igrejas na nossa vizinhança, mas não ficamos satisfeitos com nenhuma delas. Então Elias encontrou as Testemunhas de Jeová. Começamos a nos reunir regularmente com a primeira congregação de negros das Testemunhas de Jeová em Johanesburgo. Em 1942, após dedicar-me a Jeová, fui batizado em Soweto. Sempre que viajava para casa em Zululândia eu tentava transmitir minhas crenças para Claudina, mas ela estava muito envolvida com a igreja.

Contudo, ela começou a comparar nossas publicações com a Bíblia, e a verdade da Palavra de Deus aos poucos tocou seu coração. Ela foi batizada em 1945 e tornou-se uma zelosa ministra cristã. Ela transmitia as verdades bíblicas a vizinhos e as inculcava no coração de nossos filhos. Enquanto isso, tive o privilégio de ajudar alguns a conhecer a verdade da Bíblia em Johanesburgo. Em 1945, havia quatro congregações de negros na periferia de Johanesburgo e eu era servo de companhia na congregação Small Market. Com o tempo, os irmãos casados que trabalhavam longe de casa receberam orientações baseadas na Bíblia para retornar à sua família e cuidar melhor de suas responsabilidades familiares. — Efé. 5:28-31; 6:4.

Assim, em 1949 deixei meu emprego em Johanesburgo para cuidar da minha família do modo como Jeová queria. Um inspetor de gado me arrumou um emprego como ajudante na aplicação de parasiticidas em animais. Era difícil sustentar uma família de seis filhos com o salário baixo que eu recebia. Para ajudar nas despesas, eu também vendia verduras e milho que plantávamos em casa. Embora não fôssemos ricos em sentido material, tínhamos um tesouro espiritual visto que seguíamos a orientação de Jesus em Mateus 6:19, 20.

É necessário muito esforço para conseguir esse tesouro espiritual, assim como é necessário esforço para encontrar ouro nas minas da região de Johanesburgo. Toda noite eu lia um texto bíblico para os meus filhos e perguntava o que cada um tinha aprendido dele. Nos fins de semana, eles revezavam-se em acompanhar-me na pregação. Enquanto andávamos de fazenda em fazenda, eu conversava com eles sobre assuntos espirituais e procurava fazer com que entendessem e gravassem em seus corações os elevados padrões de moral da Bíblia. — Deut. 6:6, 7.

Durante muitos anos, éramos os únicos em condições de hospedar os superintendentes viajantes. Esses irmãos e suas esposas exerceram uma influência excelente sobre nossos filhos e criaram neles o desejo de tornarem-se evangelizadores por tempo integral. Ao todo, tínhamos cinco meninos e uma menina. Os seis hoje são adultos e espiritualmente fortes. Sou muito grato pela orientação da organização de Jeová que nos incentivou a dar mais atenção às necessidades espirituais da família! As bênçãos que recebemos são muito mais valiosas do que qualquer coisa que o dinheiro possa comprar. — Pro. 10:22.

O irmão Josephat Busane continuou servindo fielmente a Jeová até sua morte em 1998. Seus filhos adultos continuam dando muito valor à herança espiritual que receberam. Um dos filhos, Theophilus, serve como superintendente viajante. Mais detalhes sobre a vida do irmão Busane podem ser encontrados na “Despertai!” de 8 de outubro de 1993, páginas 19 a 22.

[Quadro/Foto nas páginas 96, 97]

‘A obra do Reino ajudou-me a me achegar a Jeová’

THOMAS SKOSANA

ANO DE NASCIMENTO 1894

ANO DE BATISMO 1941

RESUMO BIOGRÁFICO Aprendeu cinco idiomas para poder ajudar outros espiritualmente como pioneiro.

EM 1938, um professor deu-me alguns folhetos das Testemunhas de Jeová. Na época eu era pregador da Igreja Wesleyana em Delmas, uns 60 quilômetros ao leste de Johanesburgo. Sempre me interessei muito pela Bíblia. Embora a igreja ensinasse que a alma é imortal e que os maus são atormentados no inferno, aqueles folhetos mostravam que isso não era verdade segundo a Bíblia. (Sal. 37:38; Eze. 18:4) Também discerni que a maioria dos do povo de Deus teria vida eterna na Terra, não no céu. — Sal. 37:29; Mat. 6:9, 10.

Era muito bom conhecer essas verdades e eu queria pregá-las na minha igreja, mas os outros pregadores não gostaram da idéia e tramaram que eu fosse expulso. Por isso deixei a igreja e comecei a me associar com o pequeno grupo de Testemunhas de Jeová em Delmas. Fui batizado em 1941 e iniciei o serviço de pioneiro em 1943.

Mudei-me para Rustenburg, onde havia necessidade de proclamadores do Reino. Sendo de fora, tive de solicitar ao chefe local acomodações e autorização para morar ali. Ele disse que eu teria de pagar 12 libras pela autorização. Eu não tinha esse dinheiro, mas um bondoso irmão branco pagou pela autorização e ajudou-me financeiramente para que eu pudesse continuar como pioneiro. Um dos homens com quem estudei progrediu bem e foi designado servo na congregação quando deixei aquela cidade.

Depois me mudei mais para o oeste, para Lichtenburg. Dessa vez tive de solicitar a um supervisor branco a autorização para morar no bairro de negros da cidade. Ele se negou a dar a autorização. Pedi ajuda a um pioneiro branco em Mafikeng, não muito longe dali. Fomos juntos até o supervisor, mas ele disse: “Não quero vocês aqui. Vocês ensinam que o inferno não existe. Como as pessoas farão o que é certo se não tiverem medo do inferno de fogo?”

Como não recebi a autorização, mudei-me para Mafikeng, onde ainda sirvo como pioneiro regular. Minha língua materna é o zulu, mas logo depois de conhecer a verdade, resolvi aprender inglês para ler todas as publicações das Testemunhas de Jeová. Isso me ajudou a progredir espiritualmente.

Para ser mais eficiente no ministério, também aprendi a falar sesoto, xosa, tsuana e um pouco de africâner. Ao longo dos anos, tive o privilégio de ajudar muitos a dedicar a vida a Jeová, incluindo quatro que hoje são anciãos. O serviço de tempo integral também fez bem para minha saúde.

Agradeço a Jeová por ter permitido que eu alcançasse uma boa velhice servindo a ele. Não foi com as minhas próprias forças que ganhei conhecimento e fui bem-sucedido no campo. Jeová ajudou-me com o seu espírito santo. Acima de tudo, a constância na obra do Reino por tempo integral ajudou-me a me achegar a Jeová e aprendi a confiar nele.

A entrevista acima foi dada em 1982. O irmão Skosana continuou fiel até o fim de sua carreira terrestre em 1992.

[Quadro/Fotos nas páginas 100, 101]

O primeiro superintendente de distrito da África do Sul

MILTON BARTLETT

ANO DE NASCIMENTO 1923

ANO DE BATISMO 1939

RESUMO BIOGRÁFICO Primeiro missionário de Gileade a ser designado para a África do Sul. Trabalhou arduamente em prol dos interesses do Reino, principalmente nas comunidades negras.

MILTON BARTLETT chegou à Cidade do Cabo em 1946. Ele foi o primeiro missionário de Gileade a servir na África do Sul. Sua designação era dar início ao serviço de circuito e distrito no país. Ele cumpriu essa designação. Naquela época, o irmão Bartlett era o único superintendente de distrito. Nos anos seguintes, superintendentes viajantes fizeram um bom trabalho em promover os interesses do Reino na África do Sul, principalmente entre a população negra.

Os irmãos sul-africanos tinham muito carinho pelo irmão Milton. Ele era paciente e dava atenção aos irmãos quando conversavam com ele sobre seus problemas. Desse modo, ele podia enviar à sede na África do Sul relatórios exatos e detalhados a respeito dos problemas que afetavam a maioria dos irmãos. Isso ajudou a harmonizar melhor a conduta e a adoração dos irmãos com os princípios bíblicos.

O irmão Milton conseguia ajudar os irmãos porque conhecia bem as Escrituras e era um bom instrutor. Ele também tinha a determinação e a persistência necessárias para conseguir autorizações das autoridades do apartheid para entrar nos bantustões, embora fosse branco. Autoridades preconceituosas muitas vezes lhe recusavam a autorização, e ele tinha de recorrer às autoridades superiores, como as câmaras municipais. Daí ele precisava esperar a próxima reunião da câmara para que as decisões desfavoráveis fossem anuladas. De um modo ou de outro, ele conseguia acesso à maioria das áreas habitadas pelos negros.

Às vezes, policiais disfarçados eram enviados para tomar nota do conteúdo dos discursos do irmão Milton. Isso ocorria porque os ministros da cristandade acusavam falsamente as Testemunhas de Jeová de promoverem o comunismo. Certa vez, um policial negro foi enviado para fazer anotações numa assembléia. “Aquilo foi providencial”, escreveu o irmão Milton uns 20 anos depois, “visto que o policial aceitou a verdade à base do que ouviu naquele fim de semana e continua progredindo espiritualmente”.

Quando Milton chegou solteiro ao país, com 23 anos, havia 3.867 publicadores. Após servir na África do Sul durante 26 anos, o número de publicadores tinha alcançado 24.005. Em 1973, Milton, a esposa, Sheila, e Jason, seu filho de 1 ano, tiveram de voltar aos Estados Unidos para cuidar dos pais de Milton que estavam idosos. A foto abaixo mostra Milton e Sheila novamente na África do Sul em 1999, quando assistiram à dedicação das ampliações da sede naquele país. Como ficaram emocionados de — após 26 anos — estar mais uma vez com os amigos dos velhos tempos que se lembravam bem de seu trabalho abnegado!

[Foto]

Milton e Sheila Bartlett, 1999

[Quadro/Foto na página 107]

Cenário sem igual

A montanha da Mesa, um imponente marco geográfico, fornece um cenário sem igual para a Cidade do Cabo. Alguns afirmam que a Cidade do Cabo é a cidade mais bonita da África.

No verão, o cume da montanha às vezes fica coberto por uma nuvem espessa, apropriadamente apelidada de “a toalha de mesa”. Isso ocorre por causa dos fortes ventos que sopram contra as encostas da montanha, condensando a umidade e formando a densa nuvem acima da montanha da Mesa.

[Quadro/Fotos nas páginas 114-117]

Mantivemos a integridade na prisão

ENTREVISTA COM ROWEN BROOKES

ANO DE NASCIMENTO 1952

ANO DE BATISMO 1969

RESUMO BIOGRÁFICO Ficou preso de dezembro de 1970 a março de 1973 por causa da neutralidade cristã. Iniciou o serviço de pioneiro regular em 1973 e foi para Betel no ano seguinte. Atualmente serve como membro da Comissão de Filial.

Como era estar encarcerado numa prisão militar?

O alojamento da prisão consistia em blocos compridos, cada qual composto de duas fileiras de 34 celas que se abriam para um corredor. No meio do corredor, havia um canal para escoar a água da chuva. A cela usada para o confinamento solitário tinha 1,8 metro por 2 metros. Só podíamos sair da cela duas vezes por dia: de manhã para nos lavar, fazer a barba e limpar o recipiente para necessidades fisiológicas, e à tarde para tomar banho. Não podíamos escrever ou receber cartas. Também não era permitido ter canetas, lápis nem livros, exceto a Bíblia. Não tínhamos autorização para receber visitas.

Antes de ir para a prisão, a maioria dos irmãos encadernou com a Bíblia outros livros, como os volumes de Ajuda ao Entendimento da Bíblia. Os guardas nem se davam conta disso, pois estavam acostumados com suas antigas Bíblias em africâner ou holandês que eram bem grandes.

Vocês conseguiam obter publicações bíblicas?

Sim; obtínhamos publicações clandestinamente quando possível. Tudo que tínhamos, incluindo os itens de higiene pessoal, ficava guardado em malas numa das celas vazias. Uma vez por mês, um guarda nos permitia pegar mais itens de higiene nessas malas. Também mantínhamos publicações escondidas ali.

Enquanto um de nós conversava com o guarda para distraí-lo, outro escondia um livro sob o short ou a camiseta. Na cela, dividíamos o livro em fascículos, que eram mais fáceis de esconder. Passávamos os fascículos de um para outro, pois assim todos podiam ler. Descobrimos muitos lugares para esconder as publicações. Algumas celas estavam em mau estado e tinham muitos buracos.

As celas eram revistadas freqüentemente, às vezes no meio da noite. Os guardas sempre encontravam alguma publicação, mas não todas. Um dos soldados mais amistosos muitas vezes nos avisava quando nossas celas seriam revistadas. Então embrulhávamos as publicações em sacos plásticos e as escondíamos dentro dos canos que escoavam a água da chuva. Certo dia, houve uma forte tempestade e, para nosso desespero, um desses pacotes apareceu boiando no canal no meio do bloco de celas. Alguns prisioneiros militares começaram a jogar futebol com o pacote. Mas um guarda apareceu de repente e os mandou voltar às celas. Para o nosso alívio, ninguém deu atenção ao pacote e, pouco tempo depois, quando nos deixaram sair da cela, nós o recuperamos.

Sua integridade foi testada durante a prisão?

Foi; o tempo todo. As autoridades da prisão estavam sempre tentando fazer algo para quebrantar nossa integridade. Por exemplo, certa ocasião eles começaram a nos tratar muito bem — deram-nos mais alimento, deixaram-nos sair para fazer exercícios e até para tomar sol. Daí, depois de alguns dias, mandaram-nos vestir os uniformes militares de cor cáqui. Quando recusamos, eles voltaram a nos tratar tão mal como antes.

Depois, fomos ordenados a colocar os capacetes do exército, mas nos recusamos a fazer isso. O capitão ficou tão enfurecido que não permitiu mais que tomássemos banho. Recebíamos um balde para nos lavar dentro das celas.

Não tínhamos sapatos. Os pés de alguns irmãos estavam sangrando, por isso, nós mesmos fizemos calçados. Juntamos retalhos de cobertores velhos que eram usados para polir o chão. Encontramos um pedaço de arame de cobre, achatamos uma das pontas e afiamos a outra. Fizemos um buraco no lado achatado e o transformamos numa agulha de costura. Tiramos fios de nossos cobertores e costuramos os retalhos, transformando-os em mocassins.

Certa vez, sem nenhum aviso, ordenaram que ficássemos três em cada cela. Embora o espaço fosse apertado, aquilo foi positivo. Providenciamos que os irmãos mais fracos espiritualmente se juntassem aos mais experientes. Estudávamos a Bíblia e fazíamos sessões de ensaio para o serviço de campo. Para a surpresa do capitão, nosso estado de espírito melhorou.

Vendo que seu plano não tinha funcionado, o capitão ordenou que cada irmão ficasse numa cela com dois prisioneiros que não eram Testemunhas de Jeová. Embora eles tivessem sido proibidos de falar conosco, começaram a fazer perguntas e tivemos muitas oportunidades de dar testemunho. Em resultado disso, alguns deles se recusaram a participar em certas atividades militares. Não demorou muito e voltamos a ficar um em cada cela.

Vocês conseguiam realizar reuniões?

Realizávamos reuniões regularmente. Sobre a porta das celas, havia uma janela com uma tela de arame e sete barras verticais. Amarrávamos as pontas do cobertor a duas barras e fazíamos uma pequena rede onde podíamos sentar. Dali de cima dava para ver o irmão da cela em frente à nossa, e quando falávamos alto os outros irmãos do bloco podiam nos ouvir. Considerávamos o texto diário todo dia e realizávamos o Estudo de A Sentinela, caso tivéssemos a revista. No fim do dia, nos revezávamos em fazer uma oração a favor de todos. Fizemos até o nosso próprio programa de assembléia de circuito.

Não tínhamos certeza se algum irmão conseguiria permissão para vir e realizar a Comemoração conosco. Assim, fazíamos os nossos próprios preparativos. Nós conseguíamos vinho por deixar uvas passas de molho na água e achatávamos e secávamos um pouco do pão que recebíamos. Certa vez, tivemos permissão para receber dos irmãos de fora uma pequena garrafa de vinho e um pouco de pão não-fermentado.

As condições mudaram com o tempo?

Sim. A lei mudou e nosso grupo foi liberado. Dali em diante, os objetores de consciência recebiam uma sentença de duração definida e não eram sentenciados novamente. Mais tarde, depois que o nosso grupo de 22 irmãos foi libertado, os 88 que permaneceram passaram a ter os mesmos privilégios que outros presos. Podiam receber uma visita por mês bem como escrever e receber cartas.

Quando foi libertado, foi difícil ajustar-se à vida fora da prisão?

Foi. Demorou um tempo para eu me ajustar. Por exemplo, eu não me sentia à vontade no meio de muita gente. Nossos pais e os irmãos bondosamente nos ajudaram a assumir aos poucos mais responsabilidades na congregação.

Embora o tempo que passamos na prisão tenha sido difícil, tiramos proveito da experiência. Os testes de fé nos fortaleceram em sentido espiritual e nos ensinaram a perseverar. Passamos a dar real valor à Bíblia e aprendemos a importância de lê-la e meditar nela todos os dias. E com certeza aprendemos a confiar em Jeová. Após esses sacrifícios para permanecermos fiéis a Jeová, estávamos decididos a perseverar e a fazer o nosso melhor para Jeová, se possível, no serviço de tempo integral.

[Quadro/Foto nas páginas 126-128]

Confiamos em Jeová em épocas perigosas

ZEBLON NXUMALO

ANO DE NASCIMENTO 1960

ANO DE BATISMO 1985

RESUMO BIOGRÁFICO Era adepto do rastafarianismo antes de aprender a verdade. Entrou no serviço de tempo integral logo após o batismo. Serve atualmente como superintendente de circuito com a esposa, Nomusa.

APÓS ajudar na construção do Betel em Krugersdorp, eu e meu companheiro no serviço de pioneiro fomos designados para um território onde havia maior necessidade de pregadores. Fomos para a comunidade de KwaNdengezi, próxima à cidade portuária de Durban. Poucos dias depois de chegarmos, um grupo político enviou cinco jovens à nossa casa para saber mais a nosso respeito. Eles pediram nosso apoio para proteger a comunidade de um grupo político rival. A rixa entre esses dois grupos que falavam zulu já tinha causado muitas mortes na região. Perguntamos a opinião deles sobre qual seria a solução para aquela violência. Eles disseram que o principal culpado era o governo branco. Mencionamos outros países africanos assolados pela guerra, cujos cidadãos sofriam por causa da pobreza. Daí, nós os lembramos do ditado que diz que a história se repete. Eles concordaram que mesmo que os negros assumissem o governo, o crime, a violência e as doenças não acabariam. Então abrimos a Bíblia e lhes mostramos que o Reino de Deus é o único governo que pode resolver os problemas da humanidade.

Dias depois, durante a noite, ouvimos uma multidão de jovens cantando hinos de liberdade e vimos homens com armas de fogo na mão. Eles estavam incendiando casas e matando pessoas. Com muito medo, oramos a Jeová pedindo forças para que as ameaças e intimidações não nos assustassem nem quebrantassem nossa integridade. Também nos lembramos de mártires que, em circunstâncias similares, não repudiaram Jesus. (Mat. 10:32, 33) De repente, um grupo de homens e jovens bateu na nossa porta. Sem nos cumprimentar, eles pediram dinheiro para comprar intelezi, que em zulu se refere a um remédio supostamente protetor feito por um curandeiro. Pedimos-lhes para ficarem calmos e perguntamos: “Vocês acham certo o que os curandeiros fazem, provocando mortes por meio da feitiçaria?” Continuamos: “E se um parente de vocês se tornasse vítima da feitiçaria. Como se sentiriam?” Todos disseram que não seria bom. Então, abrimos a Bíblia e pedimos que o líder do grupo lesse Deuteronômio 18:10-12 para ver como Deus encara a feitiçaria. Quando ele terminou de ler, perguntamos o que o grupo pensava sobre o assunto. Ficaram sem palavras. Aproveitando o silêncio, perguntamos-lhes se achavam mais sensato obedecermos a Jeová ou aos curandeiros. Todos foram embora sem dizer uma palavra.

Passamos por muitas situações como essas e vimos que Jeová estava do nosso lado. Por exemplo, certa noite, outro grupo veio à nossa casa pedindo dinheiro para comprar armas a fim de “proteger” os habitantes. Eles disseram que não tinham segurança por causa do grupo político rival e que a solução era contra-atacar com armas mais sofisticadas. Eles exigiram que déssemos o dinheiro ou então sofreríamos as conseqüências. Lembramos-lhes que sua organização tinha assinado um documento que garantia os direitos humanos e o respeito pela consciência de outros. Daí, perguntamos se uma pessoa deveria estar disposta a morrer em vez de ir contra a constituição em que acreditava. Eles disseram que sim. Então explicamos que pertencíamos à organização de Jeová, que a nossa “constituição” é a Bíblia e que ela condena o assassinato. Finalmente, o líder do grupo disse aos outros: “Entendo a posição deles. Eles deixaram claro que, se o dinheiro for usado para o desenvolvimento da nossa comunidade — como a construção de um asilo — ou para um vizinho necessitado ir ao hospital, eles estão dispostos a dar. Mas não querem dar-nos dinheiro para matar.” Com isso, eles se levantaram, apertamos as mãos e os agradecemos pela paciência.

[Quadro/Fotos nas páginas 131-134]

Irmãs solteiras com cem anos de serviço de tradução

Muitos irmãos e irmãs usaram seu dom de solteiro para prestar um valioso serviço ao Reino no Betel da África do Sul. (Mat. 19:11, 12) As três irmãs a seguir passaram um total de cem anos traduzindo o alimento espiritual provido pelo “escravo fiel e discreto”. — Mat. 24:45.

Maria Molepo Nasci na aldeia de Molepo, na província de Limpopo, África do Sul. Minha irmã mais velha, Aletta, ensinou-me a verdade quando eu ainda estava na escola. Ao terminar meus estudos, outra irmã, que não era Testemunha de Jeová, disse que me pagaria uma faculdade de três anos para eu ser professora. Recusei sua oferta bondosa, pois eu queria servir a Jeová com minhas duas irmãs mais velhas, Aletta e Elizabeth, que eram pioneiras. Fui batizada em 1953 e por seis anos eu cumpria, de vez em quando, o requisito de horas de pioneiro. Em 1959, preenchi a petição e fui oficialmente designada como pioneira regular.

Em 1964, a sede na África do Sul convidou-me para trabalhar traduzindo alimento espiritual para o sepedi por meio período. Eu fazia isso e continuava como pioneira. Em 1966, fui convidada para fazer parte da família de Betel na África do Sul. O serviço em Betel não era como eu imaginava. Eu sentia falta de ir ao campo todos os dias. Mas logo ajustei meu ponto de vista por considerar os fins de semana, de sábado à tarde até domingo à noite, como meu período de pioneira, embora não fosse possível completar o requisito de horas. Eu gostava tanto do serviço de campo nos fins de semana que muitas vezes chegava tarde demais para o jantar de sábado e domingo. Quando as betelitas de mais idade puderam ter as manhãs de sábado livres, fiquei muito feliz por poder usar o tempo extra no serviço de campo.

Nos primeiros oito anos, dividi um apartamento com outra tradutora num prédio separado do lar de Betel. No início, as autoridades do apartheid permitiam que morássemos perto dos irmãos brancos, mas isso não foi mais autorizado a partir de 1974. Tradutores negros, como eu, foram forçados a morar nas áreas reservadas para os negros. Fiquei morando com uma família Testemunha de Jeová em Tembisa e tinha de viajar uma longa distância para ir e voltar de Betel todos os dias. Quando o novo Betel foi construído em Krugersdorp, o governo já tinha amenizado algumas leis do apartheid e pude novamente morar com os outros membros da família de Betel.

Sou muito grata a Jeová por permitir que eu continue a servir como tradutora em Betel até hoje. De fato, ele me abençoou por ter usado o dom de solteira no serviço dele, tanto que minha irmã mais nova, Annah, também resolveu permanecer solteira e já está no serviço de pregação por tempo integral há 35 anos.

Tseleng Mochekele Nasci em Teyateyaneng, no Lesoto. Minha mãe era religiosa e costumava obrigar a mim e a meus irmãos a freqüentar a igreja, o que eu detestava. Minha tia tornou-se Testemunha de Jeová e falou sobre suas crenças à minha mãe. Fiquei contente quando minha mãe parou de ir à igreja, mas não me interessei pela verdade, pois gostava do mundo e de suas diversões.

Mudei-me para Johanesburgo em 1960 a fim de terminar os estudos. Quando saí de casa, minha mãe implorou: “Ao chegar a Johanesburgo, por favor, tente encontrar as Testemunhas de Jeová e procure ser uma delas.” Assim que cheguei a Johanesburgo, fiquei maravilhada com tantas opções de diversão. Mas, ao observar mais de perto a vida que as pessoas levavam, fiquei chocada de ver como a imoralidade sexual era tão comum entre elas. Lembrei-me das palavras de minha mãe e comecei a assistir às reuniões das Testemunhas de Jeová em Soweto. Na primeira reunião que fui, orei: “Jeová, ajude-me, porque eu quero ser uma de suas Testemunhas.” Logo comecei a participar no serviço de campo e fui batizada em julho daquele ano. Após terminar os estudos, voltei para casa no Lesoto. Minha mãe também já tinha sido batizada.

Em 1968, a sede na África do Sul convidou-me para ser tradutora por tempo integral para o idioma sesoto. Cumpri essa designação durante muitos anos enquanto morava na casa de minha mãe. Em tempos difíceis, cheguei a sugerir à minha família que eu parasse o serviço de tempo integral e arrumasse um emprego para ajudá-los. Mas minha mãe e minha irmã mais nova, Liopelo, já batizada, não queriam nem pensar nisso. Elas apreciavam muito o privilégio de me apoiar em minha designação como tradutora por tempo integral.

Em 1990, tive o privilégio de tornar-me membro da família de Betel na África do Sul nos novos prédios em Krugersdorp, onde continuo a servir como tradutora. Não me arrependo de ter decidido continuar solteira. Sou muito grata a Jeová por me ter abençoado com uma vida tão feliz e gratificante.

Nurse Nkuna Nasci na região nordeste da África do Sul, na cidade de Bushbuckridge. Minha mãe, que era Testemunha de Jeová, criou-me na verdade e trabalhava para ajudar meu pai na renda da família. Ela me ensinou a ler antes mesmo de eu entrar na escola. Isso foi útil, pois eu podia participar na pregação durante a semana com uma pioneira regular idosa. Ela não enxergava bem e minha habilidade de leitura a ajudava no ministério. Mesmo quando comecei a ir à escola, continuei a participar com essa irmã no serviço de campo na parte da tarde. A companhia de irmãos do tempo integral me fez amar o ministério. Alegro-me de ver as pessoas tomarem o lado da verdade. Quando eu tinha cerca de dez anos, orei a Jeová sobre o desejo de usar minha vida na pregação por tempo integral. Fui batizada em 1983 e trabalhei por alguns anos para ajudar minha família. Pedi à minha mãe que cuidasse do meu salário para garantir que eu não criasse amor ao dinheiro, o que me impediria de atingir o alvo de entrar no serviço de tempo integral. Em 1987, pedi demissão quando minha petição para tornar-me tradutora para o zulu na família de Betel na África do Sul foi aceita.

Servir solteira em Betel tem me proporcionado muitas alegrias. Os comentários na adoração matinal me ajudam a melhorar no serviço de campo. Servir de perto com irmãos de formações diferentes me auxilia a aprimorar minha personalidade cristã. É verdade que não tenho filhos carnais, mas tenho filhos e netos espirituais. Talvez eu não os tivesse se escolhesse casar e formar minha própria família.

Ao passo que trabalham arduamente em suas designações como tradutoras em Betel, essas três irmãs ajudaram 36 pessoas a se tornarem adoradoras de Jeová dedicadas e batizadas.

[Quadro/Fotos nas páginas 146, 147]

O esplendor das montanhas

As montanhas Drakensberg estendem-se por pouco mais de mil quilômetros na África do Sul. A parte que forma uma fronteira natural entre KwaZulu-Natal e o Lesoto é a mais espetacular. Muitas vezes ela é chamada de Suíça sul-africana.

Cumes desafiadores — como o maciço Sentinela, o suave e perigoso Capuz de Monge e o traiçoeiro Dente do Diabo, com suas encostas íngremes — atraem alpinistas aventureiros. Escalar essas montanhas é perigoso. No entanto, diversas trilhas para os penhascos são íngremes, mas seguras, e não requerem equipamentos especiais de alpinismo. É claro que é muito importante obedecer às regras das montanhas. Roupas quentes, uma barraca e um estoque de alimentos são essenciais. Os penhascos podem ser muito frios, com ventos fortes à noite.

Todo ano, milhares de turistas, pessoas que acampam e alpinistas deixam para trás o estresse e a poluição das cidades e vão em busca do ar fresco das montanhas, das suas águas refrescantes e do esplendor das suas enormes alturas.

[Foto]

Pinturas rupestres feitas por bosquímanos

[Quadro/Fotos nas páginas 158, 159]

Livrado do espiritismo e da poligamia

ISAAC TSHEHLA

ANO DE NASCIMENTO 1916

ANO DE BATISMO 1985

RESUMO BIOGRÁFICO Desiludido com a cristandade, era um rico curandeiro antes de aprender a verdade.

ISAAC e três amigos — Matlabane, Lukas e Phillip — cresceram nas montanhas Sekhukhune, no nordeste da África do Sul. Os quatro abandonaram a Igreja Apostólica por causa da hipocrisia que viam entre seus membros. Eles começaram a procurar a religião verdadeira. Com o tempo, perderam contato entre si.

Os três amigos de Isaac e suas esposas acabaram tornando-se Testemunhas de Jeová. Que dizer de Isaac? Ele seguiu os passos de seu pai, que era um famoso curandeiro. Isaac queria ganhar dinheiro e ficou rico. Ele tinha cem cabeças de gado e uma boa conta bancária. Conforme o costume entre os ricos, ele também tinha duas esposas. Nesse meio-tempo, Matlabane resolveu procurar Isaac e contar-lhe que ele e os outros dois amigos haviam encontrado a religião verdadeira.

Isaac ficou contente de encontrar Matlabane novamente e estava ansioso para saber por que ele e seus amigos se tinham tornado Testemunhas de Jeová. Isaac começou a estudar a Bíblia usando a brochura Viva Para Sempre em Felicidade na Terra!. A gravura 17 na edição do idioma local mostra um curandeiro africano jogando ossos no chão para fazer adivinhação. Isaac espantou-se ao saber, por meio do texto de Deuteronômio 18:10, 11, que essas práticas espíritas desagradam a Deus. Ele também ficou incomodado com a gravura 25 que mostra um homem polígamo e suas esposas. A figura inclui o texto de 1 Coríntios 7:1-4 para mostrar que o verdadeiro cristão não pode ter mais de uma esposa.

Isaac queria obedecer às Escrituras. Aos 68 anos de idade, ele mandou sua segunda esposa embora e legalizou seu casamento com a primeira, Florina. Também deixou de ser curandeiro e jogou fora os ossos que usava na adivinhação. Em um de seus estudos bíblicos, chegaram dois clientes que vinham de longe para lhe pagar 550 rand (equivalente a 140 dólares na época) que deviam a ele por seus serviços como curandeiro. Ele não aceitou o dinheiro e deu testemunho aos homens, explicando que tinha abandonado suas práticas espíritas e agora estava estudando a Bíblia, pois desejava tornar-se Testemunha de Jeová. Isaac logo alcançou seu alvo. Ele e Florina batizaram-se em 1985, e ele, agora com 90 anos, tem servido nos últimos anos como ancião na congregação.

[Tabela/Gráfico nas páginas 124, 125]

MARCOS HISTÓRICOS—África do Sul

1900

1902 Publicações bíblicas chegam à África do Sul.

1910 William W. Johnston abre um escritório administrativo em Durban.

1916 “Fotodrama da Criação” chega à África do Sul.

1917 O escritório administrativo muda para a Cidade do Cabo.

1920

1924 Uma impressora é enviada para a Cidade do Cabo.

1939 A primeira revista Consolação em africâner é impressa.

1940

1948 Salão do Reino é construído perto da Cidade do Cabo.

1949 Sentinela em zulu é impressa.

1952 A construção de Betel em Elandsfontein é terminada.

1979 Instalação da rotativa offset TKS.

1980

1987 Um novo Betel é construído em Krugersdorp; ampliado em 1999.

1992 Primeiro Salão do Reino de construção rápida é construído em Soweto.

2000

2004 A gráfica é ampliada. Rotativa MAN Roland Lithoman produzindo literatura.

2006 O auge de publicadores é de 78.877.

[Gráfico]

(Veja a publicação)

Total de publicadores

Total de pioneiros

80.000

40.000

1900 1920 1940 1980 2000

[Tabela/Fotos nas páginas 148, 149]

Uma multidão de idiomas

A gráfica da África do Sul imprime “A Sentinela” em 33 idiomas

Diversidade de vestimentas

Os diferentes povos da África usam uma variedade de tecidos, modelos de roupas e jóias coloridas

Zulu

SAUDAÇÃO “Sanibona”

LÍNGUA MATERNA DE 10.677.000 *

NÚMERO DE PUBLICADORES 29.000 *

Sesoto

SAUDAÇÃO “Lumelang”

LÍNGUA MATERNA DE 3.555.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 10.530

Sepedi

SAUDAÇÃO “Thobela”

LÍNGUA MATERNA DE 4.209.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 4.410

Tsonga

SAUDAÇÃO “Xewani”

LÍNGUA MATERNA DE 1.992.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 2.540

Xosa

SAUDAÇÃO “Molweni”

LÍNGUA MATERNA DE 7.907.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 10.590

Africâner

SAUDAÇÃO “Hallo”

LÍNGUA MATERNA DE 5.983.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 7.510

Tsuana

SAUDAÇÃO “Dumelang”

LÍNGUA MATERNA DE 3.677.000

NÚMERO DE PUBLICADORES 4.070

Venda

SAUDAÇÃO “Ri a vusa”

LÍNGUA MATERNA DE 1.021.800

NÚMERO DE PUBLICADORES 480

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 515 Os números são aproximados.

^ parágrafo 516 Os números são aproximados.

[Foto de página inteira na página 66]

[Foto na página 71]

Pinheiro do gênero “Podocarpus”

[Foto na página 74]

Stoffel Fourie

[Foto na página 74]

“Studies in the Scriptures” (Estudos das Escrituras)

[Foto na página 74]

Congregação de Durban com William W. Johnston, 1915

[Foto nas páginas 74, 75]

Johannes Tshange e sua família

[Foto na página 75]

O primeiro escritório administrativo ficava numa pequena sala deste prédio

[Foto na página 77]

Japie Theron

[Foto na página 79]

Henry Myrdal

[Foto na página 79]

Piet de Jager

[Foto na página 82]

Henry Ancketill, 1915

[Foto na página 82]

Grace e David Taylor

[Foto na página 82]

Folheto de 1931 que continha a resolução de adotar o nome Testemunhas de Jeová

[Fotos na página 84]

Família de Betel em 1931 na Cidade do Cabo, incluindo George e Stella Phillips

[Foto na página 87]

Gravação no idioma xosa

[Foto na página 87]

Andrew Jack e a impressora Frontex, 1937

[Foto na página 87]

Primeiras revistas “Consolação” e “A Sentinela” em africâner

[Foto na página 90]

Congressistas em Johanesburgo, 1944

[Foto na página 90]

Anúncio de discurso com cartazes, 1945

[Foto na página 90]

Frans Muller e Piet Wentzel com fonógrafos, 1945

[Foto na página 95]

Gert Nel, servo aos irmãos, 1943

[Foto na página 95]

Testemunho em território rural, 1948

[Foto na página 99]

Andrew Masondo e sua segunda esposa, Ivy

[Foto na página 99]

Luke e Joyce Dladla

[Foto na página 99]

Primeira “A Sentinela” em zulu

[Foto na página 102]

Velloo Naicker ajudou por meio de seu exemplo 190 familiares a aceitar a verdade

[Fotos na página 102]

Gopal Coopsammy aos 21 anos e atualmente com sua esposa, Susila. Ambos ajudaram 150 pessoas a se dedicarem a Jeová

[Foto nas páginas 104, 105]

Isabella Elleray

Doreen Kilgour

[Foto nas páginas 108, 109]

original, 1952

Betel, Elandsfontein, 1972

[Fotos na página 110]

Destaques de congressos

(Acima) Lançamento do livro “Filhos”, 1942; (centro) candidatos ao batismo, 1959; (abaixo) coral em xosa dá boas-vindas aos congressistas, 1998

3.428 foram batizados no ano passado

[Foto na página 120]

Elijah Dlodlo suportou um espancamento

[Foto na página 121]

Florah Malinda, pioneira regular. Sua filha foi brutalmente assassinada

[Foto na página 122]

Moses Nyamussua foi assassinado por uma turba

[Fotos nas páginas 140, 141]

Construção acelerada de Salões do Reino

A congregação em Kagiso recebeu ajuda para ter um novo local de adoração

Antes

Durante

Depois

A congregação Rathanda, em Heidelberg, gosta muito de seu novo Salão do Reino

Em 37 países africanos, 7.207 salões foram completados e ainda faltam 3.305

[Foto na página 147]

Família Rossouw hoje

[Fotos na página 150]

Salão de Assembléias de Midrand

[Foto na página 155]

Ajuda humanitária para o Zimbábue, 2002

[Foto na página 155]

Programa de computador projetado para auxiliar os tradutores

[Fotos nas páginas 156, 157]

Congênere da África do Sul, 2006

Prédios residenciais e de escritórios, nova rotativa e Departamento de Expedição

[Fotos nas páginas 156, 157]

Comissão de Filial

Piet Wentzel

Loyiso Piliso

Rowen Brookes

Raymond Mthalane

Frans Muller

Pieter de Heer

Jannie Dieperink

[Fotos nas páginas 161, 162]

Namíbia

William e Ellen Heindel

Coralie e Dick Waldron, 1951

Escritório de tradução da Namíbia

[Fotos na página 167]

Lesoto

(Acima) Abel Modiba no serviço de circuito; (abaixo) pessoas que moram em cavernas reúnem-se para ouvir um missionário; (à esquerda) Per-Ola e Birgitta Nygren

[Fotos na página 168]

Botsuana

Casal Thongoana pregando a um vendedor de rua

Pregação de cabana em cabana

[Fotos na página 170]

Suazilândia

James e Dawne Hockett

Pregando numa feira de artesanato, Mbabane

[Fotos na página 170]

Santa Helena

A campanha com o tratado “Notícias do Reino” foi terminada em um dia; (abaixo) cidade portuária de Jamestown

[Foto na página 175]

Congresso internacional de 1993