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Países da ex-Iugoslávia

Países da ex-Iugoslávia

Países da ex-Iugoslávia

O PAÍS que antigamente era conhecido como Iugoslávia é uma região de diversidade fascinante. Com a Europa Central e Oriental ao norte, Grécia e Turquia ao sul e Itália ao oeste, essa região é uma mistura de culturas, idiomas e religiões. No entanto, para muitos, o nome Iugoslávia traz à mente imagens de conflitos e lutas. Desde o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, em 1914, até a limpeza étnica em tempos mais recentes, essa parte da península Balcânica tem tido pouca paz. À medida que os povos dessa região lutavam para ganhar independência, repúblicas se transformavam em países. Por fim, a Iugoslávia se fragmentou, e agora em seu ex-território estão a Bósnia-Herzegovina, a Croácia, a Eslovênia, a Macedônia, Montenegro e a Sérvia.

É nesse cenário de conflitos políticos, étnicos e religiosos que surge um relato extraordinário — uma história de amor, união e fé. As Testemunhas de Jeová ali superaram os preconceitos e as hostilidades que abalaram os Bálcãs. Essa união que ultrapassa barreiras culturais é o resultado da lealdade a um governo superior — o Reino de Deus.

O INÍCIO

Como se iniciou a obra do povo de Jeová nessa região? Nossa história começa com um jovem barbeiro chamado Franz Brand, natural de Voivodina, uma região no norte da Iugoslávia. Ele viajou para a Áustria à procura de emprego. Enquanto estava ali, entrou em contato com a verdade e depois a levou para a sua cidade em 1925. Ele se juntou a um pequeno grupo de pessoas que liam e analisavam as publicações bíblicas Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras) que haviam recebido de parentes dos Estados Unidos.

O grupo reconheceu a necessidade de pregar e, por isso, providenciou a tradução para o sérvio de dois folhetos que explicavam ensinamentos bíblicos. Infelizmente, antes de esses folhetos serem distribuídos, o grupo foi visitado por um irmão bem conhecido que tinha se rebelado contra a organização e formado sua própria seita. Ele conseguiu convencer todos, com exceção de Franz, a abandonar os Estudantes da Bíblia.

Daí, Franz se mudou para Maribor, Eslovênia, onde arrumou emprego numa barbearia. Ele testemunhou a Richard Tautz, dono da barbearia, que aceitou a verdade. Conhecidos como os barbeiros que acreditavam na Bíblia, Franz e Richard usavam a barbearia como centro de pregação. Seus clientes ouviam atentamente — afinal, eles não ousavam fazer nenhum movimento nem falar nada enquanto estavam sendo barbeados! Um dos clientes era um político chamado Ðuro Džamonja. Outro era Rudolf Kalle, dono de uma loja de consertos de máquinas de escrever. Ðuro e Rudolf progrediram rapidamente e logo foram batizados. Ðuro abandonou a política e ajudou a estabelecer a The Lighthouse Society of Bible Students no Reino da Iugoslávia. Essa entidade legal possibilitou que os irmãos pregassem e se reunissem livremente.

O “FOTODRAMA” ABRE O CAMINHO

Em 1931, a sede das Testemunhas de Jeová na Suíça enviou dois irmãos para apresentar o “Fotodrama da Criação” nas grandes cidades em toda a Iugoslávia. Os salões ficavam lotados e a assistência prestava muita atenção à medida que Ðuro mostrava o filme. O “Fotodrama” despertou interesse na verdade bíblica em todo o país. Nessa mesma época, em Maribor, os irmãos realizavam as reuniões em esloveno e em alemão. E em Zagreb e regiões vizinhas, os irmãos se reuniam em grupos para considerar as publicações que haviam sido traduzidas para o croata.

A seguir, os irmãos decidiram traduzir A Sentinela para o esloveno e o croata — uma tarefa difícil naqueles anos iniciais. Depois de a revista ter sido traduzida, uma irmã a datilografava usando papel-carbono, produzindo apenas 20 cópias por vez. Mais tarde, quando conseguiram um mimeógrafo, a produção de A Sentinela aumentou para 200 exemplares por vez.

Com as revistas disponíveis, os irmãos viajavam de trem para várias partes da Iugoslávia a fim de pregar. Às vezes, os irmãos na Eslovênia alugavam um caminhão aberto e contratavam um motorista que não era Testemunha de Jeová para levá-los a uma área onde pudessem pregar. Ele esperava o dia inteiro até os irmãos terminarem o trabalho. Naquela época, esses proclamadores do Reino tinham pouco treinamento e às vezes sua mensagem era um pouco rude; ainda assim, Jeová abençoou seus esforços ajudando-os a encontrar “os corretamente dispostos para com a vida eterna”. — Atos 13:48.

“Conheci a verdade em 1931 por meio de minha tia, Terezija Gradič, e de seu marido, Franc”, lembra-se Franc Sagmeister. “Ele estava entre os primeiros publicadores na Eslovênia. Embora fosse antes totalmente contra as religiões, Franc começou a ler a Bíblia com entusiasmo. Isso causou uma profunda impressão em mim e, por isso, comecei a estudar as Escrituras também. Apesar da oposição de minha família, eu queria divulgar meu conhecimento recém-adquirido a outros. Quando o padre da paróquia ficou sabendo disso, me chamou imediatamente. Ele me disse que eu não podia ter uma Bíblia visto que eu não a entendia. Recusei-me a lhe entregar minha Bíblia. Mais tarde, quando meu pai morreu, o padre me encontrou na rua e veio falar comigo furioso porque eu não havia pago para rezar nem sequer uma simples missa em favor de meu pai. Eu lhe respondi: ‘Eu pagaria cem missas, até mesmo mil, se elas realmente ajudassem meu pai.’

“‘Elas ajudam sim!’, disse o padre.

“‘Se meu pai está no céu’, respondi, ‘ele não precisa de sua missa, e se está no inferno, também não precisa de missa nenhuma’.

“‘Mas e se ele estiver no purgatório?’, perguntou o padre.

“‘Senhor padre’, eu disse, ‘o senhor sabe muito bem que tenho muitas propriedades. Podemos ir agora mesmo ao escritório do advogado e passo tudo o que tenho para o seu nome se puder me provar na Bíblia que o homem tem uma alma imortal que sobrevive à morte, que o inferno e o purgatório existem e que Deus faz parte de uma Trindade’.

“Ele me lançou um olhar furioso, acendeu um cigarro e foi embora.”

PIONEIROS NO CAMPO

Nos anos 30, homens e mulheres diligentes abriram o caminho para a luz da verdade brilhar na Iugoslávia. Por exemplo, em Maribor, Eslovênia, Grete Staudinger, Katarina Konečnik e, mais tarde, Karolina Stropnik ingressaram no serviço que ficou conhecido como pioneiro de férias. Mais ao sul, em Mostar, a cidade principal da Herzegovina, um maestro chamado Alfred Tuček reconheceu o tom da verdade e se tornou pioneiro. Dušan Mikić, um jovem de 23 anos de Zagreb, Croácia, adquiriu o folheto Onde Estão os Mortos?. Ele também progrediu rápido, foi batizado e começou o serviço de pioneiro. O número de pioneiros logo aumentaria com a chegada de irmãos zelosos da Alemanha.

A verdade estava se estabelecendo firmemente na Iugoslávia, mas, ao mesmo tempo, estava sendo proscrita na Alemanha. A sede na Suíça enviou para a Iugoslávia cerca de 20 pioneiros experientes, como Martin Poetzinger, Alfred Schmidt, Vinko e Josephine Platajs e Willi e Elisabeth Wilke. Embora não falassem esloveno ou servo-croata, esses pioneiros abnegados usavam cartões de testemunho para pregar com coragem, abrindo o caminho para progresso futuro.

OS DESAFIOS DO SERVIÇO DE PIONEIRO

O forte zelo por Jeová e o amor pelas pessoas ajudaram os pioneiros a superar os problemas com o idioma e com a falta de dinheiro. Outro desafio era deslocar-se constantemente de um lugar para outro. Não era incomum ter de viajar 40 quilômetros a pé debaixo de tempo ruim, passando por terrenos acidentados para chegar a povoados distantes. Uma pioneira se lembra de que, para não gastar muito os sapatos, ela os tirava enquanto ia de um povoado para outro. Martin Poetzinger, que mais tarde se tornou membro do Corpo Governante, se lembrava com carinho do tempo em que viajava pela zona rural carregando uma mochila nas costas, cheia de publicações, pregando a todos que o ouvissem.

O problema com o transporte foi minimizado com a chegada de bicicletas que um irmão da Suíça comprou e doou a esses pioneiros fiéis. Aquelas bicicletas foram usadas no ministério por décadas.

Embora o povo da Iugoslávia fosse conhecido por sua hospitalidade, houve oposição religiosa, e nossos pioneiros enfrentaram muita perseguição. Os sacerdotes exerciam grande controle sobre seus seguidores, especialmente nos povoados menores. Às vezes, os sacerdotes incentivavam as crianças a seguir os pioneiros e a atirar pedras neles. O clero também incitou as autoridades a hostilizar os pioneiros, confiscar suas publicações e prendê-los.

Em certa ocasião, quando pregava num povoado distante na Croácia, Willi Wilke ouviu um som de tumulto vindo da praça central. Ele e sua esposa, junto com outra pioneira chamada Grete Staudinger, estavam ali oferecendo o folheto Justo Governador, que retratava Jesus Cristo na capa. “Para meu desespero”, lembra-se ele, “vi uma multidão furiosa, de umas 20 pessoas, armadas com foices, cercando minha esposa. Ali perto, um outro grupo queimava nossos folhetos”.

Os pioneiros não tinham a menor idéia do porquê de esses humildes aldeões estarem tão furiosos, e a irmã Wilke não falava tão bem o idioma para descobrir isso. No entanto, Grete era fluente no alemão e nos idiomas locais. Ela se aproximou e perguntou: “Senhoras e senhores, o que estão fazendo?”

“Não queremos o Rei Pedro!”, responderam quase em uníssono.

“Nós também não”, Grete respondeu.

Surpresas, as pessoas apontaram para a figura no folheto e perguntaram: “Então por que vocês fazem propaganda dele?”

Nesse momento Grete entendeu. Apenas um ano antes, em 1934, o rei iugoslavo Alexandre I havia sido assassinado, e seu filho Pedro o sucederia no trono. No entanto, os aldeões preferiam a autonomia do país a ter um monarca da Sérvia dominando sobre eles. Os aldeões pensaram que a figura de Jesus Cristo na capa era a do Rei Pedro!

O mal-entendido foi desfeito e deu-se um testemunho cabal sobre o Rei, Jesus Cristo. Alguns que haviam queimado seus folhetos agora queriam um novo exemplar. Os pioneiros saíram do povoado felizes, sentindo que a mão protetora de Jeová estava sobre eles.

Os pioneiros também tinham de prestar atenção aos costumes locais. Ao pregar em povoados predominantemente muçulmanos na Bósnia, eles tinham de ser bem cuidadosos para não ofender o povo local. Por exemplo, o contato visual com uma mulher muçulmana casada podia provocar uma reação negativa do marido.

Naquela época, havia poucas congregações e grupos no país. Assim, depois de pregar o dia inteiro num povoado distante, às vezes era difícil encontrar um lugar para passar a noite. Visto que os pioneiros tinham pouco dinheiro, eles não podiam pagar por um quarto apropriado numa hospedaria. Josephine Platajs relembra: “Num certo povoado, ninguém nos deu um lugar para dormir porque tinham medo do padre católico. Já era noite e estávamos prestes a sair do povoado quando vimos uma grande árvore com folhas secas no chão — nosso alojamento para a noite! Usamos nosso saco de roupas como travesseiro e meu marido usou uma corda para amarrar a bicicleta no tornozelo. Acordamos na manhã seguinte e descobrimos que havíamos dormido perto de um poço e, por isso, tínhamos água para nos lavar. Jeová não só nos protegeu, mas também cuidou de nossas necessidades físicas.”

Esses pioneiros puderam ver como Jeová cuidava deles mesmo em coisas pequenas. A preocupação deles era com a promoção das boas novas e não com o seu conforto pessoal.

PASSANDO PELA MACEDÔNIA

Os pioneiros Alfred e Frida Tuček, viajando da Eslovênia para a Bulgária, aproveitaram a oportunidade para divulgar a mensagem do Reino. Na cidade de Strumica, Macedônia, eles deram testemunho para o dono de uma loja, Dimitar Jovanovič, e lhe emprestaram algumas publicações. Um mês depois, quando estavam voltando da Bulgária, eles o revisitaram. Ao saber que ele não havia lido as publicações, o casal lhe pediu que as devolvesse para que pudessem dá-las a alguém mais interessado. Isso despertou a curiosidade de Dimitar. Ele nos implorou para lhe darmos mais uma chance de ler as publicações. Após lê-las, percebeu que havia encontrado a verdade, e tornou-se a primeira pessoa a ser batizada como Testemunha de Jeová na Macedônia.

Depois, Dimitar falou sobre a verdade com dois irmãos carnais, Aleksa e Kosta Arsov. Logo, havia três Testemunhas de Jeová na Macedônia. Equipados com revistas, um fonógrafo e discos com sermões gravados, eles começaram a pregar. Uma das revistas foi parar nas mãos de um pastor da Igreja Evangélica Metodista. Ele passou a revista a Tušo Carčev, um jovem inteligente de sua igreja. Tušo gostou do que leu e convenceu o pastor a lhe dar mais revistas. Logo, Tušo entendeu que não era correto ser pago para pregar as boas novas. Empolgado com essa descoberta, ele disse isso ao pastor, que reagiu por não lhe dar mais revistas. Tušo encontrou nas revistas o endereço do escritório da sede em Maribor e escreveu pedindo que lhe enviassem mais publicações. O Escritório entrou em contato com Dimitar, Aleksa e Kosta pedindo-lhes que visitassem Tušo. Logo, formou-se um grupo ali.

Em 1935, os irmãos mudaram o escritório da sede de Maribor, Eslovênia, para a capital da Iugoslávia, Belgrado, Sérvia. Franz Brand e Rudolf Kalle foram designados superintendentes.

A OBRA É PROSCRITA

Uma evidência da atividade zelosa de nossos irmãos naquele tempo pode ser vista numa brochura publicada pela Igreja Católica em 1933. Ela explicava em detalhes a atividade de pregação das Testemunhas de Jeová, e a Igreja dizia que a nossa obra acabaria em breve. Como estavam enganados!

No norte da Iugoslávia, o clero estava furioso com a atividade zelosa do pequeno grupo de pioneiros. Os clérigos ficaram ainda mais furiosos quando os tribunais se opuseram às suas tentativas de restringir as atividades de pregação do Reino. Mais tarde, porém, um sacerdote jesuíta da Eslovênia se tornou o Ministro do Interior. Um de seus primeiros decretos foi dissolver a Lighthouse Society e, em agosto de 1936, a obra foi oficialmente proscrita. As autoridades fecharam os Salões do Reino e confiscaram todas as publicações. Felizmente, as congregações já haviam sido avisadas e as autoridades encontraram pouca coisa para confiscar. Para que a obra continuasse, uma pequena editora com o nome Kula stražara (A Sentinela) foi aberta em Belgrado, e as reuniões continuaram a ser realizadas em casas particulares.

Com a proscrição oficial, o governo aumentou a pressão para impedir a obra de pregação. Os ministros de tempo integral tornaram-se o alvo principal, sendo especialmente difícil para os irmãos que falavam alemão. Muitos desses pioneiros haviam se mudado para a Iugoslávia por causa da proscrição em outros países europeus, e agora a obra de pregação também estava proscrita na Iugoslávia. Embora os pioneiros fossem presos e encarcerados, seu zelo era inquebrantável. “Às vezes, era difícil receber visitas na prisão, mas Jeová nunca nos abandonou”, disse uma irmã. “Certa vez, quando um irmão foi nos visitar e não recebeu permissão de nos ver, ele falou tão alto com o administrador do presídio que nós pudemos ouvi-lo de nossas celas. Só ouvir a sua voz já nos encorajou muito.”

Durante esse período de incertezas, foi preciso muita coragem para traduzir e distribuir o folheto Judge Rutherford Uncovers Fifth Column (O Juiz Rutherford Expõe a Quinta Coluna), que expunha o papel da Igreja Católica em apoiar as causas políticas do governo nazista. O folheto foi traduzido para o sérvio, o croata e o esloveno, e foram impressos 20 mil exemplares em cada um desses idiomas. Sua distribuição foi proibida desde o início, o que resultou na expulsão dos pioneiros estrangeiros e na acusação do procurador do Estado, que pedia de 10 a 15 anos de prisão para os editores do folheto. Apesar dos riscos, os poucos publicadores na Iugoslávia distribuíram os 60 mil exemplares rapidamente.

“As pessoas naquela época estavam famintas da verdade bíblica e gostavam de ler”, diz Lina Babić, que aprendeu a verdade perto do fim da Segunda Guerra Mundial e teve bastante contato com irmãos fiéis. Ela diz: “Visto que sempre tínhamos de ser cautelosos, resolvi copiar as publicações à mão no meu caderno. Dessa forma, se fizessem uma busca, isso daria a impressão de que a matéria era simplesmente anotações pessoais.”

A ESCOLHA ENTRE TOLSTOI E JEOVÁ

Ao mesmo tempo em que o mundo estava prestes a entrar em guerra, acontecia uma divisão em uma das maiores congregações na Iugoslávia. Alguns começaram a defender os pensamentos e as opiniões do escritor e filósofo religioso russo, Leon Tolstoi. Anteriormente, Tolstoi havia sido membro da Igreja Ortodoxa Russa, mas ficou convencido de que todas as igrejas cristãs eram instituições corruptas que haviam deturpado o cristianismo por completo. Alguns irmãos começaram a desconfiar de todas as organizações religiosas e ficaram descontentes com a organização de Jeová. Um irmão que tomava a dianteira na Congregação Zagreb se aproveitou da confiança que desfrutava e conseguiu convencer a maioria dos publicadores a aceitar os ensinos de Tolstoi. A influência desse irmão era tão forte que a maioria da congregação, mais de 60 membros, adotou uma resolução de abandonar a organização de Jeová.

Quando Rudolf Kalle soube disso, viajou às pressas de Belgrado para Zagreb a fim de falar com todos da congregação. Analisou com eles as verdades bíblicas básicas que Jeová havia revelado por meio da classe do escravo fiel e discreto. (Mat. 24:45-47) Daí, ele perguntou: “Quem ensinou essas verdades a vocês? Tolstoi ou a organização de Jeová?” Citando Josué 24:15, Rudolf pediu que aqueles que desejassem permanecer na organização de Jeová levantassem a mão. Apenas dois fizeram isso.

“A dor foi indescritível”, disse Rudolf.

Parecia que todas as coisas boas que a congregação havia conseguido realizar estavam prestes a ser perdidas.

Então, Rudolf convidou os dois irmãos fiéis para subir no palco, e disse: “Sobrou apenas três. Agora nós representamos o povo de Jeová nesta cidade. Peço a todos os outros que saiam e sigam o caminho que escolheram. Por favor, nos deixem em paz! Queremos servir nosso Deus, Jeová, e vocês podem ir e servir a Tolstoi. Não queremos mais nos associar com vocês.”

Por alguns segundos, houve completo silêncio. Então, um após outro começou a erguer a mão, dizendo: “Eu também quero servir a Jeová.” No fim, apenas o servo de congregação apóstata e uns poucos de seus seguidores saíram do local. Esse teste de lealdade fortaleceu os servos fiéis de Jeová para provas de fé maiores que viriam em breve.

PROVAÇÕES DA GUERRA

No dia 6 de abril de 1941, o exército alemão invadiu a Iugoslávia. A sede sofreu danos por causa dos fortes ataques aéreos lançados sobre Belgrado. A Iugoslávia foi dividida pelas tropas alemãs. Por um tempo, a guerra prejudicou a comunicação entre os irmãos do Betel da Sérvia e os irmãos da Eslovênia, Croácia e Macedônia. Os irmãos no extremo sul da Macedônia foram ainda mais prejudicados, pois só conseguiram contatar novamente a sede depois da guerra.

De repente, os irmãos se confrontaram com circunstâncias novas e desafiadoras. Visto que o mundo inteiro estava envolvido num conflito internacional, nossos queridos irmãos tiveram de suportar uma época de provas e peneiração severas. A fé que tinham em Jeová e seu amor por ele e por Sua organização seriam provados.

O Escritório em Belgrado foi fechado, e a distribuição de alimento espiritual passou a ser organizada em Zagreb, Croácia. Discrição e sigilo eram vitais, visto que multas e detenções foram substituídas por campos de concentração e sentenças de morte.

Os campos de concentração foram estabelecidos quando as tropas alemãs ocuparam e dividiram a Iugoslávia. Na Croácia, esses campos eram usados para isolar e assassinar pessoas de diversas etnias e minorias não-católicas bem como quaisquer opositores religiosos do regime. Na Sérvia, as tropas nazistas estabeleceram campos de concentração e de trabalhos forçados. Por causa de sua posição neutra, mais de 150 irmãos da Hungria foram presos num campo localizado em Bor, Sérvia. Na Iugoslávia, as Testemunhas de Jeová também se tornaram alvos do regime nazista. Por isso, a obra de pregação passou a ser feita principalmente por meio do testemunho informal. Os publicadores foram avisados de que deviam carregar só a Bíblia e uma publicação, e receberam instruções sobre o que falar caso fossem presos. Eles se reuniam em pequenos grupos e não sabiam onde as outras reuniões estavam sendo realizadas.

Visto que era difícil conseguir que as publicações entrassem em segurança no país, elas eram produzidas secretamente. Os irmãos trabalhavam a noite toda em diversos locais para imprimir e montar revistas e folhetos. Eles também trabalhavam muito para conseguir o dinheiro necessário para as operações gráficas. Usando vários contatos comerciais, os irmãos sempre conseguiam os itens necessários para a impressão. Ao passo que o preconceito nacionalista e religioso se intensificava dentro das fronteiras da Iugoslávia, nossos irmãos estavam unidos, e eles juntavam seus recursos financeiros pessoais para prover o alimento espiritual que salva vidas. Como transportariam esse material para grupos de publicadores isolados em seu território?

Stevan Stanković, que era ferroviário e tinha ascendência sérvia, estava disposto a ajudar seus irmãos independentemente de sua origem. Apesar do perigo, Stevan aceitou a tarefa de levar secretamente as publicações da Croácia para a Sérvia, que estava ocupada por militares. Um dia, a polícia encontrou publicações numa mala que ele carregava. Insistiram em saber de onde vinham as publicações. Sendo leal aos seus irmãos, Stevan se recusou a dar informações. A polícia o levou à delegacia para interrogá-lo e então o transferiu para um campo de concentração que ficava perto, em Jasenovac. Nosso fiel irmão foi morto nesse campo, que era conhecido pelo tratamento cruel dado aos prisioneiros.

Durante aqueles tempos turbulentos, Mihovil Balković, um irmão discreto e criativo, trabalhava como encanador na Croácia. Além do seu trabalho secular, ele visitava os irmãos para os encorajar e entregar publicações. “Certa vez”, relata o seu neto, “ele soube que o trem onde estava viajando seria revistado na próxima cidade. Então, ele desceu na parada antes da que havia planejado. Embora grande parte da cidade estivesse cercada de arame farpado, ele encontrou uma saída no meio de um vinhedo. Colocou as publicações no fundo de sua mochila e em cima pôs duas garrafas de rakija (conhaque feito em casa) e alguns mantimentos. Ele estava andando com cuidado pelo vinhedo quando passou perto de um abrigo subterrâneo. De repente, um soldado gritou: ‘Pare aí! Quem é você?’ Quando ele se aproximou, um dos soldados perguntou: ‘O que você tem nessa mochila?’

“‘Um pouco de farinha, feijão e batata’, respondeu ele.

“Quando perguntaram o que tinha nas garrafas, ele disse: ‘Cheire e experimente.’

“Quando o soldado experimentou, Mihovil disse: ‘Essa garrafa é para você, meu filho, e a outra é para mim.’

“Satisfeitos com a resposta e com a rakija, os soldados disseram: ‘Velho, você pode ir!’

“Dessa forma”, conclui o neto de Mihovil, “as publicações foram entregues em segurança”.

Sem dúvida, Mihovil foi corajoso. Em suas viagens, ele passava por regiões controladas pelos dois lados inimigos na guerra. Às vezes, Mihovil ficava frente a frente com soldados partisans e, em outras ocasiões, ele encontrava soldados da Ustaša fascista * ou soldados Četnik. Em vez de se intimidar, ele usava essas oportunidades para dar testemunho e explicar a esperança que a Bíblia apresenta para o futuro. Era preciso muita coragem para fazer isso, pois a vida de quem era Testemunha de Jeová estava sempre em perigo. Diversas vezes ele foi preso, interrogado e encarcerado.

Perto do fim da guerra, na noite de 9 de novembro de 1944, os partisans invadiram a casa de Mihovil, confiscaram suas publicações e o levaram embora. Infelizmente, ele nunca mais voltou. Mais tarde, soube-se que ele havia sido decapitado.

Josip Sabo era apenas um menino quando entregava, de bicicleta, publicações na Eslavônia, região da Croácia. No bagageiro, ele montou uma caixa para colocar as publicações, que depois cobria com peras frescas. Naquela época, as entradas de quase todos os povoados tinham barricadas e eram vigiadas.

“O que você tem na caixa?”, os guardas perguntavam a Josip em cada posto.

“Peras para o meu tio”, respondia ele, e os soldados pegavam uma ou duas peras. Ao se aproximar de seu destino, havia menos peras para cobrir as publicações. Assim, Josip pegava um caminho pouco usado para proteger as suas últimas peras e as preciosas publicações escondidas debaixo delas.

FIÉIS ATÉ O FIM

Lestan Fabijan, um pedreiro de Zagreb, falou sobre a verdade com Ivan Sever, Franjo Dreven e Filip Huzek-Gumbazir. Todos foram batizados em menos de seis meses e começaram a pregar e a realizar as reuniões. Na noite de 15 de janeiro de 1943, uma patrulha militar foi à casa de Ivan Sever para prendê-lo, bem como a Franjo Dreven e outro irmão, Filip Ilić. Eles revistaram a casa, confiscaram todas as publicações e levaram os irmãos embora.

Lestan soube das prisões, e então ele e Filip Huzek-Gumbazir foram consolar a mãe e a irmã de Franjo. Mas os partisans ficaram sabendo de sua visita e prenderam Lestan e Filip. Os cinco irmãos explicaram com base na Bíblia que serviam apenas a Jeová e mostraram que eram soldados de Cristo. Por se recusarem a pegar em armas e a lutar na guerra, foram sentenciados à morte. Daí, eles foram presos.

Certa noite, os cinco irmãos foram acordados, despidos e levados para a mata. No caminho, receberam mais uma chance de mudar de idéia. Os soldados tentaram quebrantar a determinação dos irmãos apelando para o amor que sentiam pela família. Eles falaram da esposa grávida de Filip Huzek-Gumbazir e de seus quatro filhos. Filip respondeu que tinha certeza absoluta de que Jeová cuidaria deles. Franjo Dreven não tinha esposa nem filhos, então lhe perguntaram quem cuidaria de sua mãe e de sua irmã.

Ao chegarem no local indicado, os soldados mandaram os irmãos ficar em pé no frio do inverno. Então, as execuções começaram. Primeiro, atiraram em Filip Huzek-Gumbazir. A seguir, os soldados esperaram um pouco e perguntaram se os outros queriam mudar de idéia. No entanto, os irmãos estavam determinados. Assim, os soldados executaram Franjo, depois Ivan e então Lestan. Por fim, Filip Ilić, o único sobrevivente, transigiu e concordou em se juntar aos soldados. No entanto, três meses mais tarde, ele voltou para casa por causa de uma doença e relatou o que havia acontecido. Filip havia salvado sua vida por transigir, mas acabou morrendo em resultado de sua doença.

Na Eslovênia, muitos de nossos irmãos foram perseguidos. Por exemplo, Franc Drozg, um ferreiro de 38 anos, se recusou a pegar em armas. Por causa disso, soldados nazistas o executaram em Maribor no dia 8 de junho de 1942. Alguns que estavam ali disseram que uma placa com os dizeres “eu não sou deste mundo” foi pendurada em seu pescoço antes de ele ser fuzilado. (João 17:14) Sua forte fé fica evidente na carta que ele escreveu minutos antes de sua execução: “Prezado Amigo! Rupert, hoje fui sentenciado à morte. Não chore por mim. Envio o meu amor a você e a todos na casa. Vejo você no Reino de Deus.”

As autoridades eram implacáveis nos seus esforços de impedir a obra de pregação, mas Jeová provou que era um Deus de salvação. Por exemplo, muitas vezes a polícia fazia batidas e colocava os moradores de certa área em fila para verificar seus documentos de identificação. Todos os que pareciam suspeitos eram levados à prisão. Nesse meio-tempo, outro policial revistava as casas e os apartamentos. Os irmãos muitas vezes viam o cuidado protetor de Jeová quando a polícia passava por alto suas casas, sem dúvida achando que elas já haviam sido revistadas. Pelo menos em duas ocasiões, os irmãos tinham em seus apartamentos muitas publicações, bem como mimeógrafos. Diversas vezes, os que pregavam naquela época perigosa puderam testemunhar a veracidade da afirmação bíblica de que “Jeová é mui terno em afeição e é compassivo”. — Tia. 5:11, nota.

SENTENCIADOS À MORTE

A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, pondo fim a um dos piores períodos de derramamento de sangue na história da humanidade. Com a derrota de Hitler e de seus aliados, os irmãos esperavam que as restrições fossem revogadas e que a liberdade de pregação fosse restaurada. Havia razão para otimismo, pois o recém-estabelecido governo comunista prometia liberdade de imprensa, de expressão e de adoração.

No entanto, em setembro de 1946, 3 irmãs e 15 irmãos foram presos. Entre eles estavam Rudolf Kalle, Dušan Mikić e Edmund Stropnik. As investigações duraram cinco meses. As autoridades acusavam as Testemunhas de Jeová de agir contra o povo e o Estado, colocando em risco a própria existência da Iugoslávia. Eles alegavam que nosso trabalho era dirigido pelos Estados Unidos e que estávamos usando a proclamação do Reino de Deus como fachada para destruir o socialismo e restabelecer o capitalismo. Um padre católico liderou a oposição por acusar nossos irmãos de serem espiões americanos que usavam a religião como disfarce.

No tribunal, os irmãos acusados falaram com coragem em defesa própria e deram um bom testemunho a favor de Jeová e de Seu Reino. Vjekoslav Kos, um jovem irmão, disse: “Sábios juízes, aprendi essa religião, os ensinamentos bíblicos, com minha mãe, e eu adoro a Deus. Durante o período de ocupação alemã, minha mãe foi presa. Duas de minhas irmãs e meu irmão tinham a mesma crença dela. Eles foram considerados comunistas por causa da maneira que adoravam a Deus e foram levados para Dachau sendo, por fim, fuzilados ali. Por causa dessa mesma religião, eu agora sou acusado perante este tribunal de ser fascista.” O tribunal o libertou.

Eles não foram tão tolerantes assim com os outros irmãos. Três dos acusados foram sentenciados à morte por fuzilamento e os outros receberam sentenças de 1 a 15 anos de prisão. Mas essa injustiça provocou uma reação rápida e intensa de protesto por parte de nossa fraternidade mundial. Testemunhas de Jeová nos Estados Unidos, no Canadá, nas ilhas Britânicas e na Europa escreveram milhares de cartas de protesto ao governo da Iugoslávia. Também enviaram centenas de cabogramas. Até mesmo algumas autoridades governamentais escreveram a favor de nossos irmãos. Esse forte apoio resultou em as sentenças de morte serem mudadas para 20 anos de prisão.

No entanto, a oposição não terminou. Dois anos mais tarde, autoridades eslovenas prenderam Janez Robas e sua esposa, Marija, junto com outros companheiros de adoração como Jože Marolt e Frančiška Verbec, por estarem pregando. A acusação dizia em parte: “A ‘seita jeovita’ . . . recrutou novos membros que foram instigados contra o nosso sistema social vigente [e] contra o serviço militar.” Alegando que os irmãos estavam tentando enfraquecer a defesa do país, as autoridades os sentenciaram a penas de três a seis anos de prisão e a trabalhos forçados.

Em 1952, por causa de uma mudança política, todos os prisioneiros que eram Testemunhas de Jeová foram soltos, e a mensagem do Reino continuou a ser pregada. A promessa de Jeová mostrou-se veraz: “Nenhuma arma que se forjar contra ti será bem sucedida, e condenarás toda e qualquer língua que se levantar contra ti em julgamento.” — Isa. 54:17.

Apesar disso, o governo continuava tentando enfraquecer a convicção de nossos irmãos. Os noticiários os rotulavam de “doentes mentais” e de “fanáticos que beiram a loucura”. A repetição dessas notícias negativas e o medo constante de estar sendo vigiados começaram a perturbar alguns irmãos. Quando Testemunhas de Jeová fiéis eram libertadas da prisão, alguns na congregação as encaravam como espiões. No entanto, Jeová continuou a fortalecer as congregações por meio de irmãos maduros e leais.

Quando Josip Broz Tito assumiu o poder no final da Segunda Guerra Mundial, ficou claro que os militares teriam um papel importante na Iugoslávia. Os que se recusavam a prestar serviço militar, independentemente da razão, eram considerados opositores do governo.

TESTES DE LEALDADE

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando Ladislav Foro, da Croácia, tinha 9 anos, ele estava presente a uma reunião que todas as pessoas da cidade tinham sido obrigadas a ir. Ali um padre católico proferiu um sermão. Após o sermão, Ladislav, por curiosidade, olhou atrás da cortina do palco e viu quando o padre tirou suas vestes sacerdotais. Por baixo, ele vestia o uniforme da Ustaša com uma cartucheira na cintura onde havia uma granada. Pegando seu sabre, o padre montou num cavalo que estava do lado de fora e gritou: “Irmãos, vamos cristianizar! Se alguém discordar, vocês sabem o que fazer.”

Ladislav sabia que não era assim que um homem de Deus devia agir. Pouco depois disso, ele começou a assistir às reuniões secretas das Testemunhas de Jeová com o seu tio. Embora seus pais tenham ficado bravos com isso, Ladislav continuou assistindo às reuniões e fez bom progresso espiritual.

Em 1952, quando foi recrutado para prestar serviço militar, Ladislav deixou claro sua posição a favor da neutralidade cristã. As autoridades o interrogaram muitas vezes na tentativa de forçá-lo a prestar o juramento para a entrada no exército. Em uma ocasião, eles o levaram para o quartel onde 12 mil recrutas estavam reunidos a fim de prestar o juramento. Os soldados colocaram Ladislav na frente de todos eles e puseram um rifle sobre os seus ombros. Ele imediatamente jogou o rifle no chão. Usando um alto-falante para que todos pudessem ouvir, os soldados disseram que, se Ladislav fizesse isso de novo, ele seria fuzilado. Quando ele se recusou pela segunda vez a segurar o rifle, os soldados o levaram para fora e o jogaram numa cratera profunda feita por uma bomba. A ordem de execução foi dada; um soldado atirou duas vezes dentro da cratera e os homens voltaram para o quartel. No entanto, as balas não atingiram nosso irmão.

Naquela noite, os soldados tiraram Ladislav da cratera e o levaram para a prisão em Sarajevo. Deram uma carta para ele ler que dizia que outros de sua fé haviam transigido e estavam livres ao passo que ele estava apodrecendo na prisão com criminosos. Repetidas vezes, os soldados o pressionaram usando longos argumentos desse tipo. Mas Ladislav raciocinou: ‘Comecei a servir Jeová por causa de uma pessoa específica? Não! Estou aqui para agradar a homens? Não! Minha vida depende do que outros possam dizer, pensar ou fazer? Não!’

Esse raciocínio espiritual ajudou Ladislav a permanecer fiel na prisão até ser libertado quatro anos e meio mais tarde. Com o tempo, ele serviu como superintendente de circuito com o apoio de sua dedicada esposa e companheira de adoração, Anica.

RECONHECIMENTO LEGAL LIMITADO

Após romper com a União Soviética em 1948, Tito reorganizou o governo e gradualmente concedeu mais liberdade ao povo. Embora o governo ainda fosse socialista, havia mais tolerância com a religião.

O governo convidou representantes das Testemunhas de Jeová para um encontro e sugeriu que redigissem um documento em que declarassem os seus direitos e responsabilidades. Isso possibilitaria que as Testemunhas de Jeová legalizassem sua obra. Os irmãos fizeram isso, e em 9 de setembro de 1953 as Testemunhas de Jeová estavam de novo legalmente registradas na Iugoslávia.

Ao passo que outros países comunistas deportavam nossos irmãos, as Testemunhas de Jeová na Iugoslávia tinham liberdade de se reunir em determinados salões. Isso deu oportunidade para que nossos irmãos na Macedônia recebessem publicações e entrassem em contato com o escritório em Zagreb. Apesar de as Testemunhas de Jeová terem sido legalmente registradas como religião em 1953, ainda tiveram de esperar mais 38 anos para poder pregar legalmente de casa em casa.

Os problemas continuaram. Por causa da neutralidade de nossos irmãos, as autoridades encaravam a obra de pregação como uma forma de propaganda. A rede de polícia secreta do país e seus muitos informantes tornaram a obra de pregação muito desafiadora. Os irmãos podiam ser presos e multados se fossem pegos pregando. Um relatório disse: “Prisões e processos continuam. Isso acontece em especial na Eslovênia, onde a influência católica é mais forte e muitos dos servos de Jeová estão sob constante vigilância da polícia e de seus agentes, que têm o objetivo de pegá-los estudando a Palavra de Deus. Mas os irmãos têm-se mostrado determinados a derrotar o objetivo da perseguição por obedecer a Deus antes que aos homens.”

“CAUTELOSOS COMO AS SERPENTES”

Ao pregarem em áreas rurais da Eslovênia, primeiro os irmãos perguntavam aos donos das casas se eles tinham ovos para vender. Para não levantar suspeitas, se o preço era bom, os publicadores compravam os ovos. Quando já haviam comprado bastante ovos, eles perguntavam aos próximos moradores se tinham lenha para vender. Caso achassem sensato, durante a negociação, eles mudavam o rumo da conversa para a Bíblia. — Mat. 10:16.

Nas áreas vizinhas a Zagreb, Croácia, os irmãos trabalhavam sistematicamente o território, mas de uma forma que evitava serem descobertos. Uma estratégia era visitar uma em cada dez casas. Por exemplo, se fossem designados para trabalhar na primeira casa, os publicadores visitariam as casas 1, 11, 21, 31, e assim por diante. Por meio desses esforços, muitos conheceram a Jeová. No entanto, em vista dos desafios que o ministério de porta em porta apresentava, o testemunho informal era o método de pregação mais utilizado.

Na Sérvia, os irmãos se reuniam em lares particulares. Damir Porobić nos conta como, depois da Segunda Guerra Mundial, as reuniões eram realizadas na casa de sua avó. “De cinco a dez pessoas assistiam às reuniões ali”, explica ele. “A casa de minha avó era ideal porque tinha entrada por duas ruas. Isso tornava possível que todos entrassem e saíssem discretamente sem levantar suspeitas.”

Veronika Babić nasceu na Croácia, e sua família começou a estudar a Bíblia nos meados dos anos 50. Depois de seu batismo em 1957, ela se mudou com seu marido para Sarajevo, Bósnia. Milica Radišić, da região eslavônia da Croácia, foi batizada em 1950. Sua família também se mudou para a Bósnia. Juntas, essas famílias começaram a divulgar as verdades do Reino na Bósnia. Assim como em outras partes da Iugoslávia, eles tinham de pregar com cautela. “As pessoas nos denunciavam à polícia”, diz Veronika, “e nossas publicações eram confiscadas. Éramos presos, interrogados, ameaçados de prisão e multados. Mas nada disso nos desanimava ou nos amedrontava. Pelo contrário, só aumentava nossa fé em Jeová”.

Milica relembra: “Um dia, um homem foi ao Salão do Reino e mostrou interesse na verdade. Ele foi bem recebido e até ficou por um tempo na casa dos irmãos. Ele dava muitos comentários nas reuniões. Mas então nossa filha o viu tendo uma reunião com a polícia secreta no local onde ela trabalhava. Daí, nos demos conta de que ele era um espião da polícia. Visto que seu envolvimento com a polícia foi descoberto, ele parou de ir às reuniões.”

PRIMEIROS SALÕES DO REINO

Antes de se obter o registro do governo, era ilegal as Testemunhas de Jeová se reunir em casas particulares e, quando faziam isso, corriam o risco de serem presas. No entanto, mesmo após terem obtido permissão para se reunir livremente era difícil encontrar locais adequados para as reuniões, porque muitas pessoas não gostavam das Testemunhas de Jeová e se recusavam a alugar seus imóveis para elas. Por isso, os irmãos decidiram comprar propriedades para poder se reunir.

Logo encontraram uma oficina no centro de Zagreb, Croácia. Eles transformaram o local num lindo Salão do Reino com 160 lugares e ainda construíram ali um pequeno escritório para a impressão de publicações. Esse Salão do Reino também era usado para assembléias e congressos e, em 1957, foi realizado ali o primeiro congresso, que contou com a presença de Testemunhas de Jeová de todas as partes da Iugoslávia. Alguns anos mais tarde, os irmãos compraram uma casa no centro de Zagreb, na Rua Kamaufova, que foi usada pela família de Betel até 1998.

Em 1957, os irmãos compraram uma propriedade em Belgrado, Sérvia, que foi usada como Salão do Reino e também como escritório de Betel. Depois disso, eles compraram um estábulo em Liubliana, Eslovênia, que foi transformado em Salão do Reino. Em 1963, transformaram uma garagem em Sarajevo em um salão, que foi usado pela primeira congregação da Bósnia-Herzegovina. Algumas dessas estruturas precisavam de muita reforma, mas os irmãos deram generosamente de si mesmos e de seus recursos, e Jeová abençoou os seus esforços.

MELHOR ORGANIZAÇÃO IMPULSIONA O CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Em 1960, foram designados superintendentes viajantes para ajudar e encorajar as congregações. Alguns irmãos foram convidados a servir como superintendentes de circuito “de fim de semana”. Esses irmãos usavam de bom grado os seus dias de folga do trabalho para viajar e encorajar os irmãos e promover a união no início da obra.

“Por cerca de um ano, eu servi como superintendente viajante de fim de semana com minha esposa”, relembra Henrik Kovačić, membro da Comissão de Filial na Croácia, “e mais tarde como superintendente viajante por tempo integral. Os irmãos eram muito pobres, e muitas vezes ficávamos em lugares sem água encanada ou vaso sanitário com descarga. Mas eles apreciavam muito as nossas visitas e mostravam extraordinário amor e hospitalidade. Geralmente, nos deixavam dormir em suas camas e nos providenciavam refeições, embora eles mesmos tivessem muito pouco. Em algumas congregações, para não sermos um fardo, ficávamos cada noite numa casa diferente”.

Šandor Palfi, que agora serve na Comissão do País na Sérvia, diz: “Servir como viajante de fim de semana foi uma experiência maravilhosa, embora não tenha sido nada fácil. Os irmãos esperavam ansiosamente a nossa chegada. Eram pobres, mas faziam tudo o que podiam para nos dar o seu melhor. Para eles, a visita do superintendente de circuito era uma ocasião muito especial.”

Ao mesmo tempo que servia como superintendente de circuito, Miloš Knežević também supervisionava o trabalho realizado no escritório da sede na Iugoslávia. Durante as décadas do regime comunista, o irmão Knežević teve um papel importante em ajudar a resolver muitas acusações legais contra nossos irmãos.

PROGRESSO ANIMADOR NA MACEDÔNIA

Em 1968, um jovem de Kočani, Macedônia, estava estudando numa faculdade em Zagreb quando conheceu a verdade. Ao voltar para casa, ele falou sobre as boas novas com seus parentes e amigos.

“Aquele jovem era meu primo”, relembra Stojan Bogatinov, a primeira pessoa de Kočani a ser batizada. “Eu era garçom e, às vezes, meus colegas de trabalho e eu conversávamos sobre religião. Após uma de nossas conversas, um membro da Igreja Ortodoxa entrou para comer no restaurante. Enquanto o servia, lhe perguntei se ele podia me conseguir uma Bíblia de sua igreja, pois eu realmente queria aprender sobre Deus. Ele disse que tentaria me trazer uma. Logo eu tinha o meu próprio exemplar do ‘Novo Testamento’. Eu estava tão feliz que depois de sair do trabalho corri para casa para começar a lê-lo.

“No caminho, fiquei surpreso ao ver meu primo, que havia voltado de Zagreb. Ele me convidou para ir à sua casa, mas eu lhe disse que não podia ir porque estava muito ansioso para começar a ler minha Bíblia. ‘Eu tenho algo que vai interessar a você’, disse meu primo. ‘Em casa eu tenho livros que vão ajudá-lo a entender a Bíblia.’ Fomos até sua casa e fiquei feliz de ver que ele tinha a Bíblia completa, algumas brochuras e algumas revistas A Sentinela em croata. Ele me deu as publicações, e comecei a lê-las imediatamente. Notei logo que estava lendo algo especial. Não conhecia nenhuma Testemunha de Jeová, mas eu queria conhecê-las.

“Quando meu primo voltou para Zagreb, eu fui com ele. Lá, um senhor chamado Ivica Pavlaković, que era Testemunha de Jeová e muito hospitaleiro, me convidou para ir a sua casa, onde fiquei por três dias. Durante esses dias, lhe fiz muitas perguntas e ele sempre respondia usando a Bíblia, o que me impressionou muito. Eu assisti a uma reunião congregacional e fiquei encorajado pela calorosa fraternidade.

“Ivica me levou ao Betel em Zagreb, de onde saí com o coração feliz e as mãos cheias de publicações. Depois de alguns dias inesquecíveis, voltei para Kočani levando o tesouro espiritual que tinha encontrado. Não havia Testemunhas de Jeová perto de minha casa, então comecei a me corresponder regularmente com Ivica. Minhas cartas eram cheias de perguntas, e ele me escrevia de volta com as respostas. Conforme eu ia aprendendo mais, falava sobre isso com minha esposa e com meus filhos, que começaram a mostrar interesse. Logo, nós éramos uma família unida na verdade, e aprendemos muito sobre a Bíblia. Estávamos felizes e começamos a falar zelosamente sobre as boas novas com nossos parentes e amigos, e muitos nos ouviram. Mas, com a pregação, veio a perseguição.”

UNIÃO NA ALEMANHA

Embora nossos irmãos na Iugoslávia não estivessem tão isolados como aqueles que moravam em outros países comunistas, eles eram poucos e desejavam muito sentir o amor da fraternidade mundial. Assim, quando souberam que a Assembléia Internacional “Paz na Terra” seria realizada em 1969, eles pediram ao governo permissão para sair do país a fim de assistir à assembléia. Imagine a sua alegria quando conseguiram isso!

A assembléia foi realizada no grande estádio de Nuremberg, na Alemanha, onde Hitler, que ameaçou exterminar as Testemunhas de Jeová, desfilou com suas tropas apenas algumas décadas antes. O programa foi apresentado em muitas línguas, e os congressistas iugoslavos ficaram emocionados de saber que seriam realizadas sessões em sua língua numa área arborizada próxima ao estádio principal. Um grande palco dividia o campo de esportes. Assim, metade dos congressistas sentados de um lado ouviu o programa em servo-croata, ao passo que a outra metade sentada do outro lado ouviu o programa em esloveno. Aquele evento de oito dias aprofundou muito o conhecimento e a fé de nossos irmãos.

Trens e ônibus de todas as partes da Iugoslávia foram contratados a fim de levar os congressistas para a Alemanha. “Emocionados por estarmos unidos com nossos irmãos”, conta um irmão que viajou da Croácia, “orgulhosamente colocamos cartazes nas janelas de nosso trem anunciando o congresso”.

Os irmãos ficaram muito felizes de ver e ouvir Nathan Knorr e Frederick Franz, da sede mundial. Um congressista relata: “Mal conseguimos conter nosso entusiasmo quando eles foram para o lado do estádio em que nós estávamos a fim de nos cumprimentar.” As bênçãos que os irmãos iugoslavos receberam compensaram em muito todos os sacrifícios que tiveram de fazer para estar presentes. “Gastei o equivalente a dois meses de salário para ir a assembléia”, diz Milosija Simić, que viajou da Sérvia, “e foi difícil conseguir dez dias de licença do trabalho. Não tinha certeza se ainda teria emprego quando voltasse, mas eu estava determinada a ir. Foi incrível! Até hoje, 40 anos depois, ainda choro de alegria quando me lembro daquele evento”. Depois de estarem reunidos com co-adoradores de todas as partes da Iugoslávia usufruindo a união de nossa fraternidade mundial, os irmãos voltaram para casa fortalecidos para enfrentar os desafios que estavam à frente.

PIONEIROS LOCAIS SUPREM A NECESSIDADE

Os pioneiros alemães que haviam chegado no início dos anos 30 se esforçaram arduamente para divulgar as boas novas. Então, com o aumento de publicadores, mais irmãos iugoslavos iniciaram o serviço de pioneiro. A Eslovênia, por exemplo, estava pronta para enviar pioneiros experientes a partes mais distantes da Iugoslávia, onde a necessidade era maior. Esses pioneiros enfrentaram com coragem o desafio de aprender novos idiomas e culturas.

Jolanda Kocjančič se lembra: “Fui para Priština, a maior cidade de Kosovo, onde se fala albanês e sérvio. Embora minha companheira de pregação, Minka Karlovšek, e eu não falássemos nenhuma dessas línguas, decidimos começar a pregar, e foi assim que nós aprendemos. Na primeira casa, falamos com o filho mais velho de uma viúva, que era de origem tcheca. Começamos nossa apresentação em esloveno, misturada com algumas expressões sérvias, dizendo: ‘Gostaríamos de falar com a sua família sobre as boas novas da Bíblia.’

“‘Entrem’, respondeu ele, ‘minha mãe está esperando vocês’.

“Quando entramos, sua mãe, Ružica, veio correndo ao nosso encontro. Ela explicou que 14 dias antes havia orado a Jeová pedindo-lhe que enviasse alguém para que a ensinasse a respeito dele. Sua irmã, uma Testemunha de Jeová que morava onde hoje é a República Tcheca, havia lhe sugerido repetidas vezes que orasse a Jeová pedindo ajuda. Ružica estava convencida de que nossa visita era a resposta à sua oração. Assim, ao passo que Ružica nos ensinava sérvio, nós lhe ensinávamos as verdades bíblicas. Havia alguns estudantes aos quais ela alugava quartos, e eles participavam dos estudos bíblicos. Um deles nos deu um dicionário albanês que nos ajudou a aprender esse idioma.”

Em Montenegro, Zoran Lalović era apenas um rapaz quando recebeu uma Bíblia de um pioneiro de Zagreb, Croácia. Cinco anos mais tarde, em 1980, um pioneiro especial chegou da Sérvia e estudou com ele. “Foi difícil cortar a amizade com meus amigos de discoteca”, diz Zoran, “mas quando finalmente eu consegui fazer isso, progredi rápido e fui batizado alguns meses mais tarde em Belgrado, Sérvia. Logo depois de meu batismo, fui designado para proferir o discurso público, visto que havia poucos irmãos disponíveis. Também começamos a dirigir todas as reuniões na cidade de Podgorica”.

BATISMOS NOS ARROZAIS

“Quando as pessoas estavam prontas para o batismo, eu as batizava”, relata Stojan Bogatinov, da Macedônia. “Não tínhamos banheira e o rio local era pequeno demais. No entanto, em nossa região havia muitos arrozais com canais de abastecimento de água. Alguns eram limpos e fundos o suficiente para o batismo. Eu me lembro do primeiro batismo num arrozal. Quando estávamos indo em direção aos canais passando pelos arrozais, alguém gritou para mim: ‘Stojan, você conseguiu novos trabalhadores!’

“‘Sim, sim’, respondi, ‘há muito trabalho’. Ele não tinha idéia de que éramos trabalhadores da colheita espiritual que estava em andamento na Macedônia.”

Os irmãos na Macedônia tinham pouco contato com a sede, e ainda havia muito que aprender sobre procedimentos teocráticos. Stojan Stojmilov começou a assistir às reuniões na Alemanha e, quando voltou para a Macedônia, ficou feliz de encontrar Testemunhas de Jeová em Kočani. Ele relata: “Quando cheguei e disse aos irmãos como as reuniões eram realizadas na Alemanha, eles imediatamente me pediram para dirigir o Estudo de A Sentinela e para proferir um discurso público. Expliquei-lhes que ainda não era batizado, mas eles insistiram afirmando que eu era a pessoa mais qualificada. Então, concordei em fazer o que me pediram. Com o tempo, eu e minha esposa progredimos e também fomos batizados nos arrozais.”

Veselin Iliev, que agora serve como ancião em Kočani, explica: “Tínhamos pouco conhecimento sobre organização teocrática, mas tínhamos muito amor pela verdade.” Com o tempo, Jeová providenciou que os assuntos fossem resolvidos. Uma coisa é certa: a impressão de mais publicações em macedônio contribuiu muito para o progresso da verdade do Reino e fortaleceu as congregações.

USO DISCRETO DE MAIS LIBERDADE

Visto que a Iugoslávia não estava sob o controle da Rússia, as pessoas ali desfrutavam uma liberdade que não era possível atrás da Cortina de Ferro. No fim da década de 60, a Iugoslávia se tornou o primeiro país comunista a abolir os vistos de entrada e a diminuir o controle de fronteiras. Com mais liberdade para viajar, nossos irmãos no norte da Iugoslávia aceitaram a responsabilidade de levar publicações aos países que ficavam na fronteira da União Soviética, onde a obra de pregação ainda estava proscrita.

Primeiro, eles traziam as publicações da Alemanha para a Iugoslávia em furgões. Ðuro Landić, que serve na Comissão de Filial da Croácia, se lembra de que até a queda da União Soviética, sua casa era um depósito de publicações. Ele diz: “Os carros de nossa família tinham um fundo falso e compartimentos secretos nos painéis. Sabíamos que, se fôssemos apanhados, podíamos perder nossos carros bem como ir para a prisão, mas a alegria de nossos irmãos quando recebiam as publicações fazia tudo valer a pena.”

A irmã Milosija Simić, que levava as publicações da Sérvia para a Bulgária, conta: “Eu nunca sabia para quem ia entregar as publicações — apenas me davam um endereço. Certa vez, desci do ônibus e encontrei a casa, mas não havia ninguém ali. Dei uma volta no quarteirão, voltei por outro caminho e tentei novamente. Ninguém tinha chegado na casa ainda. Fiz isso umas dez vezes durante o dia todo, de forma discreta para não levantar suspeitas. Mas não encontrei ninguém. Isso mostrou ser uma verdadeira bênção, pois mais tarde fiquei sabendo que aquele não era o endereço certo.

“Estava então diante de um dilema. Visto que eu tinha tido tanto trabalho para copiar e datilografar as publicações, não podia simplesmente jogá-las fora. Então, decidi levá-las de volta à Sérvia, onde seriam bem usadas. Mas, embora eu tivesse comprado uma passagem de ida e volta, ainda precisava pegar outro ônibus de volta à estação onde faria baldeação. Geralmente, quando eu entregava as publicações, os irmãos me davam o dinheiro para comprar a passagem. Fazíamos isso porque havia uma restrição na quantia de dinheiro que eu podia levar para o país. Aproximei-me da bilheteria e orei para que uma mulher estivesse trabalhando no guichê. Assim que cheguei, o homem da cabine saiu e uma mulher ficou em seu lugar. Em troca da passagem, eu lhe ofereci as roupas que havíamos usado para embrulhar as publicações. Ela aceitou, e consegui minha passagem.”

No começo da década de 80, os irmãos traduziam as publicações para o albanês e o macedônio e enviavam as cópias escritas à mão para o pequeno escritório em Belgrado. Lá, Milosija usava uma máquina de escrever e papel-carbono para produzir oito cópias de cada vez. Era uma tarefa desafiadora porque o material estava escrito à mão e ela não conhecia bem o idioma.

JOVENS TOMAM UMA POSIÇÃO FIRME

Embora oficialmente tivéssemos liberdade de religião, o governo encarava nossa neutralidade como uma ameaça para a união da Iugoslávia. Por essa razão, os irmãos enfrentaram oposição. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos permaneceram fiéis até a morte por causa de sua neutralidade. Mas durante as três décadas que se seguiram, nem todos demonstraram a mesma fé forte. Alguns assistiam às reuniões congregacionais e apoiavam a obra do Reino, mas quando eram convocados para o serviço militar procuravam justificativas para sua participação.

Os jovens que se mantiveram neutros enfrentaram sentenças de prisão de até dez anos. Além disso, eles podiam ser sentenciados várias vezes antes de completar 30 anos. Alguns que enfrentaram esses testes de integridade e se recusaram a transigir eram bem novos na verdade. Muitos deles são agora irmãos responsáveis que tomam a dianteira nas congregações.

UM CONGRESSO INTERNACIONAL EMOCIONANTE

As Testemunhas de Jeová na Iugoslávia ainda não haviam tido a alegria de realizar um congresso internacional. Imagine como ficaram emocionados quando, em 1991, o Corpo Governante anunciou que um dos congressos internacionais “Amantes da Liberdade” seria realizado em Zagreb, Croácia!

Mas surgiram problemas. Desde que a Croácia tinha declarado sua independência da Iugoslávia, havia no ar uma ameaça de guerra. Seria sábio realizar um congresso? A segurança tanto dos congressistas internacionais como a dos locais era de máxima importância. Após muita oração e análise dos fatos, os irmãos decidiram ir em frente com os preparativos para o congresso.

Theodore Jaracz, membro do Corpo Governante, foi para a Croácia algumas semanas antes do congresso a fim de ajudar na sua organização. Visto que todos os outros eventos públicos em Zagreb haviam sido cancelados, o interesse das pessoas estava voltado para o que aconteceria no Estádio Dinamo. Ao passo que o dia do congresso se aproximava, a situação no país continuava a se desestabilizar. Cada dia, nossos irmãos consideravam os riscos e se perguntavam vez após vez se os preparativos deviam continuar ou se o congresso devia ser cancelado. Os irmãos oravam a Jeová sem cessar pedindo sua orientação. Surpreendentemente, a situação política se estabilizou, e eles puderam realizar o congresso nos dias 16 a 18 de agosto de 1991.

O contraste era enorme. Ao passo que os países vizinhos estavam prestes a se envolver numa guerra violenta, as Testemunhas de Jeová na Croácia davam boas-vindas aos convidados ao congresso internacional “Amantes da Liberdade Divina”. * Enquanto muitos cidadãos locais fugiam do país, irmãos de 15 países se reuniam em amor e liberdade. Grandes grupos dos Estados Unidos, do Canadá e de outros países ocidentais chegavam de avião. Por causa da situação militar, o aeroporto em Zagreb foi fechado e os aviões tinham de aterrissar em Liubliana, Eslovênia. De lá, os congressistas viajavam de ônibus para Zagreb. A coragem dos irmãos visitantes foi um bom testemunho para a população, e a sua presença foi uma fonte inestimável de encorajamento para os irmãos locais. O maior grupo — cerca de 3 mil congressistas — tinha vindo da Itália. Parecia que seu carinho e entusiasmo contagiavam todos no congresso. — 1 Tes. 5:19.

O que fortaleceu muito a fé dos irmãos foi ter recebido a visita de cinco membros do Corpo Governante. Até hoje, muitos se lembram com carinho dos discursos de Carey Barber, Lloyd Barry, Milton Henschel, Theodore Jaracz e Lyman Swingle. Sem se deixar abater pelas dificuldades da época, esses homens, com muitos anos de experiência, entraram corajosamente no país para fortalecer os irmãos com seus discursos edificantes.

Por causa da instabilidade política, as autoridades temiam que ocorressem conflitos étnicos entre os congressistas vindos de diferentes partes da Iugoslávia. Como ficaram aliviados ao vê-los não só reunidos em paz, mas também demonstrando calorosa afeição fraternal. A cada dia, o número de policiais presentes diminuía.

Esse congresso memorável mostrou que as Testemunhas de Jeová são uma verdadeira fraternidade mundial. Refletir nisso ajudou os irmãos a manter a união durante as provas que ainda enfrentariam. Os ônibus que levavam os congressistas sérvios e macedônios para casa estavam entre os últimos veículos que receberam permissão de passar pelo posto de controle na fronteira entre a Croácia e a Sérvia. Após os irmãos terem passado a fronteira em segurança, ela foi fechada. Muitos dizem que foi nessa hora que a guerra começou.

Nos meses e anos que se seguiram, as repúblicas que antes formavam a Iugoslávia continuaram a se dissolver e a formar países independentes, tendo seus próprios governos. Essa revolta custou a vida de dezenas de milhares de pessoas e causou um sofrimento indescritível. O que aconteceria com nossos irmãos durante esse período de desordem? Como Jeová tem abençoado a obra de pregação do Reino realizada agora nesses países independentes? Vejamos.

História moderna da Bósnia-Herzegovina

“Em 16 de maio de 1992, uns 13 de nós estávamos juntinhos num apartamento enquanto bombas enchiam Sarajevo de estilhaços. Duas bombas atingiram o prédio onde havíamos nos ajuntado em busca de segurança. Embora fôssemos de formação croata, sérvia e bósnia — os mesmos grupos que se matavam do lado de fora — estávamos unidos na adoração pura. Ao amanhecer, quando caíam menos bombas, abandonamos o apartamento para procurar um lugar mais seguro. Como havíamos feito na noite anterior, oramos a Jeová em voz alta, e ele nos ouviu.” — Halim Curi.

Sarajevo, que tinha uma população de mais de 400 mil pessoas, estava passando por um dos sítios mais longos e mais desesperadores da história moderna. Como nossos irmãos espirituais lidariam com as lutas étnicas e religiosas que assolavam o país? Antes de contarmos sua história, vamos conhecer um pouco mais sobre a Bósnia-Herzegovina.

O país conhecido como Bósnia-Herzegovina fica no centro da ex-Iugoslávia, cercado pela Croácia, pela Sérvia e por Montenegro. Os vínculos culturais e familiares são fortes, e dá-se muita ênfase à hospitalidade. Tomar café turco na casa de um vizinho e passar algum tempo nas kafići (cafeterias) são passatempos comuns. Embora as pessoas sejam fisicamente parecidas, a população da Bósnia é composta de bósnios, sérvios e croatas. Muitos não se consideram fervorosos em sentido religioso, mas é a religião que divide as pessoas. Os bósnios, na sua maioria, são muçulmanos, ao passo que os sérvios pertencem à Igreja Ortodoxa Sérvia e os croatas à Igreja Católica Romana.

A intolerância religiosa e o ódio étnico aumentaram assustadoramente no começo da década de 90, o que resultou na lastimável política chamada de limpeza étnica. Os exércitos avançavam e expulsavam civis de suas casas — tanto em pequenos povoados como em grandes cidades — a fim de criar áreas etnicamente puras para seus próprios grupos religiosos. Isso resultou em testes de neutralidade para nossos irmãos e irmãs. Na Bósnia, como em outros países da ex-Iugoslávia, a maioria das pessoas pertence à religião dos pais, e o nome de família muitas vezes identifica a formação religiosa da família. Quando pessoas sinceras se tornam servos de Jeová, elas podem ser encaradas como traidoras da família e de sua tradição. Mesmo assim, nossos irmãos aprenderam que a lealdade a Jeová serve de proteção.

UMA CIDADE SITIADA

Como já vimos, os irmãos iugoslavos ficaram muito comovidos com a união e o amor demonstrados no congresso “Amantes da Liberdade Divina”, de 1991, realizado em Zagreb, Croácia. Esse congresso inesquecível os fortaleceu para as provas que viriam. Bósnios, sérvios e croatas viviam juntos em paz em Sarajevo. Mas de um momento para o outro, um exército cercou a cidade e todos ficaram sem saída — incluindo nossos irmãos. Embora a situação política fosse turbulenta, ninguém imaginava que o conflito duraria o tanto que durou.

“As pessoas estão passando fome”, relatou Halim Curi, um ancião em Sarajevo. “Cada mês elas recebem apenas poucos gramas de farinha, cem gramas de açúcar e meio litro de óleo. Qualquer terreno disponível na cidade é usado para plantar legumes. As pessoas derrubam as árvores de Sarajevo para usar como lenha. Quando não há mais árvores, elas arrancam o assoalho de seus apartamentos e o usam como combustível para cozinhar e para aquecimento. Usam tudo o que dá para queimar, até sapatos velhos.”

Quando Sarajevo foi sitiada, Ljiljana Ninković e seu marido, Nenad, ficaram isolados e separados de suas duas filhas. “Éramos uma família normal com duas filhas, um apartamento e um carro”, diz Ljiljana. “E então, de repente, tudo mudou.”

Mas muitas vezes eles sentiram a mão protetora de Jeová. “Nosso apartamento foi bombardeado duas vezes momentos depois de termos saído de casa”, continua Ljiljana. “Apesar das dificuldades, coisas simples nos davam alegria. Por exemplo, para não comermos só arroz branco, ficávamos contentes de ir até o parque pegar folhas de dente-de-leão para fazer salada. Aprendemos a ficar satisfeitos e a dar valor a tudo o que tínhamos.”

ENCONTRAMOS PROVISÕES FÍSICAS E ESPIRITUAIS

Um dos maiores problemas era conseguir água. Quase não havia água encanada nas casas. Para pegar água, as pessoas tinham de andar até cinco quilômetros por áreas que estavam na mira de atiradores. Depois de chegar no local, elas precisavam ficar horas na fila esperando para encher suas vasilhas, e daí fazer a difícil caminhada de volta.

“Passamos por um teste quando ouvimos dizer que haveria água nas casas por um curto período”, relata Halim. “Então, todo mundo tinha de tomar banho, lavar roupa, pegar e guardar água em quantas vasilhas fosse possível. Mas e se esse momento tão esperado coincidisse com o horário de nossa reunião congregacional? Tínhamos de decidir — ou íamos à reunião ou ficávamos em casa para pegar água.”

Embora as provisões físicas fossem necessárias, os irmãos reconheciam a importância das provisões espirituais. Nas reuniões, eles não só recebiam alimento espiritual como também informações sobre quem estava preso, quem havia se ferido, ou até quem havia morrido. “Éramos como uma família”, diz Milutin Pajić, que serve como ancião congregacional. “Quando nos reuníamos para assistir às reuniões, ninguém queria ir embora. Depois de quase toda reunião, ficávamos horas conversando sobre a verdade.”

A vida não era fácil, e os irmãos muitas vezes temiam por sua vida. Mesmo assim, eles colocavam os interesses espirituais em primeiro lugar. Enquanto a guerra assolava o país, os servos de Jeová se achegavam mais uns aos outros e ao seu Pai celestial. Os filhos observavam a lealdade de seus pais e cultivavam a sua própria lealdade inabalável a Jeová.

A cidade de Bihać, perto da fronteira com a Croácia, ficou isolada por quase quatro anos. As pessoas de lá não tinham como sair, e a ajuda humanitária não tinha como entrar. “Foi mais complicado no começo da guerra”, relata Osman Šaćirbegović, o único irmão nessa cidade, “não tanto por causa da situação difícil, mas porque estávamos lidando com algo novo, algo que nunca havíamos visto. Por incrível que pareça, a tensão diminuiu quando o bombardeio começou, porque logo percebemos que nem toda granada resulta em morte. Algumas nem explodem”.

Visto que ninguém podia imaginar quanto tempo o conflito duraria, os lares de Betel em Zagreb, na Croácia e em Viena, na Áustria, tomaram medidas para armazenar itens de ajuda humanitária em Salões do Reino e nas casas dos irmãos em Sarajevo, Zenica, Tuzla, Mostar, Travnik e Bihać. Ao passo que o conflito continuava, as cidades logo ficaram cercadas e isoladas. Com as linhas de abastecimento interrompidas inesperadamente, as provisões logo se esgotavam. No entanto, embora várias cidades da Bósnia estivessem isoladas do resto do mundo, a união fraternal das Testemunhas de Jeová continuava inquebrantável. Isso era um nítido contraste com as chamas do ódio étnico e religioso que se espalhavam pelo país.

ZELOSOS, MAS CAUTELOSOS

Além do desafio de conseguir as necessidades diárias, havia o perigo de atiradores posicionados por toda a Sarajevo, atirando a esmo em civis. Os ataques de morteiros continuavam a despejar morte do céu. Às vezes era perigoso andar pelas cidades sitiadas. As pessoas viviam com medo. Mas equilibrando sabedoria com coragem, nossos irmãos não deixaram de divulgar as boas novas do Reino às pessoas que precisavam muito de consolo.

“Durante um dos ataques mais violentos em Sarajevo”, relata um ancião, “milhares de bombas explodiram em apenas um dia. Naquele sábado de manhã, os irmãos telefonaram para os anciãos e perguntaram: ‘Onde vai ser a reunião para o serviço de campo?’”

“Eu notava que as pessoas precisavam muito da verdade”, diz uma irmã. “Foi exatamente isso que me ajudou a não apenas perseverar, mas a ter alegria sob circunstâncias difíceis.”

Muitos moradores locais perceberam que precisavam da esperança bíblica. Um irmão disse: “Em vez de nós procurarmos as pessoas, elas é que nos procuram para obter ajuda espiritual. Elas simplesmente aparecem no Salão do Reino e pedem um estudo.”

Grande parte do êxito da obra de pregação durante a guerra foi por causa da união de nossa fraternidade cristã, que as pessoas não puderam deixar de notar. “Foi um excelente testemunho”, relata Nada Bešker, uma irmã que serve como pioneira especial por muitos anos. “Muitos viam os irmãos bósnios e sérvios trabalhando juntos no ministério. E quando viram uma irmã croata e uma irmã que antes era muçulmana estudando juntas com um sérvio, eles simplesmente tiveram de reconhecer que éramos diferentes.”

Até hoje é possível ver os resultados do zelo de nossos irmãos, porque muitos dos que atualmente servem a Jeová aceitaram a verdade durante a guerra. Por exemplo, a congregação em Banja Luka dobrou em número, apesar de cem publicadores terem se mudado para outras congregações.

UMA FAMÍLIA FIEL

Nossos irmãos sempre foram muito cautelosos. Mesmo assim, o “tempo e a ocorrência imprevisível” sobrevieram a alguns, por estarem inevitavelmente no lugar errado na hora errada. (Ecl. 9:11, nota) Božo Ðorem, de formação sérvia, foi batizado no congresso internacional em Zagreb em 1991. Depois de voltar a Sarajevo, ele foi enviado à prisão várias vezes, onde foi maltratado por causa de sua posição neutra. Em 1994, foi sentenciado a um ano e dois meses de prisão. A sua maior dificuldade era não poder estar com sua esposa, Hena, e com sua filha de cinco anos, Magdalena.

Pouco depois de Božo ser libertado da prisão, aconteceu uma tragédia. Numa tarde tranqüila, os três foram dirigir um estudo bíblico perto de casa. No caminho, o silêncio foi repentinamente quebrado pela explosão de uma bomba. Hena e Magdalena morreram na hora, e Božo morreu mais tarde no hospital.

NEUTRALIDADE CRISTÃ

No fervor do preconceito havia pouca tolerância, se é que havia alguma, para com a neutralidade. Em Banja Luka, a congregação era composta principalmente de irmãos jovens que as forças armadas queriam usar na guerra. Eles foram espancados por se manterem neutros.

“A polícia”, lembra-se Osman Šaćirbegović, “muitas vezes nos interrogava e nos chamava de covardes por não defendermos nossa família”.

Osman raciocinava com os policiais da seguinte forma: “Sua arma serve de proteção para vocês, certo?”

“Certo”, respondiam eles.

“Vocês a trocariam por um canhão para receber mais proteção?”

“Sim.”

“Vocês trocariam um canhão por um tanque?”

“Claro.”

“Vocês fariam tudo isso para receber mais proteção”, dizia Osman. “Minha proteção vem de Jeová, o Deus todo-poderoso, Criador do Universo. Que proteção melhor do que essa eu poderia ter?” O ponto ficava claro e os policiais o deixavam em paz.

CHEGA AJUDA HUMANITÁRIA

Embora os irmãos nos países vizinhos soubessem que as Testemunhas de Jeová bósnias estavam sofrendo, por algum tempo não foi possível levar ajuda humanitária para os irmãos necessitados. Mas, em outubro de 1993, as autoridades indicaram a possibilidade de fazer isso. Apesar dos perigos envolvidos, nossos irmãos decidiram aproveitar essa oportunidade. No dia 26 de outubro, cinco caminhões carregados com 16 toneladas de alimentos e lenha partiram de Viena, Áustria, para a Bósnia. Mas como o comboio passaria pelas muitas regiões onde o combate ainda era intenso? *

Durante a viagem, houve ocasiões em que os irmãos ficaram expostos a graves perigos. “Eu havia me atrasado aquela manhã”, relembra um dos motoristas, “e acabei ficando atrás de vários caminhões que entregavam ajuda humanitária. Ao me aproximar de um dos postos de controle, todos os caminhões pararam enquanto as autoridades examinavam a documentação. De repente, ouvi o barulho de um tiro e notamos que um motorista que não era Testemunha de Jeová havia sido baleado por um franco-atirador”.

Apenas os motoristas com seus caminhões tinham permissão de entrar em Sarajevo, por isso os outros irmãos que os acompanhavam tinham de esperar fora da cidade. Ainda determinados a encorajar os irmãos locais, eles encontraram um telefone, ligaram para os publicadores em Sarajevo e proferiram um discurso público encorajador muito necessário. Muitas vezes, durante a guerra, superintendentes viajantes, betelitas e membros da Comissão do País arriscaram a vida para ajudar seus irmãos a sobreviver em sentido físico e espiritual.

Por quase quatro anos, nossos irmãos em Bihać não puderam receber suprimentos. Embora alimento físico não passasse pelas barricadas que isolavam a cidade, nossos irmãos puderam receber algum alimento espiritual. De que maneira? Eles tiveram acesso a uma linha telefônica e um fax, que possibilitou que recebessem periodicamente o Nosso Ministério do Reino e exemplares de A Sentinela. Eles copiavam todas as publicações e davam um exemplar para cada família. Quando a guerra começou, havia apenas um pequeno grupo de três publicadores batizados. Além desses, 12 publicadores não-batizados ficaram dois anos esperando ansiosamente até terem uma oportunidade de simbolizar sua dedicação a Jeová pelo batismo em água.

Ficar isolado por tantos anos foi um desafio. “Meus estudantes da Bíblia nunca assistiram a um congresso nem tiveram a visita de um superintendente de circuito”, relata Osman. “Era comum conversarmos sobre o tempo em que teríamos condições de nos associar com nossos irmãos.”

Imagine a alegria dos irmãos quando, no dia 11 de agosto de 1995, dois veículos identificados abertamente com os dizeres “Testemunhas de Jeová — Ajuda Humanitária”, chegaram em Bihać. Esses foram os primeiros veículos particulares a entregar ajuda humanitária desde que a cidade havia sido sitiada! E eles chegaram exatamente quando os irmãos achavam que estavam quase no limite — em sentido físico e mental.

Os vizinhos em Bihać percebiam como os irmãos se preocupavam uns com os outros, por exemplo, consertando janelas quebradas. “Isso impressionou meus vizinhos”, diz Osman, “porque eles sabiam que não tínhamos dinheiro. Foi um grande testemunho. Até hoje eles falam sobre isso”. Bihać tem agora uma congregação zelosa com  34 publicadores e 5 pioneiros.

UMA VIAGEM PARA SER LEMBRADA

Nossos irmãos arriscaram a vida repetidas vezes para levar alimento e publicações até as cidades dilaceradas pela guerra na Bósnia. Mas a viagem feita no dia 7 de junho de 1994 seria diferente. Um comboio de três caminhões com membros da Comissão do País e outros trabalhadores partiu naquela manhã de Zagreb, Croácia. O objetivo deles era entregar suprimentos e realizar um programa reduzido do dia de assembléia especial, o primeiro em três anos!

Um dos locais para esse programa especial foi a cidade de Tuzla. Quando a guerra começou, havia apenas uns 20 publicadores batizados na congregação. Que surpresa foi ver mais de 200 pessoas reunidas para assistir à assembléia! Trinta foram batizadas. Hoje, há em Tuzla três congregações e mais de 300 publicadores.

Em Zenica, os irmãos conseguiram um local de reunião apropriado, mas tiveram dificuldades para encontrar uma piscina para o batismo. Finalmente, depois de muita procura, eles conseguiram um barril que podia ser usado para isso. O único problema era o mau cheiro — o barril tinha sido usado para guardar peixes! Mas os candidatos ao batismo, que tinham aceitado o convite de Jesus de ser “pescadores de homens”, não se deixaram levar por isso. (Mat. 4:19) Herbert Frenzel, atualmente membro da Comissão de Filial da Croácia, fez o discurso de batismo. Ele disse: “Os candidatos tinham esperado tanto tempo para ser batizados que nada podia impedi-los! Depois do batismo, eles se sentiram vitoriosos!” Hoje Zenica tem uma zelosa congregação de 68 publicadores.

Em Sarajevo a assembléia só podia ser realizada perto de um cruzamento de rodovias que era metralhado por franco-atiradores. Assim que os irmãos chegaram a salvo na assembléia, eles se depararam com o dilema de encontrar não só um lugar para o batismo, mas também os meios para conservar a preciosa água. Para ter certeza de que haveria água suficiente para todos os candidatos se batizar, eles foram colocados em fila e batizados por ordem de tamanho, do menor ao maior.

Aquele dia foi maravilhoso para os nossos irmãos! Eles não permitiram que os acontecimentos terríveis à sua volta ofuscassem a incontida alegria que tinham de adorar juntos. Sarajevo tem atualmente três prósperas congregações.

DEPOIS DA GUERRA

À medida que as linhas de abastecimento foram se normalizando, a vida, em certos aspectos, ficou um pouco mais fácil para nossos irmãos. Mas a limpeza étnica com suas expulsões forçadas continuou. Ivica Arabadžić, um ancião na Croácia, se lembra de ter sido obrigado a sair de sua casa em Banja Luka. “Um homem entrou carregando uma arma e nos mandou embora, dizendo que aquela casa agora era sua. Ele tinha sido obrigado a deixar sua casa em Šibenik, Croácia, porque era sérvio. Agora ele queria que nós fôssemos embora. Um policial militar com quem eu estudava a Bíblia veio nos ajudar. Apesar de não ter sido possível ficar com a casa, pudemos fazer uma troca — nossa casa pela casa do sérvio. Foi difícil deixar nossa casa e a congregação que tinha nos ajudado a aprender a verdade, mas não tínhamos escolha. Levando pouquíssimos itens, nos mudamos para a nossa ‘nova’ casa na Croácia. Mas quando chegamos em Šibenik, alguém já tinha se mudado para a casa vazia que então pertencia a nós. O que faríamos? Nossos irmãos nos acolheram imediatamente, e um ancião permitiu que morássemos em sua casa por um ano até que nosso problema de moradia fosse resolvido.”

Até hoje existe instabilidade política na Bósnia-Herzegovina, mas a verdade está progredindo nesse país, onde quase 40% da população professam ser muçulmanos. Desde o fim da guerra, nossos irmãos têm construído novos Salões do Reino. Um deles em especial, em Banja Luka, é mais do que um local de reunião extremamente necessário. Ele representa uma vitória legal. Durante anos nossos irmãos tentaram conseguir permissão para construir um Salão do Reino nessa região onde a Igreja Ortodoxa Sérvia exerce forte influência. Depois que a guerra acabou, apesar de ter sido concedido reconhecimento legal aos nossos irmãos na Bósnia, eles não conseguiram permissão para construir um Salão do Reino em Banja Luka. Por fim, depois de muita oração e esforço diligente, os irmãos conseguiram a documentação necessária. Essa vitória estabeleceu um precedente legal para a construção de futuros Salões do Reino naquela parte da Bósnia-Herzegovina.

A liberdade de adoração abriu o caminho para que 32 pioneiros especiais, muitos vindos de outros países, ajudem em regiões onde há mais necessidade. Seu zelo pelo ministério e sua lealdade aos procedimentos teocráticos têm sido uma verdadeira bênção.

Sarajevo, onde pouco tempo atrás era comum nossos irmãos ficarem expostos a atiradores, agora sedia pacificamente congressos para irmãos de todas as partes da ex-Iugoslávia. Embora as guerras do século passado tenham assolado esse belo país montanhoso, o povo de Jeová se achegou ainda mais num vínculo de “afeição fraternal sem hipocrisia”. (1 Ped. 1:22) Hoje, 16 congregações com 1.163 publicadores na Bósnia-Herzegovina estão unidas em louvar o verdadeiro Deus, Jeová.

História moderna da Croácia

Depois do congresso internacional em Zagreb, em 1991, a fronteira entre a Croácia e a Sérvia foi fechada de repente. As estradas e as pontes principais de acesso foram destruídas ou bloqueadas pelo exército, e muitos congressistas do lado oriental da Croácia não puderam voltar para casa. Numa demonstração calorosa de amor fraternal, muitas Testemunhas de Jeová de outras partes do país, mesmo tendo poucos recursos, se ofereceram para hospedar esses irmãos.

Em Zagreb, ouviam-se sirenes dia e noite avisando sobre bombardeios. As pessoas corriam para abrigos, alguns ficando ali por semanas ou meses. Por causa de sua localização segura, o porão de Betel foi escolhido pelas autoridades locais para ser um abrigo antiaéreo. Isso criou excelentes oportunidades de dar testemunho, e as pessoas receberam muito mais do que o abrigo físico que buscavam. Por exemplo, um dia as sirenes tocaram e, como de costume, as pessoas correram de um bonde local para o abrigo debaixo de Betel. Todos estavam tensos, e então um ancião que servia em Betel perguntou-lhes se gostariam de assistir a uma apresentação de slides sobre o congresso internacional realizado em Zagreb alguns meses antes. Todos concordaram e mais tarde agradeceram por essa apresentação.

Em vista dos combates, ir às reuniões era um verdadeiro desafio e, infelizmente, alguns Salões do Reino foram danificados por balas ou granadas. No entanto, mais do que nunca, esses queridos irmãos apreciavam o alimento espiritual, e ‘não deixavam de se ajuntar’. (Heb. 10:25) Por exemplo, granadas impulsionadas por foguetes caíram sobre Šibenik durante seis meses impossibilitando que os irmãos se reunissem no Salão do Reino. Um dos anciãos relatou: “Morávamos fora da cidade, então nos reuníamos em minha casa para o Estudo de Livro e para o Estudo de A Sentinela. Apesar das condições ruins, não diminuímos o passo na obra de pregação. Pregávamos perto de casa e também nos povoados vizinhos. Todos sabiam que éramos Testemunhas de Jeová. Percebiam que éramos diferentes.”

AMOR FRATERNAL EM TEMPOS DE GUERRA

Muitos irmãos perderam as suas casas e buscaram refúgio com outros irmãos. As congregações prontamente fizeram de tudo para ajudar. Por exemplo, no Salão do Reino em Osijek, Croácia, os irmãos receberam com carinho uma família que havia escapado de Tuzla, Bósnia, sob circunstâncias muito difíceis. A congregação se alegrou de saber que a esposa era irmã espiritual deles.

As autoridades permitiram que a família se mudasse para uma casa, mas ela era velha e estava em péssimo estado de conservação. Quando os irmãos viram a condição deteriorada da casa, se prontificaram a ajudar. Um dos irmãos levou um fogão, outro uma janela e outros conseguiram uma porta e uma cama. Alguns levaram materiais de construção, e outros lhes deram comida e lenha. No dia seguinte, já dava para a família ocupar um cômodo da casa. No entanto, o local ainda não era adequado para abrigar a família durante o inverno. Então, a congregação fez uma lista dos itens que ainda precisavam, e diferentes publicadores contribuíram com o que podiam. Embora pobres, eles conseguiram ajuntar tudo o que precisavam — desde colheres até material para o telhado.

Ao passo que a guerra continuava, o suprimento de comida se esgotava rapidamente, e a sede se esforçava muito para cuidar das necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Em cooperação com o Corpo Governante, a sede organizou a arrecadação de roupas, sapatos, comida e suprimentos médicos. De início, a ajuda vinha principalmente de irmãos locais, mas eles próprios enfrentavam muitas dificuldades, o que limitava quanto podiam fazer. Nesse meio-tempo, irmãos da Alemanha, Áustria, Itália e Suíça contribuíram generosamente com roupas, suprimentos médicos e publicações bíblicas. Caminhões chegavam dia e noite, dirigidos por voluntários que colocavam os interesses de seus irmãos croatas acima de qualquer preocupação com sua própria segurança. Do depósito central em Zagreb, os suprimentos eram enviados para as congregações em necessidade.

Os irmãos na Croácia haviam recebido ajuda, mas como eles agora podiam ajudar os seus irmãos na Bósnia? Caminhões carregados com 16 toneladas de comida e lenha seguiram em direção à fronteira da Bósnia. Isso era perigoso, pois havia muitos relatos de operações militares clandestinas. Qualquer encontro com esses grupos significaria a perda dos suprimentos humanitários bem como a morte dos que faziam o transporte.

“Atravessamos um terreno arborizado”, relatou um irmão, “passando por um posto fiscal após outro, e às vezes por frentes de batalha. Apesar do perigo, chegamos a salvo em Travnik, Bósnia. Um soldado que soube de nossa chegada correu para a casa onde nossos irmãos estavam reunidos, gritando: ‘Seu pessoal está aqui com caminhões.’ Imagine a alegria deles! Levamos os alimentos para dentro da casa, falamos um pouquinho com os irmãos, e então tivemos de partir rapidamente. Ainda tínhamos outras entregas para fazer”.

Muitos irmãos escreveram para o Betel em Zagreb a fim de agradecer pela ajuda recebida. “Muito obrigado pelo esforço que fazem para nos enviar todo o alimento espiritual com regularidade”, escreveu uma congregação. “Obrigado também pelos suprimentos que recebemos; os irmãos realmente precisam deles. Agradecemos de coração por todos os seus esforços e preocupação amorosa.”

“Há vários irmãos que são refugiados”, dizia outra carta, “e alguns que não têm renda. Quando receberam a ajuda e viram quanta coisa havia ali, seus olhos se encheram de lágrimas. A preocupação amorosa, a generosidade e o altruísmo de seus irmãos os impressionaram e os encorajaram profundamente”.

Durante esses tempos difíceis, foram feitos esforços especiais para fornecer aos irmãos alimento espiritual que nutre a fé. Ficou claro que o espírito de Jeová realmente os ajudou a suportar essas provações traumáticas bem como a ficar cada vez mais fortes em sentido espiritual. — Tia. 1:2-4.

UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

As organizações humanitárias fizeram o que podiam para fornecer ajuda material, mas apenas as Testemunhas de Jeová providenciaram o tipo de ajuda que traz alívio duradouro. Em vez de ficarem parados esperando a guerra acabar, nossos irmãos se esforçaram ao máximo para divulgar as boas novas do Reino a outros.

Em Vukovar, perto da fronteira da Sérvia, onde ocorreram algumas das piores devastações, a maioria da população, incluindo nossos irmãos, teve de fugir da cidade. No entanto, havia uma irmã chamada Marija que permaneceu ali. Por quatro anos, os irmãos na Croácia perderam o contato com Marija, ainda assim ela continuou pregando com zelo para as poucas pessoas que continuaram na cidade. Seu zelo foi ricamente recompensado. Imagine a surpresa dos irmãos croatas ao ver um grupo de 20 pessoas de Vukovar assistindo ao congresso de distrito de 1996!

Nossa mensagem de esperança também tem o poder de mudar vidas. No início da guerra, um jovem soldado progrediu rapidamente em uma unidade de elite do exército croata. Em 1994, quando estava esperando por um trem, ele recebeu o tratado Quem Realmente Governa o Mundo?. Lendo com atenção a mensagem, ele aprendeu que o responsável pela violência cometida contra o homem é Satanás, não Jeová Deus. Essas verdades o impressionaram profundamente. Um dos motivos pelos quais ele havia resolvido ser soldado era para vingar o assassinato de sua irmã de 19 anos e de dois outros membros de sua família, que haviam sido mortos durante a guerra. Embora tivesse planejado ir até a cidade onde os assassinos moravam, o tratado o fez pensar. Começou a estudar a Bíblia e, após alguns anos de esforço para se revestir da nova personalidade, foi batizado em 1997. Por fim, ele foi ao povoado onde os assassinos de seus parentes moravam. Mas, em vez de se vingar, ele estava feliz por poder levar as boas novas do Reino de Deus a pessoas que precisavam aprender a respeito da misericórdia divina.

O zelo dos publicadores no ministério, mesmo debaixo de conflitos violentos, resultou em emocionantes crescimentos na Croácia. Desde o começo da guerra em 1991 até o final dela em 1995, o número de pioneiros cresceu 132%. Os estudos bíblicos aumentaram 63%, e o número de publicadores, 35%. De fato, os irmãos locais proclamaram com coragem a Palavra de Deus, e Jeová abençoou ricamente seus esforços.

TRABALHADORES ABNEGADOS

Pouco antes do congresso internacional de 1991, chegaram no país os primeiros missionários formados em Gileade: Daniel e Helen Nizan, do Canadá. Além disso, casais de outros países europeus que haviam aprendido a língua local foram convidados a servir na Croácia.

Um desses casais, Heinz e Elke Polach, da Áustria, eram pioneiros especiais no campo iugoslavo na Dinamarca quando foram convidados para servir na Croácia em 1991. A guerra começou na mesma época em que eles iniciavam o serviço de viajante. Seu primeiro circuito abrangia a costa da Dalmácia e partes da Bósnia. Todo esse território ficou envolvido na guerra. “Era um desafio fazermos as visitas na Bósnia durante o período de guerra”, disse Heinz. “Por causa dos perigos, não podíamos usar nosso carro, então dependíamos do sistema de ônibus local, que não era nada confiável. Não podíamos carregar muita coisa — apenas poucas malas e uma máquina de escrever.

“Tínhamos de ser criativos. Certa vez, quando estávamos viajando entre Tuzla e Zenica, soldados pararam nosso ônibus. Eles falaram que seria perigoso demais continuar a viagem. Todos no ônibus tiveram de descer. Mas sabíamos que nossos irmãos em Zenica estavam nos esperando, então começamos a ver se algumas pessoas ali podiam nos levar até lá. Por fim, um comboio de caminhões de gás, que tinha toda a papelada necessária, concordou em nos dar uma carona. Aproveitamos o tempo da viagem para testemunhar ao motorista, que era muito atencioso.

“Novamente fomos obrigados a parar por causa de combates, e tivemos de usar estradas secundárias. Essas estradas estavam em condições precárias, e a neve piorava ainda mais a situação. Tivemos de parar várias vezes para ajudar outros caminhões que estavam encalhados. Num certo ponto, ficamos sob ataque e fomos obrigados a fugir. Conseguimos chegar até Vareš, distante uns 50 quilômetros de nosso destino, e tivemos de passar a noite ali.

“O motorista dormiu no banco do caminhão, ao passo que eu e Elke tentamos nos acomodar num cantinho da cabine a fim de nos aquecer. Para mim, aquela foi a noite mais longa de minha vida. No entanto, no dia seguinte, quando finalmente chegamos a Zenica, os irmãos ficaram muito felizes de nos ver. Valeu a pena! Embora não tivessem água encanada nem eletricidade, fizeram tudo o que podiam para nos receber bem. Apesar de pobres em sentido material, eles eram espiritualmente ricos e tinham grande amor pela verdade.”

Desde a guerra, quase 50 pioneiros especiais da Áustria, Alemanha, Itália e de outros países foram designados para a Croácia. Mais tarde, a organização de Jeová providenciou ajuda adicional e encorajamento enviando mais missionários. Esses zelosos servos de tempo integral têm sido de grande ajuda tanto no serviço de campo como nas congregações.

“NÃO ACREDITO QUE CHEGUEI A VER ESTE DIA!”

Até o fim da década de 80, uma edição mensal de A Sentinela havia sido traduzida do alemão para o croata por irmãos que moravam fora de Betel. Daí, a partir de 1991, a tradução passou a ser feita por uma equipe em Betel. Com o tempo, o Corpo Governante aprovou que os tradutores começassem a trabalhar na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs. Até então, usava-se uma tradução da Bíblia de 150 anos, que continha uma linguagem antiquada e muitas expressões desconhecidas. A equipe croata tomou a dianteira no trabalho em estreita colaboração com as equipes da Sérvia e da Macedônia. Todos se beneficiaram do trabalho e das sugestões uns dos outros.

A sexta-feira, 23 de julho de 1999, é um dia que nunca será esquecido pelas Testemunhas de Jeová na Croácia, na Bósnia-Herzegovina, em Montenegro, na Sérvia e na Macedônia. Nos quatro Congressos de Distrito “A Palavra Profética de Deus”, a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs foi lançada simultaneamente em croata e sérvio, e a assistência foi informada de que a tradução em macedônio estava indo bem. Por alguns minutos, os oradores não conseguiram falar mais nada, pois os irmãos aplaudiam sem parar. Todos estavam extremamente felizes, e muitos congressistas não conseguiram conter as lágrimas de alegria. “Não acredito que cheguei a ver este dia!”, disse um ancião veterano. A Bíblia completa foi lançada nesses três idiomas em 2006.

Até 1996, uma Comissão do País, sob a supervisão da sede da Áustria, havia cuidado das atividades das Testemunhas de Jeová na Croácia e na Bósnia-Herzegovina. A partir desse ano, uma Comissão de Filial de quatro membros foi designada para supervisionar a obra de pregação nesses territórios, e as bênçãos de Jeová sobre esse arranjo têm sido evidentes.

NOVAS DEPENDÊNCIAS DA SEDE E NOVOS SALÕES DO REINO

Como em todo lugar, a família de Betel em Zagreb, Croácia, sentiu os efeitos do crescimento teocrático. O tamanho da família aumentou de 10 para cerca de 50 membros. Mas visto que o Lar de Betel havia sido projetado para apenas quatro ou cinco casais, tornou-se necessário alugar outros quartos na vizinhança.

Logo depois que a Comissão de Filial foi formada, o Corpo Governante aprovou a compra de um terreno para um novo Lar de Betel em Zagreb. Voluntários locais e servos internacionais em pouco tempo construíram dependências maravilhosas que ajudariam no progresso dos interesses do Reino nos anos à frente. As novas dependências da sede e o Salão do Reino foram dedicados no sábado, dia 23 de outubro de 1999, e também um Salão do Reino duplo no centro de Zagreb. Irmãos de 15 países estavam presentes, incluindo Gerrit Lösch, do Corpo Governante, que proferiu o discurso de dedicação. No dia seguinte, 4.886 pessoas se reuniram para um edificante programa espiritual num grande ginásio de esportes. Foi um dia inesquecível para o povo de Jeová na Croácia — alguns deles já servindo a Jeová por 50 anos ou mais durante um dos períodos mais aflitivos da história moderna!

Um amplo programa de construção de novos Salões do Reino também está em andamento. Até 1990, muitas congregações se reuniam em porões ou em apartamentos particulares. Por exemplo, durante 20 anos uma congregação em Split realizou suas reuniões numa pequena sala de uma casa particular. Embora houvesse apenas 50 cadeiras, às vezes a assistência era o dobro, o que deixava muitos de pé do lado de fora. As assembléias e os congressos eram realizados no mesmo local, com 150 pessoas ou mais na assistência. Hoje, Split tem quatro congregações que usam dois lindos Salões do Reino. Por causa do aumento de publicadores, as assembléias são realizadas numa sala de conferências de um hotel. O Departamento de Construção de Salões do Reino, supervisionado pelo Escritório Regional de Engenharia em Selters, Alemanha, continua organizando a construção de Salões do Reino práticos e atraentes.

Jovens e idosos que se colocaram à disposição para a construção de Salões do Reino realizaram um enorme trabalho. Até agora, 25 novos Salões do Reino foram construídos e 7 reformados. Isso tem contribuído para o crescimento da obra do Reino, tudo para a glória de Jeová.

A OBRA DO REINO GANHA UM NOVO IMPULSO

Quando a Croácia se tornou independente em 1991, o governo manteve as leis anteriores sobre religião até que novas leis fossem votadas. O recém-formado Estado era quase 90% católico. Por isso, o clero exercia uma grande influência no governo. No entanto, por causa do reconhecimento legal que as Testemunhas de Jeová haviam obtido antes e também pela excelente reputação de nossos irmãos, em 13 de outubro de 2003 o Ministério da Justiça declarou que as Testemunhas de Jeová eram a partir de então uma comunidade religiosa registrada na Croácia. Depois de todos os anos de dificuldades, as Testemunhas de Jeová se alegraram muito de serem reconhecidas legalmente na Croácia.

No início do anos 90, todos os países da ex-Iugoslávia participavam em apenas uma Escola de Pioneiro; agora, somente na Croácia, há várias turmas todos os anos. Em setembro de 2008, a Croácia teve a alegria de relatar 5.451 publicadores organizados em 69 congregações. E a assistência de 9.728 pessoas na Comemoração foi realmente emocionante! Tudo isso indica um maravilhoso potencial de crescimento.

Embora a intolerância religiosa seja ampla e as pressões da vida aumentem a cada dia, todos os servos de Jeová nessa região estão mais determinados do que nunca a continuar pregando as boas novas do Reino de Deus não importa o que Satanás na sua ira possa causar. (Rev. 12:12) Para a maioria das pessoas, a luta diária para ganhar o sustento se tornou a coisa mais importante na vida. Mas entre essas pessoas, há aquelas que suspiram por causa das condições moralmente deploráveis do mundo e estão cientes de sua necessidade espiritual. (Eze. 9:3, 4; Mat. 5:6) Essas pessoas estão sendo encontradas e ajudadas a adorar o único Deus verdadeiro, e a dizer: “Vinde, e subamos ao monte de Jeová, à casa do Deus de Jacó; e ele nos instruirá sobre os seus caminhos e nós andaremos nas suas veredas.” — Isa. 2:3.

História moderna da Macedônia

“Passa à Macedônia e ajuda-nos”, disse o homem que apareceu ao apóstolo Paulo numa visão no primeiro século. (Atos 16:8-10) Chegando à conclusão de que Deus os estava direcionando para declarar as boas novas do Reino de Deus nesse território não-trabalhado, Paulo e seus companheiros de pregação prontamente aceitaram o convite e logo o cristianismo prosperava ali. Como é que a Macedônia de hoje, uma região menor ao norte da antiga Macedônia, tem tido um aumento similar na adoração verdadeira?

Depois da Segunda Guerra Mundial, a Macedônia se tornou a república mais ao sul na Iugoslávia. Ela conseguiu a independência em 1991. Dois anos mais tarde, em 1993, as Testemunhas de Jeová ficaram felizes de conseguir o registro oficial nesse recém-formado Estado. Em resultado disso, foi então possível estabelecer um escritório na Macedônia sob a supervisão da Comissão de Filial da Áustria. Assim, em 1993, comprou-se uma casa na Rua Alžirska, em Skopje, e a equipe de tradução para o macedônio se mudou de Zagreb, Croácia, para esse novo Betel.

Michael e Dina Schieben vieram da Alemanha para o serviço de circuito, e Daniel e Helen Nizan, do Canadá, que serviam na Sérvia, foram transferidos para a Macedônia. Uma Comissão do País foi formada, e Betel começou a funcionar.

RESTRIÇÃO DE PUBLICAÇÕES

Embora as Testemunhas de Jeová fossem oficialmente registradas, era difícil importar publicações. De 1994 a 1998, o governo limitou a quantidade de revistas a serem importadas a uma por publicador. Em vista disso, os irmãos tinham de fazer cópias dos artigos de estudo de A Sentinela para seus estudantes da Bíblia. Os irmãos também podiam receber mais revistas pelo correio enviadas de outro país, e permitia-se que aqueles que visitavam a Macedônia trouxessem um pequeno suprimento de revistas. Por fim, depois de muitos anos de ações legais, a Suprema Corte decidiu a favor das Testemunhas de Jeová, permitindo-lhes importar quantas publicações desejassem.

Em agosto de 2000, o número de publicadores chegou a 1.024 — pela primeira vez, mais de mil relataram participação na obra de pregação. Com mais publicações sendo lançadas em macedônio e com o aumento de publicadores, a casa da Rua Alžirska ficou pequena demais para atender às necessidades da crescente famíla de Betel. No ano seguinte, foram compradas três pequenas casas vizinhas. Elas foram demolidas e construiu-se no terreno dois novos prédios. Hoje, os 34 membros da família de Betel da Macedônia trabalham e moram em três prédios bem equipados. Eles ficaram muito felizes de receber o irmão Guy Pierce, do Corpo Governante, para o programa de dedicação em 17 de maio de 2003.

CONSTRUÇÃO DE SALÕES DO REINO

Irmãos de toda a Macedônia são muito gratos pela provisão de ajuda para construção de Salões do Reino em países com recursos limitados. Uma equipe de construção de cinco irmãos foi designada para ajudar as congregações locais a construir Salões do Reino; assim, entre 2001 e 2007, nove Salões foram construídos. Essa equipe de construção multinacional tem dado um bom testemunho ao trabalhar em paz e união sem nenhum preconceito étnico. Um comerciante que visitou um Salão do Reino terminado notou a alta qualidade do trabalho e disse: “Esse prédio realmente foi construído com amor.”

Quando esse grupo estava construindo um novo Salão do Reino na cidade de Štip, um dos vizinhos duvidava que eles conseguissem terminar o salão com sucesso por causa da aparente inexperiência da jovem equipe de construção. No entanto, quando o salão ficou pronto, esse homem levou aos irmãos a planta de sua casa e lhes implorou que a construíssem para ele. Estava tão impressionado com a qualidade do trabalho que lhes ofereceu uma quantia generosa. Ele ficou espantado quando os irmãos disseram que construíam Salões do Reino não por dinheiro, mas por amor a Deus e ao próximo.

TRADUÇÃO DO NOVO MUNDO

Nesse meio-tempo, um outro grupo pequeno de mulheres e de homens dedicados estava ocupado com uma tarefa diferente — traduzir para o macedônio a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Jeová abençoou o seu trabalho árduo; em apenas cinco anos, eles traduziram a Bíblia inteira. Os congressistas ficaram muito felizes quando o irmão Gerrit Lösch, membro do Corpo Governante, fez o lançamento dessa maravilhosa tradução da Bíblia no Congresso de Distrito de 2006 “Aproxima-se o Livramento!”, em Skopje. Os aplausos foram calorosos e prolongados, e muitos não conseguiram conter as lágrimas. Alguns que pegaram seu exemplar no intervalo do almoço se sentaram imediatamente para ler essa excelente tradução da Palavra de Deus em sua língua materna.

Muitos macedônios têm um profundo respeito pela Bíblia. Orhan, por exemplo, começou a estudar a Bíblia seis anos atrás. Embora fosse analfabeto, aprendeu a ler e a escrever com a ajuda do irmão que dirigia o estudo para ele. Desde o seu batismo, há três anos, ele já leu a Bíblia seis vezes!

Por algum tempo, Orhan era a única Testemunha de Jeová na cidade de Resen. No entanto, muitos falavam bem desse homem que antes era analfabeto, e alguns pais pediam aos irmãos que estudassem com seus filhos para que eles se tornassem como Orhan. O interesse pela verdade aumentou e, com o tempo, foi estabelecido um Estudo de Livro de Congregação semanal na cidade. Uma pessoa interessada se tornou publicador não-batizado, e Orhan agora é pioneiro regular e servo ministerial.

PASSANDO À MACEDÔNIA

Em julho de 2004, um casal de pioneiros especiais da Albânia chegou na Macedônia para ajudar a pregar às pessoas de língua albanesa ali, que compõem 25% da população. Logo ficou evidente que o casal precisava de ajuda, pois eles eram os únicos publicadores para pregar a mais de meio milhão de pessoas de língua albanesa. Assim, um ano mais tarde, um outro casal da Albânia foi enviado para ajudá-los, e os quatro pioneiros especiais começaram a encorajar o pequeno grupo de sete pessoas interessadas na cidade de Kičevo, no centro da comunidade albanesa na Macedônia. Na primavera seguinte, esse pequeno grupo ficou feliz de ver 61 pessoas presentes ao discurso da Comemoração, que foi proferido em albanês e macedônio. Desde então, o grupo aumentou para 17 publicadores zelosos, com uma média de 30 pessoas ou mais na assistência às reuniões.

Para ajudar a cobrir todo o território na Macedônia, o Corpo Governante aprovou uma campanha especial de abril a julho de 2007. O objetivo era trabalhar nos territórios que não haviam sido cobertos e divulgar as boas novas à população de língua albanesa.

Mostrando seu pleno apoio a essa campanha, 337 irmãos de sete países ficaram felizes de se colocar à disposição para ajudar. Quais foram os resultados? As boas novas foram pregadas em mais de 200 territórios em toda a Macedônia — onde vivem cerca de 400 mil pessoas, sendo que a maioria delas nunca tinha ouvido a mensagem da Bíblia. Mais de 25 mil livros e brochuras e bem mais de 40 mil revistas foram distribuídos durante a campanha de quatro meses. Umas 25 mil horas foram gastas no ministério de campo, e mais de 200 estudos bíblicos foram iniciados.

“Os olhos de algumas pessoas se encheram de lágrimas quando ficaram sabendo de onde tínhamos vindo e por que os estávamos visitando”, disse um irmão. “Outros se emocionavam com o que liam na Palavra de Deus.”

Foram muitas as expressões de apreço sincero dos que participaram nessa campanha. Uma irmã escreveu: “Uma professora nos disse: ‘Que Deus os abençoe. O que vocês estão fazendo é maravilhoso. As coisas que vocês falam realmente me animam muito!’”

Um publicador disse: “É difícil deixar esse território ‘missionário’. Pudemos ver quanto as pessoas precisam da verdade, e ficamos tristes de dar adeus aos nossos estudantes da Bíblia quando chegou a hora de irmos embora.”

“Nós nos arrependemos por não ter tirado mais dias de férias”, disse um casal, “porque agora pudemos ver como a necessidade é grande”.

Resumindo os sentimentos de muitos, um publicador disse: “Não me lembro de outra ocasião tão agradável como essa em família.”

Nas montanhas perto da cidade de Tetovo, um grupo de publicadores pregou numa aldeia onde ninguém havia dado testemunho antes. Dois publicadores começaram a pregar no lado esquerdo da rua, e dois no lado direito. Depois de falar em apenas três casas, a rua inteira sabia que as Testemunhas de Jeová estavam ali. Logo, as notícias de suas visitas se espalharam por toda a aldeia, e um grande número de mulheres interessadas rodeou as irmãs. Mais à frente na estrada, um grupo de 16 homens esperava ansiosamente pelos irmãos. Os moradores logo trouxeram quatro cadeiras para os publicadores, e um homem lhes preparou um café. Os irmãos deixaram publicações com todos e, usando bem a Bíblia, começaram a falar da verdade ao grupo reunido ali.

Muitos faziam perguntas, e todos ouviam com atenção. No fim da visita, muitos aldeões não foram embora antes de dizer adeus pessoalmente aos visitantes. Mas os irmãos ficaram assustados quando viram uma senhora idosa se aproximar com sua bengala erguida. “Vou bater em vocês com isso!”, gritou ela, apontando a bengala para eles. O que os publicadores haviam feito para ofender aquela senhora? “Vocês deram um livro a todos, menos para mim!”, ela lhes disse. “Eu quero o livro grande amarelo”, ela falou apontando para o livro Histórias Bíblicas que sua vizinha havia recebido. Sem demora, os irmãos lhe deram o último exemplar que tinham.

PREGAÇÃO AOS ROMAS

Na Macedônia, há muitos romas que falam macedônio, mas cuja língua materna é um romani oral que é uma mistura de muitos dialetos romani. Segundo dados, a capital, Skopje, tem a maior concentração de romas da Europa, com uns 30 mil habitantes. Um complexo com dois Salões do Reino na região de Šuto Orizari acomoda as três congregações romani dali. Os 200 publicadores apreciam muito seu território frutífero, que tem a proporção de 1 publicador para cada 150 pessoas — um dos melhores no país. Algo que mostra o apreço dos romas é a assistência de 708 na Comemoração de 2008.

O que tem sido feito para ajudar o humilde povo roma, faminto pela verdade, a aprender sobre o propósito de Deus em sua língua materna? O esboço do discurso especial de 2007 foi traduzido para a língua romani, e um ancião de ascendência roma proferiu o discurso para uma assistência apreciativa de 506 pessoas. Publicadores de todas as formações étnicas — roma, macedônia e albanesa — ficaram extremamente felizes quando a brochura O Que Deus Requer de Nós? foi lançada em romani no congresso de distrito de 2007. Até então, os publicadores muitas vezes dirigiam os estudos bíblicos na sua língua usando publicações em macedônio. Agora, eles estão sendo muito bem-sucedidos ao usar a brochura Deus Requer em romani para tocar o coração dos romas sinceros.

Hoje, os 1.277 publicadores em 21 congregações na Macedônia trabalham arduamente para seguir o exemplo dado pelo apóstolo Paulo no primeiro século. O número de macedônios que aceitam a verdade justifica a campanha atual de ‘passar à Macedônia’.

História moderna da Sérvia

A Sérvia, no coração dos Bálcãs, é um país de várias culturas, e pessoas de muitas nacionalidades moram ali. Foi na cidade de Belgrado que se estabeleceu uma sede em 1935 para cuidar dos territórios da ex-Iugoslávia, resultando num emocionante crescimento teocrático. Nos tempos atuais, como os irmãos da Sérvia providenciaram ajuda aos países recém-formados na região?

Ao mesmo tempo em que as fronteiras dos países estavam sendo fechadas e o ódio racial e religioso se espalhava, irmãos de diversas nacionalidades trabalhavam juntos pacificamente no Escritório de Zagreb, Croácia. Por fim, com o preconceito racial e nacionalista fervilhando fora de Betel, nossos irmãos sérvios foram obrigados a partir. Em 1992, as publicações para o sérvio passaram a ser traduzidas novamente em Belgrado, Sérvia, assim como tinha sido quase 50 anos antes. Essa mudança mostrou ser sábia e oportuna.

Havia grande necessidade de ajuda humanitária na Bósnia, onde os combates eram intensos. A sede na Áustria havia organizado uma remessa de ajuda, e os irmãos na Sérvia estavam na melhor posição para entregá-la nas áreas da Bósnia controladas pelos sérvios.

Apesar de a guerra não ter se estendido para a Sérvia, seus efeitos foram sentidos ali. Um embargo econômico dificultou o recebimento de publicações da Alemanha, onde eram impressas. Quando as congregações não recebiam as revistas mais recentes, nossos irmãos simplesmente estudavam os artigos mais antigos até os números mais novos chegarem. Por fim, todos os números das revistas chegaram, e os irmãos não perderam nem sequer um.

“UM AUXÍLIO FORTIFICANTE”

O irmão Daniel Nizan, formado em Gileade, disse: “Quando chegamos na Sérvia em 1991, o país estava em grande tumulto político. Ficamos impressionados com o zelo demonstrado pelos irmãos apesar da situação crítica em sua volta. Lembro-me de que ficamos muito surpresos ao ver cerca de 50 pessoas se apresentar para serem batizadas no primeiro dia de assembléia especial a que eu e minha esposa assistimos. Isso foi muito encorajador para nós.”

O casal Nizan foi de grande ajuda no estabelecimento da sede em Belgrado. O primeiro Escritório, onde cabiam dez pessoas, ficava na Rua Milorada Mitrovića. No andar de baixo, havia também um Salão do Reino. Visto que a equipe de tradução cresceu, houve a necessidade de mais espaço. Por fim, encontrou-se uma propriedade e iniciou-se a construção. Perto do fim de 1995, a família de Betel mudou-se para o novo prédio.

Os tempos cada vez mais difíceis motivaram mais pessoas a aceitar a verdade, e como o número de publicadores aumentava, também aumentava a necessidade de supervisão amorosa. Essa necessidade foi satisfeita, em parte, pelos pioneiros especiais da Itália — servos de tempo integral abnegados e vigorosos que deram muito de si. Embora não fosse fácil aprender um novo idioma e se adaptar a uma nova cultura em tempos de guerra, eles se tornaram “um auxílio fortificante” para os nossos irmãos na Sérvia. — Col. 4:11.

Os pioneiros de outros países ajudaram de muitas maneiras, mas, o mais importante, disse Rainer Scholz, coordenador da Comissão do País na Sérvia, “é que eles tinham experiência teocrática”. Hoje, 55 congregações na Sérvia são gratas pela ajuda que recebem de 70 pioneiros especiais.

EFEITOS DOLOROSOS DA HIPERINFLAÇÃO

A Sérvia não conseguiu escapar dos efeitos econômicos dolorosos da guerra, especialmente da inflação desenfreada. “Durante os 116 dias entre outubro de 1993 e 24 de janeiro de 1994”, relata certa fonte, “a inflação cumulativa foi de 500 trilhões por cento”. Mira Blagojević, que serve em Betel desde 1982, se lembra de que tinha de levar ao supermercado uma bolsa cheia de dinheiro para comprar apenas algumas verduras.

Outra irmã, Gordana Siriški, conta que quando sua mãe recebia a aposentadoria, a quantia era equivalente ao preço de um rolo de papel higiênico. “É muito difícil entender como as pessoas conseguiram sobreviver”, disse Gordana, “quando tudo o que possuíam de repente não tinha valor. Graças à nossa fraternidade mundial, recebemos ajuda humanitária de outros países. Ao passo que as pessoas perdiam a confiança nos bancos e no governo, muitos encontravam a fé em Deus, e os irmãos se achegavam mais um ao outro”.

TRADUÇÃO DA BÍBLIA

Durante anos, as equipes de tradução na Iugoslávia trabalharam juntas num só lugar, em Zagreb, Croácia. Após a guerra, cada grupo de tradução se mudou para seu respectivo país, mas, ao mesmo tempo, mantiveram contato com a equipe de tradução em Zagreb. Isso mostrou ser especialmente útil quando a equipe sérvia começou a traduzir a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs. O objetivo era lançá-la no congresso de 1999 das Testemunhas de Jeová.

No entanto, na época em que os tradutores estavam terminando a tradução da Bíblia, o país se preparava para a guerra. Sem dúvida, o bombardeio tornaria as comunicaç̃oes telefônicas precárias, dificultando aos tradutores enviar material de Belgrado para a gráfica na Alemanha. Na terça-feira, 23 de março, com os ataques aéreos prestes a começar, os irmãos trabalharam a noite toda e conseguiram enviar os arquivos eletrônicos logo pela manhã. Poucas horas depois, começou o bombardeio e a equipe de tradução, radiante, fugiu para um abrigo. A alegria deles aumentou quando, quatro meses depois, a Bíblia foi lançada num congresso em Belgrado. Durante o bombardeio e os muitos cortes de energia elétrica, os irmãos continuaram traduzindo outras publicações. Mas muitas vezes eles tiveram de parar e correr para uma área segura. É verdade que aquela foi uma época estressante, mas todos ficaram felizes por poder participar em produzir o alimento espiritual tão necessário.

Com muito trabalho árduo e as bênçãos de Jeová, em julho de 1999 a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs em sérvio foi lançada. Os congressistas ficaram extremamente felizes e mostraram muito apreço por ter essa tradução em sua própria língua. Depois, nos congressos de 2006, a Tradução do Novo Mundo completa em sérvio foi lançada nos alfabetos cirílico e latino.

A OPOSIÇÃO RELIGIOSA SE INTENSIFICA

Visto que a Igreja Ortodoxa Sérvia é a religião predominante no país, muitas pessoas relacionam ser sérvio com ser ortodoxo. Elas acham que a pessoa não é sérvia se não pertencer à Igreja Ortodoxa. No entanto, nossa mensagem de esperança da Bíblia foi aceita por muitos durante os anos 90. Quando a guerra acabou em 1999, o número de publicadores tinha quase dobrado, alcançando o auge de 4.026.

Essa prosperidade espiritual resultou na fúria da Igreja Ortodoxa contra o povo de Jeová. Incitando o fervor nacionalista, a Igreja tentou parar nossa obra de pregação cristã. Por meio de violência direta e manipulação da lei, os opositores tentaram desmoralizar nossos irmãos. Por exemplo, ainda havia 21 de nossos irmãos na prisão por manterem a neutralidade política. Muitos foram soltos logo após a guerra, gratos porque Jeová havia fortalecido a sua fé durante todo esse período de provação.

De repente, em 9 de abril de 2001, o Ministério Federal de Assuntos Internos proibiu a importação de nossas publicações. Por quê? Afirmaram que elas teriam um impacto negativo na juventude do país. Até a Bíblia também estava nessa lista de publicações proibidas!

Por causa das notícias negativas sobre a nossa obra, apresentadas na televisão e nos jornais, às vezes alguns moradores se tornavam violentos. “Eles nos davam socos ou tapas quando pregávamos de casa em casa”, disse um pioneiro especial, e “outras vezes jogavam pedras em nós”. Além disso, alguns Salões do Reino sofreram vandalismo. Hoje nossos irmãos na Sérvia podem se reunir legalmente, embora precisem ser discretos.

Os irmãos continuam a pregar zelosamente. Eles mostram que o povo de Jeová não é preconceituoso e que tem o verdadeiro amor cristão. Em anos recentes, têm-se organizado campanhas de pregação bem-sucedidas nas quais irmãos de outros países europeus usam o seu tempo de férias para ajudar na obra em territórios não-designados na Sérvia e em Montenegro. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para alcançar os cerca de 3 milhões de pessoas que moram nessas áreas.

Hoje, o Betel de Belgrado é um complexo de três prédios situado entre jardins semelhantes a parques. Os três membros da Comissão do País supervisionam a obra na Sérvia e também em Montenegro. Com as bênçãos de Jeová sobre o seu povo nessa região, que já foi dilacerada por guerras, o nome Sérvia talvez agora nos faça lembrar do zelo e da determinação das Testemunhas de Jeová.

História moderna de Kosovo

A tensão entre as comunidades sérvia e albanesa em Kosovo nos anos 80 desencadeou uma luta intensa nos anos 90, trazendo muito sofrimento e tristeza. Essa situação deu oportunidade aos nossos irmãos de mostrar “afeição fraternal sem hipocrisia” aos seus companheiros de adoração de todas as formações étnicas. (1 Ped. 1:22) Além disso, eles têm obedecido à ordem de Cristo de ‘amar os inimigos e de orar pelos que os perseguem’. (Mat. 5:43-48) Mesmo assim, às vezes tem sido um desafio fazer isso.

“Os irmãos que eram muçulmanos nem sempre são bem recebidos pelos muçulmanos praticantes”, diz Saliu Abazi, um ex-muçulmano que fala albanês, “e nossa família acaba chegando à conclusão errada de que nós os abandonamos porque escolhemos uma nova religião. Também por causa das tensões étnicas entre albaneses e sérvios, nem sempre é fácil para ex-muçulmanos pregar aos sérvios”.

No entanto, um grupo multiétnico de 30 pessoas se reunia na casa de Saliu. “Naqueles anos”, lembra-se Saliu, “as reuniões eram realizadas em sérvio, e recebíamos nossas publicações de Belgrado. Certo dia, de repente, a polícia apareceu na minha casa. Naquela hora, os irmãos de Belgrado tinham acabado de entregar as publicações, e estávamos todos juntos. Quando disse à polícia que aqueles homens eram meus irmãos, eles não conseguiram entender como sérvios e albaneses podiam ser irmãos”. Em 1998, esse grupo de publicadores conseguiu alugar um local para ser usado como Salão do Reino na maior cidade de Kosovo, Priština.

Na primavera de 1999, tensões étnicas e o nacionalismo se intensificaram de forma assustadora. “Meu vizinho nos ameaçou dizendo que, se meu filho e eu não fôssemos à guerra, eles incendiariam nossa casa”, relata Saliu. “O clima político influenciava as pessoas de uma forma terrível. Por elas não reconhecerem o ex-governo sérvio, as leis não podiam ser executadas, e as pessoas se tornavam violentas fazendo tudo o que queriam.”

Com a piora da situação política, as condições se tornaram extremamente difíceis para os sérvios que moravam em Kosovo. Durante a guerra de 1999, milhares de sérvios e de albaneses foram forçados a fugir para países vizinhos. No entanto, naquele ambiente de extremos conflitos étnicos, Saliu arriscou sua vida abrigando seus irmãos sérvios em sua casa.

MOLDADOS PELO MODO DE PENSAR DE JEOVÁ

“O ódio entre sérvios e albaneses era intenso”, disse uma irmã. “Era algo que aprendíamos desde a infância. Mesmo depois de conhecer a verdade, esses sentimentos não eram facilmente apagados. Muitos de nós tivemos de fazer grandes mudanças para nos ajustar ao modo de pensar de Jeová. Por causa desse ódio, mesmo tendo aprendido que Jeová é amor, eu tinha a tendência de evitar uma irmã na congregação só porque ela era sérvia. No entanto, continuei estudando a Bíblia e passei a reconhecer que, ao passo que os ensinos de outras religiões dividem, a verdade da Palavra de Jeová une.” Será que o poder transformador da Palavra de Deus ajudou essa irmã a se revestir da nova personalidade cristã? Ela diz: “Hoje sou feliz em servir na mesma congregação com meus irmãos sérvios.” — Col. 3:7-11; Heb. 4:12.

A verdadeira união cristã se destaca neste mundo dividido em sentido religioso. Ao passo que o nacionalismo fazia as pessoas incendiar casas e jogar granadas, nossos irmãos estavam indo para Belgrado, na Sérvia, assistir à um congresso que seria realizado em julho de 1998. Juntos pacificamente no ônibus estavam albaneses, croatas, macedônios e romas. Dashurie Gashi, que estava indo ao congresso para ser batizada, diz: “Quando os soldados pararam o ônibus, pudemos ver o choque estampado em seus rostos. No meio de todas as tensões étnicas nesses países, estávamos ali unidos como um só povo — o povo de Jeová.”

Uma jovem descendente de romas aprendeu a verdade quando era criança com suas tias que moravam no exterior. O primeiro obstáculo que teve de superar foi o analfabetismo. Motivada por seu amor a Jeová, ela aprendeu a ler e a escrever durante os três anos em que estudou a Bíblia. O segundo obstáculo era seu avô, com quem ela morava. “Eu saía de casa às escondidas para ir às reuniões”, diz ela. Mas quando voltava, seu avô batia nela. “Sofri fisicamente por causa da verdade”, relata ela, “mas me recusei a desistir. Meditei no quanto o fiel Jó teve de sofrer. Meu amor por Jeová era forte, e eu estava determinada a não parar de estudar”. Agora ela é pioneira e dirige um estudo bíblico com duas garotas analfabetas. Embora nunca tenha ido à escola, ela é grata pela Escola do Ministério Teocrático que a treina para ensinar outros.

Adem Grajçevci era muçulmano antes de aprender a verdade na Alemanha em 1993. Daí, em 1999, ele voltou para sua terra natal, Kosovo, e assim como muitas outras Testemunhas de Jeová novatas, teve de superar o preconceito e a oposição de sua família. Adem se lembra: “Quando eu estava aprendendo a verdade, algo que me ajudou muito foi saber que Satanás é o governante do mundo e que ele está por trás de todas as atrocidades que acontecem.” O pai de Adem não ficou nada feliz com a nova fé cristã do filho e disse para ele escolher entre Jeová e a família. Adem escolheu Jeová, continuou a fazer progresso espiritual e hoje é um ancião cristão. Felizmente, com o passar dos anos, o pai de Adem se tornou menos opositor, e agora respeita mais a decisão de Adem.

O filho de Adem, Adnan, não tinha nenhum interesse em religião quando era criança. Ele se envolveu muito com artes marciais e recebeu de outros competidores o apelido de Matador. Mas ele desistiu de tudo isso quando finalmente a verdade tocou seu coração. Fez bom progresso e foi batizado. “Não muito depois de ser batizado, tive de tomar uma decisão”, disse ele. “Eu tinha um bom emprego, e estava indo bem em sentido material. Mas não estava bem espiritualmente e tinha muito pouco tempo para o ministério. Assim, decidi que era hora de fazer uma mudança e, por isso, pedi demissão do emprego.” Ele começou o serviço de pioneiro, foi designado servo ministerial e mais tarde foi convidado para cursar a primeira turma da Escola de Treinamento Ministerial na Albânia. Hoje ele é ancião e junto com sua esposa, Hedije, serve como pioneiro especial. Como ele se sente a respeito da decisão que tomou? Ele diz: “Não podia estar mais feliz. Não me arrependo nem um pouco de ter escolhido o ministério de tempo integral.”

UNIDOS NA ADORAÇÃO E INSTRUÇÃO

Atualmente, as seis congregações em Kosovo usam propriedades alugadas como Salões do Reino. Algumas congregações são pequenas, como a da cidade de Peć, que tem 28 publicadores. Visto que há poucos irmãos designados disponíveis, algumas congregações não têm discurso público toda semana. Mas eles, assim como os irmãos em Péc, se reúnem fielmente a cada semana para o Estudo de A Sentinela e para outras reuniões congregacionais.

Por anos, a Comissão do País da Sérvia supervisionou amorosamente os irmãos em Kosovo durante épocas muito difíceis. Em 2000, para suprir as necessidades dos irmãos, o Corpo Governante designou a sede da Albânia para cuidar da obra de pregação em Kosovo.

Até recentemente, a maioria das Testemunhas de Jeová em Kosovo eram sérvias e, por isso, as reuniões eram realizadas na língua sérvia. Os irmãos ali ajudavam com prazer as pessoas que falavam albanês a entender o programa. Agora a situação se inverteu. A maioria dos irmãos em Kosovo são albaneses. Com exceção de uma congregação de língua sérvia, as reuniões são realizadas em albanês, e os irmãos têm prazer em traduzir os discursos para o benefício dos irmãos sérvios. Assembléias e congressos de distrito são realizados nos dois idiomas. Por exemplo, o inteiro programa do congresso de distrito de 2008 foi apresentado em albanês e traduzido para o sérvio, e os discursos principais foram proferidos em sérvio por anciãos de Kosovo. Certo irmão disse: “Apesar do ódio fora, dentro do salão somos uma família.”

Embora a maioria dos habitantes de Kosovo sejam muçulmanos, eles respeitam a Bíblia, e muitos estão dispostos a conversar sobre religião. Os irmãos em Kosovo ficaram muito felizes com o auge de 164 publicadores em 2008. Com total confiança em Jeová, eles estão determinados a continuar trabalhando arduamente para cobrir seu território, levando as boas novas a pessoas de todas as nacionalidades.

História moderna de Montenegro

Essa pérola escondida, do Mediterrâneo, é um pequeno país encantador na costa adriática. Situado entre a Albânia, Kosovo, Sérvia e Bósnia-Herzegovina, Montenegro é um país de impressionante diversidade e incrível beleza. Ele tem cerca de 290 quilômetros de deslumbrante litoral adriático. O canyon do rio Tara é um dos mais profundos e mais longos da Europa. O lago Scutari é o maior nos Bálcãs e possui um dos maiores santuários de pássaros da Europa. E tudo isso numa área do tamanho de apenas um terço da Suíça!

Mas a história do país é marcada por guerras, conflitos e sofrimentos. Por sua vez, a luta dos montenegrinos influenciou profundamente sua tradição, forma de pensar e cultura. Uma parte fundamental de sua cultura é a admiração que eles têm por qualidades como coragem, integridade, dignidade, humildade, abnegação e respeito pelos outros. Muitos desses persistentes montenegrinos têm aceitado as boas novas do Reino e estão defendendo lealmente a verdade da Bíblia.

O CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Será que alguém que assistiu ao congresso histórico de 1991 em Zagreb, Croácia, conseguirá algum dia esquecer a união e o amor dos irmãos ali reunidos que tinham vindo de todas as partes da ex-Iugoslávia? “Com os sinais de guerra no ar, viajar de Montenegro para a Croácia era perigoso”, se lembra Savo Čeprnjić, que tinha começado a estudar a Bíblia havia pouco tempo. “Fiquei impressionado de ver tantos ônibus chegando ao congresso sem nenhum problema. Muito mais impressionante era a paz e a união entre as Testemunhas de Jeová. No primeiro dia, havia centenas de policiais, mas depois que eles viram que éramos pessoas pacíficas, apenas alguns se apresentaram para o serviço nos dias seguintes.”

Antes do início da guerra, um casal viajava regularmente da Croácia para Montenegro a fim de dirigir o estudo de Savo. Quando as fronteiras foram fechadas, como Savo continuaria seu estudo da Bíblia?

“Os interessados que estavam mais avançados no estudo tinham de ensinar os outros”, diz Savo. “Um irmão batizado estudava comigo o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra. Mas quando isso não foi mais possível, uma pessoa não-batizada continuou a me dar o estudo. Em 1992, o grupo que se reunia para o Estudo de Livro de Congregação e para o Estudo de A Sentinela na cidade de Herceg Novi havia aumentado para 15.” Savo, sua esposa e sua filha continuaram a progredir e foram batizados em 1993. Hoje, há um Salão do Reino com 25 publicadores nessa pitoresca cidade litorânea.

No início dos anos 90, um grupo de publicadores se reunia em Podgorica, a capital. O grupo continuou a crescer, e em 1997 foram feitos planos para a compra de uma propriedade onde se construiria um Salão do Reino. O terreno que os irmãos compraram tinha um muro, que eles acharam melhor deixar ali para manter a privacidade. Mas um policial que morava no porão do prédio vizinho perguntou se os irmãos podiam derrubar o muro para que ele tivesse mais luz em seu apartamento escuro. Para promover boas relações, os irmãos concordaram em derrubar o muro e substituí-lo por uma cerca. Aquela boa ação resultou numa grande bênção.

Quando outros inquilinos do prédio causaram dificuldades para os irmãos, o policial os alertou de que se atacassem o Salão do Reino, ele os processaria. Agora, os irmãos têm um lindo Salão do Reino e uma casa para pioneiros especiais, e um grande estacionamento coberto que também pode ser usado para assembléias.

Mas as coisas não saíram tão bem para os irmãos na cidade de Nikšić. Eles compraram um terreno em 1996, mas a comunidade era contra a construção de um Salão do Reino ali. Os irmãos vigiavam a obra dia e noite, temendo que os vizinhos tentassem sabotá-la. Um dia, um padre local recrutou uma multidão de 200 pessoas, que invadiu a propriedade com armas e paus. Eles dispararam para o ar e começaram a derrubar o Salão do Reino, tijolo por tijolo. A polícia ficou parada, sem fazer nada.

Quando a situação não pôde ser resolvida pacificamente, os irmãos procuraram outra propriedade. Quatro anos mais tarde eles compraram um prédio, que foi reformado e transformado em Salão do Reino. De início, parecia não haver nenhum problema com a comunidade, mas poucos meses depois o Salão do Reino foi destruído por fogo. No entanto, nossos persistentes irmãos não desistiram. Começaram a trabalhar novamente e reconstruíram o salão. Desde então, não tiveram mais problemas.

As quatro congregações em Montenegro estão sob a supervisão da Comissão do País da Sérvia. Com a proporção de 1 publicador para 2.967 habitantes, os 201 publicadores são gratos pela ajuda dos 6 pioneiros especiais. Em geral, o povo de Montenegro acredita que a religião está mais relacionada com tradições do que com a leitura da Bíblia. Mas nossos irmãos em Montenegro perseveram lealmente em pregar com coragem as boas novas.

História moderna da Eslovênia

Até obter sua independência em 1991, a Eslovênia era a parte noroeste da Iugoslávia. Depois que se tornou independente, sua economia teve um crescimento estável, e em 2004 o país passou a fazer parte da União Européia. Apesar de ser um país pequeno, a Eslovênia tem uma grande e rica diversidade de paisagens. Existem ali montanhas magníficas, lagos alpinos, florestas exuberantes, enormes cavernas de calcário e a encantadora Riviera eslovena. Em pouco mais de uma hora, uma pessoa pode descer das encostas alpinas, onde o ar é fresco e revigorante, até as temperaturas amenas dos olivais e vinhedos da costa do mar Adriático. Além disso, os lugares históricos e culturais na Eslovênia proporcionam uma infinidade de possibilidades de exploração. No entanto, a beleza desse pequeno país vai além dos parques nacionais e das cidades históricas. A Eslovênia possui uma rica herança espiritual.

SALÕES DO REINO E PIONEIROS

Sem dúvida, você se lembra de que Maribor era a cidade onde os ‘barbeiros que acreditavam na Bíblia’ pregaram sobre sua nova fé. Um restaurante, mais tarde apropriadamente chamado de Novi Svet (Novo Mundo), era um local conveniente de reunião para o pequeno grupo que se formou ali. Hoje, as Testemunhas de Jeová eslovenas são muito gratas a Jeová pelos lindos Salões do Reino onde se reúnem para adoração e instrução. Por causa do aumento de publicadores e também de condições melhores nos anos 90, formou-se uma Comissão Regional de Construção. Com a ajuda de mais de 100 voluntários e de donativos de outros países, as congregações construíram ou reformaram 14 Salões do Reino desde 1995.

Ao passo que aumentava o número de publicadores, crescia também o número de pioneiros regulares — de 10 em 1990 para 107 em 2000. Entre aqueles pioneiros zelosos estava Anica Kristan, que esteve muito envolvida na política antes de aceitar a verdade.

Irmãos que tinham vindo de outros países para servir na Eslovênia deram um grande estímulo para a obra de pregação. Em 1992, chegaram os primeiros missionários, Franco e Debbie Dagostini. Quando eles foram transferidos para a África, dois novos missionários, Daniel e Karin Friedl, da Áustria, foram designados para a Eslovênia. Mais recentemente, Geoffrey e Tonia Powell e Jochen e Michaela Fischer, missionários de Gileade, foram designados para lá. Eles, e os pioneiros especiais da Áustria, Itália e Polônia, são pessoas que têm profundo amor por Jeová e um forte desejo de ajudar outros.

COMISSÕES DE LIGAÇÃO COM HOSPITAIS

Em 1994 foi estabelecido em Betel o Serviço de Informações sobre Hospitais e duas Comissões de Ligação com Hospitais (Colihs). Alguns dos irmãos designados para essas comissões se reuniram com o ministro da saúde que, por sua vez, organizou uma reunião com os diretores de todos os hospitais na Eslovênia. Os irmãos explicaram o objetivo das Colihs e esclareceram os motivos pelos quais as Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue. Isso levou a uma boa cooperação entre os médicos e seus pacientes que não aceitam transfusões de sangue, e resultou na publicação de artigos sobre tratamentos sem sangue em revistas médicas.

Em 1995, médicos na Eslovênia realizaram a primeira cirurgia de coração aberto sem o uso de sangue. A imprensa noticiou o sucesso da operação, e o cirurgião e o anestesiologista envolvidos escreveram um artigo acadêmico sobre o assunto. Assim, a porta para a prática da medicina sem sangue estava aberta, e mais médicos estavam dispostos a respeitar a escolha de tratamento sem sangue feita pelas Testemunhas de Jeová.

CUIDAR DAS NECESSIDADES DE UM CAMPO CRESCENTE

Depois das mudanças políticas em 1991, o Corpo Governante decidiu estabelecer um escritório na Eslovênia para cuidar melhor das atividades do Reino. Comprou-se um prédio de um andar na parte central da capital da Eslovênia, Liubliana. As instalações foram reformadas, e em 1.º de julho de 1993 o prédio estava pronto para receber os betelitas. No começo, a família de Betel era composta de 10 membros, mas em menos de uma década o número aumentou para 35. Por isso, alugou-se um prédio ali perto para a instalação da cozinha, refeitório e lavanderia. Nesse meio-tempo, os betelitas se mudaram para apartamentos na vizinhança com o objetivo de liberar mais espaço para os escritórios. O escritório na Eslovênia começou a funcionar como sede das Testemunhas de Jeová em 1997.

Quando o Corpo Governante aprovou a construção de uma nova sede na Eslovênia, os irmãos começaram a procurar um terreno adequado. Depois de examinarem cerca de 40 propriedades, eles escolheram um local perto da cidade de Kamnik, localizada a cerca de 20 quilômetros da capital, no sopé de lindos picos alpinos. Logo, a papelada de zoneamento estava pronta, as autorizações de construção foram obtidas, a propriedade foi comprada, os contratos com uma construtora foram assinados e servos internacionais foram convidados para trabalhar na construção. Parecia que tudo estava pronto para o início da obra.

Mas quando as notícias sobre a construção se tornaram públicas, os vizinhos prontamente se opuseram. No dia marcado para o início da obra, manifestantes impediram o acesso ao terreno com barricadas. Logo eles estavam carregando faixas de protesto. Seis dias depois, perto do meio-dia, uns 30 policiais chegaram ao local para dar proteção aos trabalhadores da cidade que tinham sido contratados para remover as barricadas dos manifestantes; os opositores xingaram a polícia. Nesse meio-tempo, porém, a obra havia sido adiada e, portanto, nem os irmãos nem ninguém da construtora estavam no local naquele dia. Com o adiamento da construção, a oposição começou a diminuir, e nossos irmãos se esforçaram para encontrar uma solução pacífica.

Os manifestantes derrubaram a cerca da obra três vezes, mas a construção finalmente teve início um mês depois e prosseguiu sem mais impedimentos. Na verdade, o que começou como um ataque ao povo de Jeová acabou sendo uma bênção, porque o assunto atraiu muita atenção da imprensa. Mais de 150 notícias sobre a construção foram veiculadas na TV, no rádio e nos jornais. A obra terminou uns 11 meses depois, e em agosto de 2005 a família de Betel se mudou para as novas instalações.

Desde então, o relacionamento entre os irmãos e os vizinhos mudou completamente. Muitos deles visitaram a sede. Um senhor que antes era opositor mais tarde ficou muito interessado na construção. Ele perguntou quem nós éramos e o que seria feito dentro dos prédios. Quando fez uma visita às instalações, ficou impressionado com a hospitalidade dos irmãos e também com a limpeza do prédio. “Os vizinhos estão me perguntando se agora estou do seu lado”, ele disse aos irmãos, “e eu lhes respondo: ‘Da mesma forma que eu era contra as Testemunhas de Jeová, agora estou do lado delas, porque são boas pessoas.’”

O dia 12 de agosto de 2006 foi o feliz dia em que Theodore Jaracz, do Corpo Governante, proferiu o discurso de dedicação a uma assistência de 144 pessoas de cerca de 20 países. Numa reunião especial em Liubliana, ele falou para uma assistência de 3.097 pessoas de todas as partes da Eslovênia, Croácia e Bósnia-Herzegovina.

UM FUTURO BRILHANTE

As Testemunhas de Jeová na Eslovênia encaram o futuro com total confiança na orientação e nas bênçãos de seu Pai celestial. No congresso de distrito de 2004, elas ficaram emocionadas de receber a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs em esloveno. Hoje, com o apoio de uma sede bem equipada e com muitas delas trabalhando arduamente no serviço de pioneiro, estão determinadas a cumprir sua comissão de pregar e fazer discípulos. — Mat. 28:19, 20.

Na Eslovênia, onde a maioria pertence à Igreja Católica, a era comunista produziu muitos ateus. Além disso, muitos estão sobrecarregados com as ansiedades da vida ou são atraídos ao materialismo. Outros estão mais interessados em esportes ou em diversão. Mas ainda há aqueles sinceros que são atraídos às promessas de Deus encontradas na Bíblia.

A obra continua a avançar. Um auge de 1.935 publicadores foi alcançado em agosto de 2008, e cerca de um quarto dos publicadores estava empenhado em alguma forma de serviço de pioneiro. O campo de língua estrangeira agora inclui o albanês, o chinês, o croata, o inglês e o sérvio, bem como a língua de sinais eslovena. Diferentemente do humilde começo da obra na Eslovênia, quando apenas dois barbeiros pregavam as boas novas, uma grande multidão de pregadores zelosos, de várias nacionalidades, está agora procurando os merecedores que desejam servir ao verdadeiro Deus, Jeová. — Mat. 10:11.

A região dos Bálcãs conhecida antes como Iugoslávia passou por muitas guerras, tristeza e sofrimento. Mas no meio desse clima de intolerância religiosa e ódio étnico, o amor entre o povo de Jeová tem provado que eles são os verdadeiros discípulos de Cristo e tem enaltecido a adoração verdadeira de Jeová acima de tudo o que este mundo possa oferecer. Esse amor, semelhante ao de Deus, tem atraído cada vez mais pessoas à adoração pura e ajudado nossos irmãos a se manter firmes, determinados a servir unidamente a Jeová para sempre. — Isa. 2:2-4; João 13:35.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 65 Ustaša era o movimento revolucionário fascista que lutava, com o apoio da Igreja Católica, pela independência da Croácia. Era conhecido por sua crueldade.

^ parágrafo 147 Por causa do clima político, a palavra “divina” foi acrescentada ao nome do congresso para explicar que tipo de liberdade os irmãos procuravam.

^ parágrafo 190 Veja o artigo “Ajudamos nossa família da fé na Bósnia”, em A Sentinela de 1.º de novembro de 1994, páginas 23-27.

[Destaque na página 165]

Ao passo que o preconceito nacionalista e religioso se intensificava dentro das fronteiras da Iugoslávia, nossos irmãos estavam unidos

[Destaque na página 173]

‘Estou aqui para agradar a homens? Não! Minha vida depende do que outros possam dizer, pensar ou fazer? Não!’

[Quadro na página 144]

Contrastes dentro da ex-Iugoslávia

Ao perguntar a um grupo de pessoas sobre as diferenças dentro da ex-Iugoslávia, é provável que você receba respostas variadas. O que elas vão concordar é que havia sete grupos étnicos distintos professando religiões diferentes e até mesmo falando idiomas distintos com alfabetos diferentes. Os grupos étnicos são primariamente diferenciados pela religião. Mais de mil anos atrás, a cristandade foi dividida entre os que pertenciam à Igreja Católica Romana e os que professavam a religião Católica Ortodoxa. A linha que divide essas duas religiões passa pelo centro da ex-Iugoslávia. Quem mora na Croácia e na Eslovênia é, na sua maioria, católico romano, ao passo que na Sérvia e na Macedônia a maioria é ortodoxa. Na Bósnia, há uma mistura de povos das religiões islâmica, católica e ortodoxa.

Assim como a religião, a língua também tem dividido as pessoas. A maioria dos habitantes da ex-Iugoslávia, com exceção dos de Kosovo, falam uma língua eslava do sul. Apesar de cada país ter a sua própria língua, o uso de muitas palavras em comum faz com que seja possível a comunicação entre sérvios, croatas, bósnios e montenegrinos. Isso é menos comum em Kosovo, na Macedônia e na Eslovênia. Embora se fizessem esforços para a unificação dos idiomas similares no fim do século 19, a dissolução da Iugoslávia em 1991 pôs um fim nisso. Na última década, todos os países têm feito esforços para restabelecer sua exclusividade usando certas palavras e outras não.

[Quadro/Foto na página 148]

Um relojoeiro divulga a verdade na Eslavônia

Na década de 30, Antun Abramović viajava de aldeia em aldeia na Croácia consertando relógios. Numa hospedaria, ele encontrou um de nossos folhetos. Ao lê-lo, reconheceu imediatamente que havia encontrado a verdade, e a mensagem tocou seu coração. Isso o motivou a escrever uma carta para a sede pedindo mais publicações. Logo, ele se tornou um servo dedicado de Jeová. Daí, quando viajava de aldeia em aldeia, ele não só consertava os relógios das pessoas, mas também dava testemunho a elas. Ter esse “disfarce” para poder pregar era importante, pois a obra estava proscrita. Em um pequeno lugar chamado Privlaka, ele conheceu algumas pessoas que aceitaram a verdade de todo o coração. Com o tempo, formou-se ali uma pequena congregação. Dali, a verdade se espalhou a Vinkovci e a regiões vizinhas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o irmão Abramović ajudou a imprimir publicações secretamente que, depois, eram distribuídas em toda a Iugoslávia. Por causa de sua atividade zelosa, ele estava entre os 14 irmãos que foram sentenciados a longas penas de prisão em 1947. Depois de ser solto, ele serviu como superintendente viajante. Durante toda sua vida ele nunca perdeu seu forte zelo pelo serviço de Jeová.

[Quadro/Foto na página 151]

Um maestro se torna pioneiro

Muitos anos atrás, na região atualmente conhecida como Bósnia-Herzegovina, o maestro da Orquestra da Guarda Real, Alfred Tuček, recebeu publicações bíblicas de um colega chamado Fritz Gröger. Provavelmente no fim da década de 20, Alfred contatou a Lighthouse Society, em Maribor, dizendo que desejava ser pioneiro regular. Ele acabou sendo um dos primeiros pioneiros na Iugoslávia. Apesar de ter um emprego bem remunerado como maestro da orquestra militar, seu amor por Jeová o motivou a abandonar seu emprego e ‘não olhar para as coisas atrás’. (Luc. 9:62) No início da década de 30, ele viajou com um grupo de pioneiros da Alemanha exibindo o “Fotodrama da Criação”. Também ajudou a confeccionar cartões de território para organizar a obra de pregação na Iugoslávia. Em 1934, ele se casou com Frida, uma pioneira que fazia parte do grupo de pioneiros alemães. A primeira designação deles foi em Sarajevo, Bósnia. Depois, eles pregaram em partes da Macedônia, de Montenegro, da Croácia e da Sérvia. No começo, quase todas as suas viagens eram de bicicleta, mas depois passaram a usar uma motocicleta. Embora as boas novas naquele tempo não fossem bem aceitas e a obra de pregação estivesse proscrita, eles reconheciam a importância de tentar contatar o maior número possível de pessoas.

[Quadro/Fotos nas páginas 155, 156]

Na saúde e na doença

Martin Poetzinger serviu em diversos países da Europa Central antes de ser designado para cuidar de um grupo de pioneiros na Iugoslávia. Foi nessa ocasião que ele conheceu Gertrud Mende, uma zelosa pioneira da Alemanha, com quem se casou mais tarde. Os pioneiros dependiam totalmente de Jeová no que se referia a cuidados com a saúde. Embora não houvesse planos de saúde no país, eles sempre conseguiam a ajuda necessária. Às vezes, em situações críticas, Jeová usava pessoas dispostas a ajudar. Por exemplo, quando o irmão Poetzinger ficou gravemente doente em Zagreb, a irmã Mende estava lá para lhe dar assistência.

Gertrud recorda: “Em meados da década de 30, Martin e eu fomos designados para servir em Sarajevo. Mas as coisas não saíram como esperávamos. Certa tarde, Martin não se sentiu bem e, durante a noite, teve uma febre de mais de 39 °C. Na manhã seguinte, quando fui à sua casa para ver como estava, notei que a proprietária estava preocupada com o estado de saúde dele. Eu e ela tentamos tratá-lo usando um medicamento local feito de vinho fervido com bastante açúcar. No entanto, ele não melhorou. Telefonei para vários médicos que encontrei na lista telefônica, mas nenhum deles estava disposto a vir imediatamente. Todos arranjaram desculpas.

“A proprietária sugeriu que ligássemos para o hospital, então liguei para o diretor do hospital e expliquei que Martin estava de cama com uma febre que havia chegado a 40 °C. Ele foi muito amigável e enviou uma ambulância. Quando Martin foi colocado na ambulância, a proprietária me disse: ‘Você nunca mais o verá.’

“Como se não bastasse esse estresse, ainda tínhamos problemas financeiros. O único dinheiro que nós, pioneiros, tínhamos era o dos donativos que recebíamos pelas publicações, que mal dava para sobrevivermos. Nós não sabíamos o que fazer e nem quanto custaria o tratamento. O Dr. Thaler examinou Martin e deu o diagnóstico: ‘Ele tem pleurisia e precisa fazer uma cirurgia. Vai demorar um pouco até se restabelecer.’

“O Dr. Thaler deve ter entendido nossa difícil situação econômica, pois disse: ‘Eu quero ajudar pessoas de fé como vocês’, e não cobrou nada pela cirurgia de Martin. Com a ajuda de Jeová, conseguimos lidar com aquela situação difícil. Por causa da doença de Martin, não pudemos ir a Sarajevo, mas tivemos de retornar à Alemanha.”

[Foto]

Martin Poetzinger na Alemanha em 1931

[Quadro/Foto nas páginas 161, 162]

Trabalhar de dia, imprimir à noite

LINA BABIĆ

ANO DE NASCIMENTO 1925

ANO DE BATISMO 1946

RESUMO BIOGRÁFICO Ela serve em Betel desde 1953, quando a obra foi legalizada. Ajudou a imprimir e a despachar revistas e publicações. Hoje serve fielmente no Betel de Zagreb.

DEPOIS que os irmãos foram libertados da prisão, fizeram-se rapidamente preparativos para a impressão das revistas. Mas havia poucos irmãos e muito trabalho a fazer. Quando vi isso, decidi me oferecer para ajudar, apesar de trabalhar fora. Ainda assim, queria ajudar. Portanto, eu trabalhava o dia inteiro no meu emprego secular e, depois, trabalhava até tarde da noite imprimindo as publicações.

Naquela época, a sede ainda não tinha uma propriedade na cidade. Por isso, um casal idoso, Petar e Jelena Jelić, colocaram à disposição seu apartamento de um cômodo para podermos mimeografar as publicações. O aposento media apenas 4,5 metros de comprimento por 4,5 metros de largura. Uma armação de madeira com um pano em cima era colocada sobre a cama e usada para empilhar as páginas impressas. Perto da cama havia uma mesa onde ficava o mimeógrafo manual. Nós produzíamos cerca de 800 páginas por hora. Isso é pouco comparado com as impressoras modernas, mas ficávamos felizes de que, com paciência e muito trabalho, podíamos produzir todas as publicações necessárias.

Era muito comovente ver a paciência do casal Jelić. Eles ficavam esperando até que terminássemos o trabalho e tirássemos as páginas impressas de cima de sua cama para poderem dormir. Eles nunca reclamavam. Pelo contrário, ficavam felizes, e seus olhos brilhavam de alegria por apoiarem a obra do Reino daquela maneira. Quando podiam, Jelena e outras irmãs idosas ajudavam a juntar, costurar e dobrar as páginas impressas. Essa ajuda era inestimável.

Em 1958, nós compramos um mimeógrafo elétrico e, por isso, a impressão ficou mais fácil. O que havia começado com apenas 20 revistas em 1931 acabou se transformando em 2.400 exemplares em três línguas — croata, sérvio (cirílico) e esloveno — no início da década de 60. Embora não pudéssemos produzir livros, imprimíamos muitos folhetos. Em 1966, batemos nosso recorde de impressão. O livro ‘Coisas em Que É Impossível Que Deus Minta’ foi impresso por uma gráfica local no formato de 12 folhetos. Cada jogo de 12 folhetos equivalia a um livro completo. Para as três línguas, isso significou imprimir 600 mil folhetos para produzir o equivalente a 50 mil livros.

Hoje eu sirvo no Betel de Zagreb. Fico feliz de me lembrar dos anos de serviço que dediquei a Jeová e de ver como ele abençoou a obra em todos os países da ex-Iugoslávia.

[Quadro/Foto nas páginas 176, 177]

“Amanhã tudo pode ser diferente”

IVICA ZEMLJAN

ANO DE NASCIMENTO 1948

ANO DE BATISMO 1961

RESUMO BIOGRÁFICO Ele foi preso cinco vezes por causa de sua neutralidade. Mais tarde, serviu como superintendente de circuito de fim de semana, e hoje é ancião em uma congregação em Zagreb.

MEUS pais estavam na verdade e era sobre a verdade que conversávamos em casa. Quando fui chamado para o serviço militar, me apresentei e disse que queria fazer uma declaração de recusa. Depois de explicar minha posição neutra, fui julgado e sentenciado a nove meses de prisão. Ao ser solto, havia outra convocação para o serviço militar me esperando. Fui julgado e sentenciado novamente, dessa vez a um ano de prisão. Quando fui solto, já havia uma terceira convocação à minha espera e, de novo, outro julgamento. Dessa vez, recebi uma sentença de um ano e três meses. Na quarta vez, fui sentenciado a um ano e oito meses; e na quinta vez, a dois anos — ao todo passei mais de seis anos preso. Tudo isso ocorreu entre 1966 e 1980.

Por duas vezes fui enviado a Goli Otok, no mar Adriático. Toda a ilha era uma prisão para prisioneiros políticos. Recebi o mesmo tratamento dos detentos políticos. Nosso trabalho era “encher o mar”. Carregávamos pedras em caixas de madeira de um lado da ilha para o outro e as lançávamos no mar. Cada carregamento pesava mais de 100 quilos. Depois, nós voltávamos para carregar outro lote de pedras, realizando esse mesmo trabalho inútil vez após vez, o dia inteiro. 

Na segunda vez que fui enviado a Goli Otok, o costume era colocar todo recém-chegado na solitária por um mês. Foi horrível ficar preso completamente sozinho. Durante aquele tempo, orei como nunca antes. Eu não tinha a Bíblia nem publicações bíblicas. Ficar totalmente isolado foi muito difícil para mim. O único encorajamento que recebi foi uma carta de meus pais. Mas foi naquela ocasião que realmente senti a força das palavras do apóstolo Paulo: “Quando estou fraco, então é que sou poderoso.” (2 Cor. 12:10) Eu me senti feliz e forte quando fui solto e então consegui um emprego.

Em outra prisão, tive de ir a um psicólogo que era muito rígido e me insultou verbalmente. Ele gritou comigo dizendo, entre outras coisas, que eu não era normal. Eu não tinha permissão de dizer algo em minha defesa. No dia seguinte, o mesmo psicólogo me chamou novamente e disse com um tom de voz bem diferente: “Estive pensando no seu caso e acho que essa prisão não é o lugar certo para você. Vou lhe conseguir um emprego fora da prisão.” E, para minha surpresa, ele realmente fez isso. Não sei o que o fez mudar de idéia, mas isso me mostrou que nunca devemos ter medo ou pensar que não há saída. Amanhã tudo pode ser diferente. Sou grato a Jeová por todas as coisas que passei e que me achegaram mais a ele.

[Quadro/Foto na página 179]

‘As pessoas podem falar sobre futebol?’

HENRIK KOVAČIĆ

ANO DE NASCIMENTO 1944

ANO DE BATISMO 1962

RESUMO BIOGRÁFICO Ele serviu como superintendente viajante de fim de semana em 1973 e, de 1974 a 1976, foi designado superintendente viajante por tempo integral. Agora é membro da Comissão de Filial da Croácia.

NÓS nunca sabíamos se voltaríamos para casa depois do ministério. A polícia muitas vezes nos prendia e nos interrogava. Mal-entendidos sobre a nossa obra eram comuns.

Certa vez, na delegacia, fui informado de que só podíamos falar sobre Deus em lugares reservados para isso, não nas ruas nem de casa em casa. Assim como Neemias, fiz uma oração rápida para pedir que Jeová me ajudasse a encontrar as palavras certas. Daí, perguntei ao investigador: “As pessoas daqui podem falar sobre futebol só dentro do estádio ou em outros lugares também?” Ele respondeu que as pessoas podiam falar sobre futebol em qualquer lugar. Eu respondi: “Então, com certeza também podemos falar sobre Deus em qualquer lugar, não só na igreja ou nos locais de adoração.” Embora tivéssemos sido interrogados por cinco horas, eu e meu companheiro fomos libertados.

Quando paramos para pensar nos 40 anos de serviço a Jeová, eu e minha esposa, Ana, podemos dizer que não trocaríamos isso por nada no mundo. Juntos tivemos o privilégio de ajudar quase 70 pessoas a aprender a verdade. Toda designação que Jeová nos dá só pode enriquecer nossa vida.

[Quadro/Foto nas páginas 195, 196]

Nós prometemos voltar

HALIM CURI

ANO DE NASCIMENTO 1968

ANO DE BATISMO 1988

RESUMO BIOGRÁFICO Ele ajudou a organizar e a distribuir ajuda humanitária em Sarajevo. Hoje serve como ancião, membro da Comissão de Ligação com Hospitais e representante legal das Testemunhas de Jeová na Bósnia-Herzegovina.

EM 1992, a cidade de Sarajevo estava em estado de sítio. Quando não recebíamos as publicações, começávamos a estudar as revistas antigas. Usando uma máquina de escrever velha, os irmãos faziam cópias dos artigos de estudo disponíveis. Embora houvesse apenas 52 publicadores, mais de 200 pessoas assistiam às nossas reuniões, e dirigíamos cerca de 240 estudos bíblicos.

Em novembro de 1993, durante a fase mais crítica da guerra, nasceu nossa filha, Arijana. Era uma época difícil para se ter um filho. Às vezes, ficávamos sem água e sem eletricidade por várias semanas. Usávamos móveis como combustível, e passávamos por áreas perigosas no caminho para as reuniões. Os atiradores disparavam indiscriminadamente e, por isso, tínhamos de correr para atravessar certas ruas e barreiras.

Num dia calmo, eu, minha esposa com nosso bebê e o irmão Dražen Radišić estávamos voltando para casa quando de repente ouvimos tiros de metralhadora. Nós nos jogamos no chão, mas uma bala me acertou na barriga. A dor era muito forte. De suas janelas, muitas pessoas viram o que tinha acontecido, e alguns jovens corajosos saíram correndo de suas casas para nos levar a um lugar seguro. Fui levado às pressas para um hospital. Ali, eles quiseram me aplicar com urgência uma transfusão de sangue. Expliquei aos médicos que a minha consciência não me permitia aceitar sangue. Eles me pressionaram a reconsiderar minha posição, mas eu estava determinado e preparado para enfrentar as conseqüências. Mesmo assim, eles me operaram durante duas horas e meia, e me recuperei sem ter recebido transfusão de sangue.

Depois da cirurgia, eu precisava de repouso, mas isso era impossível por causa da guerra. Decidimos visitar nossa família na Áustria. No entanto, a única forma de sair de Sarajevo era por meio de um túnel que passava por baixo do aeroporto. O túnel tinha 800 metros de comprimento e cerca de um metro e vinte centímetros de altura. Minha esposa carregou o bebê, e eu tentei carregar a bagagem. Mas, por causa da cirurgia, ela teve de me ajudar.

Não temos palavras para descrever a alegria que sentimos durante o tempo que ficamos na Áustria. Quando saímos de Sarajevo, tínhamos prometido aos nossos irmãos e ao nosso Criador que voltaríamos. Foi muito difícil deixar nossa família na Áustria, especialmente a minha mãe. No entanto, lhes explicamos que havíamos prometido a Deus que voltaríamos a Sarajevo se ele nos ajudasse a sair dali para descansar um pouco. Como poderíamos agora dizer a Deus: “Obrigado por nos ajudar a chegar aqui. Realmente gostamos muito de estar aqui, e por isso gostaríamos de ficar.” Também, os irmãos em Sarajevo precisavam de nós. Em tudo isso, minha esposa, Amra, me apoiou muito.

Assim, em dezembro de 1994, chegamos no túnel em Sarajevo. Dessa vez, estávamos fazendo o caminho inverso. Ao nos ver atravessando o túnel, as pessoas perguntavam: “O que vocês estão fazendo? Todo mundo quer sair e vocês estão voltando para uma cidade sitiada?” Não consigo achar palavras para descrever o maravilhoso reencontro que tivemos com nossos irmãos no Salão do Reino de Sarajevo. Nunca nos arrependemos de ter voltado.

[Quadro na página 210]

As ilhas da Croácia

A faixa litorânea de 1.778 quilômetros da Croácia é pontilhada por mais de mil ilhas, das quais 66 são habitadas. As ilhas variam em tamanho, de um pouco mais de um quilômetro quadrado a 400 quilômetros quadrados.

Os ilhéus cultivam principalmente oliveiras e vinhedos, além de cuidar de jardins e hortas e pescar. O Parque Nacional de Kornati, um arquipélago de 140 ilhas e recifes, proporciona mergulhos espetaculares. Em Krapanj e Zlarin, os habitantes mergulham em busca de corais e esponjas. A ilha de Hvar produz lavanda, mel e óleo de alecrim. Na ilha árida de Pag, o pasto de ovelhas robustas é constituído basicamente de ervas e gramas salgadas, o que dá um sabor distintivo à sua carne e leite.

As Testemunhas de Jeová fazem um esforço especial para alcançar todos os habitantes com a mensagem das boas novas. Alguns precisam apenas atravessar uma ponte para chegar a uma ilha, ao passo que outros precisam pegar uma balsa. Grupos de Testemunhas de Jeová gostam muito de organizar campanhas especiais para passar alguns dias pregando nas ilhas. No entanto, falar com os ilhéus pode ser desafiador, visto que eles desenvolveram um dialeto distinto que pode ser difícil para os que moram no continente entender.

Felizmente, os ilhéus estão aceitando as boas novas, e na ilha de Korčula há uma congregação de 52 publicadores. A localização isolada da congregação representa um desafio para os oradores que vão lá proferir discursos públicos. Mas seus esforços têm ajudado essa congregação isolada a se manter unida com toda a fraternidade cristã mundial. — 1 Ped. 5:9.

[Quadro/Foto na página 224]

‘Eu me apresentei na prisão com 11 dias de antecedência’

PAVLINA BOGOEVSKA

ANO DE NASCIMENTO 1938

ANO DE BATISMO 1972

RESUMO BIOGRÁFICO Ela começou o serviço de pioneiro em 1975 e se tornou a primeira pioneira especial na Macedônia em 1977. Ajudou 80 pessoas a aprender a verdade.

QUANDO eu estava pregando, era comum as pessoas me denunciarem aos policiais. Eles me levavam até a delegacia, onde eu era interrogada — às vezes por horas. Fui multada muitas vezes. No tribunal, fui acusada falsamente de ser inimiga política do Estado e de disseminar propaganda do Ocidente. Uma vez, fui sentenciada a 20 dias de prisão, e outra vez a 30 dias.

Eu deveria cumprir minha sentença de 20 dias na mesma data em que íamos ter um congresso de distrito. Pedi ao tribunal que fizesse o favor de adiar minha sentença; mas meu pedido foi negado. Então, decidi me apresentar na prisão com 11 dias de antecedência. Os guardas ficaram surpresos de me ver ali. Não podiam acreditar que alguém quisesse ir para a prisão o mais rápido possível. Tive oportunidade de dar um testemunho, e eles prometeram fazer o possível para cuidar de mim. Onze dias depois, um policial foi até a prisão ver se eu já havia me apresentado. Imagine sua surpresa quando os guardas lhe informaram que eu já estava lá por 11 dias! Apesar de tudo, pude assistir ao congresso.

[Quadro/Foto na página 232]

‘Eles deram o melhor que tinham’

ŠANDOR PALFI

ANO DE NASCIMENTO 1933

ANO DE BATISMO 1964

RESUMO BIOGRÁFICO Seus pais aprenderam a verdade num campo de concentração estabelecido pelos partisans logo depois da Segunda Guerra Mundial. Ele serviu como superintendente viajante de fim de semana e agora é membro da Comissão do País na Sérvia.

VISTO que minha família é de ascendência húngara, fomos enviados, por um curto período, para um campo de concentração estabelecido pelos partisans. No entanto, isso acabou sendo uma bênção, pois foi lá que meus pais aprenderam sobre Jeová. Como adolescente, eu não tinha muito interesse na verdade. Mas o irmão Franz Brand, que morou em nossa casa por alguns anos, teve uma grande influência sobre mim. Achei que estava ajudando quando concordei em atender o pedido de Franz de traduzir uma publicação húngara para o sérvio. Mais tarde, descobri que não havia necessidade de traduzi-la; ele simplesmente queria ter certeza de que eu leria a publicação. Sua tática funcionou e, algum tempo depois, em 1964, fui batizado.

Uma de minhas grandes alegrias foi servir como superintendente viajante. Nem sempre isso era fácil porque os irmãos tinham pouco em sentido material. Em muitas ocasiões, a família toda e eu dormíamos no mesmo quarto. Todos os sacrifícios valeram a pena. Era maravilhoso ver a alegria dos irmãos, que esperavam ansiosamente pela visita. Eles faziam tudo o que podiam para dar o melhor que tinham. Como eu podia não ser grato?

[Quadro/Foto nas páginas 236, 237]

“Onde posso encontrar essas pessoas?”

AGRON BASHOTA

ANO DE NASCIMENTO 1973

ANO DE BATISMO 2002

RESUMO BIOGRÁFICO Ele foi soldado do Exército de Libertação do Kosovo e agora é pioneiro regular e servo ministerial.

QUANDO vi todas as coisas horríveis que aconteciam na guerra, incluindo a matança de crianças pequenas, cheguei à conclusão de que Deus não existe. ‘Se ele existe’, pensei, ‘por que não faz alguma coisa a respeito de todo o sofrimento?’ Minha fé ficou ainda mais abalada quando observei o apoio que os líderes religiosos muçulmanos davam à guerra contra os sérvios. Antes da guerra, eu era muçulmano, mas, no fim dela, havia me tornado ateu e entrado para o Exército de Libertação do Kosovo. Mesmo sendo novato ali, eu era bastante respeitado e recebi muitos privilégios. Isso fez com que me tornasse uma pessoa agressiva e orgulhosa, visto que minha palavra era uma ordem.

Infelizmente, também passei a demonstrar essa atitude com Merita, minha esposa. Achava que ela era obrigada a fazer o que eu mandasse e sempre obedecer minhas ordens. Ela havia entrado em contato com as Testemunhas de Jeová durante a guerra e tinha algumas de suas publicações. Uma noite, antes de ir dormir, ela me disse: “Pegue essas publicações e as leia. Elas são sobre Deus.” Fiquei furioso por Merita pensar que podia me ensinar algo sobre Deus. Para evitar mais discussão, ela foi para o quarto dormir.

Fiquei sozinho com as publicações, e então decidi ler a brochura O Que Deus Requer de Nós?. Em seguida, li o folheto O Tempo Para Verdadeira Submissão a Deus. Como muçulmano, fiquei surpreso de ver que o folheto citava o Alcorão. Daí, li algumas revistas A Sentinela e Despertai!. Mais tarde, naquela noite, fui até o quarto e acordei minha esposa. “Quem lhe deu essas publicações?”, perguntei. “Onde posso encontrar essas pessoas?”

Fiquei sinceramente emocionado com o que tinha lido, mas minha esposa ficou desconfiada e com medo do que eu podia fazer. Mesmo assim, naquela noite telefonamos para uma Testemunha de Jeová e descobrimos quando e onde elas realizavam suas reuniões. Na manhã seguinte, fomos à reunião. Fiquei impressionado com a bondade e a hospitalidade dos irmãos. Eu não pensava que existiam pessoas assim na Terra. Podia ver que elas eram diferentes. Durante a reunião, quis saber algo e estava ansioso pela resposta. Por isso, até mesmo levantei a mão para fazer a pergunta. Sem saber por que eu estava tão ansioso para falar com eles, os anciãos ficaram um pouco nervosos. Com certeza, eles se sentiram muito aliviados quando viram que o que eu queria era simplesmente saber como podia me tornar uma Testemunha de Jeová!

Comecei a estudar a Bíblia naquele mesmo dia. Não foi fácil fazer as muitas mudanças que eu queria em minha personalidade. Queria parar de fumar e sentia a necessidade de cortar a amizade com meus ex-amigos. Com oração e assistência regular às reuniões me arrependi do que tinha feito no passado e me revesti da nova personalidade. A verdade fez uma diferença e tanto na minha vida e na vida de minha família. Hoje, eu e minha esposa somos pioneiros regulares e, em 2006, fui designado servo ministerial. Agora posso ajudar outros a entender por que as pessoas sofrem e como Jeová em breve resolverá todos os nossos problemas.

[Quadro/Foto nas páginas 249, 250]

“Parecia que Jeová cegava os olhos deles”

JANEZ NOVAK

ANO DE NASCIMENTO 1964

ANO DE BATISMO 1983

RESUMO BIOGRÁFICO Ele ficou três anos na prisão por causa de sua fé e agora é membro da Comissão de Filial da Eslovênia.

EM DEZEMBRO de 1984, as autoridades militares me convocaram várias vezes para me apresentar no exército. Quando colocaram na minha porta o aviso de chamada e ameaçaram mandar a polícia militar me buscar, decidi me apresentar no quartel para explicar a minha posição. Isso não deu certo, e eles resolveram fazer tudo o que podiam para me transformar num soldado. Rasparam a minha cabeça, tiraram minhas roupas civis e me deram um uniforme de soldado. Quando não aceitei o uniforme, eles o vestiram em mim à força, e então colocaram uma caneta na minha mão na tentativa de me forçar a assinar minha entrada no exército. Eu me recusei a fazer isso.

Também me recusei a participar em atividades como os exercícios matinais e a saudação à bandeira. Quando quatro soldados me levaram ao pátio e me ordenaram a fazer os exercícios, eu me recusei a erguer as mãos. Eles tentaram erguer minhas mãos até perceberem que aquela situação era ridícula. Eles me apontaram uma arma e ameaçaram me matar. Às vezes, tentavam me subornar oferecendo café e bolo.

Minha determinação fez alguns deles chorar. Outros ficavam furiosos quando me recusava a cuspir na foto do Marechal Tito que eles colocavam na frente do meu rosto. Depois de alguns dias, tentaram me fazer carregar armas, o que eu também recusei. Isso foi classificado como uma ofensa militar, e me prenderam no quartel por um mês. Daí, fiquei várias semanas preso numa cela em Zagreb, Croácia, aguardando o veredicto. Deixaram uma luz vermelha acesa na cela a noite inteira, e apenas se a pessoa responsável ali estivesse de bom humor é que eu tinha permissão de ir ao banheiro.

Por fim, fui sentenciado a três anos de prisão numa ilha adriática chamada Goli Otok, para onde mandavam os piores condenados. Eles me levaram a essa prisão, famosa pela violência entre os detentos, com as mãos presas em correntes porque eu havia me recusado a lutar. Ali encontrei mais quatro Testemunhas de Jeová que haviam sido presas por causa de sua posição neutra.

Não tivemos permissão de levar a Bíblia nem qualquer outra publicação. Mas já havia uma Bíblia ali. Meus parentes me enviaram uma revista A Sentinela numa caixa com fundo falso. Os guardas nunca acharam nossas publicações e nunca descobriram que realizávamos nossas reuniões cristãs. Às vezes, quando os guardas entravam, algumas publicações tinham sido deixadas bem à vista, mas parecia que Jeová cegava os olhos deles, porque não percebiam nada.

Depois de um ano, fui transferido para a Eslovênia a fim de terminar de cumprir minha pena ali. Eu me casei com Rahela enquanto ainda estava na prisão. Quando finalmente fui libertado, comecei o serviço de pioneiro com minha esposa, e desde de 1993 estamos servindo no Betel da Eslovênia.

[Tabela/Gráfico nas páginas 244, 245]

MARCOS HISTÓRICOS—Países da ex-Iugoslávia

Anos 20 Um pequeno grupo se reúne em Maribor, Eslovênia, para considerar a Bíblia.

Anos 30 Pioneiros que falam alemão são enviados à Iugoslávia.

1935 Estabelece-se um escritório da sede em Belgrado, Sérvia, para supervisionar a obra.

1940

1941 O exército alemão invade, segue-se intensa perseguição.

1950

1953 As Testemunhas de Jeová são estabelecidas legalmente; mas a obra de casa em casa é restrita.

1960

1969 Congresso internacional é realizado neste estádio em Nuremberg, Alemanha.

1970

1990

1991 Primeiro congresso internacional é realizado em Zagreb, Croácia. Chegam os primeiros missionários formados em Gileade. É aberto um Escritório na Eslovênia sob a supervisão da sede da Áustria. Começa a guerra.

1993 As Testemunhas de Jeová são registradas na Macedônia.

1994 Estabelece-se uma Comissão de Ligação com Hospitais na Eslovênia.

2000

2003 As Testemunhas de Jeová recebem reconhecimento legal na Croácia. Um novo Betel é dedicado na Macedônia.

2004 A Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs é lançada em esloveno.

2006 Uma nova sede é dedicada na Eslovênia. A Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas completa é lançada em croata, sérvio e macedônio. É formado um grupo de língua chinesa em Belgrado, Sérvia.

2007 Discurso especial é proferido pela primeira vez na língua romani, na Macedônia. É lançada a primeira publicação em romani.

2010

[Gráfico]

(Veja a publicação)

Total de publicadores

Total de pioneiros

14.000

10.500

7.000

3.500

1940 1950 1960 1970 1990 2000 2010

[Mapas na página 147]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

REPÚBLICA TCHECA

ÁUSTRIA

VIENA

ESLOVÁQUIA

BRATISLAVA

HUNGRIA

BUDAPESTE

ROMÊNIA

BULGÁRIA

GRÉCIA

ALBÂNIA

TIRANA

MAR JÔNICO

ITÁLIA

MAR ADRIÁTICO

EX-IUGOSLÁVIA

ESLOVÊNIA

LIUBLIANA

Maribor

Kamnik

CROÁCIA

ZAGREB

ESLAVÔNIA

Osijek

Vukovar

Vinkovci

Privlaka

Jasenovac

Šibenik

Split

COSTA DALMÁTICA

Goli Otok

Pag

Kornat

Zlarin

Krapanj

Hvar

Korčula

BÓSNIA-HERZEGOVINA

SARAJEVO

Bihać

Banja Luka

Tuzla

Travnik

Zenica

Vareš

Mostar

SÉRVIA

BELGRADO

VOIVODINA

Bor

MONTENEGRO

PODGORICA

Nikšić

Herceg Novi

Tara

Lago Scutari

KOSOVO

Peć

Priština

MACEDÔNIA

SKOPJE

Tetovo

Kočani

Štip

Kičevo

Strumica

Resen

Nota: As Nações Unidas relataram que “Kosovo declarou sua independência da Sérvia em fevereiro [de 2008]”. Para tentar resolver a disputa sobre o status político de Kosovo, a Assembléia Geral da ONU está tentando obter “uma opinião consultiva da Corte Internacional de Justiça”.

[Foto de página inteira na página 142]

[Foto na página 145]

Franz Brand

[Fotos na página 146]

Rudolf Kalle e uma de suas máquinas de escrever

[Foto na página 149]

Pregação na Eslovênia com um caminhão alugado

[Foto na página 154]

Os primeiros pioneiros enfrentaram muitos desafios

[Foto na página 157]

Alfred e Frida Tuček e suas bicicletas

[Foto na página 158]

Rudolf Kalle em frente ao Betel de Belgrado, Sérvia

[Fotos na página 168]

Franc Drozg e uma reprodução de sua carta

[Foto na página 180]

À direita: o estábulo que foi transformado em Salão do Reino, Liubliana, Eslovênia

[Foto na página 180]

Abaixo: um dos primeiros Salões do Reino em Zagreb, Croácia

[Foto na página 182]

Stojan Bogatinov

[Fotos nas páginas 184, 185]

Em segundo plano: Assembléia Internacional “Paz na Terra”, em 1969, Nuremberg, Alemanha; à esquerda: trem do congresso da Iugoslávia; à direita: Nathan Knorr

[Foto na página 188]

Ðuro Landić

[Fotos na página 192]

Milton Henschel proferindo discurso, e o batismo realizado no congresso internacional “Amantes da Liberdade Divina”, em 1991, Zagreb, Croácia

[Foto na página 197]

Ljiljana, com suas filhas

[Fotos na página 199]

Ajuda humanitária veio de caminhão da Áustria

[Foto na página 200]

A família Ðorem, 1991

[Foto na página 204]

Batismo num barril de peixe em Zenica, 1994

[Fotos na página 209]

Suprimentos de ajuda humanitária foram armazenados em Zagreb, Croácia

[Foto na página 215]

Elke e Heinz Polach

[Fotos na página 216]

Comissão de Filial da Croácia e a sede

[Foto na página 228]

Entrega de ajuda humanitária na Bósnia

[Fotos na página 233]

Comissão do País na Sérvia, e Betel em Belgrado

[Foto na página 235]

Saliu Abazi

[Fotos na página 243]

Pregação em Podgorica; Salão do Reino em Podgorica

[Foto na página 247]

Cidade antiga de Piran, Eslovênia

[Foto na página 251]

Antiga sede em Liubliana, Eslovênia, 2002

[Foto na página 253]

Escritório da sede em Kamnik, Eslovênia, 2006

[Foto na página 254]

Comissão de Filial da Eslovênia