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Uganda

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POR séculos, exploradores procuraram pela nascente do poderoso rio Nilo, que atravessa metade da África e deságua no mar Mediterrâneo. Por fim, alguns deles passaram a considerar o lago Vitória e as montanhas ao seu redor como as principais fontes das eternas águas do rio Nilo. Em décadas recentes, muitos habitantes daquela região têm se emocionado ao descobrir a fonte de uma água mais preciosa — “água viva” que dá “vida eterna”. (João 4:10-14) Esta é a história das pessoas em Uganda que têm ‘sede da justiça’. — Mat. 5:6.

“A PÉROLA DA ÁFRICA”

Situada no centro da África, na linha do Equador, Uganda é um belo país de clima agradável. Geleiras que derretem no alto das montanhas Ruwenzori — chamadas montanhas da Lua — formam cascatas de águas cristalinas que alimentam milhares de rios e lagos. O solo fértil e a chuva abundante fazem de Uganda um lugar ideal para o cultivo de café, chá e algodão. Bananas-da-terra são muito comuns e são usadas para preparar o matooke, um prato típico desse país. Outros alimentos básicos são mandioca, fubá, painço e sorgo.

Esse país tropical é o lar de leões, elefantes, hipopótamos, crocodilos, leopardos, girafas e antílopes, bem como de chimpanzés, várias espécies de macacos exóticos, e do gorila-das-montanhas, ameaçado de extinção. Lindos pássaros enchem o ar com suas agradáveis melodias. De fato, a beleza de Uganda é tanta que o país é chamado de “a pérola da África”.

O BELO POVO DE UGANDA

Cerca de 30 milhões de pessoas, de mais ou menos 30 grupos étnicos, vivem em Uganda. Muitas dessas pessoas são religiosas e frequentam igrejas da cristandade; mas, como em outros lugares, a adoração formal se mistura às práticas religiosas tradicionais. Em geral, o povo é amigável e hospitaleiro, e é comum alguns se ajoelharem ao cumprimentar ou servir uma pessoa mais velha.

Infelizmente, porém, nos anos 70 e 80 essa linda “pérola” e seu precioso povo sofreram muito por causa das revoltas políticas e dos milhares de mortes que essas causaram. Além disso, a devastação causada pela epidemia de aids aumentou o sofrimento do país. Em meio a tudo isso, as Testemunhas de Jeová têm levado consolo e esperança a esse povo forte.

VERDADEIROS PIONEIROS

A primeira atividade de pregação em Uganda de que se tem registro data de 1931, quando a sede na África do Sul supervisionava a obra em todo o continente africano ao sul do equador. Para dar início à pregação nesse vasto território, a sede designou dois pioneiros, Robert Nisbet e David Norman, para a região que atualmente abrange o Quênia, a Tanzânia e Uganda.

Os irmãos Nisbet e Norman estavam decididos a levar as boas novas até o coração da África. Eles iniciaram sua campanha de pregação na cidade de Dar es Salaam em 31 de agosto de 1931, com 200 caixas de publicações. De lá, eles foram para a ilha de Zanzibar e então passaram pelo porto de Mombaça a caminho da região montanhosa do Quênia. Eles viajaram de trem, pregando nas cidades ao longo da ferrovia, até às margens orientais do lago Vitória. Esses dois pioneiros corajosos atravessaram o lago em um navio a vapor e chegaram a Kampala, capital de Uganda. Depois de distribuir muitas publicações e angariar assinaturas da revista The Golden Age (A Idade de Ouro), os dois irmãos seguiram de carro para o interior do país.

Quatro anos mais tarde, em 1935, quatro pioneiros da África do Sul realizaram outra expedição para a África Oriental. Esses pioneiros eram Gray Smith e sua esposa, Olga, junto com Robert Nisbet e seu irmão mais novo George. Com dois furgões bem-equipados e adaptados para servir como moradia, esses pioneiros dispostos atravessaram estradas ruins e lutaram para cruzar matagais de capim-elefante de até 3 metros de altura. “Eles costumavam dormir na selva”, diz um relatório, “onde podiam ver, ouvir e sentir o coração da África batendo com sua grande variedade de vida selvagem — leões rugindo à noite, zebras e girafas pastando tranquilamente, e a presença ameaçadora de rinocerontes e elefantes.” Destemidos, eles visitaram cidades onde a mensagem do Reino nunca havia chegado.

Gray e Olga Smith ficaram algum tempo em Tanganica (atual Tanzânia), enquanto Robert e George Nisbet seguiram para Nairóbi, no Quênia. Mais tarde, quando as autoridades coloniais ordenaram que o casal Smith deixasse Tanganica, eles foram para Kampala, em Uganda. Dessa vez, porém, as condições não eram tão favoráveis, e a polícia de Kampala os mantinha sob constante vigilância. Sem se abater, em apenas dois meses o casal Smith distribuiu 2.122 livros e folhetos e realizou seis reuniões públicas. Mas, depois de algum tempo, o governador emitiu uma ordem de deportação obrigando o casal a deixar Uganda. Eles viajaram para Nairóbi, onde encontraram os irmãos Nisbet, antes de retornar para a África do Sul.

Com a bênção de Jeová, essas campanhas de pregação tiveram resultados impressionantes, e um excelente testemunho foi dado. Apesar da oposição religiosa e de pressões cada vez maiores das autoridades coloniais, os pioneiros distribuíram mais de 3 mil livros e mais de 7 mil folhetos, além de obterem muitas assinaturas das nossas revistas. Depois dessas campanhas, muitos anos se passaram antes de a obra de pregação em Uganda recomeçar.

A OBRA RECOMEÇA

Em abril de 1950, o jovem casal Kilminster, da Inglaterra, mudou-se para Kampala. Eles pregavam as boas novas com muito zelo e ficaram felizes quando uma família grega e outra italiana aceitaram a mensagem do Reino.

Então, em dezembro de 1952, os irmãos Knorr e Henschel, da sede mundial das Testemunhas de Jeová em Nova York, visitaram Nairóbi, no Quênia. O irmão Kilminster não queria perder a oportunidade de vê-los, de modo que fez a longa viagem de Kampala até Nairóbi. Os irmãos Knorr e Henschel encorajaram o pequeno grupo em Nairóbi e providenciaram a formação de uma congregação em Kampala. Aquela nova congregação logo começou a dar bons resultados, atingindo um auge de dez publicadores que participaram no ministério durante o ano de serviço de 1954.

Naquele mesmo ano, Eric Cooke, da sede na Rodésia do Sul (atual Zimbábue), visitou a África Oriental e passou algum tempo com a nova congregação em Kampala. Embora os irmãos estivessem realizando o estudo semanal da revista A Sentinela, eles ainda não eram muito ativos no ministério. Assim, o irmão Cooke incentivou o irmão Kilminster a realizar todas as reuniões congregacionais, inclusive a Reunião de Serviço. A fim de expandir ainda mais a obra de pregação, o irmão Cooke enfatizou a importância do ministério de casa em casa e amorosamente deu treinamento individual a vários publicadores.

Até então, boa parte da pregação havia sido feita entre os europeus que moravam em Uganda. Mas o irmão Cooke percebeu que a maior parte dos ugandenses que moravam em Kampala falava luganda. A fim de tocar o coração do povo local, ele sugeriu que os irmãos traduzissem uma publicação para o luganda. Em 1958, eles começaram a usar o folheto recém-traduzido “Estas Boas Novas do Reino”. Isso deu um grande impulso à pregação. A obra progrediu e em 1961 houve um novo auge de 19 proclamadores do Reino que participaram no ministério.

Em seu emprego, o irmão Kilminster conheceu George Kadu, um animado ugandense de 40 e poucos anos que falava muito bem inglês, além de sua língua nativa, o luganda. O interesse de George pela verdade bíblica surgiu quando aprendeu que o nome de Deus é Jeová, e ele começou a estudar a Bíblia. Não demorou muito e ele passou a servir como intérprete do irmão Kilminster na pregação de casa em casa. Então, em 1956, quando o primeiro batismo em Uganda foi realizado no lago Vitória, perto de Entebbe, George simbolizou sua dedicação a Jeová.

Infelizmente, pouco depois a obra do Reino sofreu um golpe. Vários irmãos estrangeiros voltaram para seu país de origem quando seus contratos de trabalho terminaram. Outros irmãos foram desassociados, e vários tropeçaram por causa da conduta antibíblica de alguns na congregação. Mas o irmão Kadu amava a Jeová e sabia que tinha encontrado a verdade. Ele se apegou a ela ‘em época favorável e em época dificultosa’, servindo fielmente como ancião até morrer em 1998. — 2 Tim. 4:2.

IRMÃOS DISPOSTOS CHEGAM PARA AJUDAR

O campo na África Oriental era vasto e a necessidade de pregadores do Reino era grande. Mas havia ainda outro desafio. O governo colonial não permitia a entrada de missionários na região. O que poderia ser feito?

Em 1957, publicadores no mundo inteiro foram convocados para servir onde a necessidade era maior. Irmãos espiritualmente maduros foram incentivados a se mudar para onde havia mais necessidade de publicadores do Reino. Esse convite era parecido ao que o apóstolo Paulo recebeu numa visão em que um homem lhe suplicou: “Passa à Macedônia e ajuda-nos.” (Atos 16:9, 10) Como esse convite feito nos tempos atuais afetou o progresso da obra de pregação do Reino em Uganda?

Frank e Mary Smith aceitaram o convite com um espírito similar ao de Isaías e começaram imediatamente a fazer preparativos para se mudar para a África Oriental. * (Isa. 6:8) Em julho de 1959, eles embarcaram em um navio em Nova York e partiram para Mombaça, passando pela Cidade do Cabo. Daí, eles viajaram de trem para Kampala, onde Frank foi contratado pelo governo para trabalhar como químico no Departamento de Pesquisas Geológicas. O casal Smith foi morar a cerca de 35 quilômetros de Kampala, em Entebbe, uma bela cidade às margens do lago Vitória, que era um território virgem com respeito à obra de pregação do Reino. Eles assistiam regularmente às reuniões com a pequena congregação em Kampala, que aumentava a cada dia.

Pouco depois, o casal Smith ensinou a verdade a Peter Gyabi, um funcionário público que ocupava um cargo de responsabilidade, e à sua esposa, Esther. Algum tempo antes, Peter havia recebido o livro Que Tem Feito a Religião Pela Humanidade? *, mas na época não deu atenção porque estava muito ocupado com seu emprego e com as constantes transferências. Mais tarde, Peter foi enviado para mediar uma tensa e complexa disputa de terras entre duas facções tribais. Ele orou: “Deus, se me ajudar, eu o procurarei.” Quando aquela situação foi resolvida pacificamente, Peter lembrou de sua oração e começou a ler o livro. Ele se deu conta de que o que estava lendo era a verdade e começou a procurar pelas Testemunhas de Jeová. Ele ficou muito feliz ao conhecer Frank Smith, que aceitou ensinar a Bíblia a ele e sua esposa. Em resultado disso, esse agradável casal foi batizado e os dois ainda são ativos proclamadores do Reino depois de mais de quatro décadas de serviço fiel.

Outros irmãos estrangeiros também aceitaram o convite para servir onde havia mais necessidade. Alguns conseguiram contratos de trabalho que os levaram para lugares distantes do pequeno grupo de publicadores da Congregação Kampala. Um casal foi para Mbarara, uma pequena cidade nas colinas do sudoeste de Uganda, a uns 300 quilômetros de Kampala. Começaram a realizar o Estudo de A Sentinela e o Estudo de Livro em sua casa. Mas, de vez em quando, eles faziam a longa viagem até Kampala ou Entebbe para tirar proveito do caloroso companheirismo cristão. Também mantinham contato com a sede em Luanshya, na Rodésia do Norte (agora Zâmbia), que na época supervisionava a obra de pregação na África Oriental. Harry Arnott, que era superintendente da sede, visitou Kampala como superintendente zonal para encorajar o pequeno grupo de publicadores em Uganda. Eles ficaram muito gratos por sua amorosa preocupação.

Outro casal que tinha forte desejo de servir onde havia mais necessidade era Tom e Ann Cooke, da Inglaterra. Tom se candidatou a empregos em vários países e conseguiu um cargo como supervisor de ensino no Ministério da Educação de Uganda. De início, o emprego levou esse casal e sua filha Sarah, de quatro anos, à pequena cidade de Iganga, cerca de 130 quilômetros a leste de Kampala. Após o nascimento da segunda filha, Rachel, Tom e sua família se mudaram para Jinja, uma cidade que fica no local geralmente considerado como a nascente do Nilo. Mais tarde, eles se mudaram para Kampala.

SACRIFÍCIOS E BÊNÇÃOS

Todas essas famílias fizeram uma excelente contribuição para a obra de pregação em Uganda. É verdade que deixaram para trás os confortos e estilo de vida a que estavam acostumados. Mas, como recompensa, tiveram a alegria de ver pessoas humildes mudarem seu modo de vida e aceitarem as boas novas do Reino. Também sentiram o forte vínculo de amor cristão que se formou entre suas famílias e as famílias locais à medida que se reuniam para adoração e alegre associação.

Tom Cooke se lembra: “Ficamos impressionados com a cordialidade das pessoas no ministério e sua dignidade despretensiosa. Foi um privilégio muito especial ter uma pequena participação no crescimento da congregação.”

Quando lhe perguntaram sobre o que achou de se mudar para Uganda, Tom respondeu: “Não poderia haver um ambiente melhor para uma família com filhos pequenos servir a Jeová. Tivemos o excelente exemplo de irmãos e irmãs de vários países, a companhia de irmãos locais amorosos e leais e privilégios de serviço enriquecedores. Estávamos livres da influência da televisão e podíamos apreciar as maravilhas do interior da África. Essas foram apenas algumas das muitas bênçãos que tivemos.”

O profundo apreço desses irmãos de outros países pelo companheirismo cristão também era evidente na sua disposição de fazer a longa viagem até o Quênia para assistir às assembleias de circuito, o que envolvia viajar de ônibus ou trem por 800 quilômetros só de ida!

Assistir aos congressos de distrito exigia um esforço maior ainda. Por exemplo, em 1961, congressistas de Uganda e do Quênia assistiram a um congresso de distrito em Kitwe, Rodésia do Norte (Zâmbia). Um dos congressistas relembra: “Tivemos de viajar mais de 1.600 quilômetros durante quatro dias, passando por algumas das piores estradas de Tanganica (Tanzânia), quase todas não pavimentadas, e depois mais quatro dias através da escaldante e poeirenta savana africana para voltar a Uganda. Foi uma aventura e tanto e também uma grande bênção estar na alegre companhia de nossos irmãos.” Empreender essa viagem difícil exigiu grande esforço, mas como foi edificante espiritualmente!

MISSIONÁRIOS DÃO IMPULSO À OBRA

Em 1962, Uganda obteve independência da Grã-Bretanha. No ano seguinte, o irmão Henschel visitou Nairóbi, no Quênia, e considerou com os irmãos a possibilidade de enviar missionários para Uganda. Quem seria designado para lá?

Tom e Bethel McLain, da 37.ª turma de Gileade, tinham chegado recentemente para servir em Nairóbi. Como ficaram surpresos quando foram redesignados para Kampala! Mas aceitaram bem a mudança e se tornaram os primeiros missionários formados em Gileade a servir em Uganda. “Inicialmente sentimos falta do Quênia”, Tom admite, “mas logo aprendemos a gostar muito de Uganda — das pessoas amistosas e de sua reação entusiástica à obra de pregação”.

Tom e Bethel estavam aprendendo suaíli no Quênia, mas agora precisavam aprender um novo idioma: o luganda. Para isso, eles nada mais tinham do que sua firme determinação, confiança em Jeová e um livro do tipo “aprenda sozinho”. Durante o primeiro mês em Uganda, eles devotaram 250 horas ao estudo do novo idioma e, durante o segundo mês, 150 horas. Tudo isso além das 100 horas que gastaram na pregação em cada mês. Aos poucos, dominaram a nova língua e tiveram excelentes resultados no ministério.

Em janeiro de 1964, Gilbert e Joan Walters, da 38.ª turma de Gileade, se juntaram a Tom e Bethel. Dois outros casais dessa mesma turma, Stephen e Barbara Hardy e Ron e Jenny Bicknell, iriam para o vizinho Burundi, mas, por não conseguirem o visto, também foram designados para Uganda. Assim, em pouco tempo, Kampala precisou de outro lar missionário.

A congregação em Kampala era muito especial. Incluía o irmão Kadu e sua família; John e Eunice Bwali, pioneiros especiais da Rodésia do Norte, e seus filhos; e Margaret Nyende e seus filhos. As reuniões eram realizadas praticamente a céu aberto. “As pessoas que passavam por perto podiam nos ver e ouvir, embora fôssemos poucos”, relembra Gilbert Walters. “A família Bwali puxava com entusiasmo os cânticos do Reino, cantados em várias vozes sem acompanhamento musical, bem à vista de todos. Isso nos dava coragem para continuar.”

Pouco tempo depois, Gilbert e Joan Walters foram designados para abrir um lar missionário em Jinja, onde não se havia feito nenhuma pregação organizada. Mais tarde, outros dois lares missionários foram abertos — um em Mbale, perto da fronteira com o Quênia, e outro em Mbarara. Os missionários nesses lares trabalharam com vários pioneiros especiais de outros países. Era evidente que o campo estava ‘branco para a colheita’. (João 4:35) Mas o que se poderia fazer para acelerar essa colheita?

UM TRABALHO MAIS ORGANIZADO

Os servos de tempo integral em Uganda se esforçavam em cobrir seu enorme território do modo mais sistemático possível. Durante a semana eles pregavam nos conjuntos residenciais, onde as ruas e os lotes são identificados por nomes e números. Mas como eles conseguiriam cobrir de forma metódica os territórios onde as ruas não tinham nome e as casas não tinham número?

Tom McLain explica: “Dividimos o território em morros. Dois de nós íamos por um lado do morro enquanto outros dois davam a volta pelo outro lado. Seguíamos as trilhas, subindo e descendo o morro até encontrarmos com os outros dois.”

Os irmãos estrangeiros logo foram beneficiados por haver cada vez mais irmãos locais, que conheciam o território e entendiam a cultura local. Por sua vez, os publicadores locais se beneficiavam muito da experiência dos irmãos estrangeiros. Em Jinja, por exemplo, os irmãos locais já estavam acompanhando os missionários no ministério. Nas manhãs de domingo, eles pregavam de casa em casa das 8 horas às 10 horas. A seguir, faziam revisitas por uma hora e então dirigiam um estudo bíblico até o meio-dia. Desse modo, toda a congregação se beneficiava de um intercâmbio de conhecimento e encorajamento.

Jinja, que na época era a segunda maior cidade do país, tinha a vantagem de ter uma usina hidrelétrica, o que incentivava o estabelecimento de indústrias. Os missionários eram bem-sucedidos em dar testemunho em pontos de táxi e rodoviárias. Pessoas que vinham de longe rapidamente aceitavam publicações bíblicas para ler durante a viagem. Dessa forma, a semente do Reino alcançava os lugares mais variados e distantes nas áreas rurais.

Os irmãos também usavam programas de rádio para transmitir as boas novas ao maior número possível de pessoas. Toda semana, eles apresentavam um programa na rádio nacional chamado “Coisas em Que o Povo Pensa”. Os irmãos falavam de assuntos intrigantes, como “A solução para as famílias em crise” e “Como se proteger do crime e da violência”, na forma de um diálogo entre o “Sr. Robbins” e o “Sr. Lee”. Um dos irmãos relembra: “Era engraçado ouvir o programa e escutar um americano e um escocês conversando numa estação de rádio africana. Era comum ouvir comentários a respeito do programa ao trabalharmos na pregação, o que mostra que ele atingia seu objetivo.”

UMA AJUDA PARA OS NOVATOS

Naquela época, o grupo em Jinja realizava suas reuniões no centro comunitário do conjunto residencial principal, Walukuba. Tom Cooke recorda: “Muitos irmãos eram novatos e tinham poucas publicações para se preparar para suas designações na reunião.” O que poderia ser feito?

Tom continua: “Os missionários montaram uma biblioteca na casa de um irmão que morava no centro do conjunto habitacional. Toda noite de segunda-feira, os irmãos que tinham designações iam lá para usar a biblioteca e ser ajudados a preparar seus discursos.” Hoje há várias congregações na região de Jinja que ainda são bem-sucedidas na pesca espiritual nessa nascente do Nilo.

SUPERINTENDENTES VIAJANTES CONTRIBUEM PARA O AUMENTO

Em setembro de 1963, a obra de pregação em Uganda passou a ser supervisionada pela recém-criada sede no Quênia, sendo William e Muriel Nisbet designados para visitar Uganda como parte do circuito de Nairóbi. É notável que, ao fazer isso, William seguia os passos de seus irmãos Robert e George, que estavam entre os primeiros a pregar em Uganda cerca de 30 anos antes. Os publicadores agora seriam beneficiados pelo trabalho árduo de uma “segunda leva” dos Nisbet.

O interesse aumentava, mais grupos se formavam e os publicadores estavam espalhados por uma vasta área. Por isso, visitas regulares de superintendentes viajantes desempenhavam um papel importante em treinar e encorajar os irmãos e assegurar aos que estavam isolados que “os olhos de Jeová estão sobre os justos”. — 1 Ped. 3:12.

Em 1965, Stephen e Barbara Hardy visitaram congregações num circuito que ia de Uganda até as Seychelles, um grupo de ilhas no oceano Índico a 2.600 quilômetros de Uganda. Certa vez, eles fizeram um “reconhecimento do território” em Uganda para determinar que lugares seriam mais produtivos a fim de enviar pioneiros. Usando uma Kombi emprestada pela sede no Quênia para servir de transporte e acomodação, viajaram pela maior parte de Uganda em apenas seis semanas, visitando as cidades de Masaka, Mbarara, Kabale, Masindi, Hoima, Fort Portal, Arua, Gulu, Lira e Soroti.

O irmão Hardy diz: “A viagem foi emocionante e pregar foi um prazer. Todos eram amistosos e queriam nos ajudar, incluindo as autoridades locais. Muitas vezes, quando estávamos falando com o morador, a visita se transformava num ‘discurso público’ à medida que vizinhos e transeuntes se aproximavam para ouvir a mensagem. Mesmo quando fazíamos uma pausa no que achávamos ser um lugar isolado, pessoas sorridentes logo apareciam, achando que estávamos ali para visitá-las. Nosso estoque de publicações diminuiu rapidamente. Deixamos cerca de 500 livros e obtivemos muitas assinaturas de A Sentinela e Despertai!.”

O jeito amistoso, a curiosidade e a inclinação espiritual do povo pareciam indicar que havia grande potencial de crescimento espiritual em Uganda. Mais importante ainda, era evidente que Jeová estava abençoando a obra de pregação nesse campo fértil, o que deixava os Hardy emocionados.

JEOVÁ FAZ A OBRA CRESCER

Um marco na história do povo de Jeová em Uganda foi em 12 de agosto de 1965, quando a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia foi registrada, obtendo reconhecimento legal para a obra de fazer discípulos. Ugandenses sinceros, como George Mayende, Peter e Esther Gyabi e Ida Ssali, formavam um pequeno mas sólido grupo de corajosos irmãos durante os anos 60. Em 1969, Uganda relatou 75 publicadores distribuídos entre uma população de cerca de 8 milhões de habitantes, uma proporção de mais de 100 mil pessoas para cada Testemunha de Jeová. Em 1970, o número de proclamadores do Reino aumentou para 97, e então para 128 em 1971. Em 1972, havia 162 irmãos ativos na pregação em Uganda.

Apesar de se sentirem encorajados pelo aumento, os irmãos sabiam que não era isso que os mantinha fortes, mas era Deus, ‘que faz crescer’. (1 Cor. 3:7) O que eles não sabiam era que os anos 70 trariam mudanças dramáticas em suas vidas e severos testes de fé. Um golpe de estado em 1971, liderado pelo general Idi Amin, foi seguido por uma ditadura que causou sofrimento a milhões e resultou na morte de muitos milhares de pessoas. Havia cada vez mais confrontos entre o governo e as facções que se opunham ao novo regime político. Vez por outra, as fronteiras com os países vizinhos eram fechadas. Decretavam-se toques de recolher. Pessoas desapareciam. Outras eram vigiadas. Como nossos pacíficos irmãos em Uganda reagiriam a essa desordem, intimidação e violência?

“REGÊNCIA DIVINA” OU DOMÍNIO HUMANO?

Justamente naquela época, planejava-se realizar em Kampala a Assembleia de Distrito “Regência Divina”, de 1972, o primeiro congresso desse tipo em Uganda. Congressistas viriam do Quênia, da Tanzânia e da distante Etiópia. Como eles lidariam com as contínuas tensões, os conflitos políticos e tribais cada vez piores e as assustadoras travessias de fronteira? Será que o congresso deveria ser cancelado? Os irmãos fizeram orações fervorosas, pedindo a orientação de Jeová sobre os preparativos do congresso e para os irmãos que estariam viajando.

Mais tarde, a situação parecia ainda mais perigosa quando os congressistas chegaram à fronteira e viram grandes grupos de pessoas fugindo do país! A maioria estava deixando o país por causa de um decreto ordenando a expulsão de todos os asiáticos que não eram cidadãos — principalmente indianos e paquistaneses. Muitos professores estrangeiros e outros também fugiam por temer que o decreto fosse um mau sinal para outros grupos étnicos. Apesar disso, os congressistas continuavam chegando. Que situação eles encontrariam numa cidade cheia de agitações políticas?

Para sua surpresa, encontraram Kampala muito calma, com os irmãos e as pessoas interessadas alegremente aguardando no local do congresso a chegada de seus visitantes. Também ficaram surpresos em saber que as autoridades tinham autorizado os irmãos a colocar uma enorme faixa na rua mais movimentada de Kampala anunciando a data e o local do congresso. Nessa época de dificuldades sem precedentes, ali estava o tema do discurso público em letras garrafais: “Regência divina — única esperança de toda a humanidade”!

O programa transcorreu sem problemas, com a assistência máxima de 937 pessoas — um marco significativo na história da adoração pura em Uganda. Na volta, embora o regresso dos congressistas estrangeiros tenha sido dificultado nas fronteiras, seu zelo não diminuiu e todos chegaram em casa sãos e salvos. Em meio a tantas incertezas políticas, o povo de Jeová corajosamente tornou pública sua lealdade ao seu Governante Soberano. E nessa época crítica, Deus fez seu povo ‘ousado na alma’. — Sal. 138:3.

Entre os ugandenses que assistiram ao congresso estavam George e Gertrude Ochola. “Aquele foi meu primeiro congresso”, relembra Gertrude, “e também onde fui batizada”. George, porém, ainda não era Testemunha de Jeová. Ele era um ávido torcedor de futebol e estava mais interessado no local do congresso como estádio de esportes. Mesmo assim, com o tempo, a boa conduta da esposa e seu próprio estudo da Bíblia o fizeram mudar de atitude e ele foi batizado em 1975, no Quênia.

Gertrude recorda que ela foi uma das primeiras pessoas do norte de Uganda a aprender a verdade. Ela diz: “Em 1972, quando fui batizada, eu achava que o lugar onde eu morava era muito remoto. Agora temos aqui um Salão do Reino, bem como um lar missionário e um escritório de tradução. Isso me faz sentir ainda mais empolgada agora do que quando me batizei!”

UMA “ÉPOCA DIFICULTOSA”

Sem nenhum aviso, em 8 de junho de 1973, as emissoras de rádio e televisão anunciaram que 12 grupos religiosos, incluindo as Testemunhas de Jeová, estavam proscritos. O novo governo tinha criado um clima de medo e suspeita entre o povo, falsamente retratando os estrangeiros como espiões. Ficou cada vez mais difícil para os missionários participar no ministério de casa em casa. As Testemunhas de Jeová em Uganda haviam entrado numa “época dificultosa” sem igual. (2 Tim. 4:2) O que aconteceria a elas?

Dois casais de missionários já haviam deixado o país naquele ano porque seus pedidos para estender seus vistos de permanência haviam sido negados. Até meados de julho, todos os 12 missionários restantes haviam sido expulsos. Irmãos estrangeiros que tinham vindo para servir onde a necessidade era maior puderam permanecer um pouco mais por causa de seu emprego, mas isso não durou muito. No ano seguinte, todos foram obrigados a deixar o país.

‘CONSTANTES E INABALÁVEIS’

Os publicadores locais obviamente ficaram tristes quando os irmãos estrangeiros partiram. Mas com a ajuda de Jeová eles se mostraram ‘constantes e inabaláveis’. (1 Cor. 15:58) Um exemplo típico de sua atitude leal foi a reação de um irmão idoso chamado Ernest Wamala. Quando informado da proscrição, ele disse sem hesitar: “Como eles podem proscrever o que está no meu coração?”

Como os anciãos locais, como George Kadu e Peter Gyabi, se sairiam agora que todos os anciãos estrangeiros tinham ido embora? Sua forte espiritualidade e profunda compreensão da cultura local foram de grande ajuda. O irmão Gyabi explica: “Aqui em Uganda, para que uma pessoa aprenda a verdade e sirva a Jeová, ela precisa de bastante autodisciplina a fim de abandonar costumes que violam os padrões divinos. Essa qualidade foi essencial especialmente para os irmãos da liderança, que não tinham nada em que se basear além das instruções escritas da organização de Jeová.” O cuidadoso estudo pessoal dos anciãos locais os ajudou a evitar ser desencaminhados pela falha sabedoria humana. Em resultado, esse período de dificuldades, em vez de atrapalhar, contribuiu para o progresso espiritual do povo de Deus.

Por outro lado, a população em geral se sentia cada vez mais insegura. Muitas pessoas eram hostilizadas, e alguns tinham muito medo dos militares. A corrupção generalizada arruinou a economia. Um belo país estava sendo terrivelmente castigado. Será que os servos fiéis de Jeová em Uganda ainda teriam motivos para se alegrar durante essa época dificultosa?

OCASIÕES ALEGRES

O governo fez de tudo para reprimir qualquer reunião política que parecesse ameaçar o regime. Ao passo que as Testemunhas de Jeová mantinham estrita neutralidade, elas também respeitavam a ordem bíblica de não deixar de se reunir para encorajar uns aos outros. (Heb. 10:24, 25) Exigia bastante coragem e criatividade continuar a se reunir sob a vigilância de autoridades desconfiadas. Como os servos de Deus poderiam evitar atrair atenção para suas inofensivas reuniões?

Primeiro, reorganizaram a maioria das reuniões em grupos menores nas casas dos irmãos. Quando se reuniam em grupos maiores, usavam um piquenique como pretexto. Por exemplo, uma vez por mês a congregação inteira se reunia para um discurso e o Estudo de A Sentinela. Os irmãos combinavam de fazer um piquenique num parque ou no jardim de alguém. Essa tática funcionava bem, pois as pessoas de Uganda são muito sociáveis, e ninguém achava estranho um grupo de amigos ou parentes se reunir para se divertir. Os irmãos discretamente levavam suas Bíblias e livros de estudo, além de se tornarem especialistas em carregar tudo o que se precisava para um piquenique com churrasco completo! Essas reuniões os faziam pensar em como os antigos israelitas deviam apreciar suas festividades religiosas. — Deut. 16:15.

Durante a proscrição, realizavam-se da mesma maneira assembleias de circuito resumidas. Apesar dos esforços do governo para impedi-los, os irmãos nunca deixaram de se reunir ou de pregar as boas novas. Alguns irmãos até mesmo conseguiam assistir a congressos em Nairóbi e, ao voltar, compartilhavam as experiências encorajadoras que viveram ali.

‘CAUTELOSOS COMO SERPENTES, INOCENTES COMO POMBAS’

Os irmãos da liderança tinham motivos para acreditar que, se fossem ‘cautelosos como serpentes mas inocentes como pombas’, as autoridades talvez não fossem tão rígidas com a proscrição, e seria possível continuar com as atividades teocráticas. (Mat. 10:16) Assim, mostrando devida cautela, os pioneiros especiais permaneceram em suas designações, e os publicadores continuaram pregando de casa em casa.

É claro que alguns não ficavam felizes de ver as Testemunhas de Jeová na sua porta. Certo dia em meados dos anos 70, Peter Gyabi trabalhava no ministério com o jovem Fred Nyende. Quando a mãe de Fred aprendeu a verdade em 1962, ele era apenas um bebê. Desde então, ele havia crescido e logo teria a oportunidade de provar que era um jovem maduro.

Um morador irado, pelo visto um agente de segurança do governo, reconheceu os irmãos como Testemunhas de Jeová. Ele os deteve e os obrigou a entrar em seu veículo. É compreensível que eles tenham ficado ansiosos, pois milhares de pessoas levadas dessa forma haviam simplesmente desaparecido. A tortura também era comum, sob qualquer pretexto ou mesmo sem motivo. A caminho da delegacia, Peter e Fred tiveram tempo para orar a Jeová pedindo forças para manter-se calmos e permanecer fiéis. O homem os levou a seu chefe, fazendo acusações e enchendo-os de perguntas. Mas Peter e Fred sentiram em primeira mão a veracidade das palavras de Provérbios 25:15: “Pela paciência se induz ao comandante, e a própria língua suave pode quebrar um osso.” Felizmente, nenhum osso literal foi quebrado naquela tarde. Peter explicou calmamente nossa posição de obediência à lei e nosso apego aos ensinos bíblicos. Isso, e o respeito demonstrado pelos irmãos, venceu o preconceito do chefe. Qual foi o resultado?

O chefe não apenas libertou Peter e o jovem Fred mas também ordenou ao homem que os havia detido que os levasse de volta ao território! Contrariado, ele teve de “escoltar” os irmãos, que agradeceram a Jeová por tê-los livrado.

Outros encontros com a polícia foram menos tensos. Considere o exemplo de Emmanuel Kyamiza, que secretamente fazia reuniões em casa com sua família e um pequeno grupo de interessados, em Entebbe. Para despistar a polícia, Emmanuel costumava dirigir seus estudos bíblicos em diferentes locais. Depois de algum tempo, ele presumiu que esse método estava funcionando muito bem. Um dia, depois de Emmanuel concluir um estudo bíblico no Jardim Botânico de Entebbe, um policial aproximou-se enquanto ele tentava rapidamente esconder de vista o material de estudo. “Por que está escondendo seus livros?”, perguntou o policial. “Sabemos o que vocês estão fazendo. Sabemos que são Testemunhas de Jeová. Sabemos até onde se reúnem. Se quiséssemos, teríamos prendido vocês há muito tempo. Mas podem continuar com suas atividades.” Foi isso que Emmanuel fez — e com grande zelo!

Mais tarde, quando se aposentou e voltou a morar no povoado de sua família, Emmanuel enfrentou muita oposição e zombaria. Como Jesus, ele ‘passou sem honra no seu próprio território’. (Mar. 6:4) Mesmo assim, com bem mais de 70 anos, Emmanuel continuou a produzir frutos na velhice, e regularmente andava de bicicleta 30 quilômetros só de ida para assistir às reuniões. (Sal. 92:14) Hoje, com quase 90 anos, ele ainda serve fielmente como servo ministerial, apesar de não andar de bicicleta tanto quanto gostaria.

PIONEIROS PERSEVERANTES

Apesar da situação instável, sempre havia quem desse um jeito de ser pioneiro. Um zeloso pioneiro daquela época foi James Luwerekera, funcionário do governo, que foi batizado em 1974. Pouco depois de seu batismo, ele se tornou lavrador a fim de pregar as boas novas na vizinhança de sua aldeia natal. Sua esposa também estudou por um tempo, mas depois passou a se opor cada vez mais a James.

Por exemplo, certo dia de manhã, enquanto ainda estava escuro, James e alguns irmãos viajaram para um congresso de distrito em Nairóbi. Mais tarde, quando seu veículo foi parado num ponto de fiscalização, os irmãos perceberam algo estranho em James, que tinha o costume de ser esmerado: suas roupas não lhe serviam e a combinação de cores era esquisita. A princípio, ele brincou que era porque tinha se vestido às pressas no escuro. Mas quando seus amigos insistiram, ele admitiu que sua esposa tinha escondido sua roupa social para impedi-lo de ir ao congresso. Por isso, foi obrigado a pegar qualquer roupa que havia encontrado. Ao saber disso, seus companheiros de viagem bondosamente lhe deram algumas de suas roupas, e ele chegou ao congresso vestido de modo apropriado.

A oposição em casa e na vizinhança às vezes causava a James apenas alguns contratempos; em outras ocasiões se tornava mais intensa. Mas ela continuou por anos. Apesar de tudo, James perseverou com brandura e, quando morreu em 2005, deixou um histórico de fidelidade. Sua fé ainda é admirada pelos irmãos e, sem dúvida, lembrada por seu Deus, Jeová.

UM IRMÃO NASCIDO PARA QUANDO HÁ AFLIÇÃO

“O verdadeiro companheiro está amando todo o tempo e é um irmão nascido para quando há aflição.” (Pro. 17:17) Os irmãos no Quênia se mostraram verdadeiros companheiros durante a aflição e perigo que os irmãos de Uganda enfrentaram nos anos 70. Superintendentes viajantes e representantes da sede precisavam de coragem para atravessar a fronteira a fim de dar apoio e encorajamento a seus queridos irmãos em Uganda.

Em 1978, irrompeu o caos político quando uma facção do exército de Uganda invadiu território tanzaniano. O exército da Tanzânia reagiu por derrubar o governo de Uganda em abril de 1979, obrigando seu temido ditador, Idi Amin, a fugir. A fuga apressada de Amin trouxe muitas mudanças para Uganda. Certo irmão disse: “Com a saída de Amin, foi-se a proscrição.” Uma manchete no jornal Uganda Times dizia: “Permitida a volta dos missionários.” O povo de Jeová novamente tinha liberdade de adoração!

“EU VOU, MESMO QUE QUEIRAM ME MATAR”

Na confusão que se seguiu à mudança do governo, Uganda, além de ser libertada, foi saqueada. Um clima de anarquia resultou em saques e incalculável violência. Apesar disso, os irmãos da sede no Quênia providenciaram que Günter Reschke e Stanley Makumba visitassem Uganda e organizassem assembleias de circuito.

Günter diz: “Duas semanas antes de iniciarmos essa visita pós-guerra, servimos como instrutores num curso de pioneiros realizado em Meru, perto do monte Quênia. Lembro de ler no jornal a respeito dos muitos assassinatos que ocorriam em Kampala, principalmente à noite. Ao ler um trecho em voz alta, exclamei: ‘E eles esperam que visitemos esse lugar semana que vem?!’ Mas daí eu pensei: ‘Será que vou ser como Jonas e fugir da minha designação?’ Imediatamente, deixei minha apreensão de lado e disse a mim mesmo: ‘Eu vou, mesmo que queiram me matar. Não farei como Jonas.’”

Assim, os irmãos foram para Uganda, conforme planejado. Stanley visitou as congregações no interior do país e Günter, as cidades maiores. Eles relatam: “Havia muito a ser reorganizado depois da guerra. Somente 113 publicadores estavam ativos em Uganda naquela época. Todos estavam felizes por terem recuperado a liberdade de se reunir e por poderem realizar abertamente uma assembleia. Foi uma alegria ver 241 pessoas na assistência.” Embora as sementes da verdade tivessem sido pisoteadas, era evidente que ainda conseguiam produzir frutos.

UMA ÉPOCA PERIGOSA

Em Mbale, perto da fronteira oriental de Uganda, os dois irmãos visitantes, Günter e Stanley, deixaram seu carro em frente à casa onde se hospedaram. Durante a noite, eles ouviram ladrões retirando partes do veículo. Günter estava prestes a dar um grito para assustá-los quando se lembrou que alguns dias antes alguém havia sido baleado e morto ao tentar impedir um assalto. Pensando melhor, Günter concluiu que sua vida valia muito mais do que o carro e decidiu não interferir. Ao amanhecer, eles viram que dois pneus e o para-brisa haviam sumido. Ao registrarem a queixa, a polícia os aconselhou: “Tirem o carro daqui antes que os ladrões voltem e levem o resto!”

Assim que puderam, os irmãos partiram para Kampala. Mas, sem o para-brisa e tendo como proteção apenas um cobertor para Günter e um chapéu para Stanley, a viagem de 250 quilômetros, com chuva e vento entrando, foi tudo menos confortável. Os pneus roubados foram substituídos pelo estepe e por um pneu emprestado com problema de vazamento. Para piorar a situação, teriam que devolver o pneu emprestado em dois dias! Os dois irmãos torceram para que os pneus aguentassem a viagem.

Como se isso tudo não bastasse, Günter e Stanley precisavam passar por um trecho na floresta que era famoso pelos muitos assaltos. “Pisem fundo no acelerador e não deixem que ninguém os alcance”, havia aconselhado seu anfitrião. Os corajosos irmãos ficaram aliviados por chegar sãos e salvos a Kampala — e em tempo recorde. Até mesmo tiveram tempo suficiente para encontrar alguém que levasse o pneu emprestado de volta a Mbale.

NOVOS DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Em 1980, ao visitar a sede mundial em Brooklyn, Nova York, o irmão Reschke foi convidado a fazer um relatório à família de Betel a respeito da obra em Uganda. Depois disso, alguns membros do Corpo Governante expressaram seu desejo de que missionários fossem novamente enviados a Uganda. Todos concordavam que era a hora certa para enviar mais missionários. Os irmãos já conseguiam realizar reuniões maiores e, em 1981, o número de publicadores tinha subido para 175. De fato, em julho daquele ano, os irmãos ficaram emocionados com o novo auge de 206 publicadores.

Infelizmente, em resultado dos conflitos nos dez anos anteriores, armas e munições tinham caído nas mãos de muitas pessoas inescrupulosas. Assassinatos ao acaso e roubos eram assustadoramente comuns. Usando de cautela, os pregadores das boas novas se esforçaram em distribuir nossas publicações bíblicas com sua mensagem consoladora em todo o território, colocando em média 12,5 revistas por publicador em julho. Mas a prudência recomendava que a pregação, assim como outras atividades, fosse realizada de dia, visto que o risco de ser assaltado de noite era muito maior. Apesar dos perigos, era evidente que havia grande potencial para crescimento.

OS MISSIONÁRIOS RETORNAM

Dois irmãos formados em Gileade, Jeffrey Welch e Ari Palviainen, chegaram a Kampala vindos do Quênia em setembro de 1982. Desde o início, Jeff e Ari, como eram conhecidos, tiveram excelentes resultados. Jeff recorda: “Nessa época, as pessoas tinham muita fome espiritual, de modo que as revistas, com seus assuntos cativantes, praticamente se colocavam sozinhas.”

Em dezembro, Heinz e Marianne Wertholz, da Extensão da Escola de Gileade, em Wiesbaden, Alemanha, se juntaram a Jeff e Ari. O recém-chegado casal logo ficou impressionado com a capacidade de os irmãos locais se adaptarem à situação nas perigosas e arruinadas comunidades de Uganda.

Heinz relata: “Muitos serviços, como o fornecimento de água e as comunicações, haviam deixado de funcionar. A situação política continuava tensa. Havia vários boatos sobre um golpe de estado e os militares montaram muitos bloqueios. Assassinatos e roubos eram comuns, principalmente à noite. Quando escurecia, as ruas ficavam totalmente vazias. Todo mundo ficava em casa torcendo, e muitas vezes rezando, para que a noite passasse sem que nenhum intruso aparecesse.”

Heinz e Marianne foram convidados para morar temporariamente com Sam Waiswa e sua família enquanto procuravam uma casa que pudesse servir como lar missionário. Embora Sam fosse educador profissional, as condições econômicas do país haviam deixado seus recursos bem limitados, tornando a hospitalidade da sua família realmente notável.

Heinz continua: “Era difícil encontrar uma casa numa área segura e, por isso, acabamos morando com Sam por cinco meses. Nesse período passamos a nos conhecer muito bem. Às vezes sua grande família só comia uma vez por dia, mas estavam sempre felizes, e os filhos eram obedientes e respeitosos. Já que o sistema de abastecimento de água da cidade não funcionava direito, seus filhos precisavam encher com água recipientes plásticos de 20 litros e carregá-los para casa na cabeça. Quando voltávamos da pregação, havia sempre água fresca para nós. É claro que aprendemos a economizar. Por exemplo, tomávamos banho com apenas alguns litros de água e guardávamos a água de enxágue numa bacia para dar descarga no vaso sanitário.”

Em abril de 1983, cerca de dez anos depois de os missionários anteriores serem obrigados a deixar Uganda, os quatro novos missionários encontraram uma casa numa área razoavelmente segura. A insegurança generalizada e a falta de suprimentos apresentavam muitos desafios, mas o amor dos irmãos locais mais do que compensava as dificuldades.

Marianne explica: “Gostávamos muito de pregar as boas novas às pessoas. Elas eram religiosas, a maioria possuía uma Bíblia e tinha mente aberta. Eram bem acessíveis e educadas. E, apesar das dificuldades econômicas e outras, sempre tinham um sorriso no rosto.”

IDOSOS DÃO BOM EXEMPLO

Muitos idosos, altamente estimados na cultura ugandense, aceitam as boas novas e servem a Jeová na idade avançada. Por exemplo, Paulo Mukasa, um professor aposentado, tinha 89 anos quando aprendeu a verdade. Tendo sobrevivido a duas guerras mundiais, ao domínio colonial, a uma ditadura violenta e a vários conflitos políticos, Paulo estava ansioso para aprender sobre o Reino de Deus. Ele ficou muito feliz ao saber que o Rei messiânico, Jesus Cristo, ‘livrará ao pobre e ao atribulado da opressão e da violência’. — Sal. 72:12, 14.

Quando Paulo se qualificou para o batismo dois anos mais tarde, os irmãos se perguntavam: ‘Será que podemos mergulhar completamente na água uma pessoa tão idosa?’ Mas não precisavam se preocupar. Enquanto um ansioso jovem batizando hesitava em entrar na água, o irmão Paulo, de 91 anos, foi batizado e levantou-se da água com um grande sorriso. Apesar de ter uma participação limitada no ministério, Paulo pregava zelosamente as boas novas do Reino a todos que o visitavam, e continuou assim até sua morte alguns anos mais tarde.

Lovinca Nakayima também tinha de lidar com a idade avançada, além da saúde fraca. Uma doença deixava suas pernas tão inchadas que ela não conseguia ir a lugar algum sem ajuda. Mesmo assim, quando os irmãos da congregação foram incentivados a ser pioneiros auxiliares por um mês na época da Comemoração, Lovinca quis participar. Por levar pessoas interessadas à casa de Lovinca para estudar a Bíblia, a congregação a ajudou a fazer suas atividades. Os missionários também a ensinaram a escrever cartas a pessoas nos povoados, o que ela podia fazer a qualquer hora. Então, aos sábados, um ancião a levava a uma movimentada área pública em Kampala, onde ela podia se sentar confortavelmente numa mureta e dar testemunho o dia inteiro aos que passavam. No fim do mês, feliz e realizada, Lovinca disse: “Agora vejo que posso ser pioneira — e ter alegria em fazer isso!” Ela não só foi pioneira auxiliar naquele mês mas, com a ajuda bondosa da congregação, por 11 meses consecutivos!

“COMO SE DIZ . . . ?”

Nos anos 80, os esforçados publicadores em Uganda receberam calorosamente um grande número de missionários dispostos. Alguns eram recém-formados de Gileade e outros tinham sido obrigados a deixar sua designação missionária no Zaire (agora República Democrática do Congo). O aumento de missionários em Kampala e Jinja tornou possível cobrir melhor o território dessas cidades densamente povoadas, e os missionários ficaram muito animados por encontrar o campo de Uganda pronto para a colheita. Na realidade, o problema não era encontrar pessoas interessadas, mas conseguir se comunicar a fim de cultivar esse interesse.

Empolgado depois de meses de treinamento em Gileade, Mats Holmkvist estava ansioso para aprender a língua local a fim de cultivar o interesse das pessoas na verdade. Nessa época, Fred Nyende era pioneiro especial em Entebbe, e usava bem suas habilidades de traduzir e interpretar para ensinar os novos missionários a falar de forma compreensível o luganda, um idioma difícil de pronunciar. De fato, Mats descobriu que aprender esse novo idioma não seria nada fácil.

“Como se diz ‘Reino de Deus’ em luganda?”, perguntou Mats numa das primeiras aulas.

“Obwakabaka bwa Katonda”, foi a resposta cadenciada de Fred.

‘É impossível falar isso!’, pensou Mats, arrependido de ter perguntado. Mesmo assim, Mats fez notável progresso e conseguiu dominar bem o luganda.

CRESCIMENTO ESPANTOSO

Apesar das dificuldades que as pessoas em Uganda enfrentaram na maior parte dos anos 80, a reação às verdades bíblicas foi impressionante. Entre 1986 e 1990, o número de publicadores subiu de 328 para 766: um salto de mais de 130%! Novos grupos apareciam por todo o país. Em Kampala, o número de congregações dobrou. A congregação em Jinja se alegrou ao ver o número de publicadores mais do que triplicar, ao passo que o grupo em Iganga rapidamente virou uma congregação.

Um ancião em Jinja relembra: “A obra crescia tão rápido, que nos perguntávamos de onde vinham todos esses novos publicadores. Numa época, eram tantos que precisávamos fazer a consideração com os que queriam se tornar publicadores não batizados quase todos os domingos.”

FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AUMENTO

Um fator que contribuiu para o grande crescimento foi o notável espírito de pioneiro entre os irmãos. Assim como os pregadores Paulo, Silas e Timóteo, do primeiro século, os servos de tempo integral em Uganda se tornaram um ‘exemplo a ser imitado’. (2 Tes. 3:9) Com a necessidade cada vez maior no campo e o excelente exemplo desses irmãos, muitos publicadores zelosos se sentiram motivados a expandir seu ministério. Jovens e idosos, solteiros e casados, homens e mulheres, e até mesmo alguns que tinham de sustentar a família, juntaram-se às fileiras dos diligentes pioneiros. Em média, mais de 25% dos publicadores participaram em alguma modalidade do serviço de pioneiro no final dos anos 80. Alguns continuam no serviço de tempo integral até hoje.

Os pioneiros apoiaram prontamente as campanhas especiais de pregação realizadas todo ano, carinhosamente chamadas de ‘campanhas macedônias’. (Atos 16:9, 10) Essas campanhas continuam até hoje. As congregações pregam em territórios não designados ou pouco trabalhados por períodos de até três meses. Além disso, alguns pioneiros regulares são designados como pioneiros especiais temporários em territórios onde há mais necessidade. Os resultados têm sido bem animadores. Muitas pessoas sinceras são gratas por ter aprendido a verdade através dessas campanhas, e vários grupos e congregações foram formados.

Em uma dessas campanhas, os missionários Peter Abramow e Michael Reiss pregaram na cidade de Kabale e contataram Margaret Tofayo, que tinha estudado a Bíblia anteriormente. Ela estava convencida de que tinha encontrado a verdade, e já dava testemunho informal a respeito de suas crenças. Para tentar ajudá-la, os missionários deixaram com ela seu único exemplar do livro Raciocínios à Base das Escrituras. Quando esses irmãos visitaram Margaret pela última vez antes de irem embora, ela os surpreendeu com uma refeição especial. Eles estavam admirados com sua bondade e generosidade, mas ficaram sem jeito porque perceberam que ela havia cozinhado sua única galinha. Sabiam que essa galinha provia os ovos que ela usava para complementar a escassa dieta da família. “Não se preocupem”, disse ela, “vocês me deram mais com sua visita do que eu estou lhes dando com esta refeição”. Com o tempo ela se batizou e foi uma zelosa publicadora até sua morte.

O rápido crescimento também pode ser atribuído ao modo como os irmãos usavam as excelentes publicações. “Sempre procuramos melhorar nossas habilidades como instrutores”, diz Mats, “mas o que realmente afeta as pessoas e as motiva a fazer mudanças na vida são a Bíblia e as publicações. Até mesmo aqueles que não leem bem, mas têm sede da verdade, se sentem motivados por nossas brochuras, que são fáceis de entender e dão conselhos práticos.”

PROGRESSO APESAR DE OBSTÁCULOS

Todo esse progresso no final dos anos 80 não foi conseguido sem desafios. Um golpe de estado, em julho 1985, trouxe novamente o domínio militar. A segurança voltou a piorar, e a luta das guerrilhas se intensificou. Grupos enlouquecidos de soldados em fuga saqueavam propriedades e davam tiros a esmo nas pessoas. Por algum tempo, as tropas lutaram na área onde os missionários em Jinja moravam. Certo dia, soldados invadiram o lar missionário, mas ao saber quem morava ali, não destruíram nada e levaram muito pouco. Então, em janeiro de 1986, ainda outro regime subiu ao poder e tentou devolver alguma estabilidade ao país.

O governo recém-estabelecido logo precisou lutar contra um novo e devastador inimigo: a aids. Quando a pandemia surgiu nos anos 80, Uganda foi uma das nações mais afetadas. Acredita-se que 1 milhão de pessoas tenha morrido por causa dessa doença, possivelmente mais do que os mortos em 15 anos de conflitos políticos e guerra civil. Como a aids afetou nossos irmãos em Uganda?

Washington Ssentongo, um pioneiro regular, explica: “Alguns novos irmãos e irmãs entraram na verdade cheios de zelo e energia, mas acabaram sendo consumidos pela aids. Eles haviam sido infectados pelo vírus HIV antes de aprender a verdade.” Outros foram infectados pelo cônjuge descrente.

Washington continua: “Às vezes parecia que não passava um único mês sem que ficássemos sabendo da morte de alguém que conhecíamos e amávamos, e todos estavam perdendo familiares. Além disso, havia muita superstição a respeito da aids. Muitas pessoas a relacionavam com a feitiçaria e estar amaldiçoado. Esse ponto de vista errado fazia com que as pessoas sentissem medo, tivessem preconceitos infundados e agissem de forma irracional.” Mesmo assim, nossos irmãos lealmente consolavam uns aos outros por falar da esperança da ressurreição e por reafirmar seu genuíno amor cristão.

À medida que os anos 80 chegavam ao fim, houve uma grande onda de otimismo em Uganda. Havia mais segurança e a economia do país se recuperava. A infraestrutura melhorou e programas sociais foram retomados ou implementados.

Mas, ao dar cada vez mais ênfase a ideais políticos, as pessoas às vezes interpretavam mal a neutralidade das Testemunhas de Jeová. Certa vez, as autoridades arbitrariamente interromperam a construção de um Salão do Reino. Negou-se a autorização para realizar algumas assembleias, e alguns missionários tiveram de deixar o país quando seus vistos expiraram. No fim de 1991, só haviam restado dois missionários. O que se poderia fazer para melhorar a situação?

Um grupo de irmãos se reuniu com as autoridades para explicar nossa posição quanto à neutralidade. Depois que elas entenderam a questão, permitiu-se que os missionários retornassem a Uganda. A obra progrediu sem impedimentos e, em 1993, os irmãos ficaram felizes de atingir o marco de mil publicadores em Uganda. Daí, levou apenas mais cinco anos para chegar a 2 mil proclamadores do Reino. Atualmente, há cerca de 40 missionários que realizam um excelente trabalho em todo o país.

A TRADUÇÃO DE PUBLICAÇÕES ACELERA A COLHEITA

Ao passo que o inglês é falado no país inteiro, o luganda é a língua local mais comum, e 30 idiomas são falados por vários grupos étnicos. Assim, um fator importante que contribuiu para acelerar o crescimento da obra em tempos recentes foram os esforços para traduzir as publicações nesses idiomas.

“Embora minha mãe assistisse fielmente às reuniões”, disse Fred Nyende, “ela tirava muito mais proveito delas quando eu traduzia os artigos de estudo do inglês para o luganda. Eu nem me dava conta de que isso estava me preparando para um dia fazer um trabalho de tradução muito maior.” O que Fred queria dizer?

Logo depois de Fred começar o serviço de pioneiro em 1984, pediu-se a ele que ensinasse o luganda aos missionários. No ano seguinte, ele foi convidado a se tornar membro da equipe de tradução para o luganda. No início, cada tradutor trabalhava em casa usando seu tempo livre. Mais tarde, a equipe pôde trabalhar junto por tempo integral numa pequena sala anexa a um lar missionário. É interessante que, durante a proscrição em meados dos anos 70, alguns números de A Sentinela haviam sido traduzidos para o luganda e mimeografados. Mas, depois de algum tempo, esse projeto foi descontinuado. Foi apenas em 1987 que A Sentinela foi novamente publicada em luganda. Desde então, a equipe de tradução foi ampliada e os tradutores trabalham duro para fornecer outras publicações para o número cada vez maior de congregações nesse idioma. Atualmente, quase metade das congregações do país é da língua luganda.

Com o tempo, nossas publicações foram traduzidas para outras línguas. Agora há equipes permanentes trabalhando por tempo integral na tradução do acholi, luconzo e runyankore. Também algumas publicações foram traduzidas para os idiomas ateso, lugbara, madi e rutoro.

A equipe do acholi fica em Gulu, e a do runyankore, em Mbarara. Dessa forma, o escritório das equipes se localiza onde o respectivo idioma predomina. Isso ajuda os tradutores a continuar usando sua língua materna e a produzir uma tradução que seja de fácil compreensão. Ao mesmo tempo, as congregações locais se beneficiam com a presença dos tradutores.

Sem dúvida, o trabalho de tradução requer recursos consideráveis e grande esforço. Os aplicados tradutores ugandenses, assim como outras equipes no mundo inteiro, receberam treinamento avançado em tradução e compreensão de texto. Os resultados mais do que compensaram o esforço e os recursos gastos — como nunca antes, pessoas em Uganda de várias “tribos, e povos, e línguas” se beneficiam de ler as verdades da Bíblia em seu próprio idioma. (Rev. 7:9, 10) Em resultado, em 2003, houve mais de 3 mil pregadores do Reino em Uganda e, apenas três anos depois, em 2006, esse número subiu para 4.005.

A CONSTRUÇÃO DE SALÕES DO REINO IMPULSIONA A OBRA

No início da obra, os irmãos se reuniam em casas, centros comunitários e salas de aula. Os primeiros locais usados exclusivamente para reuniões cristãs eram estruturas de barro e sapé nas áreas rurais de Namaingo e Rusese. A iniciativa e os esforços dos irmãos nessas áreas com certeza foram abençoados e as congregações ali ficaram firmemente estabelecidas.

Nas cidades, porém, até mesmo uma construção modesta exige um investimento considerável, e as condições econômicas em Uganda pareciam tornar fora de alcance a construção de Salões do Reino. Foi só em março de 1988 que o primeiro Salão do Reino de material durável foi dedicado em Jinja. E que esforço essa construção exigiu! Foi necessário derrubar árvores numa floresta próxima, transportar as toras em caminhões por estradas lamacentas e construir o salão. Posteriormente, os irmãos em Mbale, Kampala e Tororo, também usaram sua iniciativa e habilidades para construir Salões do Reino.

A construção de Salões do Reino recebeu um grande impulso em 1999, quando se formou um grupo de construção com a ajuda do Escritório Regional de Engenharia da sede na África do Sul. A sede designou uma equipe de nove pessoas, que incluía dois servos internacionais e suas esposas. Essa equipe disposta rapidamente aprendeu o trabalho. Ela também pôde treinar os irmãos locais, o que acelerou o programa de construção. Dessa forma, 67 salões foram completados, levando em média um mês e meio cada um — o que é notável, considerando que há poucas ferramentas elétricas, a água geralmente é escassa, e os materiais de construção nem sempre estão disponíveis.

A maioria das congregações em Uganda agora se reúne em seu próprio Salão do Reino. Ter um salão na localidade traz muitos benefícios, pois as pessoas interessadas estão mais propensas a visitar um local de adoração do que uma sala de aulas. Em resultado, a assistência às reuniões aumenta muito, contribuindo assim para o rápido crescimento das congregações.

AJUSTES PARA LIDAR COM O RÁPIDO CRESCIMENTO

O crescimento espantoso, porém, tornava cada vez mais difícil encontrar locais disponíveis para assembleias e congressos. Era necessário encontrar locais adequados para esses eventos e que não exigissem que os irmãos viajassem longas distâncias, especialmente os irmãos das zonas rurais. O que se poderia fazer? A solução perfeita veio com a aprovação para construir Salões do Reino expansíveis. Esses são salões de tamanho padrão que têm uma grande varanda anexa à parede que fica atrás da assistência. Quando há assembleias, essa parede é aberta, possibilitando acomodar uma assistência maior. Salões desse tipo já foram construídos em Kajansi, Rusese e Lira, e outro está sendo construído em Seta.

Esse crescimento em resultado das bênçãos de Jeová sobre a obra em Uganda também exigiu ajustes na organização. Antes de 1994, havia apenas um circuito em todo o país. Mais tarde, outros circuitos foram formados para cuidar do crescente número de congregações e grupos e da diversidade de línguas. Hoje, com 111 congregações e cerca de 50 grupos, Uganda tem oito circuitos, três dos quais são da língua luganda.

Apollo Mukasa, um superintendente de circuito, foi batizado em 1972. Em 1980, entrou no serviço de tempo integral em vez de cursar uma faculdade. Será que ele se arrepende dessa decisão?

“De jeito nenhum”, diz Apollo. “Tenho muitas lembranças excelentes dos dias que servi como pioneiro especial e como superintendente viajante, visitando grupos e, mais tarde, congregações. Gostei especialmente do treinamento espiritual e organizacional avançado que recebi na Escola de Treinamento Ministerial.”

Além de Apollo, mais de 50 irmãos de Uganda receberam valiosa instrução na Escola de Treinamento Ministerial desde 1994, quando esse curso foi iniciado na sede no Quênia. Muitos desses irmãos dispostos servem como pioneiros especiais, dando uma importante ajuda a congregações pequenas e grupos, ao passo que outros servem seus irmãos como superintendentes viajantes.

Em 1995, uma Comissão de País foi designada em Uganda para servir sob a supervisão da sede no Quênia. Um dos lares missionários de Kampala se tornou o lar de uma recém-formada família de oito voluntários por tempo integral, que incluía a equipe de tradução do luganda. Em setembro de 2003, a organização estabeleceu uma sede em Uganda.

“ISSO AQUI É UM PARAÍSO”

Já por algum tempo, a Comissão do País fazia esforços para acompanhar o crescimento das equipes de tradução e cuidar de responsabilidades administrativas cada vez maiores. Para esse fim, dois imóveis ao lado do escritório em Kampala foram comprados. Mas, com o tempo, viu-se a necessidade de dependências maiores em preparação para crescimento adicional. Em 2001, o Corpo Governante aprovou a compra de uma propriedade de quatro hectares para a construção de uma nova sede na região de Kampala, perto do lago Vitória.

De início, a construtora mais indicada não se interessou pelo serviço porque estava muito ocupada. Mas de repente eles mudaram de ideia e, por incrível que pareça, sua proposta para construir a nova sede foi a mais em conta de todas. Pelo visto, haviam inesperadamente perdido um grande contrato de trabalho, fazendo com que concordassem em construir a sede o quanto antes.

Em janeiro de 2006, a família de Betel teve o prazer de se mudar para um novo e atraente prédio residencial de dois andares e 32 apartamentos. As dependências incluíam um prédio administrativo, um grande refeitório, uma cozinha e uma lavanderia. As instalações também incluíam um sistema de esgoto que não agride o meio ambiente, um prédio para os departamentos de estoque e envio de publicações, e prédios para uma oficina de manutenção, um reservatório de água e um gerador. “Isso aqui é um paraíso”, disse certo irmão com entusiasmo, “só falta a vida eterna!” O discurso de dedicação foi proferido no sábado, 20 de janeiro de 2007, por Anthony Morris, membro do Corpo Governante.

O VERDADEIRO CONHECIMENTO TORNA-SE ABUNDANTE

Em décadas recentes, ao passar tanto por tempos turbulentos como por tranquilos, o povo de Jeová em Uganda aprendeu o que significa ‘pregar a palavra em época favorável e em época dificultosa’. (2 Tim. 4:2) Em 2008 os 4.766 publicadores se alegraram com os 11.564 estudos bíblicos e com a assistência de 16.644 pessoas na Comemoração da morte de Cristo. Esses números, e a proporção de 1 publicador para cada 6.276 habitantes, indicam que os campos ainda estão “brancos para a colheita”. — João 4:35.

Ao mesmo tempo, nossos irmãos em Uganda sabem por experiência própria que a situação pode mudar de modo súbito e que testes de fé podem surgir inesperadamente. Ainda assim, essas situações lhes ensinaram a confiar em Jeová, na orientação de sua Palavra e no apoio de nossa fraternidade mundial.

Um anjo disse ao fiel e idoso profeta Daniel que no ‘tempo do fim o verdadeiro conhecimento se tornaria abundante’. (Dan. 12:4) Graças a Jeová, isso certamente está acontecendo em Uganda. Sem dúvida, nessa região onde fica a nascente do poderoso rio Nilo, as torrentes da verdade continuarão a jorrar para saciar todos os que têm sede espiritual. À medida que Jeová continua a abençoar a obra no mundo inteiro, ansiamos o tempo em que todos estarão unidos em dar um poderoso grito de louvor a Jeová — por toda a eternidade!

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 25 A biografia de Frank Smith foi publicada em A Sentinela de 1.º de agosto de 1995, páginas 20-24. O pai de Frank, Frank W. Smith, bem como seus tios, Gray e Olga Smith, foram alguns dos primeiros a pregar na África Oriental. O pai de Frank morreu de malária ao retornar para casa na Cidade do Cabo, apenas dois meses antes de Frank nascer.

^ parágrafo 26 Publicado pelas Testemunhas de Jeová, mas atualmente esgotado.

[Destaque na página 84]

‘Era engraçado ouvir um americano e um escocês conversando numa estação de rádio africana’

[Destaque na página 92]

“Como eles podem proscrever o que está no meu coração?”

[Destaque na página 111]

“Como se diz ‘Reino de Deus’ em luganda?” “Obwakabaka bwa Katonda”

[Quadro/Foto na página 72]

Dados gerais sobre Uganda

País

Com densas florestas tropicais, extensas savanas, inúmeros rios e lagos e os majestosos picos cobertos de neve das montanhas Ruwenzori, Uganda é um país de contrastes impressionantes. Abrange uma área de 241.550 quilômetros quadrados e inclui quase metade do lago Vitória, o maior lago da África.

Povo

A população é composta de cerca de 30 grupos étnicos. Mais de 85% dos habitantes vive na zona rural.

Idioma

Há pelo menos 32 idiomas falados no país, sendo o luganda o mais comum. Os idiomas oficiais são o inglês e o suaíli.

Economia

Produtor de café, chá, algodão e outras culturas comerciais, Uganda é um país agrícola. A maioria dos habitantes são lavradores que plantam alimentos para consumo próprio, mas alguns vivem da pesca e do turismo.

Alimentação

Apreciado na maior parte do sul do país, o matooke (na foto) é um prato típico cozido a vapor e feito com banana-da-terra. Fubá, batata-doce e pão de farinha de painço ou de mandioca são saboreados com uma variedade de verduras e legumes.

Clima

Situada em um planalto que se eleva de aproximadamente 900 metros acima do nível do mar no norte a cerca de 1.500 metros no sul, Uganda é um país tropical com clima moderado. Na maior parte do país o clima é bem definido, dividindo-se em estação da seca e estação das chuvas.

[Quadro/Foto na página 77]

‘O genuíno amor cristão nos comoveu’

PETER GYABI

ANO DE NASCIMENTO 1932

ANO DE BATISMO 1965

RESUMO BIOGRÁFICO Ancião que ajudou a traduzir publicações durante a proscrição. Ele e sua esposa, Esther, têm quatro filhos adultos.

▪ QUANDO os primeiros missionários das Testemunhas de Jeová chegaram a Uganda, havia muito preconceito racial no país, e a maioria das pessoas brancas não se misturava com os africanos negros. O genuíno amor cristão dos missionários nos comoveu, e eles se tornaram muito queridos para nós.

Durante os anos 70, nossa família gostava muito de se associar e pregar com os missionários, que moravam a uns 65 quilômetros, em Mbarara. Certo dia, ao irmos para lá, alguns soldados pararam nosso carro. Um deles nos alertou: “Se têm amor à vida, não continuem a viagem.” Parecia que era melhor voltar para casa. Mas, à medida que os dias passavam, ficamos muito preocupados com os missionários. Queríamos visitar o lar missionário o quanto antes para saber como eles estavam. Havia um forte esquema de segurança, mas, visto que eu tinha certa autoridade na administração do hospital e possuía um adesivo de identificação do hospital no carro, consegui passar pelos bloqueios na estrada. Como ficamos aliviados ao ver que os missionários estavam bem! Nós reabastecemos seu estoque de comida e passamos alguns dias com eles. Depois disso, continuamos a visitá-los toda semana até que fosse seguro se mudarem para Kampala. Quanto mais difíceis as condições se tornavam, mais o vínculo de amor da nossa preciosa fraternidade se fortalecia.

[Quadro/Foto na página 82]

‘Eu achava que não conseguiria falar nada’

MARGARET NYENDE

ANO DE NASCIMENTO 1926

ANO DE BATISMO 1962

RESUMO BIOGRÁFICO A primeira mulher de Uganda a aceitar a verdade. Foi pioneira regular por mais de 20 anos e continua até hoje como publicadora ativa.

▪ MEU marido gostava quando o irmão Kilminster lhe ensinava a Bíblia e, por causa de meu profundo amor pela Palavra de Deus, achava que eu também devia estudar. Assim, ficou combinado que eu estudaria com Eunice, a esposa de John Bwali.

Eu amava o que estava aprendendo, mas tinha medo de pregar a outros. Era tímida por natureza e achava que não conseguiria falar nada. Mas Eunice teve paciência comigo, me ajudando primeiro a apenas ler um texto. Então, enquanto íamos de uma casa a outra, ela me ajudava a treinar algo para dizer sobre o texto. Com a ajuda de Jeová, superei meu medo.

Pouco antes do meu batismo, fiquei chocada quando meu marido rejeitou a verdade e me abandonou, deixando-me com sete filhos para criar. Mas os irmãos foram maravilhosos e nos deram ajuda tanto prática como espiritual. Um casal de irmãos estrangeiros que ia de carro até Kampala para assistir às reuniões passava em casa e nos levava junto. Sou muito grata por quatro de meus filhos e suas famílias terem escolhido servir a Jeová.

Com o tempo, pude servir como pioneira regular. Quando fiquei debilitada pela artrite, montei uma mesa com publicações na frente de minha casa e falava com os que passavam. Dessa forma, pude continuar no serviço de tempo integral.

[Quadro/Fotos nas páginas 98, 99]

Deus abençoou nossa colheita espiritual

SAMUEL MUKWAYA

ANO DE NASCIMENTO 1932

ANO DE BATISMO 1974

RESUMO BIOGRÁFICO Por muitos anos, Samuel representou a organização em assuntos jurídicos e também serviu como ancião e pioneiro.

▪ NUNCA me esquecerei do que aconteceu durante uma visita ao Betel do Quênia, em Nairóbi.

“Para que servem esses alfinetes coloridos?”, perguntei ao olhar um mapa de Uganda.

“São lugares onde há muitas pessoas interessadas”, respondeu Robert Hart, membro da Comissão de Filial do Quênia.

Apontando para um alfinete em Iganga, minha cidade natal, perguntei: “Quando vocês vão enviar pioneiros para lá?”

“Não pretendemos mandar ninguém para lá”, disse ele. Daí, olhando direto para mim com um sorriso nos lábios, ele continuou: “Você vai para lá.”

Fiquei surpreso com a resposta do irmão Robert, porque eu não era pioneiro nem morava em minha cidade natal. Mas essas palavras não saíam da minha mente, de modo que, depois de me aposentar como funcionário público, decidi me mudar para lá e servir como pioneiro regular. Que alegria foi ver um punhado de publicadores aumentar rapidamente e se tornar uma forte congregação com seu próprio Salão do Reino!

Quando Patrick Baligeya foi designado para Iganga como pioneiro especial, ele morou comigo e servimos como pioneiros juntos. Nós também fizemos uma plantação de milho para nos sustentar. Começávamos bem cedo cada dia com uma consideração do texto diário seguida por algumas horas de trabalho em nossa plantação. No meio da manhã, íamos para o território e passávamos o resto do dia fazendo nossas atividades ministeriais.

À medida que a plantação crescia, alguns vizinhos diziam que a estávamos negligenciando por causa de nossa pregação. Sabíamos muito bem que, na época do amadurecimento das espigas, o milho precisava ser protegido dos macacos. Mas, não queríamos interromper nossa colheita espiritual só para espantar macacos.

Pouco depois, notamos dois cachorros grandes rondando nossa plantação. Não sabíamos de onde eram ou quem era o dono, mas em vez de enxotá-los, decidimos deixar água e comida para eles todos os dias. Naturalmente, enquanto os cachorros estavam ali, os macacos não apareciam. Então, depois de quatro semanas, eles desapareceram com a mesma rapidez que chegaram — mas não antes que nosso milho estivesse fora de perigo! Agradecemos a Jeová pela farta colheita que serviu de alimento para nós em vez de para os macacos. Mais importante ainda, ficamos muito gratos por Deus ter abençoado nossa colheita espiritual!

[Quadro/Foto nas páginas 101, 102]

Detido mas fortalecido

PATRICK BALIGEYA

ANO DE NASCIMENTO 1955

ANO DE BATISMO 1983

RESUMO BIOGRÁFICO Iniciou o serviço de tempo integral logo após seu batismo. Serve como superintendente viajante com sua esposa Symphronia.

▪ QUANDO um novo governo assumiu o poder em 1979, todas as pessoas ligadas ao regime anterior foram “convidadas” a se colocar sob a “proteção” do Estado. Anunciou-se que quem não cooperasse seria encarado como hostil ao novo governo e seria tratado como tal. Visto que eu havia servido como músico nas forças armadas, tive de me entregar.

Fiquei feliz por poder ler a Bíblia todos os dias quando estava detido, pois isso ajudava a manter minha mente ativa. Além disso, eu procurava a verdade e gostava de conversar com outros detentos sobre assuntos bíblicos. No mesmo campo de detenção havia uma Testemunha de Jeová chamada John Mundua, que estava ali por ter sido funcionário público e por pertencer à tribo que apoiou o regime anterior.

John zelosamente falou comigo sobre as boas novas e eu logo as aceitei. Tínhamos apenas 16 exemplares de A Sentinela e o livro Boas Novas — Para Torná-lo Feliz, * mas de imediato eu me dei conta de que estava aprendendo a verdade. Depois de estudar a Bíblia comigo por três meses, John achou que eu estava pronto para ser publicador. Pouco depois, ele foi inocentado de todas as acusações e libertado. Com isso, perdi o único contato que eu tinha com a organização de Jeová. Mesmo assim, continuei dirigindo estudos com os interessados no campo de detenção da melhor forma que eu podia.

Fui libertado em outubro de 1981 e voltei para meu povoado, onde não havia Testemunhas de Jeová. Meus parentes tentaram me pressionar a participar em seus costumes religiosos. Mas Jeová viu meu desejo de servi-lo e me deu forças para resistir. Eu sabia que devia seguir o exemplo de Jesus, de modo que comecei a pregar por conta própria e logo estava dirigindo vários estudos. Certo dia, um morador me mostrou o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna e comentou: “O que você está falando me lembra o que li neste livro.” * O homem tinha apenas um interesse limitado, e eu estava muito ansioso de ler o livro e sua pilha de revistas A Sentinela. Assim, nesse caso, foi o morador quem colocou as publicações!

Mas eu ainda precisava encontrar as Testemunhas de Jeová. O irmão Mundua tinha mencionado que havia Testemunhas de Jeová em Jinja. Assim, decidi ir até lá para procurar os irmãos. Depois de passar quase a noite inteira orando, no dia seguinte saí cedo sem sequer ter tomado o café da manhã. A primeira pessoa que encontrei no caminho foi um homem carregando um saco plástico transparente. Mal pude acreditar quando vi dentro do saco uma revista Despertai!. Eu tinha encontrado um irmão!

Em 1984, fiquei emocionado por cursar a primeira turma da Escola do Serviço de Pioneiro em Uganda. E quem estava entre os alunos? Ninguém mais do que o meu querido irmão John Mundua. Ainda hoje, aos 74 anos de idade, ele continua servindo fielmente como pioneiro regular.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 228 Publicado pelas Testemunhas de Jeová, mas atualmente esgotado.

^ parágrafo 229 Publicado pelas Testemunhas de Jeová, mas atualmente esgotado.

[Quadro/Foto na página 113]

Ele finalmente encontrou a religião verdadeira

Uma irmã pediu ao missionário Mats Holmkvist que se encontrasse com Mutesaasira Yafesi, que havia sido pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Agora ele estava interessado nas Testemunhas de Jeová e havia preparado uma lista de 20 perguntas, escritas com capricho. Ao conhecer Mats, apresentou-lhe a lista.

Depois de uma conversa de duas horas sobre a Bíblia, Mutesaasira declarou: “Acho que finalmente encontrei a religião verdadeira! Venha visitar meu povoado. Há mais pessoas que querem conhecer as Testemunhas de Jeová.”

Cinco dias depois, Mats e outro missionário foram de moto para visitar Mutesaasira em Kalangalo — uma viagem de 110 quilômetros por caminhos difíceis e lamacentos no meio de plantações de chá. Ao chegar, ficaram surpresos quando Mutesaasira os levou a uma cabana de sapé com um letreiro que dizia “Salão do Reino”. Isso mesmo, ele já tinha preparado um local onde se poderiam realizar estudos bíblicos e reuniões!

Havia mais dez pessoas interessadas em resultado do testemunho dado por Mutesaasira. Mats iniciou estudos bíblicos com eles e, sem se deixar desanimar por causa da distância, viajava duas vezes por mês para dirigi-los. Os estudantes progrediram bem. Mais de 20 pessoas se tornaram publicadores em Kalangalo, e há uma forte congregação na cidade vizinha de Mityana. Nesse meio tempo, Mutesaasira progrediu rapidamente e foi batizado. Agora ele tem bem mais de 70 anos e serve como ancião.

[Tabela/Gráfico nas páginas 108, 109]

MARCOS HISTÓRICOS—Uganda

1930

1931 Robert Nisbet e David Norman pregam na África Oriental.

1940

1950

1950 O casal Kilminster se muda para Uganda.

1952 A primeira congregação é formada.

1956 Primeiro batismo.

1959 Irmãos estrangeiros chegam para ajudar.

1960

1963 Chegam missionários de Gileade.

1972 Primeiro congresso de distrito.

1973 Testemunhas de Jeová são proscritas e missionários são expulsos.

1979 Termina a proscrição.

1980

1982 Permitida novamente a entrada de missionários.

1987 A Sentinela é traduzida para o luganda em base regular.

1988 Dedicação do primeiro Salão do Reino permanente.

1990

2000

2003 Estabelecida a sede.

2007 Dedicação da nova sede.

2010

[Gráfico]

(Veja a publicação)

Total de publicadores

Total de pioneiros

5.000

3.000

1.000

1930 1940 1950 1960 1980 1990 2000 2010

[Mapas na página 73]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO

SUDÃO

QUÊNIA

UGANDA

KAMPALA

Arua

Gulu

Lira

Soroti

Lago Kyoga

Masindi

Hoima

Mbale

Tororo

Namaingo

Iganga

Jinja

Seta

Kajansi

Entebbe

Mityana

Kalangalo

Fort Portal

Rusese

Lago Albert

Montanhas Ruwenzori

Linha do equador

Lago Edward

Masaka

Mbarara

Kabale

QUÊNIA

LAGO VITÓRIA

TANZÂNIA

BURUNDI

RUANDA

UGANDA

KAMPALA

QUÊNIA

NAIRÓBI

Meru

Monte Quênia

Mombaça

TANZÂNIA

DAR ES SALAAM

Zanzibar

[Mapa/Foto na página 87]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

UGANDA

KAMPALA

Arua

Gulu

Lirax

Soroti

Masindi

Hoima

Fort Portal

Masaka

Mbarara

Kabale

LAGO VITÓRIA

[Foto]

O irmão Hardy e sua esposa viajaram pela maior parte de Uganda em apenas seis semanas

[Foto de página inteira na página 66]

[Foto na página 69]

David Norman e Robert Nisbet levaram as boas novas para a África Oriental

[Foto na página 71]

George e Robert Nisbet, e Gray e Olga Smith com seus furgões em uma balsa, prontos para atravessar um rio

[Foto na página 75]

Mary e Frank Smith, pouco antes de seu casamento em 1956

[Foto na página 78]

Ann Cooke e seus filhos com o irmão e a irmã Makumba

[Foto na página 80]

Tom e Bethel McLain foram os primeiros missionários formados em Gileade a servir em Uganda

[Foto na página 81]

O primeiro lar missionário em Jinja

[Foto na página 83]

Barbara e Stephen Hardy, missionários de Gileade

[Foto na página 85]

Mary Nisbet (no centro) com seus filhos Robert (à esquerda), George (à direita), e William e sua esposa, Muriel (ao fundo)

[Foto na página 89]

Tom Cooke proferindo um discurso na Assembleia de Distrito “Regência Divina”, em Kampala

[Foto na página 90]

George e Gertrude Ochola

[Fotos na página 94]

Apesar da proscrição, nossos irmãos continuaram a se reunir

[Foto na página 95]

Fred Nyende

[Foto na página 96]

Emmanuel Kyamiza

[Foto na página 104]

Stanley Makumba com sua esposa, Esinala, em 1998

[Foto na página 107]

Heinz e Marianne Wertholz, formados na primeira turma da Extensão da Escola de Gileade na Alemanha

[Fotos na página 118]

Equipes de tradução

Luganda

Acholi

Luconzo

Runyankore

[Fotos na página 123]

Os Salões do Reino de hoje são bem diferentes dos de antigamente (à esquerda)

[Fotos na página 124]

Sede na Uganda

Comissão de Filial: Mats Holmkvist, Martin Lowum, Michael Reiss e Fred Nyende; prédio administrativo (abaixo) e prédio residencial (à direita)