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Mianmar (Birmânia)

Mianmar (Birmânia)

Mianmar (Birmânia)

LOCALIZADO entre a Índia e a China, dois gigantes asiáticos, Mianmar é uma terra de contrastes. * Yangon (antiga Rangum), a maior cidade do país, tem edifícios altos, lojas lotadas e trânsito intenso. Já nos povoados afastados de Yangon, búfalos-asiáticos aram o solo, pessoas ficam intrigadas com a presença de estrangeiros e o tempo é medido de acordo com as estações.

Hoje, Mianmar lembra a Ásia do passado. Ônibus precários transitam sacolejando em estradas esburacadas, passando por carros de boi levando mantimentos para feiras e por pastores conduzindo cabras nos campos. A maioria dos homens ainda usa um tipo tradicional de saia chamado lungi. As mulheres usam um creme de casca de árvore chamado thanaka como maquiagem. As pessoas são muito religiosas. Budistas devotos honram mais os monges do que as celebridades e todo dia colam pequenas folhas de ouro em estátuas reluzentes de Buda como oferenda.

O povo é bondoso, atencioso e curioso. O país é habitado por oito grupos étnicos principais e pelo menos 127 subgrupos. Cada grupo tem seu idioma, modo de vestir, alimentação e cultura. A maioria das pessoas vive numa ampla planície central irrigada pelo poderoso Ayeyarwady (Irrawaddy), rio cheio de curvas que segue um curso de 2.170 quilômetros desde as montanhas gélidas do Himalaia até as águas mornas do mar de Andaman. Outros milhões de pessoas vivem no vasto delta costeiro e nos planaltos que fazem fronteira com Bangladesh, China, Índia, Laos e Tailândia.

Já por quase cem anos, as Testemunhas de Jeová em Mianmar têm construído um histórico de inabalável fé e perseverança. Elas têm mantido a neutralidade diante de violência e conflitos políticos. (João 17:14) Apesar de condições de vida precárias, oposição religiosa e contato limitado com sua fraternidade internacional, elas têm pregado incansavelmente as boas novas do Reino de Deus. Sua comovente história é apresentada a seguir.

O início da obra

No histórico ano de 1914, dois pioneiros ingleses chegaram a Yangon. Assim que desceram do navio a vapor vindo da Índia, eles sentiram o calor escaldante do local. Hendry Carmichael e seu colega tinham pela frente a desafiadora designação de iniciar a pregação na Birmânia. O território deles abrangia o país inteiro.

Hendry e seu colega logo conheceram em Yangon dois anglo-indianos que mostraram interesse na mensagem do Reino. * Bertram Marcelline e Vernon French prontamente se desligaram da cristandade e começaram a dar testemunho informal a amigos. Não demorou muito e umas 20 pessoas estavam se reunindo regularmente na casa de Bertram para estudar a Bíblia com a ajuda da revista The Watch Tower. *

 

Em 1928, George Wright, outro pioneiro inglês que estava na Índia, passou cinco meses viajando pela Birmânia distribuindo muitas publicações bíblicas. Essas sementes da verdade sem dúvida incluíam o folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão!, de 1920, que foi a primeira de nossas publicações a ser traduzida para o birmanês.

Dois anos depois, os pioneiros Claude Goodman e Ronald Tippin chegaram a Yangon e encontraram um pequeno grupo de irmãos que realizava as reuniões, mas não pregava de forma organizada. “Incentivamos os irmãos a sair na pregação todo domingo”, disse Claude. “Um irmão perguntou se podia dar apoio financeiro aos pioneiros, deixando que eles pregassem em seu lugar. Ron lhe disse: ‘Claro, se você também quiser que eles entrem no novo mundo em seu lugar!’” Essa franqueza era exatamente o incentivo que o grupo precisava. Logo Claude e Ron tinham bastante companhia na pregação.

“Rachel, encontrei a verdade!”

Naquele mesmo ano, Ron e Claude conheceram Sydney Coote, chefe da estação ferroviária de Yangon. Sydney aceitou o que era chamado de coleção arco-íris, composta de dez livros de capa colorida. Depois de ler alguns trechos de um dos livros, Sydney disse para a esposa: “Rachel, encontrei a verdade!” Logo a família inteira estava servindo a Jeová.

Sydney era um estudante muito aplicado da Bíblia. Sua filha Norma Barber, missionária veterana que hoje serve no Betel da Grã-Bretanha, disse: “Meu pai tinha montado seu próprio livro de referências bíblicas. Sempre que encontrava um texto que explicava um ensinamento bíblico, ele o anotava sob um subtítulo apropriado. Onde Está? era como ele chamava o livro.”

 

Sydney queria não só estudar a Bíblia, mas também levar a mensagem dela a outras pessoas. Por isso, ele escreveu para a filial da Índia perguntando se havia Testemunhas de Jeová na Birmânia. Logo ele recebeu uma caixa grande de publicações e uma lista de nomes. “Meu pai escreveu para todos os irmãos da lista, convidando-os a passar um dia conosco”, disse Norma. “Cinco ou seis irmãos vieram à nossa casa e nos mostraram como dar testemunho informal. Meus pais não perderam tempo e distribuíram as publicações a amigos e vizinhos. Eles também enviaram cartas e publicações a todos os nossos parentes.”

Daisy D’Souza, irmã de Sydney que morava em Mandalay, recebeu uma carta de seu irmão e o folheto O Reino de Deus É a Felicidade do Povo. Ela imediatamente respondeu à carta pedindo mais publicações e uma Bíblia. Sua filha, Phyllis Tsatos, disse: “Minha mãe ficou até a madrugada lendo as publicações e não conseguia conter sua alegria. Então ela chamou a mim e meus cinco irmãos e deu um anúncio marcante: ‘Vou sair da Igreja Católica, porque encontrei a verdade!’” Depois, o marido e os filhos de Daisy também aceitaram a verdade. Hoje, quatro gerações da família D’Souza servem fielmente a Jeová Deus.

Pioneiros corajosos

No início da década de 30, pioneiros zelosos pregaram as boas novas ao longo da principal ferrovia do norte do país, que ligava Yangon a Myitkyina, cidade perto da fronteira com a China. Eles também pregaram em Mawlamyine (Moulmein) e Sittwe (Akyab), cidades litorâneas a leste e a noroeste de Yangon. Formaram-se assim pequenas congregações em Mawlamyine e Mandalay.

Em 1938, a supervisão da obra na Birmânia passou da Índia para a Austrália, e pioneiros da Austrália e da Nova Zelândia começaram a chegar à Birmânia. Esses pregadores leais e dedicados incluíam Fred Paton, Hector Oates, Frank Dewar, Mick Engel e Stuart Keltie. Todos eles eram pioneiros no verdadeiro sentido da palavra.

 

Fred Paton contou: “Durante meus quatro anos na Birmânia, preguei em quase todo o país. Tive malária, febre tifoide, disenteria e outros problemas de saúde. Depois de um longo dia no serviço de campo, muitas vezes eu não tinha onde dormir. Mas Jeová sempre cuidou das minhas necessidades e me sustentou com o poder do seu espírito.” Frank Dewar, um neozelandês resistente, disse: “Enfrentei bandidos, rebeldes e autoridades arrogantes. Mas descobri que, com boas maneiras, bondade, humildade e razoabilidade, até mesmo obstáculos difíceis podiam ser superados. A maioria das pessoas logo via que as Testemunhas de Jeová eram um povo pacífico.”

Os pioneiros eram bem diferentes dos outros estrangeiros, que em geral tratavam o povo local com desprezo. Os pioneiros tratavam as pessoas com respeito e amor. Seu jeito bondoso cativava o humilde povo birmanês, que reagia melhor a uma abordagem discreta e respeitosa do que a uma abordagem direta e agressiva. Por meio de palavras e ações, os pioneiros demonstraram que as Testemunhas de Jeová são cristãos verdadeiros. — João 13:35.

Um congresso memorável

Vários meses depois da chegada dos pioneiros, a filial da Austrália providenciou a realização de um congresso em Yangon. O local escolhido foi a prefeitura, um prédio em estilo palaciano com escadarias de mármore e enormes portas de bronze. Vieram congressistas da Tailândia, da Malásia, de Cingapura e um grupo de irmãos de Sydney acompanhados de Alex MacGillivray, servo da filial da Austrália.

Em vista da grande possibilidade de uma guerra, o discurso público intitulado “Guerra Universal Próxima”, que tinha sido amplamente anunciado, chamou muita atenção. “Nunca vi um auditório encher tão rápido”, disse Fred Paton. “Quando abri as portas, multidões invadiram a escadaria e entraram no auditório. Em menos de dez minutos, mais de mil pessoas lotaram o salão de 850 lugares.” Frank Dewar acrescentou: “Tivemos de fechar as portas da frente para impedir que mais gente entrasse, e outras mil pessoas ficaram do lado de fora. Mesmo assim, alguns jovens espertos conseguiram entrar por pequenas portas laterais.”

Os irmãos ficaram muito animados com o interesse demonstrado e com a diversidade das pessoas na assistência, que incluía muitos grupos étnicos locais. Até então, pouquíssimos do povo local haviam mostrado interesse na verdade, visto que a maioria era formada por budistas devotos. Os que eram cristãos nominais — a maioria kayins (karens), kachins e chins — moravam em áreas remotas que praticamente não haviam sido alcançadas pelas boas novas. Parecia que o campo nativo estava maduro para a colheita. Logo a “grande multidão” multinacional predita na Bíblia incluiria os diversos grupos étnicos da Birmânia. — Rev. 7:9.

Os primeiros discípulos kayins

 

Certo dia em 1940, a pioneira Ruby Goff estava pregando em Insein, uma pequena cidade nos arredores de Yangon. Tendo encontrado pouco interesse na mensagem, Ruby orou: “Jeová, por favor, ajude-me a encontrar pelo menos uma ‘ovelha’ antes de eu voltar para casa.” Na próxima casa, ela contatou Hmwe Kyaing, uma budista kayin, que ouviu com atenção a mensagem do Reino. Logo Hmwe Kyaing e suas filhas, Chu May (Daisy) e Hnin May (Lily), estavam estudando a Bíblia e fazendo bom progresso espiritual. Embora Hmwe Kyaing tivesse falecido pouco depois, Lily, a filha caçula, mais tarde se tornou a primeira kayin a se batizar como Testemunha de Jeová. Daisy também foi batizada.

Lily e Daisy se tornaram pioneiras zelosas e deixaram um legado espiritual. Hoje, centenas de seus descendentes e estudantes da Bíblia servem a Jeová em Mianmar e em outros países.

Dificuldades durante a Segunda Guerra Mundial

Em 1939, a Segunda Guerra Mundial estourou na Europa, afetando o mundo todo. Em meio à crescente histeria da guerra, o clero da cristandade na Birmânia intensificou a pressão sobre o governo colonial para proibir nossas publicações. Em vista disso, Mick Engel, encarregado do depósito de publicações em Yangon, contatou um alto oficial e conseguiu uma carta de autorização para transportar cerca de duas toneladas de publicações em caminhões do Exército pela Estrada da Birmânia com destino à China.

Fred Paton e Hector Oates levaram as publicações até o terminal ferroviário em Lashio, perto da fronteira com a China. Quando contataram o oficial que controlava o comboio para a China, ele quase teve um ataque. “O quê?”, gritou ele. “Como posso desperdiçar o precioso espaço nos meus caminhões com seus folhetos ridículos se não tenho lugar nem para os suprimentos militares e médicos de emergência que estão apodrecendo aqui ao ar livre?” Fred parou por um momento, pegou a carta de autorização em sua pasta e disse que seria muito grave desconsiderar uma ordem oficial de Yangon. Diante disso, o oficial colocou à disposição dos irmãos um caminhão pequeno com motorista e suprimentos. Eles viajaram cerca de 2.400 quilômetros até Chongqing (Chungking), no centro-sul da China, onde distribuíram as valiosas publicações e até mesmo deram testemunho pessoalmente a Chiang Kai-shek, presidente do governo nacionalista chinês.

Por fim, em maio de 1941, o governo colonial na Índia mandou um telegrama a Yangon ordenando que as autoridades locais confiscassem nossas publicações. Dois irmãos que trabalhavam na agência telegráfica viram a mensagem e rapidamente avisaram Mick Engel. Mick então telefonou para Lily e Daisy e correu para o depósito, onde eles apanharam as 40 caixas restantes de publicações e as esconderam em casas seguras em Yangon. Quando as autoridades chegaram, não havia mais publicações. 

Em 11 de dezembro de 1941, quatro dias depois do ataque do Japão a Pearl Harbor, aviões japoneses começaram a bombardear a Birmânia. Naquele fim de semana, um pequeno grupo de irmãos se reuniu num minúsculo apartamento que ficava em cima da estação ferroviária central de Yangon. Ali, após uma consideração bíblica, Lily foi batizada numa banheira.

Três meses depois, ao invadir Yangon, o exército japonês encontrou a cidade praticamente abandonada. Mais de 100 mil pessoas haviam fugido para a Índia. No caminho, milhares morreram de fome, exaustão e doenças. Sydney Coote, que fugiu com a família, morreu de malária cerebral perto da fronteira com a Índia. Outro irmão foi morto a tiros pelos soldados japoneses e ainda outro perdeu a esposa e os filhos quando sua casa foi bombardeada.

Apenas alguns irmãos ficaram na Birmânia. Lily e Daisy se mudaram para Pyin Oo Lwin (Maymyo), uma pacata cidade na encosta de uma colina perto de Mandalay. Ali elas lançaram sementes da verdade que mais tarde produziram frutos. Cyril Gay se estabeleceu em Thayarwaddy, povoado uns cem quilômetros ao norte de Yangon, onde viveu tranquilamente até o fim da guerra.

Um reencontro alegre

Quando a guerra terminou, a maioria dos irmãos que haviam fugido para a Índia começou a retornar à Birmânia. Em abril de 1946, a Congregação Yangon tinha oito publicadores ativos. No fim do ano, quando a congregação tinha aumentado para 24 publicadores, os irmãos decidiram realizar uma assembleia.

A assembleia de dois dias foi realizada numa escola em Insein. “Quando voltei da Índia, soube que faria o discurso público de uma hora”, disse Theo Syriopoulos, que aprendeu a verdade em Yangon em 1932. “Até então, eu só tinha dado dois discursos de cinco minutos em reuniões na Índia. Mas a assembleia foi um grande sucesso e houve mais de cem pessoas na assistência.”

Algumas semanas depois, um líder comunitário kayin que estava interessado na verdade ofereceu para a congregação um terreno em Ahlone, um bairro ribeirinho perto do centro de Yangon. Ali os irmãos construíram um Salão do Reino de bambu com assentos para cerca de cem pessoas. A congregação estava radiante. Os irmãos haviam sobrevivido à guerra com sua fé intacta e estavam prontos e ansiosos para prosseguir com a pregação.

Chegam os primeiros missionários de Gileade

 

No início de 1947, Robert Kirk, o primeiro missionário de Gileade a chegar à Birmânia, foi recebido por um empolgado grupo de irmãos no porto em Yangon. Pouco depois, chegaram mais três missionários: Norman Barber, Robert Richards e Hubert Smedstad, além de Frank Dewar, que havia servido como pioneiro na Índia durante a guerra.

Os missionários encontraram a cidade devastada pela guerra. Incontáveis prédios estavam arruinados. Milhares de pessoas moravam em frágeis cabanas de bambu ao longo das estradas. As pessoas cozinhavam, se lavavam e moravam nas ruas. Mas os missionários tinham vindo para ensinar a verdade da Bíblia, de forma que se adaptaram às condições e se ocuparam no ministério.

Em 1.º de setembro de 1947, uma filial da Sociedade Torre de Vigia foi estabelecida no lar missionário, na Rua Signal Pagoda, perto do centro da cidade. Robert Kirk foi designado superintendente da filial. Logo depois, a Congregação Yangon se mudou do salão de bambu em Ahlone para um apartamento no primeiro andar na Rua Bogalay Zay. Ficava a apenas alguns minutos a pé do Secretariat, um majestoso edifício que era a sede do governo colonial britânico, que estava com os dias contados.

Começa a guerra civil

Em 4 de janeiro de 1948, os britânicos entregaram o poder para o novo governo birmanês. Após 60 anos de domínio colonial, a Birmânia agora era independente. Mas o país estava mergulhado em guerra civil.

Diversos grupos étnicos lutavam para estabelecer estados independentes, ao passo que exércitos particulares e gangues disputavam territórios. No início de 1949, forças rebeldes controlavam a maior parte do país, e houve conflitos nos arredores de Yangon.

Enquanto as batalhas prosseguiam em menor ou maior intensidade, os irmãos pregavam com cautela. A filial foi transferida do lar missionário na Rua Signal Pagoda para um grande apartamento de primeiro andar na Rua 39, um lugar seguro que abrigava diversas embaixadas e ficava a apenas três minutos a pé da agência dos correios.

O exército birmanês aos poucos impôs sua autoridade, expulsando os rebeldes para as montanhas. Em meados dos anos 50, o governo já havia recuperado o controle de grande parte do país. Mas a guerra civil ainda estava longe de terminar. De uma forma ou de outra, ela continua até hoje.

Pregação e ensino em birmanês

Até meados da década de 50, os irmãos na Birmânia pregavam praticamente só em inglês, idioma falado por pessoas instruídas nas cidades grandes. Mas milhões de pessoas falavam apenas birmanês, kayin, kachin, chin e outros idiomas locais. Como alcançar essas pessoas com as boas novas?

Em 1934, Sydney Coote providenciou que um professor kayin traduzisse vários folhetos para o birmanês e o kayin. Mais tarde, outros publicadores traduziram o livro “Seja Deus Verdadeiro” e diversos folhetos para o birmanês. Então, em 1950, Robert Kirk convidou Ba Oo para traduzir artigos de estudo de A Sentinela para o birmanês. As traduções manuscritas eram compostas e impressas por gráficas comerciais em Yangon e depois distribuídas aos que assistiam às reuniões congregacionais. Com o tempo, a filial comprou uma máquina de escrever birmanesa para acelerar o processo de tradução.

 

Esses primeiros tradutores enfrentaram diversos desafios. Naygar Po Han, que assumiu a tradução quando Ba Oo já não conseguia mais fazer esse serviço, lembra-se: “De dia, eu trabalhava para sustentar a família. De noite, traduzia artigos até bem tarde sob a iluminação de uma lâmpada fraca. Devia haver muitos erros na tradução, pois meu conhecimento de inglês era bem limitado. Mas queríamos a todo custo que nossas revistas alcançassem o maior número possível de pessoas.” Quando Robert Kirk pediu que Doris Raj traduzisse A Sentinela para o birmanês, ela ficou tão preocupada que começou a chorar. “Minha escolaridade era básica e não tinha nenhuma experiência em tradução”, explica Doris. “Mas o irmão Kirk me incentivou a tentar. Então, orei a Jeová e comecei a traduzir.” Hoje, quase 50 anos depois, Doris ainda serve como tradutora no Betel de Yangon. Naygar Po Han, agora com 93 anos, também está em Betel e continua promovendo os interesses do Reino com o mesmo entusiasmo de sempre.

 

Em 1956, Nathan Knorr, da sede mundial, visitou a Birmânia e anunciou o lançamento de A Sentinela em birmanês. Ele também incentivou os missionários a aprender o idioma para serem mais eficientes na pregação. Com isso, eles redobraram seus esforços em aprender o birmanês. No ano seguinte, Frederick Franz, outro irmão da sede mundial, visitou o país e proferiu o discurso temático numa assembleia de cinco dias. Além disso, ele incentivou os irmãos da dianteira a enviar pioneiros a outras cidades grandes. A primeira cidade a se beneficiar com os novos pioneiros foi Mandalay, antiga capital da Birmânia e a segunda maior cidade do país.

Frutos da pregação em Mandalay

No início de 1957, seis novos pioneiros especiais chegaram a Mandalay. O missionário Robert Richards, recém-casado com Baby, uma kayin, já estava lá. Os pioneiros encontraram um território desafiador. Mandalay é um grande centro do budismo e abriga cerca da metade dos monges budistas do país. No entanto, os pioneiros perceberam que, assim como na antiga Corinto, Jeová tinha “muito povo nesta cidade”. — Atos 18:10.

Um deles era Robin Zauja, um estudante kachin de 21 anos. Ele se lembra: “Certo dia de manhã cedo, Robert e Baby Richards foram à minha casa e se apresentaram como Testemunhas de Jeová. Disseram que estavam pregando as boas novas de casa em casa, obedecendo à ordem de Jesus. (Mat. 10:11-13) Eles apresentaram a mensagem e me deram seu endereço, além de várias revistas e livros. Peguei um dos livros para ler naquela noite e só parei quando terminei, ao amanhecer do dia seguinte. Naquele mesmo dia, fui à casa de Robert e o enchi de perguntas por várias horas. Ele respondeu a todas elas com a Bíblia.” Robin Zauja foi o primeiro kachin a aceitar a verdade. Mais tarde, ele serviu por anos como pioneiro especial no norte da Birmânia, ajudando quase cem pessoas a aprender a verdade. Dois filhos dele hoje servem no Betel de Yangon.

Pramila Galliara, uma jovem de 17 anos que tinha acabado de aprender a verdade em Yangon, também era muito zelosa. “Meu pai, adepto do jainismo, se opôs à minha nova religião”, diz Pramila. “Ele queimou duas vezes minha Bíblia e publicações bíblicas e me espancou várias vezes em público. Ele também me trancou em casa para que eu não fosse às reuniões e até ameaçou incendiar a casa do irmão Robert! Mas, quando viu que não podia destruir minha fé, ele aos poucos parou de se opor.” Pramila largou a universidade, se tornou uma zelosa pioneira e mais tarde se casou com Dunstan O’Neill, um superintendente de circuito. Desde então, ela ajudou 45 pessoas a aprender a verdade.

Ao passo que a obra progredia em Mandalay, a filial também enviava missionários e pioneiros para outros centros regionais, incluindo Pathein (Bassein), Kalaymyo, Bhamaw, Myitkyina, Mawlamyine e Myeik (Mergui). Jeová sem dúvida abençoou a obra, pois foram formadas fortes congregações em cada uma dessas cidades.

Missionários expulsos

Ao passo que a obra de pregação expandia, aumentava também as tensões políticas e étnicas. Por fim, em março de 1962, o Exército assumiu o controle do país. Centenas de milhares de indianos e de anglo-indianos foram deportados para a Índia e Bangladesh (então Paquistão Oriental), e estrangeiros em visita só conseguiam vistos de 24 horas. A Birmânia estava fechando as portas para o mundo.

Os irmãos estavam preocupados. O governo militar garantia liberdade religiosa, desde que as religiões não se envolvessem na política. Mas, como era de esperar, os missionários da cristandade continuaram a se intrometer na política. Por fim, em maio de 1966, o governo deu um basta, ordenando que todos os missionários estrangeiros saíssem do país. Embora os missionários Testemunhas de Jeová fossem totalmente neutros, eles também foram deportados.

Os irmãos locais ficaram abalados, mas não desanimados. Eles sabiam que Jeová Deus estava com eles. (Deut. 31:6) Ainda assim, alguns se perguntavam como a obra do Reino prosseguiria.

Não demorou para a orientação de Jeová ficar evidente. Maurice Raj, ex-superintendente de circuito que havia recebido treinamento na sede, foi designado para cuidar da filial. Embora fosse indiano, ele não foi deportado como os outros indianos. Ele explica: “Vários anos antes, eu havia feito o pedido para obter cidadania birmanesa, mas não tinha os 450 quiates * necessários para pagar pelos documentos. Então, decidi esperar. Daí, certo dia, passando em frente ao escritório da empresa em que eu havia trabalhado anos antes, meu ex-patrão me viu e gritou: ‘Ei, Raj, venha aqui pegar seu dinheiro. Você esqueceu de receber seu fundo de aposentadoria quando deixou o emprego.’ A quantia era de 450 quiates!

“Ao sair do escritório, fiquei pensando em tudo que poderia fazer com 450 quiates. Mas, visto que era a quantia exata para minha cidadania, percebi que era da vontade de Jeová que eu usasse o dinheiro para isso. E essa escolha foi muito útil. Enquanto outros indianos estavam sendo expulsos da Birmânia, eu podia permanecer no país, viajar livremente, importar publicações e cuidar de outras responsabilidades vitais para nossa obra de pregação — tudo por ser cidadão birmanês.”

Maurice e Dunstan O’Neill iniciaram uma viagem pelo país inteiro para encorajar todas as congregações e grupos isolados. Maurice conta: “Dizíamos aos irmãos: ‘Não se preocupem. Jeová está conosco. Se formos leais a ele, ele nos ajudará.’ E Jeová nos ajudou mesmo! Em pouco tempo, muitos pioneiros especiais foram designados, e a obra de pregação se expandiu ainda mais rapidamente.”

Hoje, 46 anos depois, Maurice, membro da Comissão de Filial, ainda viaja por todo o país para fortalecer as congregações. Como o idoso Calebe do Israel antigo, seu zelo pela obra de Deus não diminuiu. — Jos. 14:11.

A obra chega ao Estado de Chin

Um dos primeiros lugares a receber pioneiros especiais foi o Estado de Chin, uma região montanhosa que faz fronteira com Bangladesh e com a Índia. Nessa região há muitos que professam ser cristãos, em resultado da presença de missionários batistas no período colonial britânico. Assim, a maioria do povo chin tem muito respeito pela Bíblia e por instrutores da Bíblia.

Em fins de 1966, Lal Chhana, pioneiro especial que havia sido soldado, chegou a Falam, então a maior cidade de Chin. Ali encontrou Dunstan e Pramila O’Neill e Than Tum, também um ex-soldado recém-batizado. Esses zelosos pregadores acharam várias famílias interessadas e logo estabeleceram uma congregação pequena, mas ativa.

No ano seguinte, Than Tum se mudou para Hakha, uma cidade ao sul de Falam, onde passou a servir como pioneiro e formou um pequeno grupo. Mais tarde, ele pregou em todo o estado e ajudou a estabelecer congregações em Vanhna, Surkhua, Gangaw e outros lugares. Hoje, 45 anos depois, Than Tum continua ativo como pioneiro especial em Vanhna, seu povoado natal.

Quando Than Tum deixou Hakha, Donald Dewar, um pioneiro especial de 20 anos de idade, ficou no lugar dele. Visto que os pais de Donald, Frank e Lily Dewar (antes chamada Lily May), tinham acabado de ser deportados, seu irmão Samuel, de 18 anos, foi morar com ele. “Nós morávamos numa pequena cabana de zinco, que era quente e sufocante no verão e gelada no inverno”, diz Donald. “Mas, para mim, o maior desafio era a solidão. Eu geralmente trabalhava sozinho no serviço de campo e mal conseguia falar chin hakha, o idioma local. Apenas eu, Samuel e mais um ou dois publicadores assistíamos às reuniões. Fui ficando deprimido e até pensei em deixar a designação.

“Por volta daquela época, li o emocionante relato no Anuário sobre a fidelidade dos irmãos em Malaui, mesmo sob brutal perseguição. * Perguntei a mim mesmo: ‘Se eu não consigo suportar a solidão, como vou aguentar uma perseguição?’ Depois que orei a Jeová sobre minhas preocupações, comecei a sentir certo alívio. Também fui fortalecido por ler e meditar na Bíblia e em artigos de A Sentinela. Quando recebi uma visita inesperada de Maurice Raj e Dunstan O’Neill, foi como se estivesse vendo dois anjos! Aos poucos, consegui recuperar minha alegria.”

Mais tarde, enquanto servia como superintendente viajante, Donald usou sua experiência para encorajar irmãos em territórios isolados. Seus esforços também deram frutos em Hakha, onde hoje existe uma próspera congregação e assembleias e congressos são realizados regularmente. Dois dos publicadores que assistiam às reuniões em Hakha, Johnson Lal Vung e Daniel Sang Kha, tornaram-se zelosos pioneiros especiais e ajudaram a espalhar as boas novas em grande parte de Chin.

‘Subindo montanhas’

A altitude no Estado de Chin varia de 900 metros a 1.800 metros acima do nível do mar, mas alguns picos chegam a 3 mil metros. Muitas montanhas são cobertas de densas florestas repletas de altíssimas tecas, imponentes coníferas, coloridas azaleias e belíssimas orquídeas. Por causa de seu relevo e vegetação, as viagens são bem difíceis. As cidades da região são ligadas por estradas de terra cheias de curvas, que são praticamente intransitáveis em épocas de chuva e com frequência ficam bloqueadas com deslizamentos de terra. Muitos povoados remotos só podem ser alcançados a pé. Mas esses obstáculos não impedem os determinados servos de Jeová de levar as boas novas ao maior número possível de pessoas.

Aye Aye Thit, que serviu com o marido no circuito em Chin, conta: “Fui criada na região plana do delta do Ayeyarwady e fiquei impressionada com as belas montanhas de Chin. Subi a primeira montanha com o maior entusiasmo, mas, quando cheguei lá no alto, fiquei sem fôlego e desabei de cansaço. Depois de subir e descer várias colinas, eu estava tão exausta que achei que fosse morrer. Com o tempo aprendi a subir montanhas: devagar e sem desperdiçar energia. Logo conseguia andar até 32 quilômetros por dia em viagens que duravam até seis dias ou mais.”

 

No decorrer dos anos, os irmãos em Chin têm usado vários meios de transporte, incluindo mula, cavalo, bicicleta e, mais recentemente, motocicletas, caminhões de passageiros e veículos com tração nas quatro rodas. Mas, na maioria das vezes, os irmãos vão a pé. Para chegar aos povoados em torno de Matupi, por exemplo, os pioneiros especiais Kyaw Win e David Zama faziam caminhadas difíceis por muitos quilômetros, subindo e descendo montanhas. A fim de assistirem a congressos em Hakha, a mais de 270 quilômetros de distância, os irmãos da Congregação Matupi caminhavam de seis a oito dias só de ida. No caminho, cantavam cânticos do Reino que ecoavam pelas belas colinas.

Aquelas viagens exaustivas expunham os irmãos não só ao clima das montanhas, mas também a nuvens de mosquitos e a todo tipo de insetos repulsivos, principalmente na estação chuvosa. “Ao caminhar pela floresta, vi sanguessugas subindo nas minhas pernas”, conta Myint Lwin, um superintendente de circuito. “Quando eu as arranquei, subiram mais duas. Eu pulei para cima do tronco de uma árvore caída, mas uma grande quantidade de sanguessugas começou a subir pelo tronco. Fiquei apavorado e corri pela floresta. Quando finalmente cheguei à estrada, eu estava coberto de sanguessugas.”

 

Mas além de sanguessugas havia outros desafios. Mianmar também abriga javalis, ursos, leopardos, tigres e, de acordo com algumas fontes, a maior variedade de cobras venenosas do mundo. Quando o superintendente de distrito Gumja Naw e sua esposa, Nan Lu, iam a pé de uma congregação a outra, eles acendiam ao seu redor fogueiras para afastar animais selvagens à noite.

Esses incansáveis evangelizadores deixaram uma herança valiosa. “Eles usaram todas as suas energias no serviço de Jeová”, diz Maurice Raj. “Mesmo depois de se mudarem para outro lugar, estavam dispostos a voltar. Seus esforços realmente glorificaram a Jeová!” Hoje, apesar de ser uma das regiões menos povoadas no país, há sete congregações e vários grupos isolados em Chin.

“Não há ‘ovelhas’ em Myitkyina”

Em 1966, vários pioneiros especiais chegaram a Myitkyina, uma pequena cidade pitoresca que fica numa curva do rio Ayeyarwady, no Estado de Kachin, perto da China. Seis anos antes, Robert e Baby Richards haviam pregado ali brevemente. Eles relataram: “Não há ‘ovelhas’ em Myitkyina.” Mas os novos pioneiros encontraram pessoas sedentas da verdade.

Uma delas era Mya Maung, um jovem batista de 19 anos que orava a Deus para ajudá-lo a entender a Bíblia. Ele conta: “Fiquei muito feliz quando um pioneiro me visitou no meu trabalho e me ofereceu um estudo bíblico. Senti que era uma resposta às minhas orações. Eu e meu irmão mais novo, San Aye, estudávamos duas vezes por semana e fizemos rápido progresso espiritual.

“Tivemos um ótimo instrutor, Wilson Thein. Em vez de apenas nos dizer o que fazer, ele mostrava como fazer. Por meio de sessões de ensaio e demonstrações, aprendemos a usar bem a Bíblia, a pregar com coragem, a lidar com oposição e a preparar e proferir discursos. Wilson ouvia nossos ensaios para cada discurso e nos dava sugestões. Esse treinamento bondoso nos motivou a buscar alvos espirituais.

“Em 1968, eu e San Aye começamos a servir como pioneiros, aumentando o número de pioneiros em Myitkyina para oito. Nossos primeiros estudantes da Bíblia incluíam nossa mãe e sete irmãos, e todos eles por fim aceitaram a verdade. Também pregávamos nas cidades e povoados ao longo da ferrovia que ligava Myitkyina a Mandalay, em viagens que duravam até três dias. Mais tarde, as sementes que plantamos ali produziram frutos. Hoje, em Namti, Hopin, Mohnyin e Katha, cidades ao longo da ferrovia, há prósperas congregações.”

Ao pregar no território comercial em Myitkyina, San Aye contatou Phum Ram, um batista kachin que trabalhava numa repartição do governo. Phum Ram abraçou a verdade com zelo e se mudou para uma pequena cidade no sopé do Himalaia. Ali ele pregou a muitos parentes, e não demorou para que 25 pessoas estivessem assistindo às reuniões. Ao servir como pioneiro, Phum Ram ajudou sua esposa, sete filhos e muitos parentes a aprender a verdade. Ele hoje serve como pioneiro e ancião em Myitkyina.

Os vagões que não chegaram

 

Com o rápido crescimento espiritual em Kachin, a filial decidiu realizar a Assembleia Internacional “Paz na Terra”, de 1969, em Myitkyina em vez de em Yangon, como era de costume. Para transportar os congressistas de Yangon a Myitkyina, mais de 1.100 quilômetros ao norte, a filial solicitou ao serviço de ferrovias da Birmânia permissão para fretar seis vagões. Tratava-se de um pedido inusitado. Kachin era uma área em que havia conflitos com forças rebeldes, de modo que a saída e a entrada eram rigorosamente controladas. Mas, para a surpresa dos irmãos, as autoridades prontamente atenderam ao pedido.

 

No dia em que o trem com os congressistas deveria chegar a Myitkyina, Maurice Raj e um grupo de irmãos foram à estação ferroviária para recebê-los. Maurice conta: “Enquanto esperávamos, o chefe da estação nos entregou um telegrama dizendo que as autoridades haviam desengatado os seis vagões com os congressistas. Pelo visto, a locomotiva não tinha conseguido puxar os vagões extras na subida, e por isso teve de deixá-los abandonados entre Mandalay e Myitkyina.

“O que podíamos fazer? Nossa primeira ideia foi marcar outra data para o congresso. Mas isso significaria pedir novas autorizações, o que levaria semanas. Bem na hora em que estávamos orando fervorosamente a Jeová, o trem chegou à estação. Não acreditamos no que vimos: todos os seis vagões, cheios dos nossos irmãos! Eles sorriam e acenavam. Quando perguntamos o que tinha acontecido, um deles explicou: ‘Seis vagões foram desengatados, mas não os nossos!’”

O congresso de Myitkyina foi um grande sucesso. Houve o lançamento de três publicações em birmanês e cinco em inglês. Três anos antes, quando os missionários haviam sido expulsos, o fluxo do alimento espiritual na Birmânia foi diminuindo e quase cessou. Agora havia uma enxurrada!

Ensinando os nagas

Quatro meses após o congresso em Myitkyina, a filial recebeu uma carta de um agente dos correios em Khamti, cidade ribeirinha no sopé das altas colinas ao longo da fronteira noroeste com a Índia. A região abriga o povo naga, uma mistura de diversas tribos que no passado eram aterrorizantes caçadores de cabeças. Em sua carta, Ba Yee, agente dos correios e ex-adventista do sétimo dia, pedia ajuda espiritual. A filial prontamente enviou dois pioneiros especiais, Aung Naing e Win Pe.

Win Pe conta: “No campo de pouso de Khamti, ficamos preocupados quando vimos guerreiros nagas, vestidos apenas de tangas, com um semblante feroz. Mas Ba Yee veio rapidamente nos cumprimentar e nos levou dali para conhecer algumas pessoas interessadas. Logo estávamos estudando a Bíblia com cinco pessoas.

 

“Mas as autoridades locais nos confundiram com pastores batistas que tinham ligação com os rebeldes. Apesar de garantirmos que éramos politicamente neutros, eles ordenaram que fôssemos embora antes de completarmos um mês ali.”

Três anos depois, quando novas autoridades tomaram posse, Biak Mawia, um pioneiro de 18 anos, retomou a obra ali. Não demorou muito e Ba Yee pediu demissão da agência dos correios e passou a servir como pioneiro. Daí, chegaram mais pioneiros. Esse grupo zeloso logo formou uma congregação em Khamti e vários grupos menores em povoados vizinhos. Biak Mawia recorda: “Os irmãos nagas eram analfabetos. Mas eles amavam a Palavra de Deus e eram pregadores zelosos que sabiam usar muito bem as figuras de nossas publicações. Eles também decoravam muitos textos da Bíblia e os cânticos do Reino.”

Hoje, congressos de distrito são regularmente realizados em Khamti, com congressistas que vêm de lugares remotos no sul, como Homalin, uma cidade a 15 horas de distância de barco.

Oposição no Triângulo Dourado

Enquanto isso, no outro lado do país, a obra também crescia nas montanhas que fazem fronteira com a China, o Laos e a Tailândia. Ali, no meio do Triângulo Dourado, a paisagem das belas colinas e vales férteis é manchada por revoltas, produção de ópio e outras atividades ilegais. Os pioneiros que levaram a verdade a essa região perigosa eram cautelosos e discretos. (Mat. 10:16) Mesmo assim, um grupo se opôs implacavelmente à nossa pregação: o clero da cristandade.

Quando os pioneiros Robin Zauja e David Abraham chegaram a Lashio, uma cidade movimentada no Estado de Shan, o clero local prontamente os denunciou como rebeldes. Robin disse: “Fomos detidos e levados para a prisão. Ali apresentamos à polícia os nossos documentos. Não demorou muito e apareceu um major do Exército. ‘Olá, Sr. Zauja’, exclamou ele. ‘Vejo que as Testemunhas de Jeová chegaram a Lashio!’ O major, meu antigo colega de escola, nos liberou imediatamente.”

Os dois pioneiros começaram a pregar e logo formaram uma congregação de tamanho razoável e construíram um Salão do Reino. Dois anos depois, eles foram intimados a comparecer à sede do governo local, onde estavam reunidos mais de 70 oficiais militares, líderes tribais e clérigos. Robin conta: “Os clérigos estavam furiosos e nos acusaram de pressionar o povo a abandonar suas tradições religiosas. Quando o presidente da reunião exigiu que déssemos uma resposta, pedi permissão para usar a Bíblia em minha defesa. Ele permitiu. Fiz uma rápida oração silenciosa e então expliquei o que a Bíblia diz sobre as tradições da religião falsa, o serviço militar e cerimônias nacionalistas. Quando terminei, o presidente se levantou e declarou que as leis da Birmânia permitiam a liberdade de culto a todas as religiões. Fomos liberados e tivemos permissão de continuar a pregar, para o grande desapontamento dos clérigos.”

Mais tarde, em Mongpaw, um pequeno povoado perto da fronteira com a China, uma turba furiosa de batistas incendiou um Salão do Reino. Vendo que esse atentado perverso não intimidou os irmãos, a turba incendiou a casa de um pioneiro especial e começou a aterrorizar os irmãos nas suas casas. Os irmãos recorreram ao governante local, mas ele apoiava os batistas. Por fim, o governo interveio e permitiu que os irmãos construíssem um novo Salão do Reino — não no local anterior, na periferia, mas bem no centro do povoado!

Mais ao sul, em Leiktho, um povoado remoto nas montanhas no Estado de Kayin, fronteira com o Triângulo Dourado, Gregory Sarilo sofreu forte oposição da Igreja Católica. Ele conta: “O padre ordenou que os paroquianos destruíssem minha horta. Depois eles me ofereceram comida, mas um amigo me avisou que estava envenenada. Certa vez, os seguidores do padre me perguntaram que trajeto eu faria no dia seguinte. Nesse dia eu fui por um caminho diferente e escapei da emboscada que haviam armado para me matar. Dei queixa desses atentados, e as autoridades deram uma forte advertência ao padre e a seus seguidores para que me deixassem em paz. Jeová me protegeu dos que ‘caçavam a minha alma’.” — Sal. 35:4.

Eles mantiveram absoluta neutralidade

No decorrer dos anos, a integridade dos irmãos na Birmânia foi testada ainda de outra maneira. Guerras étnicas e rixas políticas com frequência colocaram à prova a neutralidade deles. — João 18:36.

O pioneiro especial Hla Aung servia na cidade sulina de Thanbyuzayat, ponto final ocidental da infame “Ferrovia da Morte”, construída na Segunda Guerra Mundial, ligando a Birmânia à Tailândia. Ali ele se viu no meio de um conflito entre rebeldes separatistas e tropas do Exército. Ele conta: “Os soldados invadiam povoados à noite a fim de recrutar homens para carregar seus equipamentos. Eles eram levados sob a mira de armas, e muitos nunca mais foram vistos. Certa noite, os soldados começaram a vasculhar o nosso povoado enquanto eu e Donald Dewar conversávamos em minha casa. Minha esposa rapidamente nos alertou com um grito, o que nos deu tempo de fugir para a floresta. Escapei por pouco. Depois construí em minha casa um esconderijo, caso os soldados voltassem.”

Quando o pioneiro especial Rajan Pandit chegou a Dawei, uma cidade ao sul de Thanbyuzayat, ele logo iniciou vários estudos bíblicos num povoado próximo onde havia um grande número de rebeldes. Ele conta: “Ao retornar do povoado, fui preso e espancado por soldados que me acusaram de ser cúmplice dos rebeldes. Quando eu disse que era Testemunha de Jeová, eles me perguntaram como eu havia chegado a Dawei. Eu lhes mostrei minha passagem aérea, que havia guardado como lembrança. Visto que os rebeldes nunca usavam avião, isso me poupou de outros espancamentos, e por fim me libertaram. Mesmo assim, os soldados interrogaram um dos meus estudantes, que confirmou que tínhamos apenas estudado a Bíblia juntos. Depois disso, eles me deixaram em paz e alguns até mesmo passaram a fazer parte do meu itinerário de revistas.”

Às vezes, funcionários municipais tentavam pressionar os irmãos a votar em eleições ou participar em cerimônias nacionalistas. Quando autoridades de Zalun, uma cidade ribeirinha que fica cerca de 130 quilômetros ao norte de Yangon, pressionaram as Testemunhas de Jeová a votar, os irmãos permaneceram firmes, citando a Bíblia como base. (João 6:15) As autoridades locais apelaram para as autoridades regionais. Mas estas estavam bem cientes de nossa neutralidade. Os irmãos foram prontamente isentados de votar nas eleições.

Quando 23 filhos de Testemunhas de Jeová em Khampat, uma cidade na fronteira entre a Birmânia e a Índia, se recusaram a se curvar diante da bandeira nacional, a diretora os expulsou da escola. Ela convocou dois anciãos para comparecer perante um grande grupo de autoridades, incluindo o juiz da cidade e o comandante militar. “Quando explicamos a razão bíblica de nossa posição, algumas autoridades não esconderam a hostilidade”, diz Paulo Khai Khan Thangi, um dos anciãos. “Então apresentamos uma cópia do decreto do governo dizendo que as Testemunhas de Jeová têm permissão de ‘ficar em pé em silêncio e de forma respeitosa durante cerimônias envolvendo a bandeira’. As autoridades ficaram sem saber o que dizer, e o comandante militar ordenou que a diretora aceitasse de volta os alunos expulsos. Depois, a diretora distribuiu cópias do decreto para todos os professores da escola.”

Atualmente, autoridades dos mais altos escalões do governo de Mianmar conhecem nossa posição neutra. Por se apegarem firmemente aos princípios bíblicos, os servos de Jeová têm dado excelente testemunho, assim como Jesus Cristo predisse. — Luc. 21:13.

Militares se tornam cristãos

No decorrer da turbulenta história moderna de Mianmar, muitos dos seus cidadãos serviram no Exército ou foram militantes rebeldes. Assim como Cornélio, oficial do exército romano do primeiro século, alguns deles são ‘devotos e temem a Deus’. (Atos 10:2) Quando aprendem a verdade, fazem grande empenho para harmonizar a vida com os justos padrões de Jeová.

Hlawn Mang é um exemplo disso. Ele era um suboficial da Marinha e aprendeu a verdade enquanto estava servindo em Mawlamyine. “Eu já queria começar a pregar”, diz ele. “Mas bem quando eu ia pedir baixa do serviço militar soube que estava para receber uma promoção e uma bolsa de estudos num país ocidental rico. Mas eu estava decidido a participar na obra de Deus. Para a grande surpresa dos meus superiores, pedi baixa e comecei a servir a Jeová. Hoje, uns 30 anos depois, ainda estou convencido de que fiz a escolha certa. Existe algo que se possa comparar ao privilégio de servir ao Deus verdadeiro?”

 

La Bang Gam estava internado num hospital militar quando Robin Zauja lhe mostrou o livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado. * La Bang Gam ficou encantado com o livro e perguntou se podia ficar com ele. Mas, como era o único que Robin tinha, ele concordou em emprestá-lo por apenas uma noite. No dia seguinte, quando Robin voltou, La Bang Gam disse: “Aqui está o seu livro. Agora eu já tenho o meu!” Ele tinha passado a noite toda copiando o livro de 250 páginas em vários cadernos. Logo depois, La Bang Gam saiu do Exército e usou seu “livro” Paraíso para ajudar muitos a aprender a verdade.

No montanhoso Estado de Shan, Sa Than Htun Aung, capitão do exército birmanês, e Aik Lin, comandante das Forças Estatais Unidas de Wa, lutaram em lados opostos em diversas batalhas acirradas na floresta. Quando os dois lados finalmente negociaram um cessar-fogo, os dois homens se estabeleceram em Shan. Mais tarde, eles aprenderam a verdade, deram baixa de suas atribuições militares e foram batizados. Esses ex-inimigos se encontraram numa assembleia de circuito e se abraçaram calorosamente como irmãos cristãos! Livres do ódio, estavam agora unidos pelo vínculo do amor, graças ao poder libertador da Palavra de Deus. — João 8:32; 13:35.

Raciocinando com “toda sorte de homens”

Entre 1965 e 1976, o total de publicadores na Birmânia aumentou mais de 300%. A maioria dos novos que receberam bem a mensagem das Testemunhas de Jeová veio da cristandade. No entanto, os irmãos sabiam que a vontade de Deus é que “toda sorte de homens sejam salvos e venham a ter um conhecimento exato da verdade”. (1 Tim. 2:4) Assim, a partir de meados dos anos 70, eles intensificaram os esforços para pregar a muitos outros grupos religiosos na Birmânia, incluindo budistas, hindus e animistas.

 

Houve diversos desafios. Os budistas não acreditam em Deus como pessoa ou Criador, os hindus adoram milhões de deuses e os animistas da Birmânia reverenciam poderosos espíritos chamados nats. Essas religiões estão repletas de superstição, adivinhação e espiritismo. E, ao passo que a maioria dos devotos considera a Bíblia um livro sagrado, eles geralmente sabem pouco ou nada a respeito dos personagens, da história, da cultura e dos conceitos da Bíblia.

Mas os irmãos sabiam que as poderosas verdades da Palavra de Deus podem tocar o coração de qualquer pessoa. (Heb. 4:12) Eles simplesmente precisavam confiar no espírito de Deus e usar “arte de ensino”, isto é, usar raciocínio lógico para tocar o coração das pessoas e motivá-las a fazer mudanças. — 2 Tim. 4:2.

Veja, por exemplo, como Rosaline, uma pioneira especial veterana, usa raciocínio lógico ao falar com budistas. Ela explica: “Quando se ensina aos budistas que existe um Criador, eles geralmente perguntam: ‘Mas então quem criou o Criador?’ Para eles, os animais são humanos reencarnados. Assim, eu raciocino com eles usando o exemplo de um animal de estimação.

“Pergunto: ‘Será que um animal de estimação sabe que seu dono existe?’

“‘Sabe.’

“‘Mas ele sabe se o seu dono tem emprego, é casado ou qual foi o seu passado?’

“‘Não.’

“‘Do mesmo modo, visto que os humanos são diferentes de Deus, que é Espírito, será que vamos entender tudo sobre a existência ou a origem dele?’

“‘Não.’”

Essa maneira de raciocinar tem convencido muitos budistas sinceros a considerar evidências adicionais que provam a existência de Deus. O raciocínio lógico, acompanhado de genuíno amor cristão, pode ter um forte impacto no coração das pessoas. Ohn Thwin, que era budista, conta: “Quando comparei minha crença budista no nirvana com a promessa bíblica de um Paraíso na Terra, achei a ideia do Paraíso mais atraente. Mas, como eu acreditava que há muitos caminhos que conduzem à verdade, não via necessidade de fazer mudanças na vida. Daí comecei a assistir às reuniões das Testemunhas de Jeová. O amor que os irmãos me mostraram me tocou profundamente e me motivou a viver de acordo com o que aprendi ser a verdade.”

 

Naturalmente, é preciso ter tato e paciência para ajudar pessoas a mudar seu conceito religioso. Kumar Chakarabani tinha 10 anos quando seu pai, um hindu devoto, permitiu que ele aprendesse a ler com Jimmy Xavier, um betelita. Kumar se lembra: “Meu pai o avisou de que era só para ensinar a ler, não para ensinar religião. Então Jimmy lhe disse que Meu Livro de Histórias Bíblicas era excelente para ensinar as crianças a ler. Além disso, depois da minha aula de leitura, Jimmy conversava com meu pai, mostrando interesse sincero nele. Quando meu pai começou a fazer perguntas sobre assuntos religiosos, Jimmy disse respeitosamente: ‘A Bíblia tem as respostas. Vamos procurá-las juntos.’ Com o tempo, não só meu pai aceitou a verdade, mas também 63 membros de nossa família.”

Congressos em meio à instabilidade política

Em meados da década de 80, o cenário político na Birmânia ficou cada vez mais instável. Por fim, em 1988, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o governo. Mas a manifestação foi rapidamente reprimida e a maior parte do país ficou sob lei marcial.

“As autoridades estabeleceram um toque de recolher rigoroso, e reuniões com mais de cinco pessoas foram proibidas”, lembra Kyaw Win, um betelita. “Estávamos na dúvida se deveríamos cancelar os congressos de distrito que estavam programados. Mas, com fé em Jeová, contatamos o comandante militar da Região Administrativa de Yangon e pedimos permissão para realizar um congresso para mil pessoas. Dois dias depois, recebemos a permissão. Quando mostramos a autorização para autoridades em outros lugares, elas também deram permissão. Com a ajuda de Jeová, toda a série de congressos foi um enorme sucesso!”

Não deixamos de nos reunir

Depois dos tumultos de 1988, a situação econômica na Birmânia só piorou. Mesmo assim, os irmãos demonstraram profunda fé em Deus por continuar a colocar os interesses do Reino em primeiro lugar na vida. — Mat. 6:33.

Cin Khan Dal é um exemplo disso. Ele morava com a família num povoado remoto em Sagaing. “Nós queríamos ir ao congresso em Tahan, o que envolvia uma viagem de dois dias de barco e caminhão”, conta ele. “Mas não tinha ninguém para cuidar das galinhas enquanto estivéssemos fora. Mesmo assim, confiamos em Jeová e fomos ao congresso. Ao voltarmos, descobrimos que havíamos perdido 19 galinhas, o que foi um grande prejuízo. No entanto, um ano depois, nossa pequena granja havia aumentado para mais de 60 galinhas. Apesar de muitas galinhas do povoado terem morrido de doença, nós não tivemos nenhuma perda.”

Outro casal que manteve o foco espiritual foi Aung Tin Nyunt e sua esposa, Nyein Mya, que moravam com os nove filhos em Kyonsha, um pequeno povoado localizado a 64 quilômetros de Yangon. Aung Tin Nyunt conta: “A alimentação de nossa família geralmente era só mingau de arroz e legumes. Não tínhamos dinheiro e nenhum produto para vender. Mesmo assim, não ficamos deprimidos. Eu dizia à minha família: ‘Jesus não tinha onde deitar a cabeça. Então, mesmo que eu tenha de morar debaixo de uma árvore ou morrer de fome, continuarei a adorar a Deus fielmente.’

“Mas, certo dia, não havia nada em casa para comer. Minha esposa e meus filhos olharam para mim preocupados. ‘Não se preocupem’, disse eu. ‘Deus vai nos ajudar.’ Depois de passarmos a manhã no serviço de campo, levei meus filhos para pescar. Mas conseguimos peixes apenas para uma refeição. Deixei os cestos que usávamos para pescar junto ao rio, perto de uma moita de lírios-dágua, e disse aos meninos: ‘Podemos voltar depois da reunião.’ Ventou muito naquela tarde. Quando voltamos, vimos que muitos peixes estavam escondidos entre os lírios-d’água por causa do vento. Assim, baixamos os cestos e apanhamos muitos peixes. Nós os vendemos e deu para comprar comida para uma semana inteira.”

Vez após vez, os servos de Jeová em Mianmar têm vivenciado o cumprimento da consoladora promessa de Deus: “De modo algum te deixarei e de modo algum te abandonarei.” Assim, eles dizem sem hesitação: “Jeová é o meu ajudador; não terei medo. Que me pode fazer o homem?” — Heb. 13:5, 6.

Melhoras na impressão

Desde 1956, as pessoas em Mianmar se beneficiam do contínuo alimento espiritual publicado na edição birmanesa de A Sentinela. Apesar das constantes guerras étnicas, lutas civis e crises econômicas, nenhum único número deixou de ser publicado. Como a revista tem sido produzida?

Por muitos anos, a filial tinha de enviar à censura do governo diversas cópias datilografadas do texto traduzido. Quando a censura aprovava o texto, a filial solicitava permissão para comprar papel. Depois disso, um irmão levava o papel e o texto da revista para um gráfico comercial, que compunha manualmente cada página, letra por letra, com tipos da grafia birmanesa. O irmão revisava então o texto para ver se não havia erros, e o gráfico imprimia a revista numa impressora precária. Daí, enviavam-se cópias aos censores, que forneciam um certificado numerado aprovando a publicação da revista. Não é de admirar que esse procedimento trabalhoso levasse várias semanas e que o papel e a qualidade da impressão deixassem a desejar.

Em 1989, a filial recebeu um novo sistema de composição que revolucionou o processo de impressão. O Sistema Eletrônico de Fotocomposição Multilíngue (MEPS), desenvolvido e produzido na sede mundial, usava computadores, software e fotocomposição para processar o texto para impressão em 186 idiomas, incluindo o birmanês. *

“Pelo visto, as Testemunhas de Jeová foram as primeiras pessoas em Mianmar a compor e produzir publicações usando computadores”, diz Mya Maung, que trabalhava na filial. “O sistema MEPS, que usava belos caracteres birmaneses criados em nossa filial, resultou em mudanças na indústria gráfica local. As pessoas não conseguiam entender como imprimíamos caracteres tão nítidos!” O MEPS também favorecia a impressão offset, um grande avanço em comparação com a impressão tipográfica. Além disso, com o MEPS, houve uma grande melhora na qualidade das imagens, tornando a revista A Sentinela ainda mais atraente.

Em 1991, para a alegria dos irmãos e do público, o governo de Mianmar aprovou a publicação de Despertai!. As palavras de uma autoridade de alto escalão do Ministério das Informações refletem a opinião de muitos leitores: “Despertai! é diferente de outras revistas religiosas. Ela traz muitos assuntos interessantes e é fácil de entender. Gosto muito dela!”

Nos últimos 20 anos, o total de revistas impressas mensalmente pela filial aumentou de 15 mil para mais de 141 mil, um aumento de quase 900%! A Sentinela e Despertai! são hoje bem conhecidas em Yangon e apreciadas por pessoas em todo o país.

Necessidade de uma filial nova

Depois dos tumultos de 1988, as autoridades militares incentivaram organizações sociais e religiosas em Mianmar a se registrar junto ao governo. É claro que a filial fez isso sem demora. Dois anos depois, em 5 de janeiro de 1990, o governo registrou oficialmente a “Sociedade (Torre de Vigia) das Testemunhas de Jeová” em Mianmar.

 

Nessa época, os irmãos já haviam mudado a filial da Rua 39 para um prédio de dois andares num terreno de uns 2 mil metros quadrados na Estrada Inya, num bairro rico ao norte da cidade. Mas agora esse novo local estava bem apertado. Viv Mouritz, que visitou Mianmar como superintendente zonal, se lembra: “Os 25 membros da família de Betel trabalhavam em condições difíceis. Não havia fogão na cozinha. Uma irmã cozinhava usando um fogãozinho elétrico. Na lavanderia, não havia máquina de lavar: uma irmã lavava as roupas num buraco no piso. Os irmãos queriam comprar um fogão e uma máquina de lavar, mas simplesmente não era possível importar esses produtos.”

Os irmãos sem dúvida precisavam de uma filial maior. Assim, o Corpo Governante aprovou uma proposta de demolir o prédio de dois andares para construir um de quatro andares, com apartamentos residenciais e escritórios. No entanto, antes de executar o projeto, havia grandes obstáculos a serem superados. Para começar, era preciso obter aprovação de seis repartições do governo. Depois, as construtoras locais, que não estavam acostumadas a trabalhar com estruturas de aço, não conseguiriam fazer a obra. Em terceiro lugar, voluntários estrangeiros não podiam entrar no país. Por último, os materiais de construção não estavam disponíveis localmente nem podiam ser importados. Não é preciso dizer que o projeto parecia impossível. Mas os irmãos confiaram em Jeová. Se fosse da vontade dele, a construção da nova filial seria realizada! — Sal. 127:1.

‘Não por poder, mas por meu espírito’

Kyaw Win, do Departamento Jurídico da filial, conta: “O requerimento do alvará de construção passou por cinco dos seis níveis do governo, incluindo o Ministério de Assuntos Religiosos. Então a Comissão de Desenvolvimento da Cidade de Yangon afirmou que um prédio de quatro andares seria uma construção muito alta e rejeitou nosso pedido. Enviamos novamente o requerimento, mas foi rejeitado de novo. A Comissão de Filial me incentivou a não desistir. Assim, orei fervorosamente a Jeová e enviei o requerimento pela terceira vez, e foi aprovado!

“Em seguida, fomos ao Ministério da Imigração. Ali, as autoridades nos informaram que estrangeiros podiam entrar no país apenas com vistos de turista de sete dias. Mas, quando explicamos que os voluntários estrangeiros tinham qualificações profissionais e que ensinariam técnicas avançadas de construção aos trabalhadores locais, eles concederam vistos de seis meses!

“Daí, fomos ao Ministério do Comércio e soubemos que todas as importações estavam proibidas. Mas, quando explicamos a natureza da construção, concederam-nos licença para importar materiais de construção no valor de mais de 1 milhão de dólares. E que dizer do imposto de importação? Fomos ao Ministério das Finanças e recebemos permissão para importar os materiais com isenção de impostos. Dessas e de muitas outras maneiras, vimos a veracidade da declaração de Deus: ‘“Não por força militar, nem por poder, mas por meu espírito”, disse Jeová dos exércitos.’” — Zac. 4:6.

 

Em 1997, voluntários chegaram ao local de construção. Os irmãos na Austrália doaram a maior parte dos materiais de construção, e outros suprimentos vieram de Cingapura, Malásia e Tailândia. Bruce Pickering, que ajudou a supervisionar a obra, conta: “Toda a estrutura de aço foi pré-fabricada por vários irmãos da Austrália, que depois foram a Mianmar para fazer a montagem, peça por peça. O incrível é que, na hora da montagem, não havia nenhum furo fora do lugar.” Mais voluntários vieram da Alemanha, Estados Unidos, Fiji, Grã-Bretanha, Grécia e Nova Zelândia.

Pela primeira vez em 30 anos, publicadores locais puderam se associar livremente com irmãos estrangeiros. “Ficamos tão felizes que parecia um sonho”, diz Donald Dewar. “A espiritualidade, o amor e o espírito de abnegação dos irmãos visitantes foram de muito encorajamento para nós.” Outro irmão acrescenta: “Também aprendemos muitas coisas úteis sobre construção. Publicadores que só tinham usado velas aprenderam a instalar fiação elétrica. Outros que só estavam familiarizados com leques aprenderam a instalar ar-condicionado. Aprendemos até a usar ferramentas elétricas.”

 

Os voluntários estrangeiros, por sua vez, ficaram comovidos com a fé e o amor mostrados pelos irmãos de Mianmar. “Eles eram pobres, mas tinham um grande coração”, diz Bruce Pickering. “Muitos deles nos convidavam para refeições em suas casas, partilhando a comida que poderia ser usada para alimentar a família por vários dias. O exemplo deles nos lembrou do que é realmente importante na vida: família, fé, nossa fraternidade e as bênçãos de Deus.”

Em 22 de janeiro de 2000, o prédio da nova filial foi dedicado numa reunião especial realizada no Teatro Nacional. Os irmãos ficaram emocionados de ouvir John Barr, do Corpo Governante, fazer o discurso de dedicação.

Construção de Salões do Reino

Quando a obra na nova filial já estava para terminar, os irmãos voltaram a atenção para outra necessidade urgente: Salões do Reino. Em 1999, o casal Nobuhiko e Aya Koyama chegaram do Japão. Nobuhiko ajudou a estabelecer o Departamento de Construção de Salões do Reino na filial. Ele conta: “Eu e outros irmãos começamos fazendo uma inspeção nos locais de reunião em todo o país, o que envolvia viajar de ônibus, avião, motocicleta, bicicleta, barco e a pé. Não raro foi preciso conseguir autorização do governo para viajar, pois em muitos lugares não se permitia a entrada de estrangeiros. Uma vez que identificávamos onde havia necessidade de salões, o Corpo Governante bondosamente liberava fundos provenientes do programa para países com recursos limitados.

“Depois que formamos uma equipe de voluntários bem dispostos, os trabalhadores se reuniram em Shwepyitha, um bairro nos arredores de Yangon, para construir o primeiro salão. Os policiais ficaram espantados ao ver irmãos estrangeiros e nativos trabalhando juntos. Os policiais interromperam a construção várias vezes para verificar se era permitido que nativos trabalhassem com estrangeiros. Outros observadores elogiaram os irmãos. ‘Vi um estrangeiro limpando o banheiro!’, comentou um homem. ‘Nunca vi estrangeiros fazendo esse tipo de serviço. Vocês são realmente diferentes!’

 

“Enquanto isso, outra equipe iniciou a construção de um salão em Tachileik, cidade na fronteira com a Tailândia. Muitos irmãos tailandeses cruzavam a fronteira todos os dias para ajudar na construção. Os dois grupos trabalharam unidos, embora falassem idiomas diferentes. Em nítido contraste com essa união, quando o salão foi terminado, grupos militares oponentes que ficavam na fronteira começaram a lutar. Houve bombardeios e tiroteios, mas o salão não foi atingido. Quando a situação acalmou, 72 pessoas se reuniram no salão para dedicá-lo a Jeová, o Deus da paz.”

Desde 1999, equipes de construção de Salões do Reino construíram mais de 65 salões em todo o país. Qual foi a reação dos irmãos locais? Certa irmã expressou os sentimentos de muitos ao dizer com lágrimas de alegria e gratidão: “Nunca imaginei que teríamos um salão tão bonito! Agora vou me esforçar ainda mais para convidar os interessados para as reuniões. Agradeço a Jeová e à sua organização pela bondade que mostraram a nós.”

Chegam missionários

Durante os anos 90, após décadas de isolamento, Mianmar começou a abrir as portas para o mundo exterior. Em vista disso, a filial fez uma solicitação ao governo para que missionários pudessem entrar no país novamente. Por fim, em janeiro de 2003, Hiroshi e Junko Aoki, formados de Gileade, chegaram do Japão. Eram os primeiros missionários a entrar em Mianmar depois de 37 anos.

 

“Visto que havia tão poucos estrangeiros no país, tínhamos de ser bem discretos para que as autoridades não interpretassem mal a natureza de nossa obra”, diz Hiroshi. “Assim, começamos acompanhando os irmãos em revisitas e estudos bíblicos. Logo vimos que o povo de Mianmar gosta muito de falar sobre coisas espirituais. Em nossa primeira manhã no serviço de campo, iniciamos cinco estudos bíblicos!”

“Muitas vezes, percebemos a mão de Jeová nos guiando”, acrescenta Junko. “Certa vez, quando voltávamos de motocicleta de um estudo bíblico perto de Mandalay, um pneu furou. Levamos a moto até uma fábrica próxima e pedimos ajuda para consertar o pneu. O segurança permitiu a entrada de Hiroshi e da moto, mas eu tive de ficar esperando na guarita. O segurança estava curioso.

“‘O que vocês estão fazendo aqui?’, perguntou ele.

“‘Estamos visitando uns amigos’, respondi.

“‘Por quê?’, ele quis saber. ‘É para uma reunião religiosa?’

“Como não sabia a motivação dele, desconversei.

“‘Seja sincera!’, insistiu ele. ‘Vocês são de que organização?’

“Peguei uma Sentinela e mostrei a ele.

“‘Eu sabia!’, disse ele todo empolgado. E gritou para os colegas: ‘Vejam só! Um anjo furou um pneu para enviar as Testemunhas de Jeová até nós!’

“O homem tirou de sua mochila uma Bíblia e um de nossos tratados. Ele tinha estudado a Bíblia com as Testemunhas de Jeová em outra região, mas perdeu contato quando se mudou para Mandalay. Iniciamos ali mesmo um estudo da Bíblia. Mais tarde, alguns de seus colegas começaram a estudar também.”

Em 2005, mais quatro missionários chegaram a Mianmar, dessa vez da Escola de Treinamento Ministerial (agora Escola Bíblica para Irmãos Solteiros) das Filipinas. Um dos irmãos, Nelson Junio, enfrentou um desafio comum a muitos missionários: a saudade de casa. Ele conta: “Muitas vezes, eu orava e chorava antes de dormir. Então um irmão bondoso me mostrou Hebreus 11:15, 16. Essa passagem diz que Abraão e Sara não ficaram pensando na casa que deixaram em Ur, mas seguiram em frente de acordo com o propósito de Deus. Depois de ler esse texto, não chorei mais. Comecei a encarar minha designação como meu lar.”

A influência de bons exemplos

No primeiro século, o apóstolo Paulo deu o seguinte conselho a Timóteo: “As coisas que ouviste de mim, . . . destas coisas encarrega homens fiéis, os quais, por sua vez, estarão adequadamente habilitados para ensinar outros.” (2 Tim. 2:2) Com esse princípio em mente, os missionários se empenharam em ajudar as congregações em Mianmar a seguir mais de perto os procedimentos teocráticos usados pelo povo de Jeová no mundo todo.

Por exemplo, os missionários observaram que muitos publicadores locais, ao conduzir estudos bíblicos, apenas se concentravam em fazer os estudantes repetir as respostas diretamente do livro — método usado na maioria das escolas em Mianmar. “Com paciência, incentivamos os publicadores a usar perguntas de ponto de vista para que os estudantes expressassem seus pensamentos e sentimentos”, diz Joemar Ubiña. “Os publicadores logo colocaram isso em prática e se tornaram instrutores mais eficientes.”

Os missionários também viram que muitas congregações tinham apenas um ancião ou um servo ministerial. Alguns desses irmãos designados, embora fiéis e zelosos, tinham a tendência de tratar o rebanho de forma muito autoritária. Pelo visto, essa tendência humana deve ter existido no primeiro século, quando o apóstolo Pedro disse aos anciãos: “Pastoreai o rebanho de Deus, que está aos vossos cuidados, não . . . dominando sobre os que são a herança de Deus, mas tornando-vos exemplos para o rebanho.” (1 Ped. 5:2, 3) Como os missionários podiam ajudar os irmãos? “Procuramos dar um bom exemplo por sempre tratarmos o rebanho com muita bondade e carinho, sendo sempre acessíveis”, diz Benjamin Reyes. Com o tempo, seu bom exemplo surtiu efeito. Muitos anciãos mudaram sua maneira de lidar com os irmãos, tornando-se mais compreensivos.

Benefícios de uma tradução melhor

Por muitos anos, os irmãos em Mianmar usaram uma Bíblia do século 19, que havia sido traduzida por um missionário da cristandade com a ajuda de monges budistas. Essa tradução contém muitas palavras obsoletas da língua páli e é bastante difícil de entender. Assim, quando foi lançada em 2008 a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs em birmanês, os irmãos ficaram eufóricos. “A assistência aplaudiu por um bom tempo, e alguns até mesmo choraram de alegria quando receberam seu exemplar pessoal”, lembra-se Maurice Raj. “A nova tradução é clara, simples e exata. Até mesmo budistas acham fácil de entender!” Logo depois do lançamento, o número de estudos bíblicos no país aumentou em mais de 40%.

 

Como se dá com vários outros idiomas, o birmanês usa dois estilos de linguagem: o formal, com base no páli e no sânscrito, e o coloquial, usado no dia a dia. Ambos têm a forma escrita e a falada. A maioria de nossas publicações mais antigas usava o estilo formal, que cada vez mais pessoas acham difícil de entender. Por isso, a filial recentemente começou a traduzir publicações para o birmanês coloquial, que é entendido com mais facilidade pela maioria das pessoas.

 

Essas novas publicações têm tido um impacto imediato. Than Htwe Oo, encarregado do Departamento de Tradução, explica: “Era comum as pessoas dizerem: ‘As publicações de vocês são de alto nível, mas eu não consigo entendê-las.’ Agora elas ficam radiantes e começam a ler assim que pegam a publicação. Muitas dizem: ‘Essas publicações são muito fáceis de entender!’” Até mesmo os comentários nas reuniões melhoraram, pois a assistência entende claramente o que está escrito.

Atualmente, o Departamento de Tradução tem uma equipe de 26 tradutores trabalhando por tempo integral em três idiomas: o birmanês, o chin hakha e kayin sgaw. Também há publicações traduzidas para outros 11 idiomas locais.

O ciclone Nargis

Em 2 de maio de 2008, o ciclone Nargis, com ventos de até 240 quilômetros por hora, atingiu Mianmar, deixando um rastro de morte e destruição desde o delta do Ayeyarwady até a fronteira com a Tailândia. O ciclone afetou mais de 2 milhões de pessoas, e umas 140 mil pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas.

Milhares de Testemunhas de Jeová sentiram os efeitos do ciclone, mas, por incrível que pareça, nenhuma ficou ferida. Muitas sobreviveram refugiando-se em Salões do Reino recém-construídos. Em Bothingone, um povoado costeiro no delta do Ayeyarwady, 20 irmãos e outras 80 pessoas ficaram nove horas abrigados no Salão do Reino, sentados nas vigas do telhado, observando a água subir perigosamente quase até o teto antes de começar a baixar.

 
 

A filial prontamente enviou uma equipe de socorros para a região mais atingida na foz do delta. Passando por áreas devastadas, cobertas de corpos, a equipe chegou ao povoado com alimento, água e medicamentos. Foi a primeira equipe de socorros a chegar à região. Depois de entregar os suprimentos aos irmãos locais, a equipe os encorajou com palestras espirituais e distribuiu Bíblias e publicações, visto que todos os pertences dos irmãos haviam sido levados pelo ciclone.

Para coordenar o enorme trabalho, a filial formou Comissões de Ajuda Humanitária em Yangon e em Pathein. Essas comissões organizaram centenas de voluntários para distribuir água, arroz e outros suprimentos para as vítimas. Também formaram equipes de construção itinerantes para reconstruir casas de irmãos que tinham sido danificadas ou destruídas.

Tobias Lund, um dos voluntários em prestar ajuda humanitária, conta: “Eu e Sofia, minha esposa, encontramos May Sin Oo, de 16 anos, a única publicadora de sua família, secando a Bíblia dela no sol no meio dos escombros de sua casa. Ela sorriu quando nos viu, mas uma lágrima estava escorrendo em seu rosto. Não demorou muito e uma das equipes de construção itinerantes chegou com capacetes, ferramentas elétricas e materiais de construção para construir uma nova casa para a família dela. Isso impressionou os vizinhos. As pessoas ficaram dias observando a construção, que se tornou a principal atração da área. Os observadores exclamavam: ‘Nunca vimos nada igual! Como a organização de vocês é unida e amorosa! Nós também queremos ser Testemunhas de Jeová.’ Os pais e os irmãos de May Sin Oo estão assistindo às reuniões, e a família inteira está fazendo excelente progresso espiritual.”

O trabalho de ajuda humanitária continuou por vários meses. Os irmãos distribuíram toneladas de suprimentos de socorro e consertaram ou reconstruíram 160 casas e 8 Salões do Reino. O ciclone Nargis resultou em tragédia e dificuldades para Mianmar, mas trouxe à tona algo muito precioso: o vínculo de amor que une o povo de Deus e glorifica o nome de Jeová.

Um evento inesquecível

No início de 2007, a filial em Mianmar recebeu uma carta muito animadora. “O Corpo Governante pediu que organizássemos um congresso internacional em Yangon”, diz Jon Sharp, membro da Comissão de Filial que, com Janet, sua esposa, havia chegado à filial no ano anterior. “O congresso de 2009 receberia centenas de congressistas estrangeiros vindos de dez países, algo sem precedentes na história teocrática de nosso país!”

Jon continua: “Dezenas de perguntas vinham à nossa mente: ‘Que local vai comportar tantas pessoas? Será que publicadores de regiões remotas terão condições de vir? Onde ficarão hospedados? Como farão a viagem? Terão condições de comprar alimento para a família? E as autoridades de Mianmar, será que permitirão uma reunião desse porte?’ Os obstáculos pareciam intermináveis. Mas nós nos lembramos das palavras de Jesus: ‘As coisas impossíveis aos homens são possíveis a Deus.’ (Luc.18:27) Assim, com confiança em Deus, começamos a definir os planos.

“Logo encontramos um local adequado para o evento: o Ginásio Nacional de Mianmar, um local coberto com 11 mil assentos e ar-condicionado, localizado perto do centro da cidade. Imediatamente, enviamos uma solicitação às autoridades para utilizar o local. No entanto, passaram-se meses e, faltando apenas algumas semanas para o congresso, a nossa solicitação ainda não tinha sido aprovada. Então recebemos a notícia arrasadora: a direção do ginásio havia programado um torneio de kick boxing na mesma data do congresso! Como não tínhamos mais tempo para encontrar outro local, negociamos pacientemente com o promotor do evento e com dezenas de outras autoridades para resolver esse impasse. Por fim, o promotor do evento disse que podia adiar o torneio se os 16 lutadores profissionais que se apresentariam no evento concordassem em alterar os seus contratos. Quando os lutadores souberam que as Testemunhas de Jeová queriam o local para um congresso especial, todos eles concordaram em mudar a data.”

 

“No entanto”, diz Kyaw Win, outro membro da Comissão de Filial, “nós ainda precisávamos da aprovação do governo para usar o ginásio, e o nosso pedido já havia sido negado quatro vezes! Depois de orarmos a Jeová, contatamos o general que controlava todos os estádios e ginásios de Mianmar. Faltavam apenas duas semanas para o congresso, e era a primeira vez que conseguíamos acesso a uma autoridade desse escalão. Para nossa grande alegria, ele aprovou o pedido!”

Enquanto isso, sem saber de todo esse transtorno, milhares de congressistas de todo o país e do exterior estavam a caminho de Yangon. Eles vieram de avião, de trem, de barco, de ônibus, de caminhão e a pé. Um grande número de famílias em Mianmar havia economizado durante meses para assistir ao congresso. Muitos irmãos conseguiram o dinheiro com suas plantações, outros com suas criações de porcos e alguns confeccionando roupas ou até mesmo garimpando ouro. Para muitos, era a primeira vez que iam a uma cidade grande ou veriam alguém estrangeiro.

Mais de 1.300 congressistas da região norte de Mianmar afluíram à Estação Ferroviária de Mandalay para pegar o trem especial fretado para levá-los a Yangon. Um grupo das colinas de Naga havia viajado seis dias, carregando nas costas dois publicadores cujas cadeiras de rodas improvisadas haviam quebrado no início do trajeto. Centenas de irmãos acamparam na plataforma da estação, conversando, rindo e cantando cânticos do Reino. “Todos estavam empolgados”, diz Pum Cin Khai, que ajudou a cuidar do transporte. “Fornecemos alimento, água e colchonetes. Quando o trem finalmente chegou, os anciãos encaminharam cada grupo para o vagão designado. Finalmente, ouviu-se o anúncio pelo alto-falante: ‘O trem das Testemunhas de Jeová está partindo!’ Dei uma última olhada na plataforma para me certificar de que não estávamos deixando ninguém, e pulei para dentro do trem.”

Nesse meio-tempo, em Yangon, cerca de 700 congressistas estrangeiros se acomodavam nos hotéis. Mas onde ficariam os mais de 3 mil congressistas de Mianmar? “Jeová abriu o coração das Testemunhas de Jeová em Yangon para cuidar de seus irmãos”, diz Myint Lwin, que trabalhou no Departamento de Hospedagem. “Algumas famílias acomodaram mais de 15 hóspedes. Elas pagaram para registrá-los junto às autoridades e forneceram café da manhã e transporte para ir e voltar do ginásio todos os dias. Dezenas de congressistas ficaram hospedados em Salões do Reino locais, e centenas ficaram numa fábrica grande. Mesmo assim, apesar de todo esse empenho, restavam ainda uns 500 congressistas para acomodar. Explicamos o problema à direção do ginásio, e eles permitiram que os congressistas dormissem no ginásio — uma concessão sem precedentes!”

 

Visto que o ginásio estava mal conservado, mais de 350 voluntários trabalharam por dez dias a fim de aprontá-lo para o congresso. “Fizemos consertos no encanamento, na parte elétrica e no ar-condicionado e depois pintamos e limpamos o ginásio inteiro”, diz Htay Win, o superintendente do congresso. “Todo esse trabalho resultou num excelente testemunho. O oficial do Exército encarregado do ginásio exclamou: ‘Muito obrigado! Muito obrigado! Vou orar a Deus para que vocês usem o ginásio todo ano!’”

Mais de 5 mil pessoas assistiram ao congresso, realizado nas datas de 3 a 6 de dezembro de 2009. No último dia, muitos congressistas usaram vestes tradicionais, criando um belo cenário de roupas coloridas. “Todos se abraçavam e choravam, mesmo antes de começar a primeira sessão!”, disse uma irmã. Depois que Gerrit Lösch, do Corpo Governante, fez a oração final, a assistência ficou aplaudindo e acenando por vários minutos. Uma irmã de 86 anos resumiu os sentimentos de muitos ao dizer: “Eu me senti no novo mundo!”

Muitas autoridades do governo também ficaram impressionadas. Uma delas disse: “Esse evento é sem igual. Não tem ninguém falando palavrão, fumando ou mascando bétele. Pessoas de vários grupos étnicos estão unidas. Nunca vi um grupo como este!” Maurice Raj diz: “Até mesmo um dos comandantes militares mais importantes em Yangon contou que ele e seus colegas nunca tinham visto um evento tão impressionante.”

Inúmeros congressistas concordaram que haviam presenciado algo realmente especial. Um irmão local disse: “Antes do congresso, só tínhamos ouvido falar da nossa fraternidade internacional. Agora vimos isso com nossos próprios olhos! Nunca vamos nos esquecer do amor que nossos irmãos nos mostraram.”

“Brancos para a colheita”

Há quase 2 mil anos, Jesus disse a seus discípulos: “Erguei os vossos olhos e observai os campos, que estão brancos para a colheita.” (João 4:35) O mesmo se pode dizer de Mianmar. Atualmente, o país tem 3.790 publicadores, numa proporção de 1 publicador para cada 15.931 habitantes — um vasto campo para a colheita! E com 8.005 pessoas que assistiram à Comemoração em 2012, o potencial de aumento é muito grande.

Como evidência adicional, veja o Estado de Rakhine, uma região costeira que faz fronteira com Bangladesh. Ali há quase 4 milhões de habitantes, mas nem sequer uma Testemunha de Jeová. “Todo mês recebemos muitas cartas de pessoas dessa região pedindo publicações e ajuda espiritual”, diz Maurice Raj. “Além disso, um crescente número de budistas em Mianmar, principalmente jovens, está se interessando pela verdade. Assim, continuamos rogando ao Senhor que mande mais trabalhadores para a colheita.” — Mat. 9:37, 38.

Quase cem anos atrás, dois pioneiros corajosos trouxeram as boas novas para esse país de maioria budista. Desde então, milhares de pessoas de diversas formações étnicas aceitaram a verdade. Apesar dos conflitos violentos, revoluções políticas, pobreza generalizada, perseguição religiosa, isolamento internacional e desastres naturais, as Testemunhas de Jeová em Mianmar têm demonstrado inabalável devoção a Jeová e a seu Filho, Jesus Cristo. Elas continuam decididas a pregar as boas novas do Reino, a ‘perseverar plenamente e a ser longânimes com alegria’. — Col. 1:11.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 2 Mianmar era antigamente chamado de Birmânia, nome derivado da tribo bramá (birmanesa), o maior grupo étnico do país. Em 1989, o nome foi mudado para União de Mianmar para representar os muitos grupos étnicos que vivem ali. Usaremos Birmânia para os acontecimentos anteriores a 1989 e Mianmar para os acontecimentos posteriores a esse ano.

^ parágrafo 8 Os anglo-indianos são pessoas de ascendência britânica e indiana. Sob o domínio britânico, milhares deles imigraram para a Birmânia, que na época era considerada parte da “Índia Britânica”.

^ parágrafo 8 Bertram Marcelline foi o primeiro a ser batizado como Testemunha de Jeová na Birmânia. Ele morreu fiel no fim dos anos 60.

^ parágrafo 62 Equivalente, na época, a cerca de 95 dólares, uma quantia considerável.

^ parágrafo 71 Veja o Anuário das Testemunhas de Jeová de 1966 (em inglês), página 192.

^ parágrafo 113 Publicado pelas Testemunhas de Jeová, mas hoje esgotado.

^ parágrafo 140 O MEPS processa atualmente mais de 600 idiomas.

[Quadro nas páginas 82, 83]

Dados gerais sobre Mianmar

País

Mianmar é um país de incrível diversidade: montanhas com picos cobertos de neve, florestas quentes e úmidas, enormes planícies, rios caudalosos e extensos deltas. É o segundo maior país do Sudeste Asiático e abrange uma área maior do que a França.

Povo

A população é de 60 milhões de habitantes, composta de pelo menos 135 grupos étnicos. Por volta de dois terços da população são da etnia birmanesa. Cerca de 90% são budistas teravadas. Muitas pessoas das etnias kayin, chin e kachin dizem ser cristãs.

Idioma

A língua oficial falada em todo o país é o birmanês, mas a maioria dos grupos étnicos também possui seu próprio idioma tribal.

Economia

A agricultura, a silvicultura e a pesca são as principais fontes de renda. O arroz é o produto agrícola mais importante. O país é rico em recursos naturais, incluindo teca, borracha, jade, rubi, petróleo e gás natural.

Alimentação

 

O arroz está sempre presente nas refeições. Geralmente é acompanhado de ngapi, uma pasta de sabor muito forte feita de peixe ou camarão fermentado. Saladas leves com tempero picante e pratos suaves à base de curry são muito apreciados. As refeições podem incluir um pouco de peixe, frango e camarão. As bebidas mais comuns são o chá preto e o chá verde.

Clima

Um aspecto predominante do clima são as monções equatoriais, ou períodos de fortes chuvas. Há três estações: quente, muito quente e muito quente com chuva. Mas, nas montanhas da região norte, a temperatura pode ser baixa.

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Amigos tomando uma refeição típica de Mianmar

[Quadro na página 88]

Um pregador que não fazia rodeios

SYDNEY COOTE

ANO DE NASCIMENTO 1896

ANO DE BATISMO 1939

RESUMO BIOGRÁFICO Uma das primeiras pessoas que aceitaram a verdade em Mianmar. Narrado por sua sobrinha, Phyllis Tsatos (antes D’Souza).

◆ MEU TIO deu testemunho para a nossa família.

Ele me perguntou: “Você acredita mesmo que Deus permite que as pessoas fiquem queimando para sempre no inferno?”

“Sim, pois é isso que a Igreja Católica ensina”, respondi.

Meu tio apontou para o meu cachorrinho e perguntou: “O que faria se ele mordesse você?”

“Eu lhe daria um tapa para ensinar que não pode fazer isso”, respondi.

“Por que você não o penduraria de cabeça para baixo e o espetaria com um ferro quente?”, perguntou ele.

Fiquei chocada e exclamei: “Que é isso, tio? Seria muita crueldade!”

“Crueldade?”, disse ele. “Crueldade é o ensinamento da igreja de que Deus atormenta os pecadores para sempre no inferno de fogo.”

Essa argumentação direta, mas lógica, fez com que eu reavaliasse minhas crenças. Não demorou muito e oito membros de nossa família se tornaram zelosas Testemunhas de Jeová.

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[Quadro nas páginas 98, 99]

Cultura e costumes de Mianmar

Nomes

A maioria dos mianmarenses não tem sobrenome, ou nome de família. O primeiro nome geralmente é composto de diversas palavras de uma só sílaba que descrevem qualidades desejáveis, objetos ou a etnia da pessoa. Por exemplo, Cho Sandar Myint significa “Suave Lua Acima”, Htet Aung Htun significa “Inteligente Conquista Brilho” e Naw Say Wah Phaw significa “Mulher Prata Flor”.

Cumprimentos

Os cumprimentos são variados e interessantes. Amigos que há muito não se veem costumam dizer em tom de brincadeira: “Então, você ainda está vivo?” Por volta do horário das refeições, as pessoas talvez se cumprimentem perguntando: “Você já comeu?” E, em vez de dizer “tchau”, as pessoas simplesmente dizem “estou indo”, e a resposta típica é “que bom” ou “vá devagar”.

Modos

Gentileza e bondade são muito apreciadas. Os mais velhos são respeitados e chamados, dentre outros títulos, de tio e instrutor. Ao entregar alguma coisa a alguém ou ao cumprimentá-lo com um aperto de mão, é comum tocar no próprio antebraço direito com a mão esquerda em sinal de respeito. Embora homens e mulheres — casados ou solteiros — evitem demonstrações públicas de afeto, pessoas do mesmo sexo muitas vezes ficam de mãos dadas em público.

Modo de se vestir

Homens e mulheres usam o lungi, uma saia colorida e larga enrolada na cintura que chega até os tornozelos. Os homens amarram o lungi com um nó na frente, e as mulheres o prendem na cintura, enfiando o tecido para dentro. As estampas variam de acordo com o grupo étnico e o sexo da pessoa.

Modo de se arrumar

 

A maioria das mulheres e crianças usa o thanaka, um creme perfumado feito com a casca moída de uma árvore do mesmo nome. O thanaka, usado como cosmético e tratamento de pele, é refrescante e funciona como filtro solar.

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Mãe passando thanaka no rosto da filha

[Quadro nas páginas 104, 105]

Jeová me deu um “espírito novo”

WILSON THEIN

ANO DE NASCIMENTO 1924

ANO DE BATISMO 1955

RESUMO BIOGRÁFICO Esse ex-ladrão se esforçou muito para mudar a personalidade e serve como pioneiro especial há 54 anos.

◆ QUANDO eu era jovem, aprendi boxe, luta livre e judô, e assim me tornei uma pessoa violenta e agressiva. Aos 19 anos, eu pertencia a uma gangue e participava de assaltos à mão armada. Acabei sendo preso e passei oito anos na cadeia. Ali, pude pensar no estilo de vida ruim que estava levando e orei muito. No fundo, eu queria ter mais conhecimento sobre Deus.

Depois de libertado, me mudei para Yangon e comecei a assistir às reuniões das Testemunhas de Jeová. Por fim, me qualifiquei para o batismo, graças à ajuda paciente de vários irmãos bondosos.

Depois do meu batismo, eu ainda precisava me esforçar bastante para demonstrar a personalidade cristã. (Efé. 4:24) Eu tinha a tendência de ser muito crítico e com frequência ficava irritado com os outros. Queria ser uma pessoa melhor, mas achava difícil controlar meu temperamento. Eu me considerava tão fracassado que às vezes ia até o rio e ficava chorando por horas.

Em 1957 fui designado pioneiro especial. Minha primeira designação foi Mandalay. Ali, servi com o missionário Robert Richards, que era como um pai para mim. Ele me ensinou a me concentrar nas qualidades das pessoas e a reconhecer com humildade minhas próprias imperfeições. (Gál. 5:22, 23) Sempre que ficava irritado, eu implorava a Jeová para que me desse “um espírito novo, firme” e pacífico. (Sal. 51:10) Jeová respondeu às minhas orações e, com o tempo, consegui melhorar minha personalidade.

Mais tarde, dei estudo a um homem de 80 anos que era batista. Os membros da igreja dele ficaram furiosos e me acusaram de “roubar” suas ovelhas. Um deles colocou uma faca no meu rosto e me perguntou em tom de ameaça: “É pecado matar alguém?” Senti a fúria crescer dentro de mim. Imediatamente fiz uma oração silenciosa a Jeová e respondi de modo calmo e firme: “Responda você mesmo.” O homem hesitou e foi embora. Agradeci a Jeová por ter me ajudado a ficar calmo. Meu estudante da Bíblia foi batizado pouco tempo depois e permaneceu fiel até a morte.

No decorrer dos anos, servi em 17 designações como pioneiro especial e ajudei 64 pessoas a aprender a verdade. Quando penso em como Jeová tem sido bom comigo, meus olhos se enchem de lágrimas. Ele ajudou um jovem violento, agressivo e infeliz a cultivar um “espírito novo” e pacífico.

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[Destaque]

Eu me considerava tão fracassado que às vezes ia até o rio e ficava chorando por horas

[Quadro nas páginas 108, 109]

Jeová manobrou os assuntos

MAURICE RAJ

ANO DE NASCIMENTO 1933

ANO DE BATISMO 1949

RESUMO BIOGRÁFICO Tem mais de 50 anos no serviço de tempo integral em Mianmar, boa parte desse tempo supervisionando a filial no país. Ainda serve na Comissão de Filial. *

◆ EM 1988, houve manifestações violentas em Yangon, e milhares de pessoas invadiram as ruas exigindo reformas políticas. Com a nação à beira do colapso, houve um golpe militar, e a lei marcial foi imposta na maior parte do país. Milhares de manifestantes foram mortos.

No mês em que isso aconteceu precisávamos enviar o relatório anual da filial para a sede mundial em Nova York, mas todos os canais normais de comunicação haviam sido interrompidos. Então, quando fiquei sabendo que a embaixada dos Estados Unidos estava enviando a correspondência diplomática por helicóptero, pensei que o relatório poderia ir junto. Assim, vesti o meu melhor terno e gravata e fui até a embaixada.

Ao dirigir pelas ruas molhadas pela chuva, vi que a cidade estava quieta demais. Pouco mais adiante, um enorme tronco bloqueava a rua por onde eu estava indo. Assim, estacionei o carro e fiz o restante do percurso a pé.

Ao me aproximar do portão da embaixada, vi centenas de pessoas gritando para entrar, mas fuzileiros navais carrancudos impediam a entrada. Eu parei e fiz uma oração silenciosa. Um homem viu que eu estava bem-vestido e disse apontando para mim: “Ele deve ser um funcionário da embaixada.” Com isso, abri caminho pela multidão. Quando cheguei ao portão da embaixada, que estava trancado, um enorme fuzileiro naval olhou para mim com suspeita.

Ele me perguntou rispidamente: “Quem é você? O que você quer?”

“Quero falar com o embaixador”, respondi. “Tenho uma mensagem muito importante para enviar aos Estados Unidos.”

Ele ficou me encarando e, de repente, abriu o portão, me puxou para dentro e o fechou novamente, contendo a multidão.

“Siga-me”, disse ele.

Na porta da embaixada, o fuzileiro me levou até uma autoridade cansada, que perguntou o que eu queria.

“Sou da filial da Sociedade Torre de Vigia no país”, expliquei. “Tenho um relatório importante que precisa chegar à nossa sede em Nova York este mês. Por favor, pode enviá-lo com sua correspondência diplomática?” Entreguei o precioso envelope àquela autoridade e acrescentei: “Sinto muito, não tenho selo.”

Um tanto surpresa, a autoridade me fez algumas perguntas e depois me garantiu que enviaria o relatório. Mais tarde, fiquei sabendo que o relatório chegou a tempo à sede mundial.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 283 A biografia do irmão Raj foi publicada em A Sentinela de 1.º de dezembro de 2010.

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[Destaque]

Entreguei o precioso envelope àquela autoridade e acrescentei: “Sinto muito, não tenho selo”

[Quadro na página 116]

Um juiz sincero aceita a verdade

MANG CUNG

ANO DE NASCIMENTO 1934

ANO DE BATISMO 1981

RESUMO BIOGRÁFICO Diretor de escola e juiz de destaque que se tornou um pioneiro zeloso.

◆ QUANDO um pioneiro me ofereceu pela primeira vez uma revista A Sentinela, eu lhe disse: “Não tenho tempo para ler. Sou muito ocupado.” Mas como eu fumava muito, tive a ideia de usar as páginas da revista para enrolar os meus charutos. Por isso, aceitei a revista.

Ao rasgar uma página para enrolar um charuto, achei que seria um desperdício não lê-la primeiro. Foi assim que conheci e passei a amar A Sentinela. O que eu li me motivou a parar de fumar e a harmonizar minha vida com os outros padrões justos de Deus. Pouco tempo depois, fui batizado.

Depois do meu batismo, ao retornar para meu povoado, o pastor e os anciãos da igreja me ofereceram dinheiro para eu voltar à minha religião anterior. Visto que recusei, eles espalharam a mentira de que as Testemunhas de Jeová me haviam pago para ser batizado. Mas essa calúnia não me intimidou. Eu estava orgulhoso de conhecer e de servir ao Deus verdadeiro.

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[Quadro na página 122]

Jeová abençoou a minha perseverança

AH SHE

ANO DE NASCIMENTO 1952

ANO DE BATISMO 1998

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-ministro leigo, católico, que aceitou a verdade.

◆ POR muitos anos, fui ministro leigo, católico, na região central do Triângulo Dourado. Quando conheci as Testemunhas de Jeová e vi sua habilidade de usar a Bíblia, concordei em estudar com elas.

Logo eu estava pregando na igreja no domingo de manhã e assistindo às reuniões no Salão do Reino no domingo à tarde. Não demorou muito e os sermões que eu dava na igreja incluíam as verdades da Bíblia. Isso irritou alguns paroquianos e principalmente o padre. Quando deixei de ser ministro leigo, os paroquianos me levaram ao tribunal para que eu fosse expulso do povoado. O juiz lhes disse que eu tinha liberdade religiosa. Mas minha esposa continuou furiosa. “Vá embora! Suma daqui com sua pasta e sua Bíblia!”, gritou ela. Apesar disso, eu nunca revidei e continuei cuidando dela e dos nossos filhos. Para minha grande alegria, Jeová abençoou minha perseverança. Hoje, minha esposa, Cherry, e os nossos filhos servem alegremente a Jeová.

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[Quadro na página 126]

Passei a confiar nelas

GREGORY SARILO

ANO DE NASCIMENTO 1950

ANO DE BATISMO 1985

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-católico-romano devoto que achava que as Testemunhas de Jeová eram falsos profetas.

◆ POR anos eu dirigi as atividades da igreja em meu povoado. Mas vi líderes da igreja fazer vista grossa à imoralidade, oferecer sacrifícios animistas e praticar espiritismo. Fiquei indignado com a hipocrisia deles e me desliguei das atividades da igreja, mas não abandonei minhas crenças católicas.

Em 1981, conheci as Testemunhas de Jeová. Fiquei impressionado com seu conhecimento bíblico e aceitei um estudo. No entanto, eu desconfiava dos ensinamentos delas e vivia questionando-os. Mas elas respondiam às minhas perguntas com calma usando a Bíblia.

Fui a um congresso para ver se as Testemunhas de Jeová eram unidas nos seus ensinamentos. Durante um intervalo, esqueci minha pasta com documentos, dinheiro e objetos de valor debaixo do assento e, quando lembrei, tinha certeza de que ela tinha sido roubada. Mas os irmãos me garantiram: “Não se preocupe. Vai estar lá quando você voltar.” Corri para meu assento, e lá estava minha pasta! Depois disso, passei a confiar nas Testemunhas de Jeová.

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[Quadro nas páginas 130, 131]

Encontrei “riquezas sobrepujantes”

SA THAN HTUN AUNG

ANO DE NASCIMENTO 1954

ANO DE BATISMO 1993

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-monge budista e soldado. Depois de aceitar a verdade, serviu como pioneiro por muitos anos.

◆ MINHA família era budista, e fui monge por um tempo. Eu não acreditava num Deus pessoal ou num Criador. Certo dia, um amigo “cristão” me convidou para ir à igreja dele, onde ouvi que os humanos têm um Pai no céu. Eu queria muito conhecer esse Pai celestial e me aproximar dele.

Depois de terminar meu período como monge, ingressei no serviço militar. Enquanto estava no Exército, eu tinha um diário. Sempre começava com as palavras “Deus, Pai no céu”. Mais tarde, tentei deixar o Exército para me tornar pastor religioso, mas meus superiores não permitiram. Com o tempo, cheguei a ser capitão, posição que me trouxe prestígio, influência e oportunidades financeiras. Mas, no fundo, eu estava espiritualmente faminto.

Em 1982, eu me casei com Htu Aung. Sua irmã mais velha, que era Testemunha de Jeová, nos deu o livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado. O livro dizia que o nome de Deus é Jeová, mas eu tinha minhas dúvidas. Eu disse a Htu Aung: “Se você me mostrar o nome Jeová na Bíblia em birmanês, eu me tornarei Testemunha de Jeová!” Ela procurou na Bíblia dela, mas não encontrou. Mas Mary, uma amiga dela que é Testemunha de Jeová, prontamente me mostrou o nome Jeová! Por fim, comecei a assistir às reuniões com minha esposa e meus filhos e aceitei um estudo bíblico.

À medida que fui aprendendo mais sobre a Bíblia, meu desejo de servir a Deus se tornava cada vez mais forte. Em 1991, novamente pedi baixa do serviço militar, desta vez para me tornar Testemunha de Jeová. Dois anos depois, finalmente me concederam baixa. No mesmo ano, eu e Htu Aung fomos batizados.

Para sustentar a família, passei a vender alimentos na feira. Meus parentes e amigos me disseram que eu era louco de trocar uma carreira militar promissora por um serviço humilde. Mas eu me lembrei de que Moisés, para poder servir a Deus, deixou a corte real de Faraó e se tornou pastor. (Êxo. 3:1; Heb. 11:24-27) Mais tarde, alcancei um alvo muito precioso: passei a servir como pioneiro regular.

Alguns dos meus amigos militares alcançaram cargos elevados e ficaram muito ricos. Mas eu encontrei “riquezas sobrepujantes”, as bênçãos que vêm de conhecer e servir ao Pai celestial. (Efé. 2:7) Hoje, vários de meus sobrinhos e sobrinhas estão no serviço de tempo integral, e meu filho mais velho serve no Betel de Mianmar.

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[Quadro nas páginas 136, 137]

A bondade quebrou minha resistência

ZAW BAWM

ANO DE NASCIMENTO 1954

ANO DE BATISMO 1998

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-traficante de drogas e opositor da verdade cujo coração foi tocado pela bondade cristã.

◆ QUANDO Lu Mai, minha esposa, começou a estudar a Bíblia com as Testemunhas de Jeová, eu me opus ferrenhamente. Joguei as publicações na privada e expulsei as Testemunhas de Jeová de minha casa.

 

Mais tarde, me tornei traficante de drogas e acabei sendo preso. Depois da minha primeira noite na prisão, Lu Mai me enviou uma Bíblia com uma carta encorajadora, repleta de textos bíblicos. Daí, ela me enviou outras cartas desse tipo. Pouco tempo depois, percebi que não teria sido preso se tivesse seguido a Bíblia.

Na prisão, recebi a visita inesperada de duas Testemunhas de Jeová. Minha esposa havia pedido que esses irmãos me visitassem para me encorajar. Eles tinham viajado dois dias para chegar à prisão. Fiquei emocionado com a visita deles. Nenhum dos meus parentes tinha vindo me ver — só as pessoas que eu havia tratado muito mal.

Logo depois, fui internado com febre tifoide e não tinha condições de pagar o tratamento. Por volta dessa época, recebi outra visita inesperada: uma Testemunha de Jeová veio me visitar a pedido de minha esposa. O irmão ficou com pena e pagou meu tratamento. Eu me senti envergonhado de como havia tratado as Testemunhas de Jeová e prometi que me tornaria uma delas. Cinco anos depois, quando fui libertado, cumpri minha promessa.

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Cumpri minha promessa e hoje dou o meu melhor a Jeová

[Quadro nas páginas 140, 141]

Vou correr e pular de alegria!

LIAN SANG

ANO DE NASCIMENTO 1950

ANO DE BATISMO 1991

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-soldado que perdeu as duas pernas na guerra. Hoje é servo ministerial.

◆ NASCI e fui criado em Matupi, um povoado remoto nas montanhas no Estado de Chin. Minha família era adoradora dos nats, espíritos poderosos que as pessoas acreditam habitar certas florestas e montanhas em nossa região. Quando alguém na família ficava doente, colocávamos alimento no altar que tínhamos em casa e invocávamos um nat para que aceitasse a oferenda. Acreditávamos que ele traria alívio da doença.

Quando fiz 21 anos, ingressei no Exército. Nos anos seguintes, lutei em 20 batalhas. Em 1977, os rebeldes comunistas atacaram nosso acampamento perto de Muse, uma cidade no Estado de Shan. Depois de 20 dias de batalha, lançamos um forte contra-ataque e eu acabei pisando numa mina terrestre. Quando olhei para as minhas pernas, só vi ossos. Senti as pernas quentes e muita sede, mas não estava com medo. Fui levado às pressas para um hospital, onde as minhas pernas foram amputadas. Quatro meses depois, recebi alta e fui para casa.

Eu e Sein Aye, minha esposa, nos mudamos para Sagaing, uma cidade perto de Mandalay, onde passei a fazer cadeiras de bambu trançado para sustentar a família. Ali conheci um pastor batista que me disse que eu havia perdido as pernas porque essa era a vontade de Deus. Algum tempo depois, eu e Sein Aye conhecemos uma pioneira chamada Rebecca. Ela nos disse que no futuro Paraíso na Terra eu poderia ter minhas pernas de volta. Logo estávamos fazendo um estudo sério da Bíblia, não com o pastor, mas com Rebecca.

Hoje, quase 30 anos depois, eu e Sein Aye e nossos sete filhos batizados moramos num povoado perto de Pyin Oo Lwin, uma cidade agradável que fica no alto de uma colina, a cerca de 65 quilômetros de Mandalay. Sou servo ministerial na Congregação Pyin Oo Lwin, e três dos meus filhos são pioneiros regulares. Eu e Sein Aye nos esforçamos bastante para criar nossos filhos na verdade e nos sentimos abençoados de ver que eles corresponderam a essa instrução.

Prego regularmente em meu povoado usando cadeira de rodas, e alguém me leva de moto para assistir às reuniões. Eu também “ando” usando dois blocos de madeira.

Meu texto favorito é Isaías 35:6, que diz: “Naquele tempo o coxo estará escalando como o veado.” Não vejo a hora de ter minhas pernas de volta! Então, não só vou escalar, mas também correr e pular de alegria!

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[Destaque]

No Paraíso, não só vou escalar, mas também correr e pular de alegria!

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[Quadro nas páginas 142-145]

Zelosos superintendentes viajantes

Superintendentes viajantes têm percorrido incansavelmente os quatro cantos desse país diversificado para fortalecer seus irmãos. Como eles fazem isso? Vamos acompanhar a visita de um deles às congregações nas remotas colinas de Naga. Myint Lwin, superintendente de circuito que viaja com a esposa, Lal Lun Mawmi, descreve: “No meio da manhã, eu e minha esposa partimos de Kalaymyo, espremidos na carroceria de uma picape. Enfiamos as pernas entre caixas de mercadorias e verduras. Alguns passageiros vão do lado de fora agarrados na traseira da picape, e outros vão sentados no teto. A picape vai balançando pela estrada esburacada, levantando uma nuvem de poeira. Usamos máscaras para não ficarmos sufocados com a poeira.

“Duas horas depois, chegamos a Kalaywa, cidade ribeirinha onde pegaremos um barco. Enquanto esperamos, pregamos a lojistas e passageiros, a maioria dos quais nunca ouviu falar das Testemunhas de Jeová. O nosso barco chega, os passageiros desembarcam e novos passageiros correm para conseguir um lugar. Quase cem pessoas lotam o barco, que poderia facilmente virar de tão cheio. Colocamos garrafas de plástico nas nossas bagagens para que possam flutuar se caírem no rio.

“Cinco horas depois, chegamos a Mawlaik e passaremos a noite numa pequena pensão. Reiniciamos a viagem às 5 horas da manhã. Visto que estamos na estação seca e o nível do rio está baixo, nosso barco encalha quatro vezes em bancos de areia submersos. Eu e os outros homens precisamos descer para empurrar o barco. Chegamos a Homalin 14 horas depois, exaustos da jornada, e os irmãos da congregação local estão nos esperando. Quando vemos seus rostos sorridentes, nós nos sentimos revigorados. À noite, teremos sua calorosa associação, e amanhã continuaremos viagem com destino a Khamti, a umas 15 horas de distância.

“Novamente, acordamos cedo para viajar. Hoje o barco não está tão lotado, e a paisagem também é diferente. O barco sobe o rio passando por centenas de aldeões garimpando ouro. Quando finalmente chegamos a Khamti, com o corpo dolorido da viagem, não há ninguém ali nos esperando. A carta que enviamos à congregação local, informando a visita, deve ter extraviado. Assim, pegamos um mototáxi até a casa anexa ao Salão do Reino e caímos na cama.

“No dia seguinte, cumprimentamos os 25 publicadores locais que vieram ao salão para a saída de campo. A maioria deles são nagas, um grupo étnico que mora nas montanhas que se estendem até a Índia. Todos nós saímos para o território. A cidade fica bem na curva do rio, entre duas colinas. Eu e meu companheiro chegamos a uma casa de bambu e chamamos o morador. Aparece um homem naga que nos convida a entrar. Ele e sua esposa ouvem com atenção a mensagem do Reino e aceitam as publicações com prazer. Muitos nagas são professos cristãos que mostram bastante interesse nas boas novas. No fim da tarde, assistimos a uma reunião, a primeira de várias realizadas naquela semana.

“Uma semana depois, cruzamos o rio em direção a Sinthe, uma pequena cidade com 12 publicadores. Visitamos também três grupos isolados, e o mais distante fica a 11 quilômetros. Vamos a pé até cada grupo para pregar, e faço um discurso. Os publicadores aqui são extremamente pobres e muitos sofrem de malária ou tuberculose. Eles enfrentam também dura oposição religiosa. Mesmo assim, são pregadores zelosos. No domingo, ficamos empolgados ao ver 76 pessoas para o discurso público, incluindo muitos que caminharam por horas.

“Infelizmente, logo chega a hora de irmos embora. É difícil nos despedir desses queridos irmãos que têm provado vez após vez seu amor a Jeová. À medida que nosso barco se dirige para o sul, ficamos pensando na forte fé desses irmãos. Embora pobres, são espiritualmente ricos. Não vemos a hora de visitá-los de novo.”

[Foto]

[Mapa]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Distrito das Colinas de Naga

Khamti

Sinthe

Homalin

Mawlaik

Kalaywa

Kalaymyo

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[Destaque]

Quando vemos seus rostos sorridentes, nós nos sentimos revigorados

[Foto]

[Quadro nas páginas 154, 155]

Quero pregar para o mundo inteiro!

SAGAR RAI

ANO DE NASCIMENTO 1928

ANO DE BATISMO 1968

RESUMO BIOGRÁFICO Soldado condecorado que aceitou a verdade e continuou a pregar apesar de forte oposição de sua comunidade.

◆ NASCI no Estado de Shan, uma região montanhosa no nordeste de Mianmar. Minha família é originária de uma tribo gurca do Nepal, e éramos hindus. Mas também praticávamos o animismo tradicional. Seguindo uma forte tradição gurca, eu me tornei soldado, assim como meu pai e meus quatro irmãos mais velhos. Servi no exército birmanês por 20 anos e lutei em incontáveis batalhas. Por incrível que pareça, nunca sofri ferimentos graves.

Quando li A Sentinela pela primeira vez, aprendi na Bíblia que existe apenas um Deus verdadeiro, Jeová. Fiquei fascinado. Por ser hindu, eu acreditava em milhões de deuses. Procurei o nome Jeová em dicionários de vários idiomas: nepalês, hindi, birmanês e inglês. Confirmei em cada um deles que Jeová é o Deus da Bíblia.

Mais tarde, eu e Jyoti, minha esposa, nos mudamos para Pathein, onde o missionário Frank Dewar me ofereceu um estudo da Bíblia. Eu e Jyoti aceitamos. Logo nos convencemos de que Jeová é o único Deus verdadeiro e decidimos adorar somente a ele. Jogamos os nossos ídolos no rio para que ninguém tentasse ficar com eles. — Deut. 7:25; Rev. 4:11.

Logo depois, dei baixa do serviço militar e me mudei com minha esposa e filhos para minha comunidade natal. Ali já havia um pequeno grupo de Testemunhas de Jeová, e eles nos ensinaram a pregar. Com o tempo, juntamos materiais da floresta e construímos um pequeno Salão do Reino em frente à minha casa. Isso enfureceu uma comissão da comunidade gurca. Eles disseram: “Quem lhes deu permissão para construir uma ‘igreja’ cristã numa comunidade hindu? Vocês não devem pregar para quem já tem religião!”

A comissão gurca se queixou para as autoridades locais, que me perguntaram: “Sr. Rai, o senhor está pregando em sua comunidade e convencendo as pessoas a se tornar cristãs?”

“Sou Testemunha de Jeová”, respondi. “Quero pregar não só nesta comunidade, mas também para o mundo inteiro! Mas se as pessoas vão mudar de religião ou não, isso é com elas.”

Felizmente, as autoridades permitiram que continuássemos a pregar livremente. Nos últimos 40 anos, eu e Jyoti ajudamos mais de cem pessoas a aprender a verdade. Muitas delas hoje são pioneiros especiais, superintendentes viajantes e betelitas. Algo que também nos alegra é saber que a maioria dos nossos filhos e suas famílias serve fielmente a Jeová.

[Foto]

[Foto]

[Destaque]

Nos últimos 40 anos, eu e Jyoti ajudamos mais de cem pessoas a aprender a verdade

[Quadro na página 160]

Não consegui achar o “Reino de Jeová”

SOE LWIN

ANO DE NASCIMENTO 1960

ANO DE BATISMO 2000

RESUMO BIOGRÁFICO Ex-budista que leu a respeito do “Reino de Jeová” e queria visitar esse “lugar”.

◆ ENQUANTO ia a pé para o trabalho na cidade de Tachileik, perto da fronteira com a Tailândia, encontrei algumas revistas A Sentinela jogadas na rua. Elas falavam sobre as maravilhosas bênçãos do Reino de Jeová. Eu era budista e nunca tinha ouvido falar de Jeová. Assim, concluí que o “Reino de Jeová” devia ser um país na África. Procurei “Reino de Jeová” num atlas e não consegui encontrá-lo. Perguntei a outros, mas ninguém pôde me ajudar.

Mais tarde, quando soube que um rapaz no meu local de trabalho estava estudando com as Testemunhas de Jeová, perguntei a ele: “Você pode me dizer onde fica o Reino de Jeová?” Quando eu soube que o Reino de Jeová é um governo celestial que fará da Terra um Paraíso, fiquei surpreso e ao mesmo tempo muito feliz. Cortei o cabelo, parei de mascar bétele e de usar drogas e abandonei as tradições budistas. Hoje, meu desejo de viver sob o Reino de Jeová é ainda maior do que antes. — Mat. 25:34.

[Foto]

[Foto na página 78]

[Foto na página 78]

[Foto nas páginas 78, 79]

[Destaque na página 80]

Já por quase cem anos, as Testemunhas de Jeová em Mianmar têm construído um histórico de inabalável fé e perseverança

[Mapas na página 81]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

BANGLADESH

ÍNDIA

CHINA

LAOS

TAILÂNDIA

YANGON

Putao

Khamti

Myitkyina

Kalaymyo

Lashio

Hakha

Pyin Oo Lwin

Mandalay

Taunggyi

Tachileik

Triângulo Dourado

Sittwe

Thayarwaddy

Pathein

Mawlamyine

Dawei

Myeik

Rio Ayeyarwady

Delta do Ayeyarwady

Mar de Andaman

[Tabela]

MIANMAR (BIRMÂNIA)

PAÍS

676.578 quilômetros quadrados

POPULAÇÃO

60.380.000

PUBLICADORES EM 2012

3.790

PROPORÇÃO, 1 PUBLICADOR PARA

15.931

ASSISTÊNCIA À COMEMORAÇÃO EM 2012

8.005

Em 1914, dois ingleses saíram da Índia para iniciar a obra de pregação na Birmânia. Seu território abrangia o país inteiro

[Gráfico na página 84]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Pequenos começos

1914 a 1949

Publicadores

Pioneiros

80

70

60

50

40

30

20

10

0

1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945

[Foto]

Publicadores de Yangon, 1932

[Destaque na página 86]

“Claro, se você também quiser que eles entrem no novo mundo em seu lugar!”

[Foto na página 87]

Sydney Coote (no meio) era um estudante muito aplicado das Escrituras; ele e a esposa, Rachel (à esquerda), pregaram a mensagem da Bíblia

[Foto na página 89]

Frank Dewar

[Foto na página 92]

Os primeiros discípulos kayins, Chu May “Daisy” (à esquerda) e Hnin May “Lily” (à direita)

[Destaque na página 93]

Quando as autoridades chegaram, não havia mais publicações

[Foto na página 97]

Acima: os primeiros missionários de Gileade: Hubert Smedstad, Robert Kirk, Norman Barber e Robert Richards

[Foto na página 97]

Abaixo: (na fileira de trás) Nancy D’Souza, Milton Henschel, Nathan Knorr, Robert Kirk e Terence D’Souza; (fileira da frente) Russell Mobley, Penelope Jarvis-Vagg, Phyllis Tsatos, Daisy D’Souza e Basil Tsatos

[Gráfico na página 100]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Grandes aumentos

1950 a 1988

Publicadores

Pioneiros

1.600

1.400

1.200

1.000

800

600

400

200

0

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985

[Foto]

Um grupo de irmãos na Birmânia, 1987

[Foto na página 101]

Ba Oo (à esquerda) traduzia artigos de estudo de A Sentinela para o birmanês

[Foto na página 102]

Hoje, quase 50 anos depois, Doris Raj ainda serve como tradutora no Betel de Yangon

[Foto na página 103]

Em 1956, Nathan Knorr lançou A Sentinela em birmanês

[Mapa na página 111]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Gangaw

ESTADO DE CHIN

Falam

Hakha

Vanhna

COLINAS DE CHIN

Surkhua

Matupi

[Foto na página 114]

À esquerda: membros da Congregação Matupi andavam 270 quilômetros para assistir aos congressos em Hakha

[Foto na página 115]

À direita: o superintendente de distrito Gumja Naw e sua esposa, Nan Lu, visitavam a pé as congregações no Estado de Chin

[Destaque na página 118]

“Hoje, em Namti, Hopin, Mohnyin e Katha, cidades ao longo da ferrovia, há prósperas congregações”

[Foto na página 119]

Irmãos pegando um trem especial em Yangon com destino a Myitkyina para assistir a um congresso em 1969

[Destaque na página 120]

“Seis vagões foram desengatados, mas não os nossos!”

[Foto na página 121]

Biak Mawia (na fileira de trás, no canto direito) e os irmãos da Congregação Khamti, quando a obra estava se iniciando nas regiões dos nagas

[Foto na página 125]

Um grupo de anciãos na Assembleia Internacional “Paz na Terra” em Myitkyina, 1969. (Fileira de trás) Francis Vaidopau, Maurice Raj, Tin Pei Than e Mya Maung; (fileira do meio) Dunstan O’Neill, Charlie Aung Thein, Aung Tin Shwe, Wilson Thein e San Aye; (fileira da frente) Maung Khar, Donald Dewar, David Abraham e Robin Zauja

[Foto na página 132]

Aik Lin (à esquerda) e Sa Than Htun Aung (à direita) lutaram em lados opostos em diversas batalhas acirradas na floresta

[Destaque na página 132]

Livres do ódio, esses dois homens estavam agora unidos pelo vínculo do amor, graças ao poder libertador da Palavra de Deus

[Foto na página 134]

É muito comum ver monges budistas em roupas tradicionais

[Destaque na página 135]

“O amor que os irmãos me mostraram me tocou profundamente”

[Destaque na página 139]

“Jeová é o meu ajudador; não terei medo. Que me pode fazer o homem?” — Heb. 13:6

[Gráfico na página 146]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Até o presente

1989 a 2012

Publicadores

Pioneiros

3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0

1990 1995 2000 2005 2010

[Destaque na página 148]

Nos últimos 20 anos, o total de revistas impressas aumentou quase 900%!

[Foto na página 149]

O espaço em Betel estava muito apertado. Uma irmã passava roupa sentada no chão

[Foto na página 151]

Irmãos estrangeiros e locais trabalharam em união

[Foto na página 152]

Betel de Mianmar

[Foto na página 156]

Chegando de barco a um Salão do Reino recém-construído

[Destaque na página 157]

Desde 1999, equipes de construção de Salões do Reino construíram mais de 65 salões em todo o país

[Foto na página 158]

Hiroshi e Junko Aoki, os primeiros missionários a entrar em Mianmar depois de 37 anos

[Foto na página 162]

Equipes de tradução em Mianmar

[Foto na página 165]

May Sin Oo ao lado de sua casa, que estava sendo reconstruída

[Foto na página 165]

Uma equipe de ajuda humanitária com o irmão e a irmã Htun Khin em frente à casa deles, que foi reconstruída depois dos estragos do ciclone Nargis

[Foto na página 167]

Comissão de Filial, da esquerda para a direita: Kyaw Win, Hla Aung, Jon Sharp, Donald Dewar e Maurice Raj

[Foto na página 169]

O Congresso Internacional “Mantenha-se Vigilante!”, de 2009, fortaleceu muito a fé dos irmãos e deu um grande testemunho em Yangon

[Destaque na página 169]

“Jeová abriu o coração das Testemunhas de Jeová em Yangon para cuidar de seus irmãos”

[Foto na página 170]

[Foto na página 170]

[Destaque na página 171]

“Antes do congresso, só tínhamos ouvido falar da nossa fraternidade internacional. Agora vimos isso com nossos próprios olhos!”

[Foto na página 171]

[Foto nas páginas 172, 173]

[Destaque na página 173]

“Continuamos rogando ao Senhor que mande mais trabalhadores para a colheita”