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Arqueologia

Arqueologia

A arqueologia bíblica é o estudo dos povos e dos eventos da Bíblia, feito por meio do intrigante registro soterrado. O arqueólogo escava e analisa rochas, muros e prédios em ruínas, cidades devastadas, bem como desenterra cerâmica, tabuinhas de argila, inscrições, túmulos e outros restos antigos, ou artefatos, dos quais colhe informações. Tais estudos não raro aprimoram a compreensão das circunstâncias em que a Bíblia foi escrita e sob as quais viveram os homens de fé da antiguidade, bem como as línguas que eles e os povos ao redor empregavam. Ampliaram nosso conhecimento de todas as regiões mencionadas na Bíblia: Palestina, Egito, Pérsia, Assíria, Babilônia, Ásia Menor, Grécia e Roma.

A arqueologia bíblica é uma ciência relativamente nova. Foi somente em 1822 que a decifração da Pedra de Roseta desvelou os hieróglifos egípcios. A escrita cuneiforme assíria foi decodificada mais de 20 anos depois. Escavações sistemáticas foram iniciadas na Assíria em 1843 e no Egito em 1850.

Alguns dos Principais Sítios e Achados. A arqueologia tem servido para confirmar muitas particularidades históricas dos relatos bíblicos referentes a estas terras e para confirmar pontos anteriormente postos em dúvida por críticos modernos. Demonstrou-se que o cepticismo com respeito à Torre de Babel, a negação da existência dum rei babilônio chamado Belsazar e dum rei assírio chamado Sargão (cujos nomes, até o século 19 EC, não eram encontrados em fontes fora do registro bíblico), e outras críticas adversas quanto aos dados bíblicos relacionados com essas terras não têm nenhuma base. Ao contrário, desenterrou-se uma abundância de evidência que se harmoniza plenamente com os relatos bíblicos.

Babilônia. Escavações feitas na antiga cidade de Babilônia e em torno dela revelaram os sítios de diversos zigurates, ou torres-templos piramidais, escalonados, inclusive o templo arruinado de Etemenanki, dentro dos muros de Babilônia. Registros e inscrições encontrados a respeito de tais templos frequentemente contêm as palavras: “Seu topo atingirá os céus”, e o Rei Nabucodonosor é registrado como dizendo: “Ergui o topo da Torre escalonada em Etemenanki, de modo que seu topo se rivalizasse com os céus.” Um fragmento de argila encontrado ao N do templo de Marduque, em Babilônia, pode relacionar a queda de uma dessas torres e a confusão das línguas, mesmo que esse fragmento não mencione especificamente um zigurate. (The Chaldean Account of Genesis, [O Relato Caldeu de Gênesis], de George Adam Smith, revisado e corrigido [com adições] por A. H. Sayce, 1880, p. 164) O zigurate situado em Uruk (a Ereque bíblica), segundo verificado, foi feito de argila, tijolos e asfalto. — Veja Gên 11:1-9.

Perto da Porta de Istar, em Babilônia, foram descobertas cerca de 300 tabuinhas cuneiformes relacionadas com o período do reinado do Rei Nabucodonosor. Entre listas do nome de trabalhadores e de cativos que então viviam em Babilônia, aos quais eram fornecidas provisões, aparece o de “Yaukin, rei da terra de Yahud”, isto é, “Joaquim, o rei da terra de Judá”, levado para Babilônia no tempo da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, em 617 AEC. Ele foi solto da casa de detenção por Avil-Marduque (Evil-Merodaque), sucessor de Nabucodonosor, e foi-lhe concedida uma porção diária de alimentos. (2Rs 25:27-30) Cinco dos filhos de Joaquim também são mencionados nestas tabuinhas. — 1Cr 3:17, 18.

Encontrou-se abundante evidência do panteão de deuses de Babilônia, inclusive do deus principal, Marduque, mais tarde comumente chamado de Bel, e do deus Nebo, ambos mencionados em Isaías 46:1, 2. Grande parte das informações nas inscrições do próprio Nabucodonosor tratam do seu vasto programa de construções, que tornou Babilônia uma cidade tão magnificente. (Veja Da 4:30.) O nome do seu sucessor, Avil-Marduque (chamado Evil-Merodaque em 2Rs 25:27), aparece num vaso descoberto em Susa (Elão).

Também em Babilônia, no sítio do templo de Marduque, encontrou-se um cilindro de argila relativo ao Rei Ciro, conquistador de Babilônia. Este cilindro conta a facilidade com que Ciro capturou a cidade e também delineia sua política, de fazer os povos cativos que moravam em Babilônia retornar à terra natal deles, harmonizando-se assim com o relato bíblico a respeito de Ciro, como o profetizado conquistador de Babilônia, e sobre o retorno dos judeus à Palestina, durante o reinado de Ciro. — Is 44:28; 45:1; 2Cr 36:23.

Perto da moderna Bagdá, as escavações na última metade do século 19 resultaram em serem achadas numerosas tabuinhas e cilindros de argila, inclusive a agora famosa Crônica de Nabonido. Todas as objeções ao registro do capítulo 5 de Daniel, quanto a Belsazar governar em Babilônia na ocasião da queda desta, foram rechaçadas por este documento, que provou que Belsazar, filho mais velho de Nabonido, era corregente com seu pai, e que, na parte final de seu reinado, Nabonido confiou o governo de Babilônia ao seu filho Belsazar.

Mostrou-se similarmente que Ur, a antiga cidade de Abraão (Gên 11:28-31), era uma destacada metrópole, com civilização altamente desenvolvida. Como cidade sumeriana, estava situada à margem do rio Eufrates, próxima do golfo Pérsico. Escavações feitas ali por Sir Leonard Woolley indicam que estava no ápice do seu poder e prestígio no tempo da partida de Abraão para Canaã (a. 1943 AEC). Seu templo-zigurate é o mais bem preservado de todos os já encontrados. Os túmulos reais de Ur forneceram abundantes objetos de ouro e joias de altíssimo calibre artístico, também instrumentos musicais, tais como a harpa. (Veja Gên 4:21.) Um pequeno machado de aço (e não simplesmente de ferro) também foi encontrado. (Veja Gên 4:22.) Aqui, também, milhares de tabuinhas de argila revelaram muitos pormenores sobre a vida quase quatro mil anos atrás. — Veja UR N.º 2.

Assíria. Perto de Corsabade, junto a um tributário setentrional do rio Tigre, descobriu-se, em 1843, o palácio do rei assírio Sargão II, numa plataforma abrangendo quase 10 hectares, e o subsequente trabalho arqueológico feito ali trouxe este rei, mencionado em Isaías 20:1, da obscuridade secular para uma posição de proeminência histórica. (FOTO, Vol. 1, p. 960) Em um de seus anais, ele afirma ter capturado Samaria (740 AEC). Registra também a captura de Asdode, mencionada em Isaías 20:1. Outrora considerado por muitos peritos de destaque como não tendo existido, Sargão II é agora um dos mais conhecidos reis da Assíria.

Nínive, capital da Assíria, foi o sítio de escavações onde desenterraram o imenso palácio de Senaqueribe, contendo cerca de 70 aposentos, com lajes esculpidas que revestiam 3.000 m das paredes. Uma delas retrata os prisioneiros judeus sendo levados ao cativeiro após a queda de Laquis, em 732 AEC. (2Rs 18:13-17; 2Cr 32:9; FOTO, Vol. 1, p. 952) De interesse ainda maior são os anais de Senaqueribe encontrados aqui em Nínive, registrados em prismas (cilindros de argila). Em certos prismas, Senaqueribe descreve a campanha assíria contra a Palestina no reinado de Ezequias (732 AEC), porém, notavelmente, o jactancioso monarca não faz nenhuma afirmação de ter tomado Jerusalém, confirmando assim o relato da Bíblia. (Veja SENAQUERIBE.) O relato do assassinato de Senaqueribe, às mãos de seus filhos, é também registrado numa inscrição de Esar-Hadom, sucessor de Senaqueribe, e o assassinato é mencionado numa inscrição do rei seguinte. (2Rs 19:37) Em adição à menção do Rei Ezequias, por Senaqueribe, os nomes dos reis Acaz e Manassés, de Judá, e os nomes dos reis Onri, Jeú, Jeoás, Menaém e Oseias, de Israel, e também de Hazael, de Damasco, aparecem em registros cuneiformes de diversos imperadores assírios.

Pérsia. Perto de Behistun, no Irã (antiga Pérsia), o Rei Dario I (521-486 AEC; Esd 6:1-15) mandou esculpir uma imensa inscrição, no alto dum penhasco de rocha calcária, descrevendo sua unificação do Império Persa e atribuindo seu êxito a seu deus, Auramazda. De valor primário é o fato de a inscrição ter sido registrada em três línguas, a babilônica (acadiana), a elamita e a antiga persa, servindo assim de chave para decifrar a escrita cuneiforme assírio-babilônica, até então não decifrada. Milhares de tabuinhas de argila e inscrições, na língua babilônica, podem agora ser lidas em resultado desse trabalho.

Susã, cenário dos eventos registrados no livro de Ester, foi escavada por arqueólogos franceses entre 1880 e 1890. (Est 1:2) O palácio real de Xerxes, abrangendo cerca de 1 ha, foi descoberto, revelando o esplendor e a magnificência dos reis persas. Os achados confirmaram a exatidão de pormenores registrados pelo escritor de Ester, conforme relacionados com a administração do reino persa e com a construção do palácio. O livro The Monuments and the Old Testament (Os Monumentos e o Velho Testamento), de I. M. Price (1946, p. 408), comenta: “Não existe nenhum evento descrito no Velho Testamento cujo ambiente estrutural possa ser tão vívida e exatamente restaurado por meio das próprias escavações como ‘Susã, o Palácio’.” — Veja SUSÃ.

Mari e Nuzi. A antiga cidade real de Mari (Tell Hariri) perto do rio Eufrates, a uns 11 km ao NNO de Abu Kemal, no SE da Síria, foi o sítio de escavações a partir de 1933. Descobriu-se um enorme palácio, abrangendo uns 6 ha e contendo 300 aposentos, e seus arquivos forneceram mais de 20.000 tabuinhas de argila. O conjunto palaciano incluía não somente os apartamentos reais, mas também escritórios administrativos e uma escola para escribas. Grandes pinturas murais ou afrescos decoravam muitas das paredes, os banheiros estavam equipados de banheiras, e encontraram-se na cozinha formas para bolos. A cidade parece ter sido uma das mais notáveis e brilhantes do período do começo do segundo milênio AEC. Os textos nas tabuinhas de argila incluíam decretos reais, editais, contas, e ordens para a construção de canais, comportas, diques e outros projetos de irrigação, bem como correspondência sobre importações, exportações e assuntos estrangeiros. Faziam-se frequentes recenseamentos, envolvendo tributação e alistamento militar. A religião tinha destaque, especialmente a adoração de Istar, a deusa da fertilidade, cujo templo também foi encontrado. Praticava-se a adivinhação assim como em Babilônia, pela observação de fígados, pela astronomia e por métodos similares. A cidade foi na maior parte destruída pelo rei babilônio Hamurábi. De interesse especial foi a ocorrência dos nomes Pelegue, Serugue, Naor, Tera e Harã, todos alistados como cidades da Mesopotâmia setentrional e refletindo os nomes dos parentes de Abraão. — Gên 11:17-32.

Nuzi, antiga cidade ao L do Tigre e ao SE de Nínive, escavada durante 1925-1931, forneceu um mapa inscrito de argila, o mais antigo já descoberto, bem como evidência de que já no século 15 AEC comprava-se e vendia-se ali a prestações. Desenterraram-se cerca de 20.000 tabuinhas de argila, consideradas como escritas por escribas hurritas na língua babilônica. Estas contêm uma abundância de pormenores a respeito da jurisprudência daquele tempo, envolvendo coisas tais como adoção, contratos matrimoniais, direitos de herança e testamentos. Certos aspectos mostram um paralelo relativamente similar aos costumes descritos no relato de Gênesis a respeito dos patriarcas. O costume de um casal sem filhos adotar um do sexo masculino, quer livre quer escravo, para cuidar deles, para sepultá-los e para ser seu herdeiro, mostra similaridade com a declaração de Abraão a respeito do seu escravo de confiança, Eliézer, em Gênesis 15:2. Descreve-se a venda do direito de primogenitura, relembrando o caso de Jacó e Esaú. (Gên 25:29-34) Os textos mostram também que a posse de deuses de família, muitas vezes pequenas estatuetas de argila, era encarada como equivalente a possuir uma escritura de propriedade, de modo que aquele que estivesse de posse dos deuses era considerado como tendo o direito de propriedade ou de herdá-la. Isto talvez explique a situação envolvendo Raquel tomar os terafins de seu pai, e a grande preocupação deste em recuperá-los. — Gên 31:14-16, 19, 25-35.

Egito. A visão mais de perto fornecida pela Bíblia sobre o Egito gira em torno da entrada de José ali, e da subsequente chegada e peregrinação da família inteira de Jacó naquele país. Os achados arqueológicos mostram que esse quadro é extremamente preciso, e não seria razoável que algum escritor que tivesse vivido muito mais tarde o apresentasse assim (como alguns críticos tentaram dizer que se deu com o escritor dessa parte do relato de Gênesis). Conforme declara o livro New Light on Hebrew Origins (Nova Luz sobre as Origens Hebraicas), de J. G. Duncan (1936, p. 174), a respeito do escritor do relato sobre José: “Ele utiliza o título correto em uso, e exatamente conforme era usado no período mencionado, e, quando não existe nenhum equivalente hebraico, simplesmente adota a palavra egípcia e a translitera para o hebraico.” Os nomes egípcios, a posição de José como encarregado da casa de Potifar, as casas de prisão, os títulos de “o chefe dos copeiros” e “o chefe dos padeiros”, a importância que os egípcios atribuíam aos sonhos, o costume de os padeiros egípcios carregarem cestos de pão na cabeça (Gên 40:1, 2, 16, 17), a posição de primeiro-ministro e administrador de alimentos, conferida por Faraó a José, o modo de empossá-lo no cargo, a aversão dos egípcios aos pastores de ovelhas, a forte influência dos magos na corte egípcia, a fixação dos israelitas peregrinantes na terra de Gósen, os costumes egípcios de sepultamento — todos estes, e muitos outros pontos descritos no registro bíblico, são claramente consubstanciados pela evidência arqueológica obtida no Egito. — Gên 39:1-47:27; 50:1-3.

Em Carnac (antiga Tebas), às margens do rio Nilo, um enorme templo egípcio contém uma inscrição em seu muro S, confirmando a campanha do rei egípcio, Sisaque (Xexonque I), na Palestina, descrita em 1 Reis 14:25, 26, e 2 Crônicas 12:1-9. O gigantesco relevo que representa suas vitórias mostra 156 prisioneiros palestinos manietados, cada um representando uma cidade ou aldeia, cujo nome é fornecido em hieróglifos. Entre os nomes identificáveis acham-se os de Rabite (Jos 19:20), Taanaque, Bete-Seã e Megido (onde foi escavada parte de uma estela, ou coluna inscrita, de Sisaque) (Jos 17:11), Suném (Jos 19:18), Reobe (Jos 19:28), Hafaraim (Jos 19:19), Gibeão (Jos 18:25), Bete-Horom (Jos 21:22), Aijalom (Jos 21:24), Socó (Jos 15:35) e Arade (Jos 12:14). Ele até mesmo alista o “Campo de Abrão” como uma de suas capturas, sendo esta a mais antiga referência a Abraão nos registros egípcios. Encontrou-se também nesta área um monumento de Mernepta, filho de Ramsés II, contendo um hino em que se pode encontrar a única referência ao nome Israel nos antigos textos egípcios.

Estela em que Mernepta, filho de Ramsés II, se gaba da conquista de Israel; a única menção conhecida de Israel em antigos textos egípcios.

Em Tell el-Amarna, a cerca de 270 km ao S de Cairo, uma camponesa descobriu acidentalmente tabuinhas de argila que levaram à descoberta de muitos documentos escritos em acadiano, procedentes dos arquivos reais principalmente de Amenotep III, e de seu filho, Aquenatão. Existem umas 380 tabuinhas. A maioria traz correspondência dirigida ao Faraó da parte de príncipes vassalos das numerosas cidades-reinos da Síria e da Palestina, inclusive algumas dos governadores de Laquis, Hazor, Gezer, Megido e Urusalim (Jerusalém), e revelam um quadro de inimizades prolongadas e intrigas. Os “habirus”, a respeito dos quais são feitas numerosas queixas nessas cartas, têm sido relacionados por alguns com os hebreus, mas a evidência indica que eles, ao invés disso, eram diversos povos nômades que ocupavam um nível social baixo na sociedade daquele período. — Veja HEBREU (Os “Habirus”).

Elefantina, uma ilha do Nilo, com este nome grego, no extremo S do Egito (próxima a Assuã), era o lugar duma colônia judaica depois da queda de Jerusalém, em 607 AEC. Grande número de documentos escritos em aramaico, mormente em papiro, foram descobertos aqui em 1903, com datas a partir do quinto século AEC e do reinado do Império Medo-Persa. Os documentos mencionam Sambalá, governador de Samaria. — Ne 4:1.

Sem dúvida, os achados mais valiosos, feitos no Egito, têm sido os fragmentos e os trechos de livros bíblicos, em papiro, tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas, remontando ao segundo século AEC. O clima seco e o solo arenoso do Egito o tornaram depósito inigualável para a preservação de tais documentos em papiro. — Veja MANUSCRITOS DA BÍBLIA.

Palestina e Síria. Cerca de 600 sítios datáveis têm sido escavados nessas regiões. Muitas das informações obtidas são de natureza geral, apoiando o registro bíblico numa base ampla, ao invés de se relacionarem especificamente com certos pormenores ou eventos. Como exemplo, fizeram-se esforços, no passado, de desacreditar o relato da Bíblia sobre a desolação completa de Judá durante o exílio babilônico. As escavações, porém, consubstanciam coletivamente a Bíblia. Como declara W. F. Albright: “Não existe um único caso conhecido de uma cidade de Judá propriamente dita ter sido continuamente ocupada durante todo o período do exílio. Apenas para salientar o contraste, Betel, situada um pouco além das fronteiras setentrionais de Judá nos tempos pré-exílicos, não foi destruída naquele tempo, mas foi continuamente ocupada até a parte final do sexto século.” — The Archaeology of Palestine (A Arqueologia da Palestina), 1971, p. 142.

Bete-Sã (Bete-Seã), antiga cidade-fortaleza que guardava a via de acesso ao vale de Jezreel do lado L, foi um sítio de extensas escavações que revelaram 18 níveis diferentes de ocupação, exigindo a escavação até a profundidade de mais de 21 m. (DIAGRAMA, Vol. 1, p. 959) O relato bíblico mostra que Bete-Sã não se achava entre as aldeias originalmente ocupadas pelos invasores israelitas, e que, no tempo de Saul, era ocupada pelos filisteus. (Jos 17:11; Jz 1:27; 1Sa 31:8-12) As escavações em geral apoiam este registro e indicam uma destruição de Bete-Sã algum tempo depois que os filisteus capturaram a Arca do Pacto. (1Sa 4:1-11) De interesse especial foi a descoberta de certos templos cananeus em Bete-Sã. Primeiro Samuel 31:10 declara que os filisteus colocaram a armadura do Rei Saul “na casa das imagens de Astorete e prenderam seu corpo morto à muralha de Bete-Sã”, ao passo que 1 Crônicas 10:10 afirma que “puseram a armadura dele na casa do seu deus, e o crânio dele prenderam à casa de Dagom”. Dois dos templos escavados eram do mesmo período e um deles fornece evidência de ser o templo de Astorete, ao passo que se acha que o outro seja o de Dagom, assim se harmonizando com os textos acima quanto à existência de dois templos em Bete-Sã.

Eziom-Géber era a cidade portuária de Salomão no golfo de Acaba. É possível que seja a atual Tell el-Kheleifeh, que foi escavada durante 1937-1940 e apresentou evidência de uma fundição de cobre, encontrando-se escória de cobre e pedaços de minério de cobre num aterro baixo nesta região. No entanto, as conclusões originais do arqueólogo Nelson Glueck, a respeito do sítio, foram radicalmente revistas por ele num artigo em The Biblical Archaeologist (O Arqueólogo Bíblico, 1965, p. 73). Sua opinião de que se empregara ali um sistema de alto-forno de fundição baseava-se na descoberta do que se imaginava serem “buracos de chaminé” no prédio principal escavado. Ele chegou agora à conclusão de que esses buracos nas paredes do prédio são o resultado da “decomposição e/ou da queima de vigas de madeira colocadas no sentido da largura das paredes, para fins de junção ou de escoramento”. O prédio, que antes se pensava ser uma fundição, é, segundo se crê agora, um depósito de cereais. Ao passo que ainda se crê que realmente foram realizadas ali operações metalúrgicas, não se acha agora que tenham tido a envergadura anteriormente suposta. Isto salienta que o significado atribuído aos dados arqueológicos depende primariamente da interpretação individual do arqueólogo, interpretação esta que de forma alguma é infalível. A própria Bíblia não menciona nenhuma fundição de cobre em Eziom-Géber, descrevendo somente a fundição de itens de cobre num certo lugar no vale do Jordão. — 1Rs 7:45, 46.

Hazor, na Galileia, foi descrita como sendo “a cabeça de todos estes reinos”, no tempo de Josué. (Jos 11:10) Escavações feitas ali mostraram que a cidade abrangia antigamente uns 60 ha, tendo uma grande população, o que a tornava uma das principais cidades daquela região. Salomão fortificou a cidade, e a evidência daquele período indica que talvez fosse uma cidade para carros. — 1Rs 9:15, 19.

Jericó foi submetida a escavações durante três expedições diferentes (1907-1909; 1930-1936; 1952-1958), e as sucessivas interpretações dos achados demonstram novamente que a arqueologia, igual a outros campos das ciências humanas, não é fonte de informações positivamente estáveis. Cada uma das três expedições produziu dados, mas cada uma chegou a conclusões diferentes sobre a história da cidade e especialmente sobre a data da sua queda diante dos conquistadores israelitas. De qualquer modo, pode-se dizer que os resultados conjuntos apresentam o quadro geral fornecido no livro Biblical Archaeology (Arqueologia Bíblica; 1962, p. 78), de G. E. Wright, que declara: “A cidade sofreu terrível destruição, ou uma série de destruições durante o segundo milênio a.C., e permaneceu virtualmente desocupada durante gerações.” A destruição foi acompanhada por um intenso incêndio, conforme mostra a evidência escavada. — Veja Jos 6:20-26.

Em Jerusalém, em 1867, descobriu-se antigo túnel de água, que da fonte de Giom penetrava na colina por trás dela. (Veja GIOM N.º 2.) Isto talvez ilustre o relato da captura da cidade por Davi, em 2 Samuel 5:6-10. Em 1909-1911, o inteiro sistema de túneis ligados com a fonte de Giom foi desobstruído. Um túnel, conhecido como o Túnel de Siloé, tinha em média 1,80 m de altura e fora aberto na rocha numa distância de uns 533 m desde Giom até o reservatório de Siloé, no vale de Tiropeom (dentro da cidade). Parece assim ser o projeto do Rei Ezequias, descrito em 2 Reis 20:20, e 2 Crônicas 32:30. De grande interesse foi a antiga inscrição encontrada na parede do túnel, em antiga escrita hebraica monumental, descrevendo a escavação do túnel e sua extensão. Esta inscrição é usada para fins de comparação ao se datar outras inscrições hebraicas encontradas.

Laquis, a 44 km ao OSO de Jerusalém, era uma das principais fortalezas que protegiam a região colinosa da Judeia. Em Jeremias 34:7, o profeta fala das forças de Nabucodonosor lutando contra “Jerusalém e contra todas as cidades de Judá que sobravam, contra Laquis e contra Azeca; porque elas, as cidades fortificadas, eram as que restavam dentre as cidades de Judá”. Escavações feitas em Laquis produziram evidência de destruição por fogo duas vezes num período de poucos anos, o que se acredita representar dois ataques dos babilônios (618-617 e 609-607 AEC), ficando ela depois desabitada por um longo período.

Nas cinzas do segundo incêndio encontraram-se 21 óstracos (pedaços de cerâmica com inscrições), que se acredita representarem correspondência pouco antes da destruição da cidade no ataque final de Nabucodonosor. Conhecidos como as Cartas de Laquis, eles refletem um período de crise e de ansiedade, e parecem ter sido escritos em remanescentes postos avançados das tropas judaicas a Yaosh, comandante militar em Laquis. (FOTO, Vol. 1, p. 325) A carta número IV contém a declaração: “Que Iavé faça que meu senhor ouça hoje mesmo notícias de paz! . . . Estamos atentos aos sinais de Laquis, segundo todas as indicações que meu senhor deu, porque não podemos ver Azeca.“ (Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], editado por J. B. Pritchard, 1974, p. 322) Isto expressa notavelmente a situação descrita em Jeremias 34:7, citada acima, e indica que Azeca já havia caído ou pelo menos deixara de enviar sinais de fogo ou de fumaça conforme esperado.

A carta número III, escrita por um certo Osaías, inclui o seguinte: “Que Iavé faça que meu senhor ouça hoje mesmo notícias de paz! . . . E foi relatado ao teu servo, dizendo: ‘O comandante da hoste, Conias, filho de Elnatã, desceu a fim de ir ao Egito e a Hodavias, filho de Aijá, e mandou seus homens obterem dele [suprimentos].’” (Ancient Near Eastern Texts, editado por J. B. Pritchard, 1974, p. 322) Este trecho pode muito bem representar o fato de que Judá recorria ao Egito em busca de ajuda, o que fora condenado pelos profetas. (Je 46:25, 26; Ez 17:15, 16) Os nomes Elnatã e Osaías, que ocorrem no texto completo desta carta, também são encontrados em Jeremias 36:12 e Jeremias 42:1. Outros nomes que estão nas cartas também ocorrem no livro de Jeremias: Gemarias (36:10), Nerias (32:12) e Jaazanias (35:3). Não se pode afirmar que eles representam as mesmas pessoas, mas a coincidência é notável, visto Jeremias ter sido contemporâneo daquele período.

De interesse especial é o frequente uso do tetragrama nestas cartas, mostrando assim que, naquele tempo, os judeus não tinham aversão ao uso do nome divino. Também é de interesse a impressão dum selo de argila encontrada, que se refere a “Gedalias, que está sobre a casa”. Gedalias é o nome do governador nomeado sobre Judá por Nabucodonosor após a queda de Jerusalém, e muitos acham provável que esta impressão do selo se refira a ele. — 2Rs 25:22; compare isso com Is 22:15; 36:3.

Megido era uma cidade-fortaleza estratégica que dominava um importante passo para o vale de Jezreel. Foi reconstruída por Salomão e é mencionada junto com as cidades-armazéns e cidades para carros do seu reinado. (1Rs 9:15-19) Escavações feitas no sítio (Tell el-Mutesellim), uma colina artificial de 5,3 ha, descobriram o que alguns peritos (mas não todos) acham ter sido cavalariças capazes de acomodar cerca de 450 cavalos. De início, estas construções foram atribuídas ao tempo de Salomão, mas, peritos posteriores modificaram a data delas para um período posterior, talvez o tempo de Acabe.

A Pedra Moabita foi uma das mais antigas descobertas de importância na região ao L do Jordão. (FOTO, Vol. 1, p. 325) Foi encontrada em 1868 em Dhiban, ao N do vale do Árnon, e apresenta a versão do rei moabita Mesa da sua revolta contra Israel. (Veja 2Rs 1:1; 3:4, 5.) A inscrição diz em parte: “Eu (sou) Mesa, filho de Quemós-[. . .], rei de Moabe, o dibonita . . . Quanto a Onri, rei de Israel, ele humilhou Moabe por muitos anos (lit.: dias), porque Quemós [o deus de Moabe] estava irado com a sua terra. E seu filho o sucedeu, e ele também disse: ‘Humilharei Moabe.’ No meu tempo ele falou (assim), mas eu triunfei sobre ele e sobre a sua casa, sendo que Israel pereceu para sempre! . . . E Quemós disse-me: ‘Vai, toma Nebo de Israel!’ De modo que fui de noite e lutei contra ele desde a alvorada até o meio-dia, tomando-o e matando a todos . . . E tomei dali os [vasos] de Yahweh, arrastando-os perante Quemós.” (Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], editado por J. B. Pritchard, 1974, p. 320) De modo que a pedra não somente menciona o nome do Rei Onri de Israel, mas também, na 18.ª linha, contém o nome de Deus na forma do tetragrama.

A Pedra Moabita menciona também muitos lugares referidos na Bíblia: Atarote e Nebo (Núm 32:34, 38); o Árnon, Aroer, Medeba e Díbon (Jos 13:9); Bamote-Baal, Bete-Baal-Meom, Jaaz e Quiriataim (Jos 13:17-19); Bezer (Jos 20:8); Horonaim (Is 15:5); Bete-Diblataim e Queriote. (Je 48:22, 24) Apoia assim a historicidade de todos estes lugares.

Ras Xamra (a antiga Ugarit), na costa N da Síria, defronte da ilha de Chipre, forneceu informações sobre uma adoração bastante similar à praticada em Canaã, inclusive seus deuses e deusas, templos, prostitutas “sagradas”, ritos, sacrifícios e orações. Encontrou-se um recinto, entre um templo de Baal e outro templo devotado a Dagom, que continha uma biblioteca de centenas de textos religiosos, considerados como datando desde o século 15 até o começo do século 14 AEC. Os textos poéticos, mitológicos, revelam muito sobre as divindades cananeias El, Baal e Axerá, e a forma degradante de idolatria que acompanhava sua adoração. Merrill F. Unger, no seu livro Arqueologia do Velho Testamento (1985, p. 88, Imprensa Batista Regular), comenta: “A literatura épica de Ugarite ajudou a revelar a profundidade da depravação que caracterizava a religião cananeia. Sendo politeísmo de tipo extremamente degradante, a prática de culto cananeu era bárbara e inteiramente licenciosa.” Encontraram-se também imagens de Baal e de outros deuses. (Veja DEUSES E DEUSAS [Deidades Cananeias].) Um anteriormente desconhecido tipo de escrita alfabética cuneiforme (diferente da escrita cuneiforme acadiana) distinguia estes textos. Ela segue a mesma ordem que o hebraico, mas acrescenta outras letras para perfazer o total de 30. Assim como em Ur, desenterrou-se também uma acha de armas de aço.

Samaria, a capital grandemente fortificada do reino setentrional de Israel, foi construída sobre uma colina que se elevava cerca de 90 m acima do nível do vale. A prova de sua força de resistir a longos sítios, tais como os descritos em 2 Reis 6:24-30, no caso da Síria, e em 2 Reis 17:5, no caso do poderoso exército assírio, é indicada pelos restos de sólidas muralhas duplas, em alguns pontos formando um baluarte de 10 m de largura. A alvenaria encontrada no sítio, reputada como remontando ao tempo dos reis Onri, Acabe e Jeú, representa excelente mão de obra. O que parece ser a plataforma do palácio mede cerca de 90 m por cerca de 180 m. Encontraram-se grandes quantidades de peças, placas e painéis de marfim na área do palácio, e estes talvez se relacionem com a casa de marfim de Acabe, mencionada em 1 Reis 22:39. (Veja Am 6:4.) No canto NO do cume encontrou-se um grande reservatório cimentado, medindo cerca de 10 m de comprimento e uns 5 m de largura. Poderia ser o “reservatório de Samaria” em que se lavou o carro de Acabe, removendo-se o seu sangue. — 1Rs 22:38.

Suscitaram interesse 63 cacos de cerâmica com inscrições a tinta (óstracos), considerados como datando do oitavo século AEC. Recibos de remessas de vinho e de óleo de outras cidades para Samaria mostram um sistema israelita de escrever números pelo uso de traços verticais, horizontais e inclinados. Um recibo típico reza como segue:

No décimo ano.

Para Gaddiyau [provavelmente o mordomo da tesouraria].

De Azah [talvez a aldeia ou distrito que remetia o vinho ou o óleo].

Abi-baʽal 2

Ahaz 2

Sheba 1

Meribaʽal 1

Tais recibos também revelam o uso frequente do nome Baal como componente de nomes, cerca de 7 nomes incluindo este nome para cada 11 que continham alguma forma do nome Jeová, provavelmente indicando a infiltração da adoração de Baal, conforme descrita no relato bíblico.

A destruição ardente de Sodoma e Gomorra, e a existência de poços de betume (asfalto) naquela região são descritas na Bíblia. (Gên 14:3, 10; 19:12-28) Muitos peritos acham que as águas do Mar Morto talvez se tenham elevado no passado e tenham estendido a extremidade meridional do mar numa considerável distância, cobrindo assim o que talvez tenha sido o lugar dessas duas cidades. Explorações feitas nesta região mostram ser ela uma área queimada, de óleo e asfalto. A respeito deste assunto diz o livro Light From the Ancient Past (Luz do Passado Remoto), de Jack Finegan (1959, p. 147): “Uma cuidadosa pesquisa da evidência literária, geológica e arqueológica aponta para a conclusão que as infames ‘cidades da planície’ (Gênesis 19:29) estavam na área que agora está submersa . . . e que sua ruína foi realizada por um grande terremoto, provavelmente acompanhado por explosões, relâmpagos, ignição de gás natural e conflagração geral.” — Veja também SODOMA.

Relacionada com as Escrituras Gregas Cristãs. O uso, por parte de Jesus, de uma moeda de um denário portando a efígie de Tibério César (Mr 12:15-17) é confirmado pela descoberta de um denário de prata com a efígie de Tibério e que foi posto em circulação por volta do ano 15 EC. (FOTO, Vol. 2, p. 544) (Veja Lu 3:1, 2.) O fato de que Pôncio Pilatos era então o governador romano da Judeia foi também confirmado por uma laje de pedra encontrada em Cesareia, com os nomes latinos Pontius Pilatus e Tiberieum. — Veja PILATOS; FOTO, Vol. 2, p. 741.

O livro de Atos dos Apóstolos, que fornece clara evidência de ter sido escrito por Lucas, contém numerosas referências a cidades e suas províncias, e a autoridades de diferentes tipos e com diversos títulos, que detinham cargos em determinada época — uma apresentação repleta de possibilidades de erro por parte do escritor. (Observe também Lu 3:1, 2.) Todavia, a evidência arqueológica apresentada demonstra notável grau de exatidão por parte de Lucas. Assim, em Atos 14:1-6, Lucas coloca Listra e Derbe no território da Licaônia, mas dá a entender que Icônio se achava em outro território. Os escritores romanos, inclusive Cícero, referiram-se a Icônio como ficando na Licaônia. No entanto, certo monumento descoberto em 1910 mostra que Icônio era considerada como sendo deveras uma cidade da Frígia, ao invés de da Licaônia.

Similarmente, uma inscrição descoberta em Delfos confirma que Gálio era procônsul da Acaia, provavelmente em 51-52 EC. (At 18:12) Cerca de 19 inscrições, que datam do segundo século AEC até o terceiro século EC, confirmam a exatidão do uso, por parte de Lucas, do título governantes da cidade (singular, po·li·tár·khes) como se aplicando às autoridades de Tessalônica (At 17:6, 8), sendo que cinco destas inscrições se referem especificamente àquela cidade. (Veja GOVERNANTES DA CIDADE.) Semelhantemente, a referência a Públio como o “homem de destaque” (pró·tos) de Malta (At 28:7) emprega o título exato a ser usado, conforme indicado pela sua ocorrência em duas inscrições maltesas, uma em latim e a outra em grego. Textos mágicos, bem como o templo de Ártemis, foram encontrados em Éfeso (At 19:19, 27); escavações feitas ali também revelaram um teatro capaz de acomodar cerca de 25.000 pessoas, e inscrições que se referiam aos “promotores de festividades e jogos”, semelhantes àqueles que intervieram em favor de Paulo, e também de um “escrivão”, semelhante ao que acalmou a turba naquela ocasião. — At 19:29-31, 35, 41.

Algumas dessas descobertas induziram Charles Gore a escrever sobre a exatidão de Lucas, no A New Commentary on Holy Scripture (Novo Comentário sobre a Escritura Sagrada): “Deve-se, naturalmente, reconhecer que a arqueologia moderna quase que obrigou os críticos de São Lucas a lhe dar um veredicto de notável exatidão em todas as suas alusões a fatos e eventos seculares.” — Editado por Gore, Goudge e Guillaume, 1929, p. 210.

Valor Comparativo da Arqueologia. A arqueologia tem apresentado informações proveitosas que ajudaram na identificação (não raro experimental) de lugares bíblicos, tem desenterrado documentos escritos que contribuíram para melhor entendimento das línguas originais em que as Escrituras foram escritas e tem lançado luz sobre as condições de vida e as atividades dos povos e dos governantes antigos mencionados na Bíblia. Todavia, no que tange à relação da arqueologia com a autenticidade e a confiabilidade da Bíblia, e com a fé nela, nos seus ensinos e nas suas revelações dos propósitos e das promessas de Deus, deve-se dizer que a arqueologia é um suplemento não essencial e uma confirmação não exigida da veracidade da Palavra de Deus. Conforme o expressou o apóstolo Paulo: “A fé é a expectativa certa de coisas esperadas, a demonstração evidente de realidades, embora não observadas. Pela fé percebemos que os sistemas de coisas foram postos em ordem pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se observa veio a existir das coisas que não aparecem.” (He 11:1, 3) “Estamos andando pela fé, não pela vista.” — 2Co 5:7.

Isto não significa que a fé cristã não tenha qualquer base no que pode ser visto, ou que ela trate apenas de intangíveis. Mas é verdade que, em todo período e época, sempre houve ampla evidência contemporânea ao redor das pessoas, bem como nelas mesmas e em suas próprias experiências, que as podia convencer de que a Bíblia é a verdadeira fonte de revelação divina e que ela não contém nada que não se harmonize com fatos demonstráveis. (Ro 1:18-23) O conhecimento do passado à luz das descobertas arqueológicas é interessante e apreciado, mas não é vital. O conhecimento do passado à luz da Bíblia é, por si só, essencial e solidamente fidedigno. A Bíblia, com ou sem a arqueologia, dá verdadeiro significado ao presente e ilumina o futuro. (Sal 119:105; 2Pe 1:19-21) Na realidade, é fraca a fé que precisa depender de tijolos que se desintegram, de vasos quebrados e de muros desmoronantes, para sustentá-la e servir-lhe de muleta.

Incertezas subjacentes às conclusões. Embora as descobertas arqueológicas às vezes tenham fornecido uma resposta conveniente para refutar os que fizeram reparos aos relatos bíblicos ou que criticaram a historicidade de certos eventos, e embora tais achados tenham ajudado a desanuviar a mente de pessoas sinceras que ficaram impressionadas demais com os argumentos de tais críticos, ainda assim, a arqueologia não silenciou os críticos da Bíblia, nem é ela um alicerce realmente sólido para se basear a crença no registro da Bíblia. As conclusões tiradas da maioria das escavações feitas dependem, mormente, do raciocínio dedutivo e indutivo dos investigadores, os quais, um tanto parecidos a detetives, reúnem as provas do caso a favor do qual arguem. Até mesmo em tempos modernos, embora os detetives possam descobrir e reunir um impressionante conjunto de evidências circunstanciais e materiais, qualquer caso alicerçado puramente em tais evidências, se não dispuser do depoimento de testemunhas dignas de crédito, diretamente relacionadas com o assunto em pauta, será considerado fraquíssimo, se levado a um tribunal. Decisões baseadas unicamente em tal evidência têm resultado em crassos erros e injustiças. Isso se deve dar ainda mais quando há um intervalo de 2.000 ou 3.000 anos entre os investigadores e o tempo da ocorrência.

Um paralelo similar é feito pelo arqueólogo R. J. C. Atkinson, que diz: “Basta apenas pensar em quão difícil seria a tarefa dos futuros arqueólogos, se tivessem de reconstruir os rituais, os dogmas e a doutrina das Igrejas Cristãs a partir somente das ruínas de igrejas, sem a ajuda de qualquer registro escrito ou inscrição. Temos, assim, a situação paradoxal de que a arqueologia, o único método de investigação do passado do homem na ausência de registros escritos, torna-se cada vez menos eficaz como meio de inquirição quanto mais ela se aproxima daqueles aspectos da vida humana que são os mais especificamente humanos.” — Stonehenge, Londres, 1956, p. 167.

Complicando ainda mais o assunto, há o fato de que, em adição à sua óbvia incapacidade de conseguir mais do que uma aproximação no que tange a colocar em foco o passado remoto, e apesar de seus esforços de manter um ponto de vista puramente objetivo ao considerar a evidência que escavam, os arqueólogos, como os demais cientistas, não obstante estão sujeitos a falhas humanas, e a inclinações e ambições pessoais, que podem estimular raciocínios falíveis. Indicando o problema, o professor W. F. Albright comenta: “Por outro lado, há perigo em se procurar novas descobertas e novos pontos de vista às custas de trabalho mais sólido, feito anteriormente. Isto se dá, em especial, em campos como a arqueologia e a geografia bíblicas, onde o domínio dos instrumentos e dos métodos de investigação é tão árduo, que existe sempre uma tentação de negligenciar o método sólido, substituindo o trabalho lento e mais sistemático por combinações espertas e palpites brilhantes.” — The Westminster Historical Atlas to the Bible (Atlas Histórico da Bíblia, de Westminster), editado por G. E. Wright, 1956, p. 9.

Diferenças na datação. É importante compreender isto ao se considerar as datas propostas pelos arqueólogos com respeito às suas descobertas. Ilustrando isto, Merrill F. Unger diz: “Por exemplo, Garstang data a queda de Jericó em c. 1400 a.C. . . .; Albright apóia a data de c. 1290 a.C. . . .; Hugues Vincent, famoso arqueólogo palestino, sustenta a data de 1250 a.C. . . .; ao passo que H. H. Rowley considera Ramsés II como o Faraó da Opressão, e o Êxodo como tendo ocorrido sob seu sucessor, Marnipta [Mernepta] por volta de 1225 a.C.” (Archaeology and the Old Testament, p. 164, n. 15) Ao passo que argumenta a favor da fidedignidade do processo e da análise arqueológicos modernos, o Professor Albright reconhece que “ainda é dificílimo para o não especialista achar seu caminho por entre as datas e as conclusões conflitantes dos arqueólogos”. — The Archaeology of Palestine, p. 253.

É verdade que o relógio de radiocarbono tem sido empregado, junto com outros métodos modernos, para datar os artefatos encontrados. Sem embargo, que este método não é inteiramente exato é evidenciado pela seguinte declaração, feita por G. Ernest Wright, em The Biblical Archaeologist (1955, p. 46): “Pode-se notar que o novo método do Carbono 14, de datar restos antigos, não resultou ser tão isento de erros como se esperava. . . . Certas medições produziram resultados obviamente errados, provavelmente por vários motivos. No momento, só se pode confiar nos resultados, sem opor dúvida, depois de se terem feito várias medições que forneceram resultados virtualmente idênticos, e quando a data parece ser correta à base de outros métodos de computação [o grifo é nosso].” Mais recentemente, The New Encyclopædia Britannica (Macropædia [A Nova Enciclopedia Britânica], 1976, Vol. 5, p. 508) declarou: “Qualquer que seja a causa, . . . é evidente que falta às datas fornecidas pelo carbono 14 a exatidão que historiadores tradicionais gostariam de ter.” — Veja CRONOLOGIA (Datação Arqueológica).

Valor relativo das inscrições. Descobriram-se e estão sendo interpretadas milhares e milhares de inscrições antigas. Albright declara: “Os documentos escritos constituem, sem comparação, o único mais importante conjunto de materiais descobertos pelos arqueólogos. Por isso, é extremamente importante obter uma ideia clara de seu caráter e de nossa capacidade de interpretá-los.” (The Westminster Historical Atlas to the Bible, p. 11) Podem ter sido escritos em cacos de cerâmica, em tabuinhas de argila, em papiro ou podem ter sido esculpidos em granito. Seja qual for o material, as informações que transmitem ainda devem ser pesadas e testadas quanto à sua fidedignidade e seu valor. Erros ou patentes falsidades podem ser e foram, com frequência, assentados por escrito em pedra, bem como em papel. — Veja CRONOLOGIA (Cronologia Bíblica e História Secular); SARGÃO.

Como ilustração, o registro bíblico declara que o Rei Senaqueribe, da Assíria, foi morto por seus dois filhos, Adrameleque e Sarezer, e foi sucedido no trono por outro filho, Esar-Hadom. (2Rs 19:36, 37) Todavia, uma crônica babilônica declarava que, no 20.º dia de tebete, Senaqueribe foi morto por seu filho numa revolta. Tanto Beroso, sacerdote babilônio do terceiro século AEC, como Nabonido, rei babilônio do sexto século AEC, em seus escritos, forneceram o mesmo relato, no sentido de que Senaqueribe foi assassinado por apenas um de seus filhos. No entanto, num mais recentemente descoberto fragmento do Prisma de Esar-Hadom, o filho que sucedeu Senaqueribe, Esar-Hadom declara especificamente que seus irmãos (plural) se revoltaram e mataram seu pai, e então fugiram. Comentando isto, Philip Biberfeld, em Universal Jewish History (História Universal Judaica; 1948, Vol. I, p. 27), diz: “A Crônica Babilônica, Nabonido e Beroso estavam equivocados; apenas o relato da Bíblia mostrou ser correto. Foi confirmado em todos os mínimos pormenores pela inscrição de Esar-Hadom e mostrou ser mais exato no tocante a este evento da história assírio-babilônica do que as próprias fontes babilônicas. Trata-se dum fato de suma importância para a avaliação até mesmo de fontes contemporâneas que não concordam com a tradição bíblica.”

Problemas de decifração e de tradução. Há também necessidade de devida cautela por parte do cristão quanto a aceitar, sem questionar, a interpretação dada a muitas inscrições encontradas em diversas línguas antigas. Em alguns casos, como o da Pedra de Roseta e da Inscrição de Behistun, propiciou-se aos decifradores de línguas considerável visão de uma língua antes desconhecida, através de apresentações paralelas desta língua junto com outra já conhecida. Todavia, não se deve esperar que tais ajudas solucionem todos os problemas ou permitam pleno entendimento da língua, com todos os matizes de significados e expressões idiomáticas. Até mesmo a compreensão das línguas bíblicas básicas, o hebraico, o aramaico e o grego, progrediu consideravelmente em tempos recentes, e essas línguas ainda se acham em estudo. Quanto à inspirada Palavra de Deus, podemos corretamente esperar que o Autor da Bíblia nos habilite a obter o entendimento certo de sua mensagem mediante as traduções disponíveis em línguas modernas. Isto não se dá, porém, com os escritos não inspirados de nações pagãs.

Ilustrando esta necessidade de cautela, e também manifestando de novo que um enfoque objetivo dos problemas existentes em decifrar inscrições antigas frequentemente não é tão destacado como se poderia pensar, o livro O Segredo dos Hititas, de C. W. Ceram, contém a seguinte informação a respeito de destacado assiriologista que trabalhou na decifração da língua “hitita” (1959, tradução de M. Amado, pp. 106-112): “Sua obra é absolutamente fenomenal: uma brilhante miscelânea de equívocos extravagantes e notáveis percepções. . . . Alguns de seus erros eram sustentados por argumentos tão convincentes que décadas de estudos foram necessárias para suplantá-los. Seus engenhosos raciocínios baseavam-se em tal riqueza de erudição filológica que não se tornava coisa fácil separar o joio do trigo.” O escritor descreve então a forte obstinação deste perito quanto a qualquer modificação de suas descobertas; após muitos anos, ele, por fim, concordou em fazer algumas alterações — apenas para mudar justamente as leituras que, mais tarde, mostraram ser as corretas! Ao relatar a disputa violenta, cheia de recriminações pessoais, que surgiu entre este perito e outro decifrador da escrita hieroglífica “hitita”, o autor declara: “Contudo, o próprio fanatismo que produz tais disputas é uma necessária força motivadora para que os sábios façam descobertas.” Por isso, embora o tempo e o estudo tenham eliminado muitos erros no entendimento das inscrições antigas, faremos bem em compreender que investigações posteriores provavelmente resultarão em correções adicionais.

A preeminência da Bíblia como a fonte de conhecimento fidedigno, de informações verídicas e de orientação segura, é destacada por esses fatos. Como conjunto de documentos escritos, a Bíblia fornece-nos o quadro mais claro do passado do homem, e chegou até nós, não por escavações, mas por ter sido preservada pelo seu Autor, Jeová Deus. É “viva e exerce poder” (He 4:12) e é a “palavra do Deus vivente e permanecente”. “Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória é como flor da erva; a erva se resseca e a flor cai, mas a declaração de Jeová permanece para sempre.” — 1Pe 1:23-25.