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Inspiração

Inspiração

A qualidade ou o estado de ser movido, ou produzido, sob a direção de um espírito originário de uma fonte sobre-humana. Quando esta fonte é Jeová, o resultado são pronunciamentos ou escritos que são realmente a palavra de Deus. O apóstolo Paulo disse, em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus.” A expressão “inspirada por Deus” traduz o termo grego composto the·ó·pneu·stos, que significa, literalmente, “[por] Deus soprado” ou “soprado por Deus”.

Trata-se da única ocorrência deste termo grego nas Escrituras. Seu uso ali identifica claramente a Deus como Fonte e Produtor das Escrituras Sagradas, a Bíblia. Serem elas ‘por Deus sopradas’ encontra certo paralelo na expressão que se acha nas Escrituras Hebraicas, no Salmo 33:6: “Pela palavra de Jeová foram feitos os próprios céus, e pelo espírito [ou sopro] de sua boca, todo o exército deles.”

Resulta da Operação do Espírito de Deus. O meio ou agente para a inspiração de “toda a Escritura” foi o espírito santo ou força ativa de Deus. (Veja ESPÍRITO.) Esse espírito santo operava para com os homens, ou neles, de modo a movê-los e guiá-los a redigir a mensagem de Deus. Assim, o apóstolo Pedro diz a respeito da profecia bíblica: “Sabeis primeiramente isto, que nenhuma profecia da Escritura procede de qualquer interpretação particular. Porque a profecia nunca foi produzida pela vontade do homem, mas os homens falaram da parte de Deus conforme eram movidos por espírito santo.” (2Pe 1:20, 21) A evidência mostra que o espírito de Deus operou na mente e no coração de todos os escritores bíblicos, a fim de conduzi-los ao alvo tencionado por Deus. O Rei Davi disse: “Foi o espírito de Jeová que falou por meu intermédio, e a sua palavra estava na minha língua.” (2Sa 23:2) Quando Jesus citou o Salmo 110, ele disse que Davi o escrevera “por inspiração [literalmente: no espírito]”. (Mt 22:43) A passagem paralela em Marcos 12:36 reza “pelo espírito santo”.

Assim como o espírito de Jeová moveu, ou habilitou, homens a realizar outras tarefas divinas — a feitura das vestes sacerdotais e do equipamento para o tabernáculo (Êx 28:3; 35:30-35), assumir a carga administrativa (De 34:9), liderar as forças militares (Jz 3:9, 10; 6:33, 34) — da mesma forma também habilitou alguns homens a registrar as Escrituras. Por meio desse espírito, puderam receber sabedoria, entendimento, conhecimento, conselho e poder, além do normal, e segundo suas necessidades específicas. (Is 11:2; Miq 3:8; 1Co 12:7, 8) Diz-se que Davi recebeu o plano arquitetônico do templo “por inspiração [literalmente: pelo espírito]”. (1Cr 28:12) Jesus assegurou a seus apóstolos que o espírito de Deus os ajudaria, ensinando-os, guiando-os e fazendo com que a mente deles recordasse as coisas que tinham ouvido dele, bem como lhes revelando coisas futuras. (Jo 14:26; 16:13) Isto garantiu a veracidade e a exatidão dos seus relatos evangélicos, incluindo muitas citações extensas dos discursos de Jesus, embora o relato evangélico de João, por exemplo, fosse escrito dezenas de anos depois da morte de Jesus.

Controlados pela “mão de Jeová”. Os escritores da Bíblia, portanto, ficaram sob a “mão”, ou poder orientador e controlador, de Jeová. (2Rs 3:15, 16; Ez 3:14, 22) Assim como a “mão” de Jeová podia mover Seus servos a falar ou a ficar calados nos momentos prescritos (Ez 3:4, 26, 27; 33:22), assim também podia estimular a escrita ou agir como força restritiva; podia mover o escritor a tratar de certos assuntos ou restringi-lo de incluir outra matéria. O produto final, em cada caso, seria o que Jeová desejara.

Como os Escritores Receberam Direção Divina. Como diz o apóstolo, Deus falou “de muitos modos” a seus servos nos tempos pré-cristãos. (He 1:1, 2) Pelo menos num caso, o dos Dez Mandamentos, ou Decálogo, as informações foram supridas divinamente em forma escrita, apenas exigindo que fossem copiadas nos rolos ou em outro material empregado por Moisés. (Êx 31:18; De 10:1-5) Em outros casos, as informações foram ditadas palavra por palavra. Ao apresentar o grande conjunto de leis e estatutos do pacto de Deus com Israel, Jeová instruiu a Moisés: “Escreve para ti estas palavras.” (Êx 34:27) Aos profetas também foram dadas, com frequência, mensagens específicas a proferir, e estas foram então registradas, vindo a fazer parte das Escrituras. — 1Rs 22:14; Je 1:7; 2:1; 11:1-5; Ez 3:4; 11:5.

Entre ainda outros métodos usados para a transmissão de informações aos escritores da Bíblia achavam-se os sonhos e as visões. Sonhos, ou visões noturnas, como às vezes eram chamados, evidentemente sobrepunham um quadro da mensagem ou propósito de Deus na mente da pessoa adormecida. (Da 2:19; 7:1) Um veículo ainda mais frequente para comunicar os pensamentos de Deus à mente do escritor eram as visões dadas enquanto a pessoa estava consciente, tal revelação sendo estampada de forma pictórica na mente consciente. (Ez 1:1; Da 8:1; Re 9:17) Algumas visões foram recebidas enquanto a pessoa caíra em transe. Embora consciente, a pessoa, pelo que parece, ficava tão absorta pela visão recebida em transe a ponto de desperceber por completo tudo o mais em sua volta. — At 10:9-17; 11:5-10; 22:17-21; veja VISÃO.

Em muitas ocasiões, usaram-se mensageiros angélicos para transmitir as mensagens divinas. (He 2:2) Tais mensageiros desempenharam um papel maior na transmissão de informações do que, às vezes, transparece. Assim, ao passo que a Lei dada a Moisés é apresentada como tendo sido proferida por Deus, tanto Estêvão como Paulo mostram que Deus empregou seus anjos para transmitir aquele código legal. (At 7:53; Gál 3:19) Visto que os anjos falavam em nome de Jeová, a mensagem que apresentaram podia, portanto, apropriadamente ser chamada de a “palavra de Jeová”. — Gên 22:11, 12, 15-18; Za 1:7, 9.

Independentemente de quais tenham sido os meios específicos empregados para transmitir as mensagens, todas as partes das Escrituras teriam a mesma qualidade, todas elas tendo sido inspiradas ou ‘por Deus sopradas’.

É o fato de os escritores da Bíblia terem revelado um estilo próprio de expressão coerente com ser a Bíblia inspirada por Deus?

A evidência indica, contudo, que os homens usados por Deus para registrar as Escrituras não eram meros autômatos, que simplesmente registrassem a matéria que lhes fosse ditada. Lemos, a respeito do apóstolo João, que a Revelação (Apocalipse) ‘por Deus soprada’ foi-lhe apresentada, por meio de um anjo, “em sinais”, e que João então “deu testemunho da palavra dada por Deus e do testemunho dado por Jesus Cristo, sim, de todas as coisas que viu”. (Re 1:1, 2) Foi “por inspiração [literalmente: “no espírito”]” que João ‘veio a estar no dia do Senhor’ e lhe foi dito: “O que vês, escreve num rolo.” (Re 1:10, 11) Assim, Deus, pelo que parece, achou bom permitir que os escritores da Bíblia usassem suas faculdades mentais para escolher palavras e expressões para descrever as visões que tiveram (Hab 2:2), ao passo que sempre exercia suficiente controle e orientação sobre eles, de modo que o produto final não só fosse exato e verdadeiro, mas também se adequasse ao propósito de Jeová. (Pr 30:5, 6) Que estava envolvido o esforço pessoal por parte do escritor é demonstrado pela declaração de Eclesiastes 12:9, 10, havendo ponderação, investigação e disposição em ordem, a fim de apresentar devidamente “palavras deleitosas e a escrita de palavras corretas de verdade”. — Compare isso com Lu 1:1-4.

Isto, sem dúvida, explica por que existem os diferentes estilos de escrita, bem como de expressões, que aparentemente refletem a formação individual do escritor. As habilitações naturais dos escritores podem ter constituído um fator na escolha deles, por Deus, para a tarefa específica; talvez também os tenha preparado de antemão, para servirem ao Seu propósito específico.

Como evidência de estilo próprio de expressão, Mateus, que havia sido cobrador de impostos, faz numerosas referências particularmente específicas a números e valores monetários. (Mt 17:27; 26:15; 27:3) Lucas, “o médico amado” (Col 4:14), por outro lado, usa expressões distintivas que refletem sua formação médica. — Lu 4:38; 5:12; 16:20.

Mesmo quando o escritor menciona ter recebido a “palavra de Jeová”, ou certa “pronúncia”, pode ter acontecido que esta lhe foi transmitida, não palavra por palavra, mas por se dar ao escritor um quadro mental do propósito de Deus, quadro este que o escritor posteriormente expressaria em palavras. É possível que isto seja indicado quando o escritor fala, às vezes, de ‘ver’ (em vez de ‘ouvir’) a “pronúncia” ou “a palavra de Jeová”. — Is 13:1; Miq 1:1; Hab 1:1; 2:1, 2.

Por conseguinte, os homens utilizados para escrever as Escrituras cooperaram com a operação do espírito santo de Jeová. Estavam dispostos e mostravam-se submissos à direção de Deus (Is 50:4, 5), estavam ansiosos de conhecer a Sua vontade e orientação. (Is 26:9) Em muitos casos, tinham em mente certos alvos (Lu 1:1-4) ou satisfaziam uma necessidade evidente (1Co 1:10, 11; 5:1; 7:1) e Deus os orientava, de modo que aquilo que escreviam coincidia com Seu propósito e o cumpria. (Pr 16:9) Como homens espirituais, seu coração e sua mente estavam sintonizados com a vontade de Deus, ‘tinham a mente de Cristo’, de modo que não redigiam mera sabedoria humana, nem “a visão do seu próprio coração”, como faziam os profetas falsos. — 1Co 2:13-16; Je 23:16; Ez 13:2, 3, 17.

Pode-se ver que o espírito santo teria, deveras, “variedades de operações” para com estes escritores bíblicos, ou sobre eles. (1Co 12:6) Considerável parcela das informações era humanamente acessível a eles, às vezes já existindo em forma escrita, como no caso das genealogias e de certos relatos históricos. (Lu 1:3; 3:23-38; Núm 21:14, 15; 1Rs 14:19, 29; 2Rs 15:31; 24:5; veja LIVRO.) Neste caso, o espírito de Deus operaria de modo a impedir que a inexatidão ou o erro penetrasse no Registro Divino, e também guiaria a escolha da matéria a ser incluída. Obviamente, nem tudo que fora declarado por outras pessoas e depois incluído na Bíblia foi inspirado por Deus, mas a seleção da matéria a ser parte das Escrituras Sagradas e o registro exato dela ocorreram sob a direção do espírito santo. (Veja Gên 3:4, 5; Jó 42:3; Mt 16:21-23.) Deste modo Deus preservou na sua Palavra inspirada um registro que indica o que acontece quando as pessoas O escutam e agem em harmonia com o Seu propósito, bem como o resultado quando elas pensam, falam e agem de maneira que mostre desrespeito para com Deus ou desconhecimento de seus modos justos. Por outro lado, as informações relativas à história pré-humana da Terra (Gên 1:1-26), ou a respeito dos eventos e das atividades celestiais (Jó 1:6-12 e outros textos), e das profecias, bem como das revelações dos propósitos de Deus, e das doutrinas — estas não eram humanamente acessíveis, e precisariam ser transmitidas de modo sobrenatural pelo espírito de Deus. Quanto às declarações e conselhos sábios, mesmo que o escritor pudesse ter aprendido muito por experiência própria na vida, e até mesmo mais, através de seu próprio estudo e aplicação das partes das Escrituras já registradas, a operação do espírito de Deus ainda seria necessária para garantir que tais informações se habilitassem a ser parte da Palavra de Deus, que é “viva e exerce poder, . . . e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração”. — He 4:12.

Pode-se ver isso nas expressões do apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios. Ao aconselhar sobre o casamento e o estado de solteiro, ele diz, em certo ponto: “Mas, aos outros digo eu, sim, eu, não o Senhor . . .” De novo: “Agora, concernente às virgens, não tenho mandado da parte do Senhor, mas dou a minha opinião.” Por fim, a respeito duma mulher enviuvada, ele declara: “Ela será mais feliz, porém, se permanecer assim como está, segundo a minha opinião. Acho certamente ter também o espírito de Deus.” (1Co 7:12, 25, 40) O significado evidente das declarações de Paulo é que ele não dispunha de nenhum ensino direto do Senhor Jesus sobre certos pontos. Por isso, Paulo deu sua opinião pessoal, como um apóstolo cheio de espírito. Seu conselho, contudo, foi ‘por Deus soprado’ e, assim, veio a fazer parte das Escrituras Sagradas, tendo a mesma autoridade que o restante dessas Escrituras.

Existe, claramente, uma diferença entre os escritos inspirados da Bíblia e outros escritos que, ao passo que manifestam certa medida da direção e orientação do espírito, não são de direito classificados como parte das Escrituras Sagradas. Como se tem mostrado, além dos livros canônicos das Escrituras Hebraicas, havia outros escritos, tais como os registros oficiais sobre os reis de Judá e de Israel, e estes, em muitos casos, podem ter sido redigidos por homens que demonstravam devoção a Deus. Estes registros foram até mesmo usados na pesquisa feita pelos escritores que foram inspirados a escrever partes das Escrituras Sagradas. O mesmo, também, aconteceu nos tempos apostólicos. Além das cartas incluídas no cânon da Bíblia, houve, sem dúvida, muitas outras cartas escritas pelos apóstolos e anciãos às numerosas congregações, no decorrer dos anos. Ao passo que os escritores eram homens guiados pelo espírito, ainda assim Deus não colocou seu selo de garantia que distinguiria tais escritos adicionais como sendo parte da inerrante Palavra de Deus. Os escritos hebraicos não canônicos talvez contivessem alguns erros, e até mesmo escritos não canônicos dos apóstolos talvez refletissem, em certo grau, o entendimento incompleto existente nos primeiros anos da congregação cristã. (Compare isso com At 15:1-32; Gál 2:11-14; Ef 4:11-16.) No entanto, assim como Deus, por seu espírito ou força ativa, concedeu a certos cristãos o “discernimento de pronunciações inspiradas”, Ele também podia guiar o corpo governante da congregação cristã a discernir que escritos inspirados deviam ser incluídos no cânon das Escrituras Sagradas. — 1Co 12:10; veja CÂNON.

Reconhecimento das Escrituras Como Inspiradas. É clara a evidência de que todas as Escrituras Sagradas, conforme progressivamente adicionadas ao cânon da Bíblia, foram, de forma coerente, reconhecidas pelos servos de Deus, incluindo Jesus e seus apóstolos, como inspiradas. Por “inspiração” se quer dizer, não a simples elevação do intelecto e das emoções a um grau mais alto de realização, ou de sensibilidade (como não raro se diz sobre artistas ou poetas seculares), mas a produção de escritos inerrantes e que têm a mesma autoridade como se fossem escritos pelo próprio Deus. Por este motivo, os profetas que contribuíram para a escrita das Escrituras Hebraicas incessantemente atribuíam suas mensagens a Deus, com a declaração: “Assim disse Jeová”, fazendo-o mais de 300 vezes. (Is 37:33; Je 2:2; Na 1:12) Jesus e seus apóstolos citavam confiantemente as Escrituras Hebraicas como sendo a própria palavra de Deus, proferida mediante os escritores designados, portanto, como de cumprimento garantido e como a autoridade final em qualquer controvérsia. (Mt 4:4-10; 19:3-6; Lu 24:44-48; Jo 13:18; At 13:33-35; 1Co 15:3, 4; 1Pe 1:16; 2:6-9) Elas continham as “proclamações sagradas de Deus”. (Ro 3:1, 2; He 5:12) Paulo, depois de explicar, em Hebreus 1:1, que Deus falou a Israel por meio dos profetas, passa a citar vários livros das Escrituras Hebraicas, apresentando os textos como se fossem falados pessoalmente pelo próprio Jeová Deus. (He 1:5-13) Compare isso com as referências similares ao espírito santo em Atos 1:16; 28:25; Hebreus 3:7; 10:15-17.

Mostrando sua plena fé na qualidade inerrante dos Escritos Sagrados, Jesus disse que “a Escritura não pode ser anulada” (Jo 10:34, 35), e que “antes passariam o céu e a terra, do que passaria uma só letra menor ou uma só partícula duma letra da Lei sem que tudo se cumprisse”. (Mt 5:18) Ele disse aos saduceus que eles estavam errados a respeito da ressurreição, porque ‘não conheciam nem as Escrituras, nem o poder de Deus’. (Mt 22:29-32; Mr 12:24) Estava disposto a submeter-se à prisão e à própria morte por saber que isto se dava em cumprimento da escrita Palavra de Deus, as Escrituras Sagradas. — Mt 26:54; Mr 14:27, 49.

Tais declarações, por certo, aplicam-se às Escrituras Hebraicas pré-cristãs. É igualmente claro que as Escrituras Gregas Cristãs também foram apresentadas e aceitas como inspiradas (1Co 14:37; Gál 1:8, 11, 12; 1Te 2:13), pois o apóstolo Pedro, numa certa declaração, incluiu as cartas de Paulo com o restante das Escrituras. (2Pe 3:15, 16) Assim, o inteiro corpo das Escrituras constitui a unificada e harmoniosa Palavra escrita de Deus. — Ef 6:17.

A Autoridade das Cópias e das Traduções. Deve-se, portanto, atribuir à Palavra escrita de Deus a inerrância absoluta. Isto é verdade quanto aos escritos originais, dos quais, pelo que se sabe, nenhum existe hoje. As cópias desses escritos originais, e as traduções feitas em muitas línguas, não podem afirmar ser de exatidão absoluta. Contudo, há sólida evidência e firmes razões para se crer que os manuscritos disponíveis das Escrituras Sagradas de fato fornecem cópias da Palavra escrita de Deus numa forma quase que exata, tendo os pontos questionados muito pouca influência no sentido da mensagem transmitida. O objetivo do próprio Deus em preparar as Escrituras Sagradas, e a afirmação inspirada de que “a declaração de Jeová permanece para sempre”, garantem-nos que Jeová Deus preservou a integridade interna das Escrituras no decorrer dos séculos. — 1Pe 1:25.

Como se explicam as diferenças de fraseado nas citações das Escrituras Hebraicas feitas nas Escrituras Gregas Cristãs?

Em muitos casos, os escritores das Escrituras Gregas Cristãs evidentemente usaram a tradução grega Septuaginta ao citarem as Escrituras Hebraicas. Às vezes, a forma de traduzir da Septuaginta, segundo citada por eles, difere um tanto da leitura das Escrituras Hebraicas conforme é agora conhecida (a maioria das traduções hodiernas baseando-se no texto massorético hebraico, que data de cerca do décimo século da EC). Por exemplo, a citação do Salmo 40:6, feita por Paulo, contém a expressão “porém, preparaste-me um corpo”, expressão encontrada na Septuaginta. (He 10:5, 6) Os manuscritos hebraicos disponíveis do Salmo 40:6 têm, em lugar dessa expressão, as palavras “abriste-me estes ouvidos meus”. Se o texto hebraico original continha ou não a frase que se encontra na Septuaginta não se pode afirmar com certeza. Seja como for, o espírito de Deus guiou Paulo em sua citação e, por conseguinte, tais palavras gozam da autorização divina. Isto não significa que a inteira tradução Septuaginta deva ser encarada como inspirada; mas, aqueles trechos citados pelos inspirados escritores cristãos tornaram-se, deveras, parte integrante da Palavra de Deus.

Em alguns casos, as citações feitas por Paulo e outros diferem tanto do texto hebraico como do grego, conforme encontrados nos manuscritos disponíveis. As diferenças são mínimas, porém, e um exame revela que são o resultado de paráfrase, de epítome, do uso de sinônimos, ou de acréscimo de palavras ou frases explanatórias. Gênesis 2:7, por exemplo, afirma que “o homem veio a ser uma alma vivente”, ao passo que Paulo, ao citar este trecho, disse: “Até mesmo está escrito assim: ‘O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente.’” (1Co 15:45) Seu acréscimo das palavras “primeiro” e “Adão” serviu para sublinhar o contraste que ele fazia entre Adão e Cristo. A inserção estava de pleno acordo com os fatos registrados nas Escrituras, e de forma alguma pervertia o sentido ou o conteúdo do texto citado. Aqueles a quem Paulo escrevia tinham cópias (ou traduções) das Escrituras Hebraicas mais antigas do que as que temos hoje, e podiam investigar as citações feitas por ele, dum modo similar ao feito pelo povo de Bereia. (At 17:10, 11) A inclusão destes escritos no cânon das Escrituras Sagradas por parte da congregação cristã do primeiro século fornece evidência de que esta aceitava tais citações como sendo parte da inspirada Palavra de Deus. — Compare também Za 13:7 com Mt 26:31.

“Expressões Inspiradas” — Verdadeiras e Falsas. A palavra grega pneú·ma (espírito) é usada de modo especial em alguns escritos apostólicos. Em 2 Tessalonicenses 2:2, por exemplo, o apóstolo Paulo insta com seus irmãos tessalonicenses a não ficarem provocados ou abalados em sua razão “quer por uma expressão inspirada [literalmente: “espírito”], quer por intermédio duma mensagem verbal, quer por uma carta, como se fosse da nossa parte, no sentido de que o dia de Jeová está aqui”. É claro que Paulo emprega a palavra pneú·ma (espírito) em relação com os meios de comunicação, tais como a “mensagem verbal” ou a “carta”. Por este motivo, o Commentary on the Holy Scriptures (Comentário sobre as Escrituras Sagradas), de Lange (p. 126), diz sobre este texto: “Por meio disto, o Apóstolo tenciona uma sugestão espiritual, pretensa predição, declaração dum profeta.” (Traduzido e editado por P. Schaff, 1976) A obra Word Studies in the New Testament (Estudos de Palavras do Novo Testamento) de Vincent, declara: “Por espírito. Pelas declarações proféticas de indivíduos nas assembleias cristãs, que afirmassem ter a autoridade das revelações divinas.” (1957, Vol. IV, p. 63) Assim, ao passo que algumas traduções simplesmente traduzem pneú·ma neste e em outros casos similares por “espírito”, outras traduções rezam “palavra profética” (BJ; CT); “pretensa revelação” (CBC; MH; PIB); “profecia” (LR; Ne); “mensagem do Espírito” (AT); “inspiração” (D’Ostervald; Segond [francês]); “expressão inspirada” (NM).

As palavras de Paulo tornam claro que há “expressões inspiradas” verdadeiras e falsas. Ele se refere a ambos os tipos em 1 Timóteo 4:1, quando diz que “a pronunciação inspirada [pelo espírito santo de Jeová] diz definitivamente que nos períodos posteriores de tempo alguns se desviarão da fé, prestando atenção a desencaminhantes pronunciações inspiradas e a ensinos de demônios”. Isto identifica a fonte das “pronunciações inspiradas” falsas como sendo os demônios. Isto é apoiado pela visão fornecida ao apóstolo João, em que ele viu “três impuras expressões inspiradas”, semelhantes a rãs, procedentes da boca do dragão, da fera e do falso profeta, expressões estas que ele declara especificamente serem “inspiradas por demônios”, servindo para ajuntar os reis da terra para a guerra no Har-Magedon. — Re 16:13-16.

Com bom motivo, então, João instou os cristãos a ‘provarem as expressões inspiradas, para ver se se originam de Deus’. (1Jo 4:1-3; compare isso com Re 22:6.) Daí passou a mostrar que as verdadeiras expressões inspiradas por Deus vinham através da genuína congregação cristã, e não de fontes mundanas anticristãs. A declaração de João, naturalmente, foi inspirada por Jeová Deus, mas, além disso, a carta de João lançara um sólido alicerce para a seguinte declaração direta: “Quem obtiver conhecimento de Deus nos escuta; quem não se originar de Deus não nos escuta. É assim que reconhecemos a expressão inspirada da verdade e a expressão inspirada do erro.” (1Jo 4:6) Longe de ser mero dogmatismo, João mostrou que ele e outros cristãos verdadeiros manifestavam os frutos do espírito de Deus, primariamente o amor, e provavam, pela sua conduta correta e pela sua linguagem verídica, que deveras ‘andavam na luz’, em união com Deus. — 1Jo 1:5-7; 2:3-6, 9-11, 15-17, 29; 3:1, 2, 6, 9-18, 23, 24; contraste isso com Tit 1:16.