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Reino de Deus

Reino de Deus

A expressão e o exercício da soberania universal de Deus para com Suas criaturas, ou o meio ou instrumento utilizado por ele para este propósito. (Sal 103:19) Esta frase é usada especialmente para a expressão da soberania de Deus mediante um governo régio encabeçado por seu Filho, Cristo Jesus.

A palavra traduzida “reino” nas Escrituras Gregas Cristãs é ba·si·leí·a, que significa “um reino, domínio, a região ou o país governado por um rei; poder, autoridade, domínio, reinado régios; dignidade real, o título e a honra de rei”. (The Analytical Greek Lexicon [O Analítico Léxico Grego], 1908, p. 67) A frase “o reino de Deus” é empregada com frequência por Marcos e Lucas, e, no relato de Mateus, a frase paralela “o reino dos céus” aparece umas 30 vezes. — Compare Mr 10:23 e Lu 18:24 com Mt 19:23, 24; veja CÉU, I (Céus Espirituais); REINO.

O governo de Deus, em estrutura e função, é teocracia pura (do gr. the·ós, deus, e krá·tos, um governo), um governo de Deus. O termo “teocracia” é atribuído ao historiador judeu Josefo, do primeiro século EC, que evidentemente cunhou-o ao escrever seu Against Apion (Contra Apião, II, 164, 165 [17]). Concernente ao governo estabelecido sobre Israel no Sinai, Josefo escreveu: “Alguns povos confiaram o supremo poder político a monarquias, outros a oligarquias, ainda outros às massas. Nosso legislador, porém, não se deixou atrair por nenhuma de tais formas de governo, mas deu à sua constituição a forma do que — caso se permita uma expressão forçada — pode ser chamada de ‘teocracia [gr.: the·o·kra·tí·an]’, colocando toda soberania e autoridade nas mãos de Deus.” Naturalmente, para ser teocracia pura, o governo não poderia ser instituído por nenhum legislador humano, tal como o homem Moisés, mas precisaria ser instituído e estabelecido por Deus. O registro bíblico indica que foi assim que se deu.

Origem do Termo. O termo “rei” (hebr.: mé·lekh) evidentemente entrou em uso no idioma humano após o Dilúvio global. O primeiro reino terrestre foi o de Ninrode, “poderoso caçador em oposição a Jeová”. (Gên 10:8-12) Após isso, no período até o tempo de Abraão, desenvolveram-se cidades-estados e nações, e os reis humanos se multiplicaram. Com exceção do reino de Melquisedeque, rei-sacerdote de Salém (que tipificou profeticamente o Messias [Gên 14:17-20; He 7:1-17]), nenhum desses reinos terrestres representou o governo de Deus ou foi estabelecido por ele. Os homens também fizeram reis dos deuses falsos que adoravam, atribuindo-lhes a capacidade de conceder a humanos poder para reinar. A aplicação que Jeová faz a si mesmo do título “Rei [Mé·lekh]”, conforme encontrado nos escritos pós-diluvianos das Escrituras Hebraicas, significou, portanto, que Deus usou o título que os homens haviam desenvolvido e empregado. O uso desse termo por Deus indicou que ele, e não presunçosos governantes humanos ou deuses feitos pelo homem, devia ser encarado e obedecido como “Rei”. — Je 10:10-12.

Naturalmente, Jeová fora Governante Soberano muito antes de surgirem reinos humanos, de fato antes mesmo de os humanos existirem. Como verdadeiro Deus e seu Criador, ele era respeitado e obedecido por filhos angélicos que somavam milhões. (Jó 38:4-7; 2Cr 18:18; Sal 103:20-22; Da 7:10) Seja qual for o título, desde o início da criação ele foi reconhecido como Aquele cuja vontade era de direito suprema.

O Governo de Deus nos Primórdios da História Humana. As primeiras criaturas humanas, Adão e Eva, igualmente conheciam a Jeová como Deus, o Criador do céu e da terra. Reconheciam a Sua autoridade e Seu direito de expedir ordens, de exigir que pessoas executassem certos deveres ou se refreassem de certos atos, de designar terras para moradia e cultivo, bem como de delegar autoridade sobre outras de suas criaturas. (Gên 1:26-30; 2:15-17) Embora Adão tivesse a capacidade de cunhar palavras (Gên 2:19, 20), não existe evidência de que ele tivesse criado o título de “rei [mé·lekh]”, a fim de aplicá-lo ao seu Deus e Criador, embora reconhecesse a autoridade suprema de Jeová.

Conforme revelado nos capítulos iniciais de Gênesis, o exercício da soberania de Deus para com o homem no Éden era benévolo e não indevidamente restritivo. O relacionamento existente entre Deus e o homem exigia obediência, tal como a obediência que um filho presta ao seu pai. (Veja Lu 3:38.) O homem não tinha um extensivo código de leis para acatar (veja 1Ti 1:8-11); os requisitos de Deus eram simples e objetivos. Tampouco existe algo que indique que se fez com que Adão se sentisse inibido por uma supervisão constante e crítica de cada ação sua; antes, a comunicação de Deus com o homem perfeito parece ter sido periódica, segundo a necessidade. — Gên caps. 1-3.

Proposta duma nova expressão do governo de Deus. A franca violação da ordem de Deus por parte do primeiro casal humano, instigada por um dos filhos espirituais de Deus, constituiu realmente rebelião contra a autoridade divina. (Gên 3:17-19; veja ÁRVORES [Uso Figurativo].) A posição assumida pelo Adversário espiritual de Deus (hebr.: sa·tán) constituía um desafio que exigia um teste, a questão em litígio sendo a legitimidade da soberania universal de Jeová. (Veja JEOVÁ [A questão suprema é de moral].) A Terra, onde a questão foi suscitada, é apropriadamente o local onde será resolvida. — Re 12:7-12.

Na ocasião do pronunciamento do julgamento sobre os primeiros rebeldes, Jeová Deus enunciou uma profecia, expressa em fraseologia simbólica, delineando seu propósito de utilizar um instrumento, um “descendente [lit.: semente]”, para realizar o derradeiro esmagamento das forças rebeldes. (Gên 3:15) Assim, o governo de Jeová, a expressão de sua soberania, assumiria um novo aspecto ou expressão em resposta à insurreição que surgira. A revelação progressiva dos “segredos sagrados do reino” (Mt 13:11) mostrava que este novo aspecto envolvia a formação de um governo subsidiário, um corpo de governantes encabeçado por um vice-governante. A promessa da ‘semente’ tem seu cumprimento no reino de Cristo Jesus, em união com seus associados escolhidos. (Re 17:14; veja JESUS CRISTO [Seu Lugar Vital no Propósito de Deus].) Do tempo da promessa edênica em diante, o desenvolvimento progressivo do propósito de Deus de produzir esta ‘semente’ do Reino se torna o tema básico da Bíblia e a chave para o entendimento das ações de Jeová para com seus servos e para com a humanidade em geral.

Delegar Deus deste modo ampla autoridade e poder a criaturas (Mt 28:18; Re 2:26, 27; 3:21) é digno de nota visto que a questão da integridade de todas as criaturas de Deus, isto é, sua devoção de todo o coração a ele e lealdade à chefia dele, era parte vital da questão suscitada pelo Adversário de Deus. (Veja INTEGRIDADE [Envolvida na questão suprema].) Poder Deus, sem receio, confiar a criaturas suas tal autoridade e poder notáveis seria, em si mesmo, um esplêndido testemunho da força moral do seu governo, contribuindo assim para a vindicação da soberania de Jeová, e expondo a falsidade das alegações de seu adversário.

Manifestada a necessidade dum governo divino. As condições que se desenvolveram a partir do início da rebelião humana até o tempo do Dilúvio ilustraram claramente a necessidade que a humanidade tinha duma chefia divina. A sociedade humana logo teve de contender com a desunião, a agressão física e o assassinato. (Gên 4:2-9, 23, 24) Não se revela até que ponto o pecador Adão, durante seus 930 anos de vida, exerceu autoridade patriarcal sobre seus descendentes, que se multiplicavam. Mas por volta da sétima geração, chocante impiedade evidentemente existia (Ju 14, 15), e por ocasião dos dias de Noé (que nasceu uns 120 anos após a morte de Adão) as condições se haviam deteriorado ao ponto de ‘a terra vir a estar cheia de violência’. (Gên 6:1-13) O que contribuiu para essa condição foi a interferência não autorizada de criaturas espirituais na sociedade humana, contrário à vontade e ao propósito de Deus. — Gên 6:1-4; Ju 6; 2Pe 2:4, 5; veja NEFILINS.

Embora a Terra se tornasse um foco de rebelião, Jeová não renunciou ao Seu domínio sobre ela. O Dilúvio global evidenciou que Deus ainda tinha o poder e a capacidade de fazer vigorar Sua vontade na Terra, assim como em qualquer outra parte do universo. Durante o período antediluviano, Ele igualmente demonstrou sua disposição de guiar e governar as ações daqueles que o buscavam, tais como Abel, Enoque e Noé. O caso de Noé, em especial, ilustra o exercício do governo de Deus para com um súdito terrestre disposto, dando-lhe ordens e orientações, protegendo-o e abençoando-o, bem como a família dele, além de evidenciar o controle de Deus sobre as demais criações terrestres: os animais e as aves. (Gên 6:9–7:16) Jeová deixou igualmente claro que não permitiria que a sociedade humana alienada corrompesse infindavelmente a terra; que ele não se havia restringido de executar seu julgamento justo contra os malfeitores quando e como Ele achasse apropriado. Além disso, demonstrou sua habilidade soberana de controlar os diversos elementos da Terra, inclusive sua atmosfera. — Gên 6:3, 5-7; 7:17–8:22.

A primitiva sociedade pós-diluviana e seus problemas. Após o Dilúvio, o arranjo patriarcal evidentemente constituía a estrutura básica da sociedade humana, proporcionando certa medida de estabilidade e ordem. A humanidade devia ‘encher a Terra’, o que exigia, não só a procriação, mas a contínua expansão da área de habitação humana em todo o globo. (Gên 9:1, 7) Tais fatores, em si, teriam razoavelmente um efeito limitador sobre quaisquer problemas sociais, mantendo-os, em geral, dentro do círculo familiar, e tornando improvável a fricção que com frequência ocorre quando há grande densidade demográfica ou condições apinhadas. O projeto não autorizado de Babel, contudo, exigia um procedimento inverso, uma concentração de pessoas, evitando-se que fossem ‘espalhadas por toda a superfície da terra’. (Gên 11:1-4; veja IDIOMA, LÍNGUA.) Daí, também, Ninrode desviou-se do governo patriarcal e estabeleceu o primeiro “reino” (hebr.: mam·la·kháh). Sendo cusita da linhagem familiar de Cã, ele invadiu território semita, a terra de Assur (Assíria), e construiu ali cidades como parte do seu domínio. — Gên 10:8-12.

A confusão da linguagem humana, que Deus causou, desfez a concentração de pessoas nas planícies de Sinear, mas o padrão de governo iniciado por Ninrode foi geralmente seguido nas terras para onde migraram as várias famílias da humanidade. Nos dias de Abraão (2018-1843 AEC), havia reinos ativos desde a Mesopotâmia asiática até o Egito, onde o rei se intitulava “Faraó”, em vez de Mé·lekh. Mas tais realezas não produziram segurança. Logo os reis formavam alianças militares, empreendendo extensivas campanhas de agressão, saque e rapto. (Gên 14:1-12) Em algumas cidades, os estranhos ficavam sujeitos a ser atacados por homossexuais. — Gên 19:4-9.

Assim, ao passo que os homens sem dúvida se juntavam em comunidades concentradas em busca de segurança (veja Gên 4:14-17), logo acharam necessário murar suas cidades, e, por fim, fortificá-las contra ataques armados. Os mais antigos registros seculares de que se tem conhecimento, muitos deles da região mesopotâmica, onde originalmente operara o reino de Ninrode, estão repletos de narrativas de conflitos, ganância, intriga e derramamento de sangue entre humanos. Os mais antigos registros não bíblicos de leis encontrados, tais como os de Lipit-Ishtar, Eshnunna e Hamurábi, indicam que a vida humana se tornara bem complexa, o atrito social produzindo problemas de roubo, fraude, dificuldades comerciais, disputas de propriedade e pagamento de aluguel, questões concernentes a empréstimos e juros, infidelidade marital, honorários e fracassos médicos, casos de lesão corporal, e muitos outros assuntos. Embora Hamurábi se intitulasse “o rei eficiente” e “o rei perfeito”, seu governo e legislação, igual ao de outros antigos reinos políticos, foi incapaz de solucionar os problemas da humanidade pecaminosa. (Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], editado por J. B. Pritchard, 1974, pp. 159-180; veja Pr 28:5.) Em todos esses reinos destacava-se a religião, mas não a adoração do verdadeiro Deus. Embora o sacerdócio colaborasse de perto com a classe governante e desfrutasse do favor real, isso não resultou na melhora da moral do povo. As inscrições cuneiformes dos antigos escritos religiosos são destituídos de enaltecimento espiritual ou orientação moral; revelam os deuses adorados como briguentos, violentos, lascivos, não governados por normas ou objetivos justos. Os homens necessitavam do reino de Jeová Deus para poderem usufruir a vida em paz e felicidade.

Para com Abraão e Seus Descendentes. É verdade que aqueles que se voltavam para Jeová Deus como seu Cabeça não deixavam de ter seus problemas e atritos pessoais. Todavia, eram ajudados a resolvê-los ou a suportá-los em harmonia com os padrões justos de Deus, e sem ficar degradados. Foi-lhes concedido proteção e força divinas. (Gên 13:5-11; 14:18-24; 19:15-24; 21:9-13, 22-33) Assim, depois de salientar que as “decisões judiciais [de Jeová] estão em toda a terra”, o salmista diz a respeito de Abraão, Isaque e Jacó: “Vieram a ser poucos em número, sim, muito poucos, e residentes forasteiros [em Canaã]. E andavam de nação em nação, de um reino a outro povo. [Jeová] não permitiu que algum homem os defraudasse, mas por causa deles repreendeu reis, dizendo: ‘Não toqueis nos meus ungidos e não façais nada de mal aos meus profetas.’” (Sal 105:7-15; compare isso com Gên 12:10-20; 20:1-18; 31:22-24, 36-55.) Isto também constituía prova de que a soberania de Deus sobre a terra ainda vigorava, executável por ele em harmonia com o desenrolar de seu propósito.

Os fiéis patriarcas não se vincularam a nenhuma das cidades-estados ou reinos de Canaã, ou de outras terras. Em vez de buscarem segurança em alguma cidade sob o governo político dum rei humano, eles moravam em tendas como estrangeiros, “estranhos e residentes temporários no país”, em fé ‘aguardando a cidade que tem verdadeiros alicerces, cujo construtor e fazedor é Deus’. Aceitavam a Deus como seu Governante, aguardavam seu futuro arranjo ou instrumento celestial para governar a terra, solidamente alicerçado em Sua autoridade e vontade soberanas, embora a realização desta esperança estivesse então bem “longe”. (He 11:8-10, 13-16) Assim, Jesus, já ungido por Deus para ser rei, podia dizer mais tarde: “Abraão . . . alegrou-se grandemente na perspectiva de ver o meu dia, e ele o viu e se alegrou.” — Jo 8:56.

Jeová deu mais um passo no desenvolvimento de sua promessa a respeito da ‘semente’ do Reino (Gên 3:15), por firmar um pacto com Abraão. (Gên 12:1-3; 22:15-18) Relacionado com isso, ele predisse que ‘reinos procederiam’ de Abraão (Abrão) e sua esposa. (Gên 17:1-6, 15, 16) Embora os descendentes de Esaú, neto de Abraão, formassem principados de xeques e reinos, foi ao outro neto de Abraão, Jacó, que a promessa profética de Deus sobre descendentes régios foi repetida. — Gên 35:11, 12; 36:9, 15-43.

A formação da nação israelita. Séculos mais tarde, no tempo devido (Gên 15:13-16), Jeová Deus agiu em favor dos descendentes de Jacó, que então somavam milhões (veja ÊXODO [O Número Envolvido no Êxodo]), protegendo-os durante uma campanha de genocídio promovida pelo governo egípcio (Êx 1:15-22), e, por fim, libertando-os da dura escravidão ao regime do Egito. (Êx 2:23-25) A ordem de Deus a Faraó, transmitida por meio de seus representantes Moisés e Arão, foi desprezada pelo governante egípcio como se emanasse duma fonte sem nenhuma autoridade sobre os assuntos egípcios. A repetida recusa de Faraó, de reconhecer a soberania de Jeová, resultou em demonstrações do poder divino em forma de pragas. (Êx 7 a 12) Dessa forma, Deus provou que seu domínio sobre os elementos e as criaturas da Terra era superior ao de qualquer rei em toda a Terra. (Êx 9:13-16) Ele culminou esta demonstração de poder soberano destruindo as forças de Faraó de forma tal que nenhum dos jactanciosos reis guerreiros das nações jamais poderia repetir. (Êx 14:26-31) Foi com reais motivos que Moisés e os israelitas cantaram: “Jeová reinará por tempo indefinido, para todo o sempre.” — Êx 15:1-19.

Depois disso, Jeová forneceu prova adicional do seu domínio sobre a Terra, as vitais reservas de água e as aves existentes, e mostrou sua capacidade de guardar e sustentar sua nação, mesmo em ambientes áridos e hostis. (Êx 15:22–17:15) Tendo feito tudo isto, ele disse ao povo libertado que, por obediência à Sua autoridade e ao Seu pacto, eles poderiam tornar-se sua propriedade especial dentre todos os demais povos, “pois minha é toda a terra”. Poderiam tornar-se “um reino de sacerdotes e uma nação santa”. (Êx 19:3-6) Quando declararam publicamente ser súditos dispostos de Sua soberania, Jeová atuou qual Legislador Régio dando-lhes decretos reais num grande conjunto de leis, junto com evidência dinâmica e atemorizante de Seu poder e glória. (Êx 19:7–24:18) Um tabernáculo, ou tenda de reunião, e em especial a Arca do Pacto, deviam simbolizar a presença do invisível Chefe de Estado celestial. (Êx 25:8, 21, 22; 33:7-11; compare isso com Re 21:3.) Embora Moisés e outros homens designados julgassem a maioria dos casos, guiados pela Lei de Deus, às vezes Jeová intervinha pessoalmente para expressar julgamentos e aplicar sanções contra os violadores da lei. (Êx 18:13-16, 24-26; 32:25-35) O sacerdócio ordenado atuava para manter boas relações entre a nação e seu Governante celestial, ajudando o povo em seus esforços de enquadrar-se nos elevados padrões do pacto da Lei. (Veja SACERDOTE.) Assim, o governo sobre Israel era uma genuína teocracia. — De 33:2, 5.

Como Deus e Criador, tendo o direito do “domínio eminente” sobre toda a terra, sendo também “o Juiz de toda a terra” (Gên 18:25), Jeová designara a terra de Canaã à semente de Abraão. (Gên 12:5-7; 15:17-21) Como o Executivo Principal, ordenou então que os israelitas executassem a desapropriação compulsória do território ocupado pelos condenados cananeus, bem como a sentença de morte que Ele pronunciara contra estes. — De 9:1-5; veja CANAÃ, CANANEU N.º 2 (Conquista de Canaã por Israel).

O período dos juízes. Durante três séculos e meio após a conquista dos muitos reinos de Canaã por Israel, Jeová Deus era o único rei desta nação. Durante períodos variáveis, juízes escolhidos por Deus conduziram a nação, ou partes dela, na batalha e na paz. A derrota de Midiã pelo juiz Gideão resultou numa solicitação popular para que ele se tornasse o governante daquela nação, mas ele se recusou, reconhecendo a Jeová como o verdadeiro governante. (Jz 8:22, 23) Abimeleque, o ambicioso filho dele, estabeleceu brevemente a realeza sobre pequeno segmento da nação, mas isto acabou em desastre para ele. — Jz 9:1, 6, 22, 53-56.

Faz-se o seguinte comentário sobre esse período geral dos juízes: “Naqueles dias não havia rei em Israel. No que se referia a cada um, fazia o que era direito aos seus próprios olhos.” (Jz 17:6; 21:25) Isto não quer dizer que não houvesse restrição judicial alguma. Toda cidade tinha juízes, anciãos, para tratar de questões e problemas legais, e para executar a justiça. (De 16:18-20; veja TRIBUNAL DE JUSTIÇA.) O sacerdócio levítico funcionava como força orientadora superior, instruindo o povo na lei de Deus, sendo que o sumo sacerdote possuía o Urim e o Tumim para por meio deles consultar a Deus no caso de assuntos difíceis. (Veja SACERDOTE; SUMO SACERDOTE; URIM E TUMIM.) Portanto, a pessoa que se aproveitava de tais provisões, que adquiria conhecimento da lei de Deus e a aplicava, possuía um sólido guia para sua consciência. Fazer ela “o que era direito aos seus próprios olhos”, nesse caso não resultava em mal. Jeová permitiu que o povo manifestasse uma atitude e um proceder quer disposto, quer de má vontade. Não havia nenhum monarca humano sobre a nação, supervisionando o trabalho dos juízes das cidades ou ordenando os cidadãos a empenhar-se em projetos específicos, ou organizando-os para defender a nação. (Veja Jz 5:1-18.) Portanto, as más condições que se desenvolveram eram atribuíveis à relutância por parte da maioria em acatar a palavra e a lei de seu Rei celestial, e em aproveitar-se de Suas provisões. — Jz 2:11-23.

Solicitado um Rei Humano. Aproximadamente 400 anos a contar do tempo do Êxodo, e mais de 800 anos após o pacto de Deus com Abraão, os israelitas solicitaram um rei humano para os liderar, assim como as outras nações tinham monarcas humanos. A solicitação deles constituía uma rejeição do próprio reinado de Jeová sobre eles. (1Sa 8:4-8) É verdade que o povo esperava corretamente que Deus estabelecesse um reino, em conformidade com Sua promessa a Abraão e a Jacó, já citada. Tinham base adicional para tal esperança na profecia de Jacó, no leito de morte, concernente a Judá (Gên 49:8-10), nas palavras de Jeová a Israel após o Êxodo (Êx 19:3-6), nos termos do pacto da Lei (De 17:14, 15), e até mesmo em parte da mensagem que Deus induziu o profeta Balaão a proferir (Núm 24:2-7, 17). Ana, a fiel mãe de Samuel, expressou em oração esta esperança. (1Sa 2:7-10) Todavia, Jeová não revelara plenamente seu “segredo sagrado” no tocante ao Reino, não havia indicado quando chegaria Seu tempo devido para o estabelecimento do Reino, ou qual seria a estrutura e a composição desse governo — se seria terrestre ou celestial. Por conseguinte, foi presunçoso da parte do povo, naquela ocasião, exigir um rei humano.

A ameaça de agressão por parte dos filisteus e dos amonitas evidentemente contribuiu para os israelitas desejarem ter um comandante-chefe régio, visível. Mostraram assim falta de fé na capacidade de Deus protegê-los, guiá-los e fazer-lhes provisões, como nação ou individualmente. (1Sa 8:4-8) A motivação do povo era errada; todavia, Jeová Deus atendeu-lhes o pedido, não primariamente por causa deles, mas para realizar o seu próprio bom propósito na revelação progressiva do “segredo sagrado” de seu futuro Reino, por meio da ‘semente’. O reinado humano, porém, traria seus próprios problemas e seus custos para Israel, e Jeová expôs os fatos ao povo. — 1Sa 8:9-22.

Os reis nomeados depois por Jeová deviam atuar como instrumentos terrestres de Deus, não diminuindo, no mínimo que fosse, a soberania do próprio Jeová sobre a nação. Na verdade, o trono era de Jeová, e eles se sentavam nele como reis representantes. (1Cr 29:23) Jeová orientou a unção do primeiro rei, Saul (1Sa 9:15-17), e ao mesmo tempo expôs a falta de fé que a nação havia demonstrado. — 1Sa 10:17-25.

Para que o reinado produzisse benefícios, tanto o rei como a nação precisavam então respeitar a autoridade de Deus. Caso recorressem irrealisticamente a outras fontes de orientação e proteção, eles e seu rei seriam exterminados. (De 28:36; 1Sa 12:13-15, 20-25) O rei devia evitar confiar na força militar, evitar multiplicar esposas para si, e evitar ser dominado pela cobiça de riquezas. Seu reinado devia operar inteiramente dentro da estrutura do pacto da Lei. Ele tinha ordens divinas de fazer para si, a próprio punho, uma cópia da Lei e lê-la diariamente, a fim de manter o devido temor da Autoridade Soberana, permanecer humilde e se apegar a um proceder justo. (De 17:16-20) Ao ponto em que ele fizesse isso, amando a Deus de todo o coração e amando ao próximo como a si mesmo, seu governo produziria bênçãos, sem verdadeira causa para queixa devido a opressão ou dificuldades. Mas, assim como no caso do povo, o mesmo se deu então com os reis: Jeová permitiu que os governantes manifestassem o que tinham no coração, a disposição ou a relutância em reconhecer a autoridade e a vontade do próprio Deus.

O Governo Exemplar de Davi. O desrespeito do benjamita Saul pela autoridade superior e pelos arranjos da “Excelência de Israel” resultou no desfavor divino e custou à sua linhagem familiar o trono. (1Sa 13:10-14; 15:17-29; 1Cr 10:13, 14) Com a regência do sucessor de Saul, Davi, de Judá, a profecia de Jacó no leito de morte teve um cumprimento adicional. (Gên 49:8-10) Embora Davi cometesse erros devido à fraqueza humana, seu governo foi exemplar devido à sua devoção de coração a Jeová Deus, e à sua humilde submissão à autoridade divina. (Sal 51:1-4; 1Sa 24:10-14; compare isso com 1Rs 11:4; 15:11, 14.) Por ocasião do recebimento das contribuições para a construção do templo, Davi orou a Deus perante o povo congregado, dizendo: “Tuas, ó Jeová, são a grandeza, e a potência, e a beleza, e a excelência, e a dignidade; pois teu é tudo nos céus e na terra. Teu é o reino, ó Jeová, que te ergues como cabeça sobre todos. As riquezas e a glória existem por tua causa e tu dominas sobre tudo; e na tua mão há poder e potência, e na tua mão há a capacidade para engrandecer e para dar força a todos. E agora, ó nosso Deus, te agradecemos e louvamos o teu belo nome.” (1Cr 29:10-13) Seu último conselho ao filho Salomão também ilustra o excelente conceito que Davi tinha sobre a relação entre o reinado terrestre e sua Fonte divina. — 1Rs 2:1-4.

Na ocasião de se trazer a Arca do Pacto, associada com a presença de Jeová, para a capital, Jerusalém, Davi entoou: “Alegrem-se os céus, e jubile a terra, e digam entre as nações: ‘O próprio Jeová se tornou rei!’” (1Cr 16:1, 7, 23-31) Isto ilustra que, embora o governo de Jeová date do início da criação, ele pode fazer expressões específicas de seu governo ou estabelecer certas agências para representá-Lo, que permitam que Ele seja mencionado como ‘tornando-se rei’ em determinada época ou ocasião.

O pacto para um reino. Jeová fez com Davi um pacto para um reino a ser estabelecido eternamente na sua linhagem familiar, dizendo: “Hei de suscitar o teu descendente depois de ti, . . . e deveras estabelecerei firmemente o seu reino. . . . E tua casa e teu reino hão de ficar firmes por tempo indefinido diante de ti; teu próprio trono ficará firmemente estabelecido por tempo indefinido.” (2Sa 7:12-16; 1Cr 17:11-14) Este pacto, que vigorava para com a dinastia davídica, fornecia evidência adicional do desenrolar da promessa edênica de Deus para o seu Reino por meio da predita ‘semente’ (Gên 3:15), e fornecia outro meio para a identificação daquela ‘semente’, quando ela viesse. (Veja Is 9:6, 7; 1 Pe 1:11.) Os reis nomeados por Deus eram ungidos para o seu cargo, assim, o termo “messias”, que significa “ungido”, aplicava-se a eles. (1Sa 16:1; Sal 132:13, 17) É evidente, então, que o reino terrestre que Jeová estabeleceu sobre Israel servia como tipo ou representação em pequena escala do vindouro Reino do Messias, Jesus Cristo, “filho de Davi”. — Mt 1:1.

Declínio e Queda dos Reinos Israelitas. Por deixarem de aderir aos caminhos justos de Jeová, as condições prevalecentes no fim de apenas três reinados e no começo do quarto produziram forte descontentamento que levou à revolta e a uma divisão da nação (997 AEC). O resultado foi um reino setentrional e um reino meridional. Entrementes, o pacto de Jeová com Davi continuava em vigor para com os reis do reino meridional de Judá. No decorrer dos séculos, foram raros os reis fiéis em Judá, e inexistiram por completo no reino setentrional de Israel. A história do reino setentrional foi de idolatria, intriga e assassínios, os reis muitas vezes se sucedendo um ao outro em intervalos bem pequenos. O povo sofria injustiça e opressão. Uns 250 anos depois do seu início, Jeová permitiu que o rei da Assíria esmagasse o reino setentrional (740 AEC), devido a seu proceder de rebelião contra Deus. — Os 4:1, 2; Am 2:6-8.

Embora o reino de Judá gozasse de maior estabilidade, graças à dinastia de Davi, por fim o reino meridional ultrapassou em corrupção moral o reino setentrional, apesar dos esforços de reis tementes a Deus, tais como Ezequias e Josias, de inverter o declínio para a idolatria e a rejeição da palavra e da autoridade de Jeová. (Is 1:1-4; Ez 23:1-4, 11) A injustiça social, a tirania, a ganância, a desonestidade, os subornos, a perversão sexual, os ataques criminosos e o derramamento de sangue, bem como a hipocrisia religiosa que transformava o templo de Deus num “covil de salteadores” — era contra tudo isso que clamavam os profetas de Jeová em suas mensagens de aviso dirigidas aos governantes e ao povo. (Is 1:15-17, 21-23; 3:14, 15; Je 5:1, 2, 7, 8, 26-28, 31; 6:6, 7; 7:8-11) Nem o apoio dos sacerdotes apóstatas, nem qualquer aliança política feita com outras nações, podiam evitar o vindouro colapso daquele reino infiel. (Je 6:13-15; 37:7-10) A capital, Jerusalém, foi destruída e Judá foi desolada pelos babilônios em 607 AEC. — 2Rs 25:1-26.

A posição régia de Jeová permanece imperturbável. A destruição dos reinos de Israel e de Judá de forma alguma refletiu na qualidade da regência do próprio Jeová Deus; de forma alguma indicava fraqueza de sua parte. No decorrer de toda a história da nação israelita, Jeová deixou claro que Seu interesse era no serviço e na obediência voluntários. (De 10:12-21; 30:6, 15-20; Is 1:18-20; Ez 18:25-32) Ele os instruiu, repreendeu, disciplinou, avisou e puniu. Mas não utilizou Seu poder para obrigar quer o rei, quer o povo, a seguir um proceder justo. As condições ruins que se desenvolveram, os sofrimentos que passaram, o desastre que lhes sobreveio, tudo fora causado por eles mesmos, por obstinadamente endurecerem o coração e insistirem em seguir um proceder independente, um proceder que era tolamente prejudicial aos seus melhores interesses. — La 1:8, 9; Ne 9:26-31, 34-37; Is 1:2-7; Je 8:5-9; Os 7:10, 11.

Jeová demonstrou seu poder soberano mantendo sob restrição as potências agressivas e rapinantes da Assíria e de Babilônia até o Seu próprio tempo devido, até mesmo manobrando-as de modo a atuarem em cumprimento de Suas profecias. (Ez 21:18-23; Is 10:5-7) Quando Jeová, por fim, removeu sua proteção daquela nação, isso foi uma expressão de Seu julgamento justo qual Governante Soberano. (Je 35:17) A desolação de Israel e de Judá não foi uma surpresa chocante para os servos obedientes de Deus, pois tinham sido avisados de antemão por Suas profecias. O rebaixamento dos governantes orgulhosos exaltou a própria “esplêndida superioridade” de Jeová. (Is 2:1, 10-17) Mais do que tudo isso, porém, ele demonstrara Sua capacidade de proteger e preservar pessoas que se voltavam para ele como seu Rei, mesmo quando estes estavam cercados por condições de fome, doença e desenfreada matança, bem como quando eram perseguidos por aqueles que odiavam a justiça. — Je 34:17-21; 20:10, 11; 35:18, 19; 36:26; 37:18-21; 38:7-13; 39:11–40:5.

O último rei de Israel foi avisado da vindoura remoção de sua coroa, que representava o reinado ungido como representante régio de Jeová. Esse reinado davídico ungido não mais seria exercido ‘até que viesse aquele que tem o direito legal, e a ele é que Jeová teria de dá-lo’. (Ez 21:25-27) Assim, o reino típico, então em ruínas, deixou de operar, e as atenções se dirigiram novamente para o futuro, para a vindoura ‘semente’, o Messias.

Nações políticas, tais como a Assíria e Babilônia, devastaram os reinos apóstatas de Israel e Judá. Embora Deus fale de si mesmo como ‘suscitando’ ou ‘trazendo’ a estes contra aqueles reinos condenados (De 28:49; Je 5:15; 25:8, 9; Ez 7:24; Am 6:14), isto evidentemente se deu de forma similar ao modo em que Deus ‘endureceu’ o coração do Faraó. (Veja PRESCIÊNCIA, PREDETERMINAÇÃO [Com relação a pessoas].) Isto é, Deus ‘trouxe’ tais forças atacantes por permitir que realizassem o desejo já existente em seu coração (Is 10:7; La 2:16; Miq 4:11), removendo sua ‘mão’ protetora dos objetos de sua ganância ambiciosa. (De 31:17, 18; compare Esd 8:31 com Esd 5:12; Ne 9:28-31; Je 34:2.) Por os israelitas apóstatas se recusarem obstinadamente a sujeitar-se à lei e à vontade de Jeová, foi-lhes assim proclamada ‘liberdade para a espada, a pestilência, e a fome’. (Je 34:17) Mas as nações pagãs atacantes não se tornaram por isso aprovadas por Deus, tampouco tinham ‘mãos limpas’ perante ele ao destruírem cruelmente os reinos setentrional e meridional, a capital Jerusalém, e seu templo sagrado. Por esta razão, Jeová, o Juiz de toda a terra, podia corretamente denunciá-las por ‘rapinarem sua herança’ e podia condená-las a sofrer a mesma desolação que elas haviam infligido ao seu povo pactuado. — Is 10:12-14; 13:1, 17-22; 14:4-6, 12-14, 26, 27; 47:5-11; Je 50:11, 14, 17-19, 23-29.

As Visões do Reino de Deus nos Dias de Daniel. A profecia de Daniel, em sua inteireza, sublinha de maneira enfática o tema da Soberania Universal de Deus, esclarecendo ainda mais o propósito de Jeová. Vivendo em exílio na capital da potência mundial que derrubou Judá, Daniel foi usado por Deus para revelar o significado duma visão tida pelo monarca babilônio, uma visão que predisse a marcha das potências mundiais e sua derradeira demolição por parte do Reino eterno estabelecido pelo próprio Jeová. Sem dúvida, para a surpresa de sua corte real, Nabucodonosor, o próprio conquistador de Jerusalém, viu-se então induzido a prostrar-se em homenagem a Daniel, o exilado, e a reconhecer o Deus de Daniel como “Senhor de reis”. (Da 2:36-47) Novamente, através da visão do sonho de Nabucodonosor sobre a ‘árvore derrubada’, Jeová deu a conhecer de modo enfático que “o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde da humanidade”. (Da 4; veja a consideração desta visão sob TEMPOS DESIGNADOS DAS NAÇÕES.) Através do cumprimento do sonho, conforme se relacionava com ele, o governante imperial Nabucodonosor mais uma vez foi levado a reconhecer o Deus de Daniel como “o Rei dos céus”, Aquele que “age segundo a sua própria vontade entre o exército dos céus e os habitantes da Terra. E não há quem lhe possa deter a mão ou quem lhe possa dizer: ‘Que estás fazendo?’” — Da 4:34-37.

Perto do fim do domínio internacional de Babilônia, Daniel teve visões proféticas de impérios sucessivos, de características animalescas, viu também a majestosa Corte celestial de Jeová em sessão, julgando as potências mundiais, decretando que eram indignas de governar; e viu “alguém semelhante a um filho de homem . . . [sendo-lhe] dado domínio, e dignidade, e um reino, para que todos os povos, grupos nacionais e línguas o servissem” em seu “domínio de duração indefinida, que não passará”. Presenciou também a guerra travada contra os “santos” pela última potência mundial, o que exigia a aniquilação desta, e a entrega do “reino, e o domínio, e a grandiosidade dos reinos debaixo de todos os céus . . . ao povo que são os santos do Supremo”, Jeová Deus. (Da 7, 8) Assim, tornou-se evidente que a ‘semente’ prometida envolveria um corpo governamental, não só com um cabeça régio, o “filho do homem”, mas também governantes associados, os “santos do Supremo”.

Para com a Babilônia e a Medo-Pérsia. O decreto inexorável de Deus contra a poderosa Babilônia foi executado repentina e inesperadamente; os dias dela foram contados e chegaram ao fim. (Da 5:17-30) Durante a regência medo-persa que se seguiu, Jeová revelou ainda mais a respeito do Reino messiânico, apontando o tempo do aparecimento do Messias, predizendo seu ‘decepamento’ na morte, bem como uma segunda destruição da cidade de Jerusalém e de seu lugar santo. (Da 9:1, 24-27; veja SETENTA SEMANAS.) E, assim como tinha feito durante a regência babilônica, Jeová Deus demonstrou novamente sua capacidade de proteger os que reconhecem Sua soberania em face da ira oficial e da ameaça de morte, demonstrando seu poder tanto sobre os elementos terrestres como sobre os animais selvagens. (Da 3:13-29; 6:12-27) Ele fez com que os portões de Babilônia se abrissem completamente, conforme programado, permitindo que seu povo pactuado tivesse a liberdade de retornar à sua própria terra e reconstruir Jerusalém e a casa de Jeová ali. (2Cr 36:20-23) Graças a seu ato de libertação de seu povo, podia-se fazer o anúncio a Sião: “Teu Deus tornou-se rei!” (Is 52:7-11) Depois disso, frustraram-se as conspirações tramadas contra Seu povo, venceram-se as acusações falsas apresentadas por oficiais subordinados e os decretos governamentais adversos, à medida que Jeová induzia vários reis persas a cooperar na execução de Sua própria vontade soberana. — Esd 4-7; Ne 2, 4, 6; Est 3-9.

Assim, por milhares de anos, o propósito imutável e irresistível de Jeová Deus avançou. Independentemente de qual fosse o desenrolar dos eventos na Terra, Ele mostrou sempre estar no comando da situação, sempre à frente do homem e do diabo opositores. Não permitia que nada interferisse no perfeito desenrolar de seu propósito, de sua vontade. A nação de Israel e sua história, ao passo que serviam para constituir tipos e previsões proféticos do modo como Deus lidaria com os homens no futuro, também ilustravam que, sem o reconhecimento e a submissão de todo coração à chefia divina, não pode haver harmonia, paz e felicidade duradouras. Os israelitas usufruíam os benefícios de ter em comum coisas tais como a ancestralidade, a língua e o país. Também enfrentavam inimigos comuns. Mas somente enquanto eles adoravam e serviam leal e fielmente a Jeová Deus é que gozavam de união, força, justiça e genuíno usufruto da vida. Quando os vínculos de sua relação com Jeová Deus se enfraqueciam, a nação se deteriorava rapidamente.

O Reino de Deus ‘Se Aproxima’. Visto que o Messias havia de ser descendente de Abraão, Isaque e Jacó, e membro da tribo de Judá, e “filho de Davi”, tinha de ter um nascimento humano; tinha de ser, como declarou a profecia de Daniel, “um filho de homem”. Quando chegou o “pleno limite do tempo”, Jeová Deus enviou Seu Filho, que nasceu duma mulher e cumpriu todas as exigências legais para herdar “o trono de Davi, seu pai”. (Gál 4:4; Lu 1:26-33; veja GENEALOGIA DE JESUS CRISTO.) Seis meses antes de seu nascimento, nasceu João, que se tornou o Batizador, e que seria o precursor de Jesus. (Lu 1:13-17, 36) As expressões feitas pelos pais destes filhos mostravam que eles tinham a viva expectativa de atos divinos de governo. (Lu 1:41-55, 68-79) Quando Jesus nasceu, as palavras da delegação angélica enviada para anunciar o significado daquele evento também indicavam atos gloriosos da parte de Deus. (Lu 2:9-14) Assim, também, as palavras de Simeão e de Ana, no templo, expressaram esperança nos atos salvadores e na libertação. (Lu 2:25-38) A evidência tanto bíblica como secular revelam que prevalecia um sentimento geral de expectativa entre os judeus, de que se aproximava a vinda do Messias. Para muitos, contudo, o interesse focalizava primariamente obter a liberdade do pesado jugo da dominação romana. — Veja MESSIAS.

A comissão de João era ‘fazer o coração das pessoas retornar’ a Jeová, para seus pactos, para o ‘privilégio de lhe prestarem destemidamente serviço sagrado, com lealdade e justiça’, aprontando assim para Jeová “um povo preparado”. (Lu 1:16, 17, 72-75) Ele mencionou ao povo, em termos nada incertos, que eles confrontavam uma época de julgamento da parte de Deus, que ‘o reino dos céus se tinha aproximado’, tornando urgente que se desviassem, arrependidos de seu proceder de desobediência à vontade e à lei de Deus. Isto de novo destacava a norma de Jeová de só ter súditos dispostos, pessoas que tanto reconhecem como apreciam a justeza de Seus caminhos e de Suas leis. — Mt 3:1, 2, 7-12.

O Messias veio quando Jesus se apresentou a João para o batismo, e foi então ungido pelo espírito santo de Deus. (Mt 3:13-17) Desta forma, ele se tornou o Rei-Designado, Aquele que era reconhecido pela Corte de Jeová como tendo o direito legal ao trono davídico, direito este que não havia sido exercido nos seis séculos precedentes. (Veja JESUS CRISTO [Seu Batismo].) Jeová, porém, introduziu adicionalmente este Filho aprovado num pacto para um Reino celestial, no qual Jesus seria tanto Rei como Sacerdote, como fora Melquisedeque, da antiga Salém. (Sal 110:1-4; Lu 22:29; He 5:4-6; 7:1-3; 8:1; veja PACTO.) Como a prometida ‘semente de Abraão’, este Rei-Sacerdote celestial seria o Agente Principal de Deus para abençoar pessoas de todas as nações. — Gên 22:15-18; Gál 3:14; At 3:15.

No início da vida terrestre de seu Filho, Jeová manifestara seu poder régio a favor de Jesus. Deus desviou os astrólogos orientais que iriam informar o tirânico Rei Herodes do paradeiro da criancinha, e induziu os pais de Jesus a fugir para o Egito antes que os agentes de Herodes realizassem o massacre de crianças em Belém. (Mt 2:1-16) Uma vez que a profecia original no Éden predissera uma inimizade entre a ‘semente’ prometida e a ‘semente da serpente’, este atentado à vida de Jesus só podia significar que o Adversário de Deus, Satanás, o Diabo, tentava, embora inutilmente, frustrar o propósito de Jeová. — Gên 3:15.

Depois de cerca de 40 dias no ermo de Judá, o batizado Jesus viu-se confrontado com Satanás, o Diabo, o principal oponente da soberania de Jeová. Por algum meio, este Adversário espiritual transmitiu a Jesus certas sugestões sutis que visavam induzi-lo a cometer atos que violariam a vontade e a palavra expressas de Jeová. Satanás chegou até a oferecer ao ungido Jesus o domínio sobre todos os reinos terrestres, sem luta e sem nenhuma necessidade de sofrimento da parte de Jesus — em troca de um único ato de adoração para com ele mesmo. Quando Jesus se recusou, reconhecendo a Jeová como o único e verdadeiro Soberano de quem a autoridade emana corretamente, e para quem deve ser prestada a adoração, o Adversário de Deus passou a planejar outras estratégias de guerra contra o Representante de Jeová, recorrendo ao emprego de agentes humanos de vários modos, assim como fizera muito tempo antes no caso de Jó. — Jó 1:8-18; Mt 4:1-11; Lu 4:1-13; compare isso com Re 13:1, 2.

Em que sentido estava o Reino de Deus ‘no meio’ daqueles a quem Jesus pregava?

Jesus, confiando no poder de Jeová de protegê-lo e de lhe conceder êxito, empreendeu seu ministério público, anunciando ao povo pactuado de Jeová que “tem-se cumprido o tempo designado”, resultando na aproximação do Reino de Deus. (Mr 1:14, 15) Para se determinar em que sentido o Reino estava ‘próximo’, podem-se observar as palavras dele a certos fariseus, a saber, de que “o reino de Deus está no vosso meio”. (Lu 17:21) Comentando este texto, The Interpreter’s Dictionary of the Bible (O Dicionário Bíblico do Intérprete) observa: “Embora citada com frequência como exemplo do ‘misticismo’ ou da ‘introversão’ de Jesus, tal interpretação se respalda principalmente na velha tradução, ‘em vós’ [KJ, Dy] entendida no infeliz sentido moderno do pronome ‘you’ como singular [‘ti’]; o pronome ‘you’ ([hy·món; ‘vós’]) é plural (Jesus está se dirigindo aos fariseus — v 20), . . . A teoria de que o reino de Deus é uma condição interior da mente, ou de salvação pessoal, colide com o contexto deste versículo, e também com a inteira apresentação do NT sobre a ideia.” (Editado por G. A. Buttrick, 1962, Vol. 2, p. 883) Uma vez que “reino [ba·si·leí·a]” pode referir-se à “dignidade régia”, é evidente que Jesus queria dizer que ele, o representante real de Deus, o ungido por Deus para a realeza, estava no meio deles. Ele não só estava presente nesta qualidade, mas também dispunha de autoridade para realizar obras que manifestavam o poder régio de Deus, e para preparar candidatos a posições dentro daquele vindouro governo do Reino. Assim se explica a ‘aproximação’ do Reino; tratava-se duma época de extraordinárias oportunidades.

Governo com poder e autoridade. Os discípulos de Jesus entendiam o Reino como um genuíno governo da parte de Deus, embora não compreendessem o alcance de seu domínio. Natanael disse a Jesus: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel.” (Jo 1:49) Eles conheciam as coisas preditas a respeito dos “santos”, na profecia de Daniel. (Da 7:18, 27) Jesus prometera diretamente a seus seguidores apostólicos que eles ocupariam “tronos”. (Mt 19:28) Tiago e João buscaram certas posições privilegiadas no governo messiânico, e Jesus admitiu que haveria tais posições privilegiadas, mas declarou que a concessão delas dependia de seu Pai, o Governante Soberano. (Mt 20:20-23; Mr 10:35-40) Assim, ao passo que seus discípulos restringiam erroneamente o governo régio do Messias à Terra, e especificamente ao Israel carnal, fazendo isto até mesmo no dia da ascensão do ressuscitado Jesus (At 1:6), eles entendiam corretamente que se referia a um arranjo governamental. — Veja Mt 21:5; Mr 11:7-10.

O poder régio de Jeová para com sua criação terrestre foi visivelmente demonstrado de muitas maneiras por seu Representante régio. Por meio do espírito ou força ativa de Deus, seu Filho exerceu o controle sobre o vento e o mar, a vegetação, os peixes, e até sobre os elementos orgânicos contidos nos alimentos, fazendo com que o alimento se multiplicasse. Tais obras poderosas induziram os discípulos a criar profundo respeito pela autoridade que ele possuía. (Mt 14:23-33; Mr 4:36-41; 11:12-14, 20-23; Lu 5:4-11; Jo 6:5-15) Seu exercício do poder de Deus sobre corpos humanos, curando males que iam desde a cegueira até a lepra, e trazendo os mortos à vida, eram ainda mais impressionantes. (Mt 9:35; 20:30-34; Lu 5:12, 13; 7:11-17; Jo 11:39-47) Ele mandava que os leprosos curados se apresentassem ao sacerdócio divinamente autorizado, mas geralmente descrente, “em testemunho para eles”. (Lu 5:14; 17:14) Por fim, mostrou o poder de Deus sobre os espíritos sobre-humanos. Os demônios reconheciam a autoridade de que Jesus estava investido, e, em vez de arriscarem-se a uma prova decisiva do poder que apoiava Jesus, acatavam suas ordens de libertar pessoas possuídas por eles. (Mt 8:28-32; 9:32, 33; compare isso com Tg 2:19.) Visto que esta poderosa expulsão de demônios era feita pelo espírito de Deus, isto significava que o Reino de Deus realmente já havia “alcançado” seus ouvintes. — Mt 12:25-29; compare isso com Lu 9:42, 43.

Tudo isso constituía sólida prova de que Jesus possuía autoridade régia e que essa autoridade não provinha de nenhuma fonte terrena, humana ou política. (Veja Jo 18:36; Is 9:6, 7.) Os mensageiros do encarcerado João, o Batizador, quais testemunhas de tais obras poderosas, foram instruídos por Jesus a retornar a João e contar-lhe o que tinham visto e ouvido em confirmação de que Jesus realmente era “Aquele Que Vem”. (Mt 11:2-6; Lu 7:18-23; compare isso com Jo 5:36.) Os discípulos de Jesus estavam vendo e ouvindo a evidência da autoridade do Reino que os profetas haviam almejado testemunhar. (Mt 13:16, 17) Ademais, Jesus pôde delegar autoridade aos seus discípulos, de modo que eles puderam exercer poderes similares quais representantes designados seus, dando assim força e peso à proclamação deles: “O reino dos céus se tem aproximado.” — Mt 10:1, 7, 8; Lu 4:36; 10:8-12, 17.

A Entrada no Reino. Jesus ressaltou o período especial de oportunidade que havia assim chegado. A respeito de seu precursor, João, o Batizador, Jesus disse: “Entre os nascidos de mulheres não se levantou ninguém maior do que João Batista; mas aquele que é menor no reino dos céus é maior do que ele. Mas, desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é o alvo para o qual os homens avançam impetuosamente [bi·á·ze·tai], e os que avançam impetuosamente [bi·a·staí] se apoderam dele. [Veja ALA; também Zürcher Bibel (em alemão).] Pois todos, os Profetas e a Lei, profetizaram até João.” (Mt 11:10-13) Assim, os dias do ministério de João, que logo findariam com a execução dele, assinalavam o término de um período, e o início de outro. Sobre o verbo grego bi·á·zo·mai empregado neste texto, o Vine’s Expository Dictionary of Old and New Testament Words (Dicionário Expositivo de Palavras do Velho e do Novo Testamento, de Vine) diz: “O verbo sugere um esforço vigoroso.” (1981, Vol. 3, p. 208) A respeito de Mateus 11:12, o perito alemão Heinrich Meyer declara: “Deste modo, descreve-se aquele esforço e aquela luta entusiásticos, irresistíveis, para alcançar o reino messiânico que se acercava . . . Tão entusiástico e enérgico (não mais calmo e expectante) é o interesse no que tange ao reino. Os [bi·a·staí] são, por conseguinte, crentes [e não atacantes inimigos] que se empenham arduamente para possuí-lo.” — Critical and Exegetical Hand-Book to the Gospel of Matthew (Manual Crítico e Exegético do Evangelho de Mateus), de Meyer, 1884, p. 225.

Portanto, a condição de membro do Reino de Deus não seria fácil de obter, não seria como aproximar-se de uma cidade aberta, com pouco ou nada para dificultar a entrada. Antes, o Soberano, Jeová Deus, havia colocado barreiras para impedir a entrada de quaisquer pessoas indignas. (Veja Jo 6:44; 1Co 6:9-11; Gál 5:19-21; Ef 5:5.) Os que desejassem entrar teriam de percorrer uma estrada estreita, encontrar o portão estreito, persistir em pedir, persistir em buscar, persistir em bater, e o caminho lhes seria então aberto. Achariam o caminho “estreito” no sentido de que restringe os que o percorrem de fazer coisas que prejudicariam a si mesmos ou a outros. (Mt 7:7, 8, 13, 14; compare isso com 2Pe 1:10, 11.) Talvez tivessem de figuradamente perder um olho ou uma das mãos para conseguir entrar. (Mr 9:43-47) O Reino não seria uma plutocracia em que se pudesse comprar o favor do Rei; seria difícil um rico (gr.: ploú·si·os) entrar nele. (Lu 18:24, 25) Não seria uma aristocracia mundanal; não se levaria em conta a posição destacada entre os homens. (Mt 23:1, 2, 6-12, 33; Lu 16:14-16) Aqueles que pareciam ser os “primeiros”, dotados de impressionante formação e folha de serviços religiosas, seriam os “últimos”, e os ‘últimos seriam os primeiros’ a obter os privilégios favorecidos relacionados com tal Reino. (Mt 19:30–20:16) Os proeminentes, porém hipócritas, fariseus, confiantes em sua posição vantajosa, observariam meretrizes e cobradores de impostos regenerados entrarem no Reino antes deles. (Mt 21:31, 32; 23:13) Embora chamassem Jesus de “Senhor, Senhor”, todos os hipócritas que desrespeitassem a palavra e a vontade de Deus, conforme reveladas por meio de Jesus, seriam rejeitados com as palavras: “Nunca vos conheci! Afastai-vos de mim, vós obreiros do que é contra a lei.” — Mt 7:15-23.

Os que conseguem entrar são os que colocam os interesses materiais em segundo plano e buscam primeiro o Reino e a justiça de Deus. (Mt 6:31-34) Iguais ao Rei ungido de Deus, Cristo Jesus, amariam a justiça e odiariam a iniquidade. (He 1:8, 9) As pessoas de mentalidade espiritual, misericordiosas, puras de coração e pacíficas, embora fossem alvos de vitupério e de perseguição da parte dos homens, tornar-se-iam prospectivos membros do Reino. (Mt 5:3-10; Lu 6:23) O “jugo” que Jesus convidava tais pessoas a tomar sobre si significava a submissão delas à sua autoridade régia. Todavia, tratava-se de um jugo benévolo, com uma carga leve para aqueles que fossem ‘de temperamento brando e humildes de coração’ como era o Rei. (Mt 11:28-30; compare isso com 1Rs 12:12-14; Je 27:1-7.) Isto devia ter um efeito acalentador sobre o coração de seus ouvintes, assegurando-lhes de que seu governo não teria nenhuma das qualidades indesejáveis de muitos governantes anteriores, tanto israelitas como não israelitas. Fornecia-lhes razões para crer que seu governo não traria nenhuma tributação pesada, servidão forçada ou quaisquer formas de exploração. (Veja 1Sa 8:10-18; De 17:15-17, 20; Ef 5:5.) Como mostraram as palavras posteriores de Jesus, não só o Cabeça do vindouro governo do Reino provaria seu altruísmo ao ponto de dar a vida pelo seu povo, mas todos os associados com ele naquele governo também seriam pessoas que procuravam servir, em vez de serem servidas. — Mt 20:25-28; veja JESUS CRISTO (Suas Obras e Suas Qualidades Pessoais).

É vital a submissão voluntária. O próprio Jesus tinha o mais profundo respeito pela vontade e pela autoridade soberanas de seu Pai. (Jo 5:30; 6:38; Mt 26:39) Enquanto o pacto da Lei vigorava, seus seguidores judeus deviam praticar e advogar a obediência a este; quem tomasse posição contrária seria rejeitado no tocante ao seu Reino. Este respeito e esta obediência, contudo, precisavam emanar do coração, não sendo simples observação formal ou unilateral da Lei, com ênfase a atos específicos exigidos, mas a observância de princípios básicos nela inerentes, envolvendo a justiça, a misericórdia e a fidelidade. (Mt 5:17-20; 23:23, 24) Ao escriba que reconheceu a posição ímpar de Jeová, e que admitiu que “amá-lo de todo o coração e de todo o entendimento, e de toda a força, e este amar o próximo como a si mesmo, vale muito mais do que todos os holocaustos e sacrifícios”, Jesus disse: “Não estás longe do reino de Deus.” (Mr 12:28-34) Assim, em todos os sentidos, Jesus deixou claro que Jeová Deus procura apenas súditos voluntários, aqueles que preferem Seus modos justos de agir e desejam fervorosamente viver sob a Sua autoridade soberana.

Relação pactuada. Na última noite com os discípulos, Jesus falou-lhes sobre um “novo pacto” que passaria a vigorar para seus seguidores em resultado de seu sacrifício de resgate (Lu 22:19, 20; compare isso com 12:32); ele mesmo serviria qual Mediador deste pacto entre Jeová, o Soberano, e os seguidores de Jesus. (1Ti 2:5; He 12:24) Adicionalmente, Jesus fez um pacto pessoal com seus seguidores “para um reino”, para que eles pudessem participar com ele dos seus privilégios régios. — Lu 22:28-30; veja PACTO.

Vencer o mundo. Embora a prisão, os julgamentos e a execução subsequentes de Jesus fizessem com que sua posição régia parecesse frágil, na realidade marcaram um poderoso cumprimento das profecias de Deus, e por essa razão foram permitidos por Ele. (Jo 19:10, 11; Lu 24:19-27, 44) Jesus, mediante sua lealdade e integridade até a morte, provou que “o governante do mundo”, o Adversário de Deus, Satanás, não tinha “nenhum poder” sobre ele, e que ele havia realmente ‘vencido o mundo’. (Jo 14:29-31; 16:33) Ademais, mesmo enquanto seu Filho estava pregado na estaca, Jeová forneceu evidência de seu poder superior: a luz do Sol foi obscurecida durante algum tempo; houve também um forte terremoto, e a grande cortina no templo rasgou-se em dois. (Mt 27:51-54; Lu 23:44, 45) No terceiro dia após isso, ele forneceu uma evidência muito maior de sua Soberania ao ressuscitar seu Filho para a vida espiritual, apesar dos esforços mesquinhos dos homens de impedir a ressurreição por colocarem guardas na frente do túmulo selado de Jesus. — Mt 28:1-7.

“O Reino do Filho do Seu Amor.” Dez dias após a ascensão de Jesus ao céu, em Pentecostes do ano 33 EC, seus discípulos tiveram evidência de que ele fora “enaltecido à direita de Deus” quando derramou espírito santo sobre eles. (At 1:8, 9; 2:1-4, 29-33) O “novo pacto” tornou-se assim operante neles, e eles se tornaram o núcleo de uma nova “nação santa”, o Israel espiritual. — He 12:22-24; 1Pe 2:9, 10; Gál 6:16.

Cristo sentava-se então à direita de seu Pai, e era a Cabeça desta congregação. (Ef 5:23; He 1:3; Fil 2:9-11) As Escrituras mostram que a partir de Pentecostes de 33 EC, estabeleceu-se um reino espiritual sobre seus discípulos. O apóstolo Paulo, ao escrever aos cristãos do primeiro século em Colossos, mencionou a Jesus Cristo como já tendo um reino: “[Deus] nos livrou da autoridade da escuridão e nos transferiu para o reino do Filho do seu amor”. — Col 1:13; compare isso com At 17:6, 7.

O reino de Cristo, a partir de Pentecostes de 33 EC, tem sido espiritual, governando sobre o Israel espiritual, cristãos que foram gerados pelo espírito de Deus para tornar-se filhos espirituais de Deus. (Jo 3:3, 5, 6) Quando tais cristãos gerados pelo espírito receberem sua recompensa celestial, não mais serão súditos terrestres do reino espiritual de Cristo, mas serão reis no céu junto com Cristo. — Re 5:9, 10.

“O Reino de Nosso Senhor e do Seu Cristo.” O apóstolo João, escrevendo perto do fim do primeiro século EC, previu por meio duma revelação divina o tempo futuro em que Jeová Deus, mediante seu Filho, faria uma nova expressão do reinado divino. Naquele tempo, como no tempo em que Davi trouxe a Arca para Jerusalém, dir-se-ia que Jeová ‘assumiu o seu grande poder e começou a reinar’. Este seria o tempo para vozes altas no céu proclamarem: “O reino do mundo tornou-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.” — Re 11:15, 17; 1Cr 16:1, 31.

É o “nosso Senhor”, o Soberano Senhor Jeová, que faz valer sua autoridade sobre “o reino do mundo”, estabelecendo uma nova expressão de sua soberania para com a nossa terra. Ele concede ao seu Filho, Jesus Cristo, uma participação subsidiária nesse Reino, de modo que é chamado de “o reino de nosso Senhor e do seu Cristo”. Este Reino é de proporções e dimensões maiores do que “o reino do Filho do seu amor”, mencionado em Colossenses 1:13. “O reino do Filho do seu amor” teve início em Pentecostes de 33 EC e tem dominado sobre os discípulos ungidos de Cristo; “o reino de nosso Senhor e do seu Cristo” é estabelecido no fim dos “tempos designados das nações” e domina sobre toda a humanidade na terra. — Lu 21:24.

Ao receber uma participação no “reino do mundo”, Jesus Cristo toma as necessárias medidas para remover a oposição à soberania de Deus. A medida inicial ocorre no domínio celestial; Satanás e seus demônios são derrotados e lançados para baixo, para o domínio terrestre. Isto resulta na proclamação: “Agora se realizou a salvação, e o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo.” (Re 12:1-10) Durante o curto período de tempo que resta para ele, este principal Adversário de Deus, Satanás, continua a cumprir a profecia de Gênesis 3:15, por guerrear contra os “remanescentes” da “semente” da mulher, “os santos” que irão governar junto com Cristo. (Re 12:13-17; compare com Re 13:4-7; Da 7:21-27.) Todavia, os “justos decretos” de Jeová se tornam manifestos e Suas expressões de julgamento sobrevêm como pragas aos opositores dele, resultando na destruição da mística Babilônia, a Grande, a principal perseguidora na terra dos servos de Deus. — Re 15:4; 16:1–19:6.

Depois disso, “o reino de nosso Senhor e do seu Cristo” envia seus exércitos celestiais contra os governantes de todos os reinos terrestres e seus exércitos na luta do Armagedom, levando-os ao fim. (Re 16:14-16; 19:11-21) Trata-se da resposta ao pedido feito a Deus: “Venha o teu reino. Realize-se a tua vontade, como no céu, assim também na terra.” (Mt 6:10) Satanás é então lançado no abismo, e inicia-se um período de mil anos em que Cristo Jesus e seus associados governam quais reis e sacerdotes sobre os habitantes da terra. — Re 20:1, 6.

Cristo “entrega o reino”. O apóstolo Paulo também descreve o governo de Cristo durante Sua presença. Depois que Cristo ressuscita seus seguidores da morte, ele passa a ‘reduzir a nada todo governo, e toda autoridade e poder’ (referindo-se logicamente a todo governo, toda autoridade e todo poder em oposição à vontade soberana de Deus). Então, no fim do seu Reinado Milenar, ele ‘entrega o reino ao seu Deus e Pai’, sujeitando-se “Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos”. — 1Co 15:21-28.

Uma vez que Cristo ‘entrega o reino ao seu Deus e Pai’, em que sentido é seu Reino “eterno”, como se declara repetidas vezes nas Escrituras? (2Pe 1:11; Is 9:7; Da 7:14; Lu 1:33; Re 11:15) Seu Reino “jamais será arruinado”, suas realizações durarão para sempre; ele será honrado eternamente por seu papel qual Rei messiânico. — Da 2:44.

Durante o Reinado Milenar, o papel de Cristo para com a terra envolve ação sacerdotal para com a humanidade obediente. (Re 5:9, 10; 20:6; 21:1-3) Por meio disso o reinado do pecado e da morte sobre a humanidade obediente, sujeita à sua “lei”, termina; a benignidade imerecida e a justiça são os fatores predominantes. (Ro 5:14, 17, 21) Uma vez que o pecado e a morte hão de ser completamente removidos dos habitantes da Terra, isto também põe fim à necessidade de Jesus servir qual “ajudador junto ao Pai”, no sentido de fornecer uma propiciação pelos pecados de humanos imperfeitos. (1Jo 2:1, 2) Isso leva a humanidade de volta à condição original desfrutada quando o homem perfeito Adão estava no Éden. Adão, enquanto perfeito, não necessitava de nenhum intermediário entre ele e Deus para fazer propiciação. Do mesmo modo, também, ao término do Governo Milenar de Jesus, os habitantes da terra estarão tanto em condições como sob a responsabilidade de responder por seu modo de agir perante Jeová Deus qual Juiz Supremo, sem o recurso de ter alguém como intermediário legal, ou ajudador. Jeová, o Poder Soberano, torna-se assim “todas as coisas para com todos”. Isto significa que o propósito de Deus de “ajuntar novamente todas as coisas no Cristo, as coisas nos céus e as coisas na terra”, terá sido realizado plenamente. — 1Co 15:28; Ef 1:9, 10.

O Governo Milenar de Jesus terá cumprido plenamente seu objetivo. A Terra, outrora um foco de rebelião, terá sido restabelecida a uma posição plena, limpa e incontestável no domínio do Soberano Universal. Não restará nenhum reino subsidiário entre Jeová e a humanidade obediente.

Todavia, depois disso realiza-se uma prova final da integridade e da devoção de todos os súditos terrestres. Satanás é solto de sua restrição no abismo. Os que cedem à sedução dele, fazem-no com base na mesma questão suscitada no Éden: a legitimidade da soberania de Deus. Pode-se depreender isto de seu ataque contra o “acampamento dos santos e a cidade amada”. Uma vez que aquela questão já foi judicialmente resolvida e declarada encerrada pelo Tribunal do céu, não se permite nenhuma rebelião prolongada neste caso. Os que deixam de permanecer lealmente do lado de Deus não poderão apelar para Cristo Jesus como ‘ajudador propiciatório’, mas Jeová Deus será “todas as coisas” para com eles, não sendo possível nenhum apelo ou mediação. Todos os rebeldes, sejam espirituais, sejam humanos, receberão a sentença divina de destruição na “segunda morte”. — Re 20:7-15.