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Soberania

Soberania

Supremacia em governo ou poder; domínio ou governo dum senhor, rei, imperador, ou semelhante; o poder que, em última análise, determina o governo dum Estado.

Nas Escrituras Hebraicas, a palavra ʼAdho·naí ocorre frequentemente, e a expressão ʼAdho·naí Yehwíh, 285 vezes. ʼAdho·naí é o plural de ʼad·hóhn, que significa “senhor; amo”. A forma plural, ʼadho·ním, pode ser aplicada a homens no simples plural, tal como “senhores” ou “amos”. Mas o termo ʼAdho·naí sem um sufixo adicional sempre é usado nas Escrituras com referência a Deus, usando-se o plural para indicar excelência ou majestade. Os tradutores mais frequentemente o vertem por “Senhor”. Quando ocorre junto com o nome de Deus (ʼAdho·naí Yeh·wíh), por exemplo, como no Salmo 73:28, a expressão é vertida “Senhor Deus” (BV); “Senhor Deus” (Al, IBB, So [72:28]); “SENHOR Deus” (ALA); “Senhor Jeová” (VB, Yg); e “Soberano Senhor Jeová” (NM). Nos Salmos 47:9; 138:5; 150:2, a tradução de Moffatt, em inglês, usa a palavra “soberano”, mas não para traduzir ʼAdho·naí.

A palavra grega de·spó·tes refere-se a alguém que possui autoridade suprema, ou posse absoluta e poder sem limite. (Vine’s Expository Dictionary of Old and New Testament Words [Dicionário Expositivo de Palavras do Velho e do Novo Testamento, de Vine], 1981, Vol. 3, pp. 18, 46) É traduzida “senhor”, “amo”, “dono”, e quando usada para se dirigir a Deus é vertida em Lucas 2:29 “Senhor” (Al, ALA, BV, CBC, e outras), e “Soberano Senhor” (BJ, BMD, NM); em Atos 4:24 e em Revelação (Apocalipse) 6:10, “Soberano Senhor” (ALA, NM), e no último texto, “Soberano” (TEB). Neste último texto, as versões Knox, The New English Bible, Moffatt e Revised Standard Version rezam “Soberano Senhor”; a tradução de Young e a Kingdom Interlinear, “amo”.

Assim, embora os textos hebraico e grego não tenham uma palavra qualificadora, separada, para “soberano”, o sentido está contido nas palavras ʼAdho·naí e de·spó·tes quando usadas nas Escrituras como aplicadas a Jeová Deus, indicando esta qualificação a excelência do seu domínio como senhor.

A Soberania de Jeová. Jeová Deus é o Soberano do Universo (“soberano do mundo”, Sal 47:9, Mo) por ele ser o Criador, por sua Divindade e sua supremacia como Todo-Poderoso. (Gên 17:1; Êx 6:3; Re 16:14) Ele é o Dono de tudo e a Fonte de toda autoridade e poder, o Governante Supremo em governo. (Sal 24:1; Is 40:21-23; Re 4:11; 11:15) O salmista cantou a respeito dele: “Jeová é que estabeleceu firmemente seu trono nos próprios céus; e seu próprio reinado tem mantido domínio sobre tudo.” (Sal 103:19; 145:13) Os discípulos de Jesus oraram, dirigindo-se a Deus: “Soberano Senhor, tu és Aquele que fez o céu e a terra.” (At 4:24, NM; ALA) Para a nação de Israel, o próprio Deus constituía todos os três ramos de governo, o judicativo, o legislativo e o executivo. O profeta Isaías disse: “Jeová é o nosso Juiz, Jeová é o nosso Legislador, Jeová é o nosso Rei; ele mesmo nos salvará.” (Is 33:22) Moisés, em Deuteronômio 10:17, fornece uma notável descrição de Deus como Soberano.

Jeová, na sua posição soberana, tem o direito e a autoridade de delegar responsabilidades de governo. Davi foi constituído rei de Israel, e as Escrituras falam do ‘reino de Davi’ como se fosse o reino dele. Mas, Davi reconheceu que Jeová era o grande Governante Soberano, dizendo: “Tuas, ó Jeová, são a grandeza, e a potência, e a beleza, e a excelência, e a dignidade; pois teu é tudo nos céus e na terra. Teu é o reino, ó Jeová, que te ergues como cabeça sobre todos.” — 1Cr 29:11.

Governantes Terrestres. Os governantes das nações da Terra exercem seu domínio limitado pela tolerância ou permissão do Soberano Senhor Jeová. Que os governos políticos não recebem sua autoridade de Deus, isto é, que não atuam em razão de uma concessão de autoridade ou poder por parte dele, é demonstrado em Revelação 13:1, 2, onde se diz que a fera de sete cabeças e dez chifres recebe “seu poder e seu trono, e grande autoridade” do Dragão, Satanás, o Diabo. — Re 12:9; veja ANIMAIS SIMBÓLICOS.

Assim, embora Deus tenha permitido o surgimento e o desaparecimento de diversos governos de homens, um dos mais poderosos reis deles, depois de ter visto por experiência própria a demonstração da realidade da soberania de Jeová, sentiu-se induzido a dizer: “Seu domínio é um domínio por tempo indefinido e seu reino é para geração após geração. E todos os habitantes da terra são considerados como simplesmente nada, e ele age segundo a sua própria vontade entre o exército dos céus e os habitantes da terra. E não há quem lhe possa deter a mão ou quem lhe possa dizer: ‘Que estás fazendo?’” — Da 4:34, 35.

Por conseguinte, enquanto for da vontade de Deus permitir que governos humanos exerçam domínio, aplica-se a injunção do apóstolo Paulo: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há autoridade exceto por Deus; as autoridades existentes acham-se colocadas por Deus nas suas posições relativas.” O apóstolo passa então a salientar que, quando tais governos agem para punir alguém que faz o que é mau, a ‘autoridade superior’ ou o governante (embora não seja adorador fiel de Deus) atua indiretamente como ministro de Deus nesta qualidade específica, expressando furor para com o que pratica o que é mau. — Ro 13:1-6.

Quanto a tais autoridades terem sido “colocadas por Deus nas suas posições relativas”, as Escrituras indicam que isto não significa que Deus constituiu esses governos ou que ele os apoia. Antes, ele os tem manobrado para servir o seu bom propósito com relação à Sua vontade referente aos Seus servos na Terra. Moisés disse: “Quando o Altíssimo deu às nações uma herança, quando separou uns dos outros os filhos de Adão, passou a fixar o termo dos povos com respeito ao número dos filhos de Israel.” — De 32:8.

O Filho de Deus Como Rei. Depois da derrubada do último rei a sentar-se no “trono de Jeová”, em Jerusalém (1Cr 29:23), o profeta Daniel recebeu uma visão que descrevia a futura designação do próprio Filho de Deus como Rei. A posição de Jeová destaca-se claramente quando ele, como o Antigo de Dias, concede o domínio ao seu Filho. O relato declara: “Continuei observando nas visões da noite e eis que aconteceu que chegou com as nuvens dos céus alguém semelhante a um filho de homem; e ele obteve acesso ao Antigo de Dias, e fizeram-no chegar perto perante Este. E foi-lhe dado domínio, e dignidade, e um reino, para que todos os povos, grupos nacionais e línguas o servissem. Seu domínio é um domínio de duração indefinida, que não passará, e seu reino é um que não será arruinado.” (Da 7:13, 14) A comparação deste texto com Mateus 26:63, 64, não deixa dúvida de que o “filho de homem” da visão de Daniel é Jesus Cristo. Ele obtém acesso à presença de Jeová e recebe domínio. — Veja Sal 2:8, 9; Mt 28:18.

Desafiada a Soberania de Jeová. A iniquidade tem existido por quase todos os anos em que o homem está na Terra, segundo a cronologia bíblica. Toda a humanidade tem morrido, e os pecados e as transgressões contra Deus se têm multiplicado. (Ro 5:12, 15, 16) Visto que a Bíblia indica que Deus deu ao homem um começo perfeito, surgiram as perguntas: Como se iniciou o pecado, a imperfeição e a iniquidade? E por que permitiu o Deus Todo-Poderoso essas coisas durante séculos? As respostas estão num desafio lançado contra a soberania de Deus, suscitando uma questão predominante que envolve a humanidade.

O que Deus deseja dos que o servem. Jeová Deus, por palavras e atos, no decorrer dos séculos, tem provado que ele é Deus de amor e de benignidade imerecida, exercendo perfeita justiça e julgamento, e concedendo misericórdia aos que procuram servi-lo. (Êx 34:6, 7; Sal 89:14; veja JUSTIÇA; MISERICÓRDIA.) Tem expressado benignidade até mesmo para com os ingratos e iníquos. (Mt 5:45; Lu 6:35; Ro 5:8) Deleita-se em sua soberania ser administrada com amor. — Je 9:24.

Por conseguinte, o tipo de pessoas que ele deseja no seu Universo são aquelas que o servem por amor a ele e às suas excelentes qualidades. Têm de amar primeiro a Deus e, segundo, seu próximo. (Mt 22:37-39) Têm de amar a soberania de Jeová; têm de desejá-la e preferi-la a qualquer outra. (Sal 84:10) Têm de ser pessoas que, mesmo que lhes fosse possível tornar-se independentes, preferem a Soberania Dele, porque sabem que Seu governo é muitíssimo mais sábio, mais justo e melhor do que qualquer outro. (Is 55:8-11; Je 10:23; Ro 7:18) Tais pessoas servem a Deus não meramente por terem medo da Sua onipotência, nem por motivos egoístas, mas por amor à Sua justiça, julgamento e sabedoria, e por terem conhecimento da grandiosidade e benevolência de Jeová. (Sal 97:10; 119:104, 128, 163) Exclamam assim como o apóstolo Paulo: “Ó profundidade das riquezas, e da sabedoria, e do conhecimento de Deus! Quão inescrutáveis são os seus julgamentos e além de pesquisa são os seus caminhos! Pois, ‘quem veio a conhecer a mente de Jeová ou quem se tornou o seu conselheiro’? Ou: ‘Quem primeiro lhe deu, de modo que se lhe tenha de pagar de volta?’ Porque todas as coisas são dele, e por ele, e para ele. Glória a ele para sempre. Amém.” — Ro 11:33-36.

Tais pessoas chegam a conhecer a Deus, e conhecê-lo realmente significa amá-lo e apegar-se à Sua soberania. O apóstolo João escreve: “Todo aquele que permanece em união com ele não pratica o pecado; ninguém que pratica o pecado o tem visto, nem o chegou a conhecer.” E: “Quem não amar, não chegou a conhecer a Deus, porque Deus é amor.” (1Jo 3:6; 4:8) Jesus conhecia o Pai melhor do que qualquer outro. Ele disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece plenamente o Filho, exceto o Pai, tampouco há quem conheça plenamente o Pai, exceto o Filho e todo aquele a quem o Filho estiver disposto a revelá-lo.” — Mt 11:27.

Deixaram de cultivar amor e apreço. Por conseguinte, quando se lançou o desafio contra a soberania de Jeová, foi lançado por alguém que, embora usufruísse os benefícios da soberania de Deus, não apreciava e não desenvolvia o conhecimento de Deus para assim aprofundar seu amor a Ele. Tratava-se de uma criatura espiritual de Deus, um anjo. Quando o casal humano, Adão e Eva, foi colocado na Terra, esta criatura viu uma oportunidade para empreender um ataque contra a soberania de Deus. Primeiro, faria uma tentativa (que se mostrou bem-sucedida) para desviar Eva, depois Adão, da sujeição à soberania de Deus. Esperava estabelecer uma soberania rival.

Quanto a Eva, a pessoa a quem primeiro se dirigiu, ela certamente não tinha apreço pelo seu Criador e Deus, e não tinha aproveitado a oportunidade de conhecê-lo. Escutou a voz de alguém inferior, ostensivamente a serpente, na realidade, porém, o anjo rebelde. A Bíblia não indica nenhuma surpresa da parte dela de ouvir a serpente falar. Diz que a serpente era “o mais cauteloso de todos os animais selváticos do campo, que Jeová Deus havia feito”. (Gên 3:1) Não se declara se a serpente comeu do fruto proibido da “árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau” e depois parecia ter-se tornado sábia, capaz de falar. O anjo rebelde, usando a serpente para falar à mulher, ofereceu (como ela supunha) a oportunidade de se tornar independente, de ‘ser como Deus, sabendo o que é bom e o que é mau’, e conseguiu convencê-la de que ela não morreria. — Gên 2:17; 3:4, 5; 2Co 11:3.

Adão, que tampouco mostrou apreço e amor por seu Criador e Provisor, quando confrontado com rebelião na sua família, e que não mostrou nenhuma lealdade para defender seu Deus, quando posto à prova, sucumbiu à persuasão de Eva. Ele evidentemente perdeu a fé em Deus e na capacidade Dele de fornecer todas as boas coisas ao Seu servo leal. (Veja o que Jeová disse a Davi depois de este pecar com Bate-Seba, em 2Sa 12:7-9.) Adão parece também ter-se ressentido de Jeová, conforme indica sua resposta quando interrogado sobre o seu ato errado: “A mulher que me deste para estar comigo, ela me deu do fruto da árvore e por isso comi.” (Gên 3:12) Ele não acreditou na mentira da Serpente de que ele não morreria, como Eva acreditara, mas tanto Adão como Eva deliberadamente adotaram o proceder de autodeterminação, de rebelião contra Deus. — 1Ti 2:14.

Adão não podia dizer: “Estou sendo provado por Deus.” Antes, passou a vigorar o princípio: “Cada um é provado por ser provocado e engodado pelo seu próprio desejo. Então o desejo, tendo-se tornado fértil, dá à luz o pecado; o pecado, por sua vez, tendo sido consumado, produz a morte.” (Tg 1:13-15) Assim, os três rebeldes — o anjo, Adão e Eva — usaram o livre-arbítrio de que Deus os dotara, passando da condição sem pecado para um proceder de pecado deliberado. — Veja PECADO; PERFEIÇÃO.

O ponto em questão. O que foi questionado ali? Quem foi vituperado e difamado por este desafio do anjo que mais tarde foi chamado de Satanás, o Diabo, desafio que Adão apoiou com seu ato rebelde? Foi o fato da supremacia de Jeová, a existência da sua soberania? Estava em perigo a soberania de Deus? Não, porque Jeová tem suprema autoridade e poder, e ninguém no céu ou na Terra pode tirar-lhe isso. (Ro 9:19) Portanto, o que foi desafiado deve ter sido a justeza, o merecimento e a justiça da soberania de Deus — se a soberania dele era, ou não era, exercida de modo digno, justo e nos melhores interesses dos seus súditos. Um indício disso é a maneira de se falar a Eva: “É realmente assim que Deus disse, que não deveis comer de toda árvore do jardim?” A serpente insinuava assim que isso era inacreditável — que Deus era indevidamente restritivo, negando ao casal humano algo a que tinha pleno direito. — Gên 3:1.

O que era a “árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau”?

Adão e Eva expressaram sua rebelião por tomarem do fruto da “árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau”. O Criador, como Soberano Universal, agia inteiramente no seu direito de estabelecer a lei a respeito da árvore, porque Adão, sendo pessoa criada, não soberano, tinha limitações e precisava reconhecer isso. Para haver universal paz e harmonia, cabia a todas as criaturas racionais reconhecer e apoiar a soberania do Criador. Adão demonstraria seu reconhecimento disso por se refrear de comer do fruto daquela árvore. Como prospectivo pai dos que encheriam a Terra, tinha de mostrar-se obediente e leal, mesmo na mínima coisa. O princípio envolvido era: “Quem é fiel no mínimo, é também fiel no muito, e quem é injusto no mínimo, é também injusto no muito.” (Lu 16:10) Adão tinha a capacidade para tal obediência perfeita. Como é evidente, não havia nada de intrinsecamente ruim no próprio fruto da árvore. (A coisa proibida não eram as relações sexuais, porque Deus mandara o casal ‘encher a terra’. [Gên 1:28] Era o fruto duma árvore mesmo, conforme a Bíblia diz.) O que a árvore representava é bem expresso numa nota ao pé da página sobre Gênesis 2:17 em A Bíblia de Jerusalém (1987):

“Este conhecimento é um privilégio que Deus se reserva e que o homem usurpa pelo pecado (3:5, 22). Não se trata, pois, nem da onisciência, que o homem decaído não possui, nem do discernimento moral, que o homem inocente já tinha e que Deus não pode recusar à sua criatura racional. É a faculdade de decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal, e de agir consequentemente: reivindicação de autonomia moral pela qual o homem nega seu estado de criatura (cf. Is 5,20). O primeiro pecado foi um ataque à soberania de Deus, um pecado de orgulho.”

Os servos de Deus acusados de egoísmo. Uma expressão adicional da questão é encontrada na declaração de Satanás a Deus sobre o seu servo fiel, Jó. Satanás disse: “Acaso é por nada que Jó teme a Deus? Não puseste tu mesmo uma sebe em volta dele, e em volta da sua casa, e em volta de tudo o que ele tem? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e o próprio gado dele se tem espalhado pela terra. Mas, ao invés disso, estende tua mão, por favor, e toca em tudo o que ele tem, e vê se não te amaldiçoará na tua própria face.” Mais uma vez acusou: “Pele por pele, e tudo o que o homem tem dará pela sua alma.” (Jó 1:9-11; 2:4) Satanás acusou assim Jó de não estar no coração em harmonia com Deus, de servir obedientemente a Deus apenas por motivos egoístas, para ganhar algo. Satanás caluniou assim a Deus com respeito à Sua soberania, e os servos de Deus, quanto à integridade para com esta soberania. Na realidade, ele disse que não podia ser colocado na Terra ninguém que mantivesse sua integridade à soberania de Jeová se ele, Satanás, pudesse pô-lo à prova.

Jeová permitiu que se resolvesse esta questão. Todavia, não por não ter certeza da justiça da Sua própria soberania. Não precisava provar nada a si mesmo. Foi por amor às suas criaturas inteligentes que ele concedeu tempo para se testar esse assunto. Permitiu que os homens fossem submetidos à prova por Satanás, perante todo o Universo. E deu às suas criaturas o privilégio de provar que o Diabo é mentiroso, e de remover a calúnia não só do nome de Deus, mas também do nome delas mesmas. Satanás, na sua atitude egotista, ficou ‘entregue a um estado mental reprovado’. Ao abordar Eva, evidentemente ele contradizia o seu próprio raciocínio. (Ro 1:28) Pois acusava a Deus de exercer de modo desonesto, injusto, a sua soberania e, ao mesmo tempo, ele evidentemente contava com a justeza de Deus: parece ter pensado que Deus se consideraria obrigado a deixá-lo viver, se ele provasse veraz a sua acusação de que as criaturas de Deus eram infiéis.

Resolver a questão é de necessidade vital. Para todos os viventes era realmente vital resolver esta questão que envolvia sua relação com a soberania de Deus. Pois, uma vez resolvida essa questão, nunca mais precisaria ser julgada. Parece evidente que Jeová desejava que o pleno conhecimento de todas as perguntas relacionadas com esta questão fossem cabalmente divulgadas e entendidas. A ação tomada por Deus cria confiança na sua imutabilidade, enaltece sua soberania e torna esta soberania ainda mais desejável e firmemente estabelecida na mente de todos os que a preferem. — Veja Mal 3:6.

Uma questão de moral. A questão, portanto, não é de poder, de força bruta; é primariamente uma questão de moral. Todavia, por causa da invisibilidade de Deus e por Satanás ter feito todos os esforços para cegar a mente dos homens, o poder de Jeová, e até mesmo sua existência, às vezes têm sido questionados. (1Jo 5:19; Re 12:9) Os homens têm confundido o motivo da paciência e benignidade de Deus, e têm-se tornado mais rebeldes. (Ec 8:11; 2Pe 3:9) Por causa disso, servir a Deus com integridade tem exigido fé, junto com sofrimentos. (He 11:6, 35-38) Não obstante, Jeová tem o propósito de fazer com que todos conheçam sua soberania e seu nome. No Egito, ele disse a Faraó: “De fato, por esta razão te deixei em existência: para mostrar-te meu poder e para que meu nome seja declarado em toda a terra.” (Êx 9:16) Do mesmo modo, Deus concedeu tempo a este mundo e seu deus, Satanás, o Diabo, para existir e desenvolver sua iniquidade, e Ele fixou um tempo para a destruição deles. (2Co 4:4; 2Pe 3:7) A oração profética do salmista era: “Para que as pessoas saibam que tu, cujo nome é Jeová, somente tu és o Altíssimo sobre toda a terra.” (Sal 83:18) O próprio Jeová jurou: “Diante de mim se dobrará todo joelho, jurará toda língua, dizendo: ‘Seguramente há plena justiça e força em Jeová.’” — Is 45:23, 24.

A amplitude da questão. Que amplitude tinha essa questão? Visto que o homem fora induzido ao pecado, e visto que um anjo havia pecado, a questão atingiu e incluiu as criaturas celestiais de Deus, até mesmo o Filho unigênito de Deus, o mais achegado a Jeová Deus. Este Filho, que sempre fazia o que agradava ao seu Pai, estaria muito ansioso para defender a soberania de Jeová. (Jo 8:29; He 1:9) Deus escolheu-o para esta tarefa, enviando-o à Terra, onde nasceu como menino da virgem Maria. (Lu 1:35) Era perfeito, e manteve esta perfeição e imaculabilidade durante toda a sua vida, mesmo até a morte vergonhosa. (He 7:26) Antes de morrer, ele disse: “Agora há um julgamento deste mundo; agora será lançado fora o governante deste mundo.” Também: “O governante do mundo está chegando. E ele não tem nenhum poder sobre mim.” (Jo 12:31; 14:30) Satanás não conseguiu quebrantar a integridade de Cristo, e foi julgado como fracassado, prestes a ser lançado fora. Jesus ‘venceu o mundo’. — Jo 16:33.

Jesus Cristo, Aquele que defende a soberania de Jeová. Assim, Jesus Cristo, de modo inteiramente perfeito, provou que o Diabo é mentiroso, resolvendo completamente a questão: Permanecerá algum homem fiel a Deus, não importa que prova ou provação se possa lançar contra ele? Portanto, Jesus foi designado pelo Soberano Deus como Executor dos Seus propósitos, a ser usado para eliminar do Universo a iniquidade, inclusive o Diabo. Ele exercerá esta autoridade, e então ‘se dobrará todo joelho e toda língua reconhecerá abertamente que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai’. — Fil 2:5-11; He 2:14; 1Jo 3:8.

No domínio concedido ao Filho, ele governa em nome de seu Pai, ‘reduzindo a nada’ todo governo, e toda autoridade e poder que se ergue contra a soberania de Jeová. O apóstolo Paulo revela que Jesus Cristo oferece então o maior tributo à soberania de Jeová, pois, “quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos”. — 1Co 15:24-28.

O livro de Revelação mostra que, depois do fim do Reinado Milenar de Cristo, no qual ele reduz a nada toda autoridade que tente rivalizar com a soberania de Jeová, o Diabo será solto por um pouco. Este tentará reavivar a questão, mas não se concederá muito tempo para aquilo que já fora resolvido. Satanás e os que o seguirem serão completamente aniquilados. — Re 20:7-10.

Outros que apoiam o lado de Jeová. Embora a fidelidade de Cristo tenha provado cabalmente o lado de Deus na questão, permite-se que outros participem nisso. (Pr 27:11) Os efeitos do proceder de integridade de Cristo, inclusive sua morte sacrificial, são salientados pelo apóstolo: “Por um só ato de justificação resulta para homens de toda sorte serem declarados justos para a vida.” (Ro 5:18) Cristo tem sido constituído Cabeça de um “corpo” congregacional (Col 1:18), cujos membros participam na sua morte de integridade, e ele tem prazer em que participem com ele quais coerdeiros, quais reis associados no seu Reinado. (Lu 22:28-30; Ro 6:3-5; 8:17; Re 20:4, 6) Homens fiéis da antiguidade, aguardando a provisão de Deus, mantiveram a sua integridade, embora fossem imperfeitos no corpo. (He 11:13-16) E os muitos outros que ainda dobrarem os joelhos em reconhecimento também o farão por aceitarem de coração a soberania justa e meritória de Deus. Conforme o salmista cantou profeticamente: “Toda coisa que respira — louve ela a Jah. Louvai a Jah!” — Sal 150:6.