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Ai dos rebeldes

Ai dos rebeldes

Capítulo Onze

Ai dos rebeldes!

Isaías 9:8–10:4

1. Que erro terrível cometeu Jeroboão?

QUANDO o povo pactuado de Jeová foi dividido em dois reinos, o reino setentrional de dez tribos veio a ser governado por Jeroboão. O novo rei era um governante capaz e dinâmico. Mas faltava-lhe verdadeira fé em Jeová. Isso o levou a cometer um erro terrível, que maculou toda a história do reino setentrional. Sob a Lei mosaica, os israelitas tinham de viajar três vezes por ano ao templo em Jerusalém, que ficava então no reino meridional de Judá. (Deuteronômio 16:16) Temendo que tais viagens periódicas levassem seus súditos a pensar numa reunificação com seus irmãos do sul, Jeroboão “fez dois bezerros de ouro, e disse ao povo: ‘É demais para vós subir a Jerusalém. Eis o teu Deus, ó Israel, que te fez subir da terra do Egito.’ Então colocou um em Betel e o outro em Dã”. — 1 Reis 12:28, 29.

2, 3. Que efeitos teve sobre Israel o erro de Jeroboão?

2 A curto prazo, o plano de Jeroboão parecia funcionar. Aos poucos, o povo deixou de ir a Jerusalém e passou a adorar os dois bezerros. (1 Reis 12:30) No entanto, essa prática religiosa apóstata corrompeu o reino de dez tribos. Em anos posteriores, até mesmo Jeú, que havia demonstrado um zelo tão elogiável em eliminar de Israel a adoração de Baal, curvava-se diante dos bezerros de ouro. (2 Reis 10:28, 29) O que mais resultou da decisão tão tragicamente errada de Jeroboão? Instabilidade política e sofrimento do povo.

3 Visto que Jeroboão se tornara apóstata, Jeová disse que a descendência dele não reinaria sobre o país, e que o reino setentrional acabaria sofrendo um desastre terrível. (1 Reis 14:14, 15) A palavra de Jeová se cumpriu. Sete dos reis de Israel reinaram por dois anos, ou menos — alguns por apenas dias. Um rei se suicidou, e seis foram assassinados por homens ambiciosos que usurparam o trono. Especialmente depois do reinado de Jeroboão II, que findou por volta de 804 AEC (enquanto Uzias reinava em Judá), Israel foi afligido por insurreições, violência e assassinatos. Era essa a situação quando Jeová, por meio de Isaías, mandou um aviso direto, ou “palavra”, ao reino setentrional. “Havia uma palavra enviada por Jeová contra Jacó, e ela caiu sobre Israel.” — Isaías 9:8. *

A altivez e a insolência provocaram a ira de Deus

4. Que “palavra” Jeová proferiu contra Israel, e por quê?

4 A “palavra” de Jeová não seria desconsiderada. “O povo certamente a saberá, sim, todos eles, Efraim e os habitantes de Samaria, por causa da sua altivez e por causa da insolência de seu coração.” (Isaías 9:9) “Jacó”, “Israel”, “Efraim” e “Samaria” referem-se todos ao reino setentrional de Israel, do qual Efraim era a tribo predominante e Samaria a capital. A palavra de Jeová contra esse reino era uma forte declaração judicial, pois Efraim se tornara implacável na apostasia e descaradamente insolente para com Jeová. Deus não protegeria o povo das consequências de seu comportamento perverso. Seriam obrigados a ouvir, ou atentar, à palavra de Deus. — Gálatas 6:7.

5. Que insensibilidade mostravam os israelitas para com as ações punitivas de Jeová?

5 Com a piora das condições, o povo sofria graves perdas, incluindo casas — em geral de adobe e de madeira barata. Abrandou isso o coração deles? Escutaram os profetas de Jeová e retornaram ao Deus verdadeiro? * Isaías registra a reação insolente do povo: “Tijolos é que caíram, mas é com pedra lavrada que construiremos. Sicômoros é que foram cortados, mas é com cedros que faremos a substituição.” (Isaías 9:10) Os israelitas desafiavam a Jeová e repeliam Seus profetas, que lhes diziam por que sofriam tais aflições. Na verdade, o povo dizia: ‘Talvez percamos casas de adobe perecível e de madeira barata, mas nós mais do que compensaremos essas perdas reconstruindo-as com materiais melhores — pedra lavrada e cedro!’ (Note Jó 4:19.) Deixaram Jeová sem alternativa senão discipliná-los ainda mais. — Note Isaías 48:22.

6. Como Jeová minaria a trama siro-israelita contra Judá?

6 Isaías continua: “Jeová porá alto os adversários de Rezim contra ele.” (Isaías 9:11a) Os reis Peca, de Israel, e Rezim, da Síria, eram aliados. Eles tramavam conquistar o reino de Judá, de duas tribos, e colocar no trono de Jeová em Jerusalém um rei fantoche — um certo “filho de Tabeel”. (Isaías 7:6) Mas a conspiração fracassaria. Rezim tinha inimigos poderosos, e Jeová ‘poria alto’ esses inimigos contra “ele”, Israel. A expressão “porá alto” significa que se lhes permitiria travar guerra que resultasse na destruição da aliança e de seus objetivos.

7, 8. Para Israel, o que resultou da conquista da Síria pela Assíria?

7 A dissolução dessa aliança começou quando a Assíria atacou a Síria. “O rei da Assíria subiu a Damasco [capital da Síria] e a capturou, e levou seu povo ao exílio em Quir e a Rezim entregou à morte.” (2 Reis 16:9) Tendo perdido seu poderoso aliado, Peca viu que seus planos com relação a Judá foram frustrados. De fato, pouco depois da morte de Rezim, o próprio Peca foi assassinado por Oseias, que depois usurpou o trono de Samaria. — 2 Reis 15:23-25, 30.

8 A Síria, ex-aliada de Israel, passou a ser vassalo da Assíria, a potência dominante na região. Isaías profetizou como Jeová usaria esse novo alinhamento político: “Incitará os inimigos dele [de Israel], a Síria desde o oriente e os filisteus desde a retaguarda, e eles consumirão Israel de boca aberta. Sua ira não recuou em vista de tudo isso, mas a sua mão ainda está estendida.” (Isaías 9:11b, 12) Sim, a Síria passou a ser inimiga de Israel, que agora tinha de se preparar para um ataque da Assíria e da Síria. A invasão deu certo. A Assíria fez do usurpador Oseias seu servo, exigindo um pesado tributo. (Algumas décadas antes, a Assíria recebera uma grande soma do Rei Menaém, de Israel.) Quão certas as palavras do profeta Oseias: “Estranhos consumiram-lhe o poder [de Efraim]”! — Oseias 7:9; 2 Reis 15:19, 20; 17:1-3.

9. Por que se pode dizer que os filisteus atacaram pela “retaguarda”?

9 Isaías não disse também que os filisteus invadiriam pela “retaguarda”? Sim. Antes da invenção das bússolas magnéticas, os hebreus indicavam a direção segundo a perspectiva de uma pessoa de frente para o nascente. Assim, o “oriente” era a frente, e o ocidente, a pátria costeira dos filisteus, era a “retaguarda”. O “Israel”, mencionado em Isaías 9:12, talvez incluísse Judá nesse caso, pois os filisteus invadiram Judá no reinado do contemporâneo de Peca, Acaz, capturando e ocupando várias cidades e fortalezas judaicas. Como Efraim, no norte, Judá merecia essa punição de Jeová, pois também estava impregnado de apostasia. — 2 Crônicas 28:1-4, 18, 19.

Da ‘cabeça à cauda’— uma nação de rebeldes

10, 11. Como Jeová puniria Israel por sua persistente rebelião?

10 Apesar de todo seu sofrimento — e dos fortes pronunciamentos dos profetas de Jeová — o reino setentrional persistia na rebelião contra Jeová. “Os do próprio povo não retornaram Àquele que os golpeava, e não buscaram a Jeová dos exércitos.” (Isaías 9:13) Consequentemente, diz o profeta: “Jeová decepará de Israel cabeça e cauda, broto e junco, num só dia. O idoso e altamente respeitado é a cabeça, e o profeta que dá instrução falsa é a cauda. E os que encaminham este povo mostram ser os que o fazem vaguear; e os que estão sendo encaminhados são os que estão sendo confundidos.” — Isaías 9:14-16.

11 A “cabeça” e o “broto” simbolizavam ‘os idosos e altamente respeitados’ — os líderes daquela nação. A “cauda” e o “junco” referiam-se aos falsos profetas que diziam coisas que os líderes gostavam de ouvir. Certo erudito bíblico escreveu: “Os falsos profetas são chamados de cauda, pois moralmente eram os mais degradados e porque seguiam servilmente e apoiavam governantes perversos.” O professor Edward J. Young diz a respeito desses falsos profetas: “Eles não eram líderes, mas, seguindo os líderes, simplesmente lisonjeavam e bajulavam, como a cauda balançante de um cão.” — Note 2 Timóteo 4:3.

Até ‘viúvas e órfãos’ eram rebeldes

12. Quão arraigada estava a corrupção na sociedade israelita?

12 Jeová é o Defensor das viúvas e dos órfãos. (Êxodo 22:22, 23) No entanto, ouça o que Isaías diz a seguir: “Jeová não se alegrará nem mesmo com os jovens deles, e não terá misericórdia com os seus meninos órfãos de pai e com as suas viúvas; porque todos eles são apóstatas e malfeitores, e cada boca fala insensatez. Sua ira não recuou em vista de tudo isso, mas a sua mão ainda está estendida.” (Isaías 9:17) A apostasia havia corrompido todas as camadas da sociedade, incluindo as viúvas e os órfãos! Jeová enviava pacientemente seus profetas, na esperança de que o povo mudasse de comportamento. Por exemplo, “volta deveras a Jeová, teu Deus, ó Israel, pois tropeçaste no teu erro”, instava Oseias. (Oseias 14:1) Como deve ter sido doloroso para o Defensor das viúvas e dos órfãos ter de punir até mesmo esses!

13. O que podemos aprender da situação existente nos dias de Isaías?

13 Como Isaías, vivemos em tempos críticos que antecedem o dia de execução da sentença de Jeová contra os perversos. (2 Timóteo 3:1-5) Portanto, como é vital que os cristãos verdadeiros, independentemente de sua situação na vida, permaneçam espiritual, moral e mentalmente puros a fim de reter o favor de Deus! Que cada um de nós preserve zelosamente a sua relação com Jeová! Que ninguém que tenha saído de “Babilônia, a Grande”, jamais volte a “compartilhar com ela nos seus pecados”! — Revelação (Apocalipse) 18:2, 4.

A adoração falsa gera violência

14, 15. (a) O que resulta da adoração demoníaca? (b) Isaías profetizou que Israel experimentaria que crescente sofrimento?

14 Adoração falsa é, na verdade, adoração de demônios. (1 Coríntios 10:20) Como se viu antes do Dilúvio, a influência demoníaca leva à violência. (Gênesis 6:11, 12) Assim, não é de admirar que quando Israel tornou-se apóstata e passou a adorar demônios, a violência e a perversidade tenham enchido o país. — Deuteronômio 32:17; Salmo 106:35-38.

15 Com expressiva linguagem figurada, Isaías descreve a disseminação da perversidade e da violência em Israel: “A iniquidade ficou em chamas como um fogo; consumirá espinheiros e ervas daninhas. E pegará fogo nas moitas da floresta e elas serão levadas para cima como bulcão de fumaça. Na fúria de Jeová dos exércitos incendiou-se a terra, e o povo tornar-se-á como pasto para o fogo. Ninguém terá compaixão nem mesmo de seu irmão. E um cortará à direita e certamente passará fome; e outro comerá à esquerda, e eles certamente não se fartarão. Comerão cada um a carne de seu próprio braço, Manassés a Efraim, e Efraim a Manassés. Juntos serão contra Judá. Sua ira não recuou em vista de tudo isso, mas a sua mão ainda está estendida.” — Isaías 9:18-21.

16. Como se cumpriram as palavras de Isaías 9:18-21?

16 Como uma chama que passa de um espinheiro para outro, a violência fugia ao controle e rapidamente alcançava as “moitas da floresta”, causando um pleno incêndio florestal de violência. Os comentaristas bíblicos Keil e Delitzsch descrevem esse nível de violência como “a mais desumana autodestruição durante uma anárquica guerra civil. Destituídos de quaisquer sentimentos de afeto, eles devoravam uns aos outros sem se saciarem”. Provavelmente, as tribos de Efraim e de Manassés são destacadas aqui porque eram as representantes principais do reino setentrional e, como descendentes dos dois filhos de José, eram as que tinham um parentesco mais forte entre si. Apesar disso, porém, elas interrompiam a sua violência fratricida apenas quando guerreavam contra Judá, no sul. — 2 Crônicas 28:1-8.

Juízes corruptos seriam julgados

17, 18. Que corrupção existia no sistema jurídico e administrativo de Israel?

17 A seguir, Jeová focalizou seu olho judicial nos juízes e em outras autoridades corruptas de Israel. Eles abusavam de seu poder extorquindo os humildes e aflitos que os procuravam em busca de justiça. Isaías diz: “Ai dos que legislam regulamentos prejudiciais e dos que, escrevendo constantemente, têm escrito pura desgraça, a fim de apartar os de condição humilde de alguma causa jurídica e para arrebatar dos atribulados do meu povo a justiça, para que as viúvas se tornem seu despojo e para que saqueiem até mesmo os meninos órfãos de pai!” — Isaías 10:1, 2.

18 A Lei de Jeová proibia todo tipo de injustiça: “Não deveis fazer injustiça no julgamento. Não deves tratar com parcialidade ao de condição humilde e não deves dar preferência à pessoa do grande.” (Levítico 19:15) Desrespeitando essa lei, essas autoridades haviam criado seus próprios “regulamentos prejudiciais”, legitimando assim o roubo flagrante da mais cruel espécie — extorquir os escassos bens de viúvas e de órfãos. Os deuses falsos de Israel estavam, naturalmente, cegos para com essa injustiça, mas Jeová não. Por meio de Isaías, Jeová focalizava agora sua atenção nesses juízes iníquos.

19, 20. Que mudança haveria na situação dos corruptos juízes israelitas, e o que aconteceria com a sua “glória”?

19 “O que fareis vós no dia de se dar atenção e na ruína, quando vier de longe? Para quem fugireis por auxílio e onde deixareis a vossa glória, senão para ter de dobrar-se sob os presos e para as pessoas continuarem a cair debaixo dos que foram mortos?” (Isaías 10:3, 4a) As viúvas e os órfãos não tinham juízes honestos a quem recorrer. Assim, como era apropriado que Jeová perguntasse então a esses juízes israelitas corruptos a quem eles recorreriam, agora que Jeová os chamava para prestar contas! Sim, eles logo saberiam que é ‘terrível cair nas mãos do Deus vivente’. — Hebreus 10:31.

20 A “glória” desses juízes iníquos — o prestígio mundano, a honra e o poder que acompanhavam sua riqueza e seu cargo — seria passageira. Alguns deles se tornariam prisioneiros de guerra, ‘se dobrariam’, ou se curvariam, entre outros prisioneiros, ao passo que o restante deles seria morto e seus corpos seriam cobertos pelos demais mortos na guerra. A sua “glória” incluía também riquezas ilícitas, que seriam saqueadas pelo inimigo.

21. Em vista das punições que a nação de Israel já teria sofrido, será que a ira de Jeová contra ela cessaria?

21 Isaías conclui essa estrofe final com um alerta sombrio: “Sua ira não recuou em vista de tudo isso [o mal que a nação já teria sofrido], mas a sua mão ainda está estendida.” (Isaías 10:4b) Sim, Jeová tinha mais a dizer a Israel. A Sua mão estendida não seria recolhida até que ele aplicasse um golpe final e devastador contra o rebelde reino setentrional.

Jamais caia presa da falsidade e do egoísmo

22. Que lição podemos aprender do que aconteceu com Israel?

22 A palavra de Jeová por meio de Isaías caiu pesado sobre Israel e ‘não voltou a ele sem resultados’. (Isaías 55:10, 11) A História registra o fim trágico do reino setentrional de Israel, e pode-se imaginar o sofrimento que seus habitantes tiveram de suportar. Com a mesma certeza, a palavra de Deus se cumprirá no atual sistema mundial, especialmente na apóstata cristandade. Portanto, como é importante que os cristãos não deem ouvidos à propaganda mentirosa contra Deus! Graças à Palavra de Deus, as astutas estratégias de Satanás há muito foram expostas, de modo que não precisamos ser ludibriados por elas, como foi o povo do Israel antigo. (2 Coríntios 2:11) Jamais cessemos de adorar a Jeová “com espírito e verdade”. (João 4:24) Nesse caso, a mão estendida de Deus não golpeará seus adoradores, como fez com a rebelde Efraim; ele os envolverá afetuosamente nos braços e os ajudará no caminho à vida eterna numa Terra paradísica. — Tiago 4:8.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 3 Isaías 9:8–10:4 compõe-se de quatro estrofes (trechos de um texto rítmico), cada qual terminando com o ominoso refrão: “Sua ira não recuou em vista de tudo isso, mas a sua mão ainda está estendida.” (Isaías 9:12, 17, 21; 10:4) Esse expediente literário interliga Isaías 9:8–10:4, formando uma só “palavra” composta. (Isaías 9:8) Observe também que a mão de Jeová ‘ainda estava estendida’, não para oferecer reconciliação, mas para julgar. — Isaías 9:13.

^ parágrafo 5 Entre os profetas de Jeová no reino setentrional de Israel havia Jeú (não o rei), Elias, Micaías, Eliseu, Jonas, Odede, Oseias, Amós e Miqueias.

[Perguntas de Estudo]

[Foto na página 139]

A perversidade e a violência se espalharam em Israel como um incêndio florestal

[Foto na página 141]

Jeová exigiria uma prestação de contas dos que espoliavam os outros