Pular para conteúdo

Pular para sumário

O que fazer, agora que meu pai foi embora?

O que fazer, agora que meu pai foi embora?

Os Jovens Perguntam . . .

O que fazer, agora que meu pai foi embora?

“Crescer sem pai foi duro. Eu só queria um pouco de atenção.” — Marcelo. *

JULIANA tinha 13 anos quando o pai foi embora de casa. Visto que era alcoólatra, ele poucas vezes procurou os filhos depois disso. A triste realidade é que o caso de Juliana não é único, pois são muitos os jovens que foram abandonados pelo pai.

Se você também passou por isso, é bem provável que ache muito difícil lidar com a situação. Pode ser que às vezes sinta muita mágoa e ressentimento. Outras vezes talvez se sinta triste e deprimido. Ou pode até ter vontade de se rebelar. Como Salomão, um escritor da Bíblia, disse certa vez, “a mera opressão pode fazer o sábio agir como doido”. — Eclesiastes 7:7.

“Agir como doido”

Gilberto ‘agiu como doido’, por assim dizer, depois que seu pai saiu de casa. Ele disse: “Eu não obedecia a nenhuma autoridade, nem à minha mãe. Me envolvi em muitas brigas. Sempre mentia e saía escondido à noite porque não tinha ninguém para me disciplinar. Minha mãe tentou me controlar, mas não conseguiu.” Será que se rebelar melhorou a vida de Gilberto? De forma nenhuma. Ele diz que logo começou a “experimentar drogas, a matar aulas e a ir mal na escola”. Seu comportamento foi de mal a pior. “Roubava nas lojas e assaltava pessoas”, confessa. “Fui detido duas vezes e fiquei preso por pouco tempo, mas continuei naquela vida.”

Quando lhe perguntaram o que o levou àquele comportamento rebelde, ele disse: “Sem meu pai em casa, eu não tinha quem me disciplinasse. Não tinha consciência do quanto estava magoando minha mãe, meu irmão e minha irmã mais novos e a mim também. Eu queria a atenção e a disciplina do meu pai.”

Mas rebelar-se só torna pior uma situação que já é ruim. ( Jó 36:18, 21) Gilberto, por exemplo, causou problemas não só para si mesmo, mas também para a mãe e os irmãos, que sofreram desnecessário estresse e tensão. Mas a conseqüência mais grave da rebelião é que ela pode comprometer a relação da pessoa com Deus, que ordena aos jovens que obedeçam à mãe. — Provérbios 1:8; 30:17.

Como superar o ressentimento

O que fazer se você se sente irado e ressentido com seu pai? Primeiro, precisa lembrar que você não tem culpa de ele ter saído de casa. Nem isso significa necessariamente que ele deixou de amá-lo e de se preocupar com você. É normal sentir-se magoado quando seu pai não demonstra interesse em telefonar ou em visitá-lo. Mas como mostrou o artigo anterior desta série, * muitos pais ausentes perdem o contato com os filhos, não porque tenham deixado de amá-los, mas porque se sentem culpados e envergonhados. Outros, como no caso do pai de Juliana, são viciados em drogas ou em bebidas, o que faz a pessoa agir de modo impensado.

Não importa o motivo, tente lembrar-se de que seus pais são imperfeitos. A Bíblia declara: “Todos pecaram e não atingem a glória de Deus.” (Romanos 3:23; 5:12) É verdade que isso não é desculpa para magoar outros ou agir de forma irresponsável. Contudo, se você reconhecer que todos os humanos nascem imperfeitos, vai ser mais fácil não nutrir sentimentos destrutivos como a ira e o ressentimento.

As palavras de Eclesiastes 7:10 podem ajudá-lo a lidar com a ira e o ressentimento que talvez sinta contra seus pais. Observe como a Bíblia nos avisa para não vivermos no passado: “Não digas: ‘Por que aconteceu que os dias anteriores mostraram ser melhores do que estes?’ pois não é por sabedoria que perguntas sobre isso.” Assim, em vez de ficar pensando em como eram as coisas no passado, é melhor preocupar-se em viver o presente da melhor forma possível.

Tome a iniciativa

Você poderia, por exemplo, tomar a iniciativa de contatar seu pai. É verdade que foi ele quem o abandonou e você talvez ache, com toda a razão, que a iniciativa de manter contato deveria partir dele. Mas se ele não deu esse passo e a falta de contato com ele o faz sentir-se triste e infeliz, não valeria a pena tentar melhorar a situação? Pense em como Jesus Cristo agiu quando alguns de seus amigos o magoaram. Na última noite de sua vida humana, os apóstolos o abandonaram. Pedro havia se gabado de que não abandonaria Jesus não importava o que acontecesse. Mas ele negou a Jesus — não uma vez, mas três vezes! — Mateus 26:31-35; Lucas 22:54-62.

Apesar de Pedro ter falhado, Jesus ainda o amava. Após sua ressurreição, tomou a iniciativa de restabelecer seu relacionamento com Pedro aparecendo a ele de modo especial. (1 Coríntios 15:5) É interessante que, quando Jesus perguntou a Pedro: “Amas-me?”, este respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que tenho afeição por ti.” Apesar de seus deslizes, Pedro ainda amava Jesus. — João 21:15.

Como no caso de Pedro e Jesus, a situação com seu pai talvez não seja um caso perdido, como talvez possa parecer. É possível que ele corresponda se você tomar a iniciativa de telefonar, escrever ou fazer uma visita. Marcelo, mencionado no início do artigo, lembra: “Uma vez escrevi para meu pai, e ele me respondeu dizendo que tinha orgulho de mim. Coloquei uma moldura na carta e a pendurei na parede por anos. Tenho a carta até hoje.”

Juliana e os irmãos dela também tomaram a iniciativa de visitar o pai alcoólatra. “Ele não estava no seu melhor estado”, admite ela, “mas mesmo assim foi bom vê-lo”. Você poderá obter bons resultados se der o primeiro passo nesse sentido. Se a reação inicial não for das melhores, talvez queira dar um tempo e tentar de novo.

Como lidar com a dor da rejeição

Salomão nos lembra de que há “tempo para procurar e tempo para dar por perdido”. (Eclesiastes 3:6) Pode acontecer de um jovem ter de aceitar a dura realidade de que o pai não quer manter contato com os filhos. Se o seu pai age assim, talvez um dia ele se dê conta do quanto perdeu.

Enquanto isso não acontece, esteja certo de que a rejeição por parte dele não significa que você não tenha valor. O salmista Davi, da Bíblia, declarou: “Caso meu próprio pai e minha própria mãe me abandonassem, o próprio Jeová me acolheria.” (Salmo 27:10) Como vê, você ainda tem muito valor para Deus. — Lucas 12:6, 7.

Assim, se você se sente triste ou deprimido, busque a Deus em oração. (Salmo 62:8) Diga-lhe exatamente como se sente. Esteja certo de que ele o ouvirá e o consolará. Outro salmista da Bíblia escreveu: “Quando os meus pensamentos inquietantes se tornaram muitos no meu íntimo, tuas próprias consolações começaram a afagar a minha alma.” — Salmo 94:19.

A amizade com outros cristãos também pode ajudá-lo a lidar com a rejeição. Provérbios 17:17 diz: “O verdadeiro companheiro está amando todo o tempo e é um irmão nascido para quando há aflição.” Poderá encontrar amigos assim dentro da congregação cristã das Testemunhas de Jeová. Conhecer melhor alguns dos superintendentes da congregação pode ser de especial ajuda. Pedro, irmão de Juliana, recomenda: “Converse com pessoas mais velhas na congregação. Elas o ajudarão muito. Se você foi abandonado por seu pai, diga a elas como se sente.” Os superintendentes congregacionais também podem dar sugestões práticas sobre como cuidar de certas responsabilidades que antes eram atribuições de seu pai, como consertos em casa, por exemplo.

Sua mãe também pode ajudá-lo. É verdade que ela também talvez esteja sofrendo. Mas se você expressar seus sentimentos com respeito, ela sem dúvida fará o que puder para mostrar que está do seu lado.

Apóie sua família

A ausência do pai pode afetar a família de diversas maneiras. Sua mãe talvez tenha de trabalhar fora, quem sabe até em dois empregos, para sustentar a casa. Você e seus irmãos talvez tenham de arcar com mais responsabilidades em casa. Mas você pode lidar com essas mudanças se cultivar amor cristão, altruísta. (Colossenses 3:14) Isso o ajudará a manter uma atitude positiva e a não guardar ressentimento. (1 Coríntios 13:4-7) Pedro diz: “Ajudar a minha família é a coisa certa a fazer e eu me sinto bem em saber que estou apoiando minha mãe e minhas irmãs.”

Sem dúvida, é muito triste e doloroso quando o pai vai embora de casa. Mas pode ter certeza de que, com a ajuda de Deus, de amigos cristãos e de parentes amorosos, você e sua família poderão superar isso. *

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 3 Os nomes foram mudados.

^ parágrafo 11 Veja o artigo “Os Jovens Perguntam . . . Por que meu pai foi embora?”, no número de 22 de novembro de 2000.

^ parágrafo 27 Para obter mais informações sobre problemas enfrentados por famílias com um só genitor, veja os artigos de “Os Jovens Perguntam . . . ”, nos números de 22 de dezembro de 1990 e 22 de março de 1991.

[Fotos na página 26]

Alguns jovens tomaram a iniciativa de contatar o pai