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Manter sigilo — ontem e hoje

Manter sigilo — ontem e hoje

Manter sigilo — ontem e hoje

Já resolveu um anagrama? Já usou a internet para comprar algo ou para acessar sua conta bancária? Se fez isso, você entrou no mundo dos códigos, das cifras, da encriptação e da decriptação.

ANTIGAMENTE, códigos secretos eram usados principalmente por governantes, embaixadores, espiões e militares. Mas hoje não. Com a chegada do computador e da internet, informações importantes costumam ser mantidas em sigilo de várias maneiras, incluindo o uso de senhas, que são autenticadas cada vez que o usuário acessa seus arquivos. De fato, nunca antes o sigilo desempenhou um papel tão vital em nosso cotidiano.

Assim, faremos bem em nos perguntar: ‘Será que minhas informações confidenciais estão mesmo protegidas? O que posso fazer para aumentar minha segurança?’ Antes de analisar essas perguntas, pense um pouco na longa luta entre pessoas que criam os códigos e as que tentam desvendá-los — um conflito quase tão antigo quanto a própria escrita.

Mensagens secretas

Um tipo bem antigo de escrita secreta é chamada esteganografia, ou “escrita encoberta”. Seu objetivo é camuflar a mensagem. Heródoto, historiador do quinto século, escreveu que um exilado grego, ao descobrir que sua pátria seria atacada pela Pérsia, enviou mensagens para avisar seu povo. Essas foram escritas em tabuinhas de madeira e depois cobertas com cera para esconder o texto. De acordo com Heródoto, esse truque simples, também usado pelos antigos romanos, roubou o elemento surpresa do Rei Xerxes da Pérsia, e suas forças militares foram derrotadas.

Formas modernas de esteganografia incluem o uso de microponto, papel com marca d’água e imagens para proteger os direitos autorais. O microponto usado na Segunda Guerra Mundial era na realidade uma fotografia reduzida ao tamanho de um ponto final. O destinatário tinha apenas de ampliar o ponto. Hoje, pessoas que vendem pornografia ilegal empregam um conceito similar. Com o auxílio de programas de computador, eles escondem fotografias em textos, arquivos de som ou imagens inofensivas.

Visto que a mensagem fica escondida, a esteganografia não levanta suspeitas sobre o remetente e o destinatário. Mas se a mensagem é descoberta, ela pode ser lida por qualquer um, a não ser que também tenha sido criptografada.

A “escrita oculta”

A criptografia, ou “escrita oculta”, possibilita a comunicação confidencial, escondendo não a mensagem propriamente dita, mas seu significado. O processo envolve embaralhar e desembaralhar informações de acordo com um sistema de regras pré-determinado, possibilitando assim que apenas as pessoas que têm a chave decriptem a mensagem.

Os antigos espartanos criptografavam mensagens por meio de um método chamado cítala. Uma tira de couro ou de pergaminho era enrolada em espiral de forma bem apertada em um bastão. A mensagem era escrita no sentido do comprimento do bastão. Quando a tira era desenrolada, as letras não pareciam fazer sentido. Daí, o destinatário enrolava a tira num outro bastão do mesmo diâmetro do original e assim conseguia ler o texto. Aplicando também a técnica da esteganografia, o mensageiro às vezes usava a tira como um cinto, deixando as letras do lado de dentro.

Acredita-se que Júlio César disfarçava suas mensagens de guerra por meio de uma simples cifra de substituição — trocando cada letra por outra que estivesse, por exemplo, três posições à frente no alfabeto. Desse modo, seria escrito como d, b como e, e assim por diante.

A Renascença européia modernizou a criptografia. Uma das pessoas que trouxeram tais inovações foi Blaise de Vigenère, um diplomata francês nascido em 1523. Ele propôs uma cifra, que já havia sido inventada, baseada numa tabela com o alfabeto repetido várias vezes. Sua técnica, que se acreditava ser perfeita, foi apelidada de “le chiffre indéchiffrable” (a cifra indecifrável). No entanto, com o progresso na invenção de códigos, também vieram progressos em desvendá-los.

Por exemplo, quando eruditos islâmicos analisaram o alcorão, que foi escrito em árabe, observaram que certas letras apareciam com mais freqüência do que outras, o que é também comum em outros idiomas. Isso levou ao desenvolvimento de um recurso criptográfico, chamado análise de freqüência, que pode revelar a identidade oculta de certas letras e grupos de letras num texto cifrado, por contar quantas vezes essas letras aparecem.

No século 15, a criptografia estava cada vez mais presente no dia-a-dia dos diplomatas europeus. Mas nem sempre era garantia de segurança. Por exemplo, o francês François Viète conseguiu decifrar os códigos da corte real espanhola. Além disso, ele foi tão bem-sucedido que o desapontado Rei Filipe II alegou que Viète tinha parte com o Diabo e que devia ser julgado num tribunal católico.

A tecnologia entra em ação

O século 20, principalmente as duas guerras mundiais, levou a criptografia a novos níveis de sofisticação, envolvendo equipamentos complexos, como a Enigma alemã, um aparelho muito parecido a uma máquina de escrever. Quando o operador inseria o texto puro, a máquina criptografava mensagens com seus rotores elétricos. O texto criptografado era então enviado em código Morse e decriptado por outra Enigma. No entanto, erros e o descuido de operadores demasiadamente cansados facilitavam o trabalho dos decifradores inimigos.

No mundo digital de hoje, operações bancárias, como transferências e pagamentos, além de arquivos médicos, corporativos e governamentais são protegidos por encriptações complexas. O texto criptografado, por sua vez, é lido por quem tem a chave para restaurar as informações à sua forma original.

Ao passo que uma chave de metal geralmente tem dentes, uma chave digital é uma seqüência dos números 0 e 1 combinados de várias maneiras. Chaves maiores têm mais combinações e assim são mais difíceis de serem decifradas. Uma chave de 8 bits, por exemplo, tem 256 combinações possíveis, ou permutações, e uma de 56 bits tem mais de 72 quatrilhões. O padrão atual para usar chaves na internet é de 128 bits, que tem 4,7 sextilhões de vezes mais combinações do que as de 56 bits. *

Ainda assim, ocorrem brechas na segurança. Em 2008, por exemplo, promotores federais nos Estados Unidos condenaram 11 homens pelo que se pensa ter sido o maior caso de roubo de identidade. Acredita-se que o grupo usava notebooks, tecnologia sem fio e programas especiais de computador para descobrir números de cartões de crédito e de débito usados em caixas registradoras.

Você está seguro?

É verdade que as encriptações que protegem sua conta bancária e transações on-line são extremamente difíceis de ser quebradas. Mas muito depende de você. A Bíblia diz: “[Prudente] é aquele que tem visto a calamidade e passa a esconder-se, mas os inexperientes passaram adiante e terão de sofrer a penalidade.” (Provérbios 22:3) Então seja prudente e, por assim dizer, ‘esconda-se’ da fraude e do roubo, seguindo no mínimo as seguintes sugestões:

▪ Use um programa de antivírus.

▪ Use um programa de detecção de spywares.

▪ Instale um firewall.

▪ Mantenha esses programas atualizados e instale atualizações de segurança para seus aplicativos e sistema operacional.

▪ Tome cuidado com links e anexos em e-mails ou mensagens instantâneas, principalmente se a mensagem não foi solicitada ou pede informações pessoais ou a verificação de uma senha.

▪ Ao enviar informações confidenciais, como detalhes do cartão de crédito, use conexões criptografadas e faça o log off do site quando terminar a operação. *

▪ Escolha senhas difíceis de ser descobertas e as proteja.

▪ Não copie ou use programas de fontes desconhecidas.

▪ Faça back-ups regulares de seus dados e guarde as cópias num lugar seguro.

Se tomar essas e outras precauções básicas agora e no futuro, no mínimo, você aumentará sua segurança e o sigilo de suas informações.

[Nota(s) de rodapé]

^ parágrafo 19 Um quatrilhão é 1 seguido de 15 zeros. Um sextilhão é 1 seguido de 21 zeros.

^ parágrafo 28 Páginas criptografadas em navegadores da internet têm símbolos de transações seguras, como a figura de um cadeado ou “https://” na barra de endereço. O s significa seguro.

[Foto na página 26]

Cítala espartana

[Foto na página 26]

Máquina Enigma alemã do século 20

[Foto na página 26]

A complexa criptografia moderna protege informações pessoais